Capítulo 4: Parte 3 1 NEUROTRANSMISSORES Os neurotransmissores são constantemente sintetizados pelos neurônios, armazenados nas vesículas sinápticas. Com a chegada do potencial de ação ao terminal sináptico, ocorre a abertura dos canais de cálcio, permitindo a entrada de íons Ca++ no terminal. Os íons Ca++ induzem a "fusão" das vesículas de armazenamento com a membrana levando à liberação de neurotransmissores para a fenda sináptica. Parte do neurotransmissor é recaptado pelo neurônio pós-sináptico, parte é inativado por enzimas e parte se difunde pela fenda, ligando-se a receptores específicos. Alguns neurotransmissores podem elevar a permeabilidade ao sódio na célula pós-sináptica, podendo produzir o potencial de ação, continuando a transmissão da mensagem. Estes são os transmissores excitatórios. Outros transmissores podem levar a uma abertura nos canais de potássio, na membrana pós-sináptica, com isso ocorrerá saída de K+ de dentro do neurônio, tornando-o mais negativo que o fluido circulante. Isto é chamado de hiperpolarização e nestas condições são poucas as possibilidades do surgimento de um potencial de ação e a sinapse é uma sinapse inibitória. Os principais neurotransmissores identificados são a acetilcolina e a noradrenalina (tabela 1). A acetilcolina produz contração muscular, sendo liberada por neurônios motores (neurônios que controlam o músculo esquelético) e no cérebro. No coração (músculo cardíaco), a acetilcolina tem efeito inibitório. Após liberação na fenda sináptica e interação com receptores, a acetilcolina é inativada pela ação da enzima colinesterase. A noradrenalina (uma catecolamina) é liberada por neurônios do sistema nervoso, simpático, assim como no cérebro e medula espinhal. Após sua liberação, a noradrenalina pode ser inativada pela recaptação para o neurônio pós-sináptico, pela ação da enzima monoamino oxidase (MAO). As catecolaminas, de um modo geral, afetam o humor (comportamento), assim drogas que alteram os níveis destas substâncias (antidepressivos e anfetaminas) conseguem modificar o humor e o comportamento do indivíduo. Capítulo 4: Parte 3 2 TABELA 1 ALGUNS NEUROTRANSMISSORES SNA = Sistema Nervoso Autônomo SNC = Sistema Nervoso Central SUBSTÂNCIA ONDE É SECRETADA COMENTÁRIOS Acetilcolina Junção neuro-muscular, cérebro, SNA. Noradrenalina SNA, Sistema de ativação reticular, cérebro. Dopamina Sistema límbico, córtex cerebral, gânglios basais. Envolvida na esquizofrenia Serotonina Sistema límbico, cerebelo, medula espinal. Sono, antagonizado pelo LSD. GABA Medula espinal, córtex cerebral, cerebelo. Papel na percepção da dor Endorfinas SNC e hipófise. Ação semelhante à morfina, memória aprendizado. Substância P SNC, medula espinal, intestino. Transmissor dos impulsos dolorosos. INTEGRAÇÃO NEURAL Um neurônio pode fazer sinapse com centenas de outros neurônios. Integração neural é o processo de adicionar e subtrair sinais inibitórios e/ ou excitatórios, determinando se um potencial de ação será gerado no neurônio pós-sináptico. No SNC onde estão localizados 90% dos corpos celulares neuronais é onde a maior parte dos processos de integração acontecem. Capítulo 4: Parte 3 3 0 ARCO REFLEXO Os neurônios são organizados em vias específicas ou circuitos neurais. 0 arranjo é feito de tal forma que o axônio de um neurônio no circuito forma junções com o dendrito do próximo neurônio. 0 exemplo mais simples de uma via neural é o arco reflexo (fig.4.9 e 4.10). Fig. 4.9 - O reflexo da retirada envolve uma cadeia de 3 neurônios: um neurônio sensorial transmite a mensagem de um receptor para o SNC, onde faz sinapse com um neurônio de associação. Então um neurônio motor apropriado transmite um impulso para os músculos que movem a mão para longe da chama. Fig. 4.10a- Arco reflexo simples. Capítulo 4: Parte 3 4 Fig. 4.10b - Arco reflexo complexo. Uma ação reflexa é uma reação padrão fixa para um estímulo simples. A resposta é previsível, automática e não requer um pensamento consciente. Ações do organismo como a respiração são controladas por arco reflexo. Como exemplo, citamos o reflexo da retirada: se uma superfície quente for tocada, instantaneamente a mão será retirada. Neste breve instante, uma mensagem foi carregada pelos receptores da dor na pele, para a medula espinal por um neurônio sensitivo. Na medula espinhal a mensagem é transmitida do neurônio sensorial para o neurônio de associação. A mensagem é transmitida para um neurônio motor, que conduz a mensagem para grupos de músculos, que respondem contraindo-se e retirando a mão. Ao mesmo tempo em que a mensagem é transmitida para o neurônio motor, mensagens, fora do arco reflexo, são enviadas para o cérebro. Assim, ao mesmo tempo em que a mão é retirada, ficamos conscientes do que está acontecendo e sentimos a dor. A variedade na associação de neurônios leva a possibilidade de formação de vias neurais complexas. Dentro de uma via nervosa, muitos neurônios pré-sinápticos podem convergir para um único neurônio pós-sináptico. Na convergência o neurônio pós-sináptico é controlado por sinais vindos de 2 ou mais neurônios pré-sinápticos (fig. 4.11, notação a). Na divergência, um único neurônio pré-sináptico estimula muitos neurônios pós-sinápticos (fig. 4.11, notação b). Na facilitação (fig. 4.1) um neurônio é trazido próximo ao nível de disparo pelo estimulo de vários neurônios pré-sináptico, mas não perto o suficiente a deflagrar o potencial de ação. Este poderá ser facilmente excitado por uma estimulação posterior. Capítulo 4: Parte 3 (Fig. 4.11)Organização de um circuito neural. (a) Convergência de um impulso nervoso. Esta organização permite ao neurônio receber estímulos de várias fontes; (b) Divergência de um impulso nervoso. Esta organização permite ao neurônio se comunicar com vários outros. (Fig. 4.12)Facilitação -nem o neurônio A nem o B podem por si só deflagrar o potencial de ação nos neurônios 1,2 ou 3. Entretanto, o estímulo de A ou B despolariza o neurônio até o nível de disparo.Isto "facilita" no neurônio pós-sináptico, que terá o potencial de ação gerado se for estimulado por mais um neurônio. O circuito reverberante (fig. 4.13) é uma via neural arranjada de tal maneira que o neurônio faz sinapse com um neurônio associativo. Este neurônio associativo fará sinapse com um neurônio na seqüência que pode enviar impulsos novamente para o circuito. 5 Capítulo 4: Parte 3 (Fig. 4.13) - Circuito reverberante - (a) Circuito reverberante simples no qual um axônio colateral do segundo neurônio volta para seu próprio dendrito, e assim o neurônio continua se auto estimulando; (b) Neste circuito neural um axônio colateral do segundo neurônio faz sinapse com um interneurônio. O interneurônio faz sinapse com o primeiro neurônio na seqüência, gerando um novo impulso causando reverberação. 6