EXPRESSÃO GEOMORFOLÓGICA DOS DERRAMES ÁCIDOS E BÁSICOS ENCONTRADOS NO TERCEIRO PARANAENSE. Karine Bueno Vargas - Aluna de graduação em Geografia da UEM, Maringá - PR. Email: [email protected] Eliza do Belém Tratz - Aluna do mestrado do Programa de Pós Graduação em Geografia - UFSC, Florianópolis-SC. Email: [email protected] Cássia Maria Bonifácio - Aluna de graduação em Geografia da UEM, Maringá – PR. Email: [email protected] Karla Schmiguel - Geógrafa formada pela UFPR, Curitiba – PR. Email: [email protected] Janaina Natali Antonio - Aluna do mestrado do Programa de Pós Graduação em Geografia - UEPG, Ponta Grossa - PR. Email:[email protected] Introdução As rochas ígneas extrusivas caracterizam a maior parte o terceiro planalto paranaense, são encontrados a partir do reverso da Escarpa da Esperança (Serra Geral). Estes derrames compõem paisagens variadas, devido diferenciações nos aspectos geoquímicos e de jazimento. A principal diferenciação se dá entre as unidades ácidas e básicas, onde as áreas de cimeira são caracterizadas por derrames ácidos do Tipo Chapecó ou derrames referentes aos basaltos vítreos. Enquanto que as unidades básicas caracterizam áreas mais dissecadas. Raras as unidades intermediárias, representadas pelos andesitos quais interdigitam-se na maioria das vezes entre as unidades ácidas e básicas, o que pode indicar graduação progressiva entre os derrames. Objetivos O primeiro passo foi atuar no reconhecimento das principais unidades litológicas, interpretando a paisagem. Num segundo momento, foi reconhecer as características estruturais dos principais derrames, contrapondo com as características litológicas do relevo. A escolha da área ocorreu pela grande dinamicidade geológica correspondente aos vastos derrames de rochas eruptivas durante o mesozóico. Material e Métodos Foram utilizados métodos interpretativos capazes de assimilar e explicar os fatos e fenômenos inerentes ao estudo. Para tanto utilizou-se bases teóricas e conceituais pertinentes a evolução da paisagem regional e uma breve revisão bibliográfica acerca desta temática já desenvolvida no país. Dentre os materiais utilizados, lançou-se mão do material cartográfico já desenvolvido, como mapa geomorfológico e mapa geológico. Incursões a campo foram necessárias para melhor compreensão da paisagem. Aspectos litológicos do Terceiro Planalto paranaense. A escarpa Mesozóica, conhecida com Escarpa da Esperança, denominação local da Formação Serra Geral no Paraná marca o início do terceiro planalto paranaense, o Planalto de Guarapuava. Geologicamente está área corresponde ao vasto derrame de rochas eruptivas (basaltos, diabásios e meláfiros) e aos depósitos de arenitos (Botucatu e Caiuá) da era Mesozóica, onde aconteceu o maior derrame de lavas vulcânicas do mundo, conhecido como derrame de Trapp, que mais tarde originou a famosa terra roxa, que se faz presente no norte e oeste do estado (LEINZ,1949). Figura 1. Fig. 1 – Espacialização do Terceiro planalto paranaense: Adaptado de Mineropar, (2001). Os basaltos predominam na área, subordinadamente as unidades ácidas do Tipo Chapecó, caracterizadas por riolitos, riodacitos e quartzo-latitos, estas unidades caracterizam os platôs de Pinhão e Guarapuava, são os derrames mais recentes. Ainda aparecem rochas intermediárias, os andesitos. A tabela 1: mostra as diferenças entre as litologias que caracterizam o terceiro planalto paranaense. UN ID AD ES Ch ape LITO TIPOS CARACTERÍ STICAS DOS LITOTIPOS ÁREA DE OCORRÊ NCIA có Bás icas e Int er me diá rias Dacitos , Riodác itos, Quartz o Latitos e Riolito s. Cinza esverdeada quando fresca, e castanho avermelhada quando alteradas. Fortemente porfíriticas, com fenocristais de plagioclásio internamente fraturados o que da a rocha à característica glomeroporfirí tica presença de quartzo e feldspato alcalino na matriz afanítica. Norte do rio Iguaçu, definindo os plateaus de Guarapuava e Pinhão. Entre os rios Iguaçu e Uruguai, correm outros plateaus, sendo os de maior expressão os de Xanxerê, Campos Novos e Chapecó. Basalt os de naturez a toleític a e escasso s andesít os també m de naturez a toleític a. Coloração, cinza escura a negra, granulação muito fina a média, hipocristalinos, maciços ou vesiculares. Assenta-se sobre os arenitos eólicos da Formação Botucatu, Tabela 1: Diferença entre as unidades litológicas encontradas no terceiro planalto paranaense. Fonte: Nardy, 1995. - Organização: Eliza do Belém Tratz, 2009. Em contato com a Unidade Básica inferior, nas mais antigas, aparecem os arenitos eólicos da Formação Botucatu, rochas que remetem ao paleodeserto Botucatu. Este processo de desertificação ocorreu concomitantemente aos derrames basálticos. Nestas áreas onde o relevo aparece mais ondulado, a influência é das paleodunas do Botucatu (BIGARELLA ET ALL, 1989; NARDY, 1995; ARIOLI, 2008). Não raro, aparecem peperitos, quais resultaram da interação entre as lavas do vulcanismo mesozóico e as areias do paleodeserto Botucatu. Tal interação aconteceu quando ambos ainda estavam em estado líquido (WAICHEL, 2006). Além disso, aparecem por entre os derrames diques de arenitos até centimétricos, quais indicam injeções de arenito. Estas rochas são responsáveis em parte pela configuração da Geomorfologia do terceiro planalto, como exemplo as áreas mais altas e planas estão relacionadas às unidades ácidas, enquanto que as áreas com maior grau de dessecamento aparecem relacionadas a linhas de falhas e aos basaltos. Configuração Geomorfológica do Terceiro Planalto Paranaense. Ocupando 2/3 da supercie do estado do Paraná,a evolução do modelado do relevo do Terceiro Planalto Paranaense é influênciada pelas características climáticas,geoquímicas,petrográficas,tectônicas ,erosivas e hidrográficas, associadas aos derrames vulcanicos do mesozóico (VOLKMER,2003) . O Arco de Ponta Grossa,teve grande influência na configuração do relevo e no redirecionamento da drenagem.Pois ele forçou a reestruturação tectônica de toda a borda paranaense da Bacia Sedimentar do Paraná,sob forma de uma meia abóboda de tipo macrodômica, que durante o soerguimento do conjunto estrutural conduziu aos complexos processos desnudacionais,responsáveis pela elaboração dos três planaltos(Ab’Sáber, 2003). Transformando as estruturas paleozóicas, e parcialmente, as mesozóicas, em um “capeamento abaulado e densamente cizalhado”(Ab’Sáber, 1998). O intenso fraturamento paralelo ao seu eixo, que ocorreu no período Juro-Cretácico teria sido responsável pelo enxame de diques e sills de diabásio, que registraram no terreno uma faixa com largura entre 20 e 100km, coincidindo com a zona de falhas que se situa entre N40W e N55W.No entanto a formação dos platôs soerguidos em decorrência do abaulamento já mencionado, há de se considerar as depressões interplanálticas existentes nesta grande área de estudo. A formação destas depressões está atrelada, por vezes, a fatores epirogênicos, por rebaixamento erosivo ou por processos de dissolução, dependendo da área considerada(VOLKMER,2003). O Terceiro Planalto desenvolve-se como um conjunto de relevos planálticos, com inclinação geral para oeste-noroeste e subdivididos pelos principais afluentes do Rio Paraná, atingindo altitudes médias de cimeira de 1100 a 1250m, na Serra da Esperança, declinando para altitudes entre 220 e 300 metros na calha do rio Paraná, sendo subdividido em 18 unidades mofoesculturais que classifican-se em Planalto Pitanga/Ivaiporã, Planalto da Foz de Areia, Planalto de Clevelândia, Planalto de Palmas/Guarapuava, Planalto do Alto/Médio Piquiri, Planalto de Apucarana, Planalto de Londrina, Planalto do Médio Paranapanema, Planalto de Maringá, Planalto de Campo Mourão, Planalto de Paranavaí, Planalto de Umuarama, Planalto de Cascavel, Planalto do Baixo Iguaçu, Planalto de Francisco Beltrão, Planalto do Alto Capanema, Planalto do São Francisco, Planalto de Foz de Iguaçu (SANTOS, L.J.C. et al, 2006). Tomando por base os rios Tibagi, Ivaí, Piquiri e Iguaçu, o terceiro planalto pode ser dividido nos seguintes blocos planálticos o de Cambará-São Jerônimo da Serra, Apucarana, Campo Mourão, Guarapuava e Palmas. Na parte sul do estado, a região das vertentes do planalto de Palmas, corresponde à um bloco mais elevado à SE, onde o rio Iguaçu e seus afluentes alargaram os vales. O planalto de Guarapuava estende-se até o rio Piquiri (de direção geral NW),este planalto corresponde a uma superfície elevada com altitudes que variam de 600 a 1000m.Os planaltos de Campo Mourão e Apucarana,apresentam grandes anomalias no relevo,no entanto os rios Ivaí e Tibagi demonstram ser fortes agentes de dissecação no relevo, mostrando entalhes no relevo de mais de 200m de profundidade.A região N-NW, igualmente caracterizada por planaltos tabulares, atinge altitudes máxima de 600m, como se observa no bloco planáltico Cambará-São Jerônimo da Serra, no extremo norte do estado. Esta região foi esculpida por drenagens importantes como os rios Tibagi, Pirapó, Ivaí e Piquiri, que localizadamente foram responsáveis por uma incisão verticalizada e mais profunda destes planaltos(VOLKMER,2003) . Em vários locais do terceiro planalto paranaense, aparecem denominações de serras como Dourados, Palmital, Cantagalo, Chagu, Pitanga, Lagarto, Apucarana, Fartura e muitas outras. Na realidade estas serras não passam de espigões, mesetas, ou de pequenos morros. Outras são degraus (estruturais) que ocupam bordas de lençois de lavas, como as escarpas São Francisco e Boi Preto, localizadas no oeste do Estado do Paraná (SANTOS, L.J.C. et al, 2006).No entanto o que predomina é os chapadões,maciços e vales que irradiam para norte,oeste e ao sul (AB’SÁBER,2003). Considerações Finais Sendo assim, conclui-se que as unidades ácidas correspondem às áreas mais elevadas e planas, localizadas em altos topográficos, os platôs, como exemplo, o platô de Guarapuava e Pinhão, sustentados por rochas ácidas do Tipo Chapecó. As áreas elevadas e com relevo apresentam expressão parecida com a das unidades ácidas que indicam também, basaltos vítreos, porém, estas áreas são menos planas quando comparadas às rochas ácidas. As áreas mais dissecadas, representadas por morros, marretes e colinas estão atreladas às rochas vulcânicas básicas. Referências Bibliográficas: AB’SÁBER, A.N.1998. Megageomorfologia do território brasileiro. In: Geomorfologia do Brasil, Cunha, S.B.; Guerra, A.J.T.(coords.). BCD União de Editoras, Rio de Janeiro, RJ, p. 71106. Ab'Saber, Aziz Nacib. Os domínios de natureza no Brasil: Potencialidades paisagísticas. São Paulo, Ateliê Editorial, 2003. ARIOLI, E. E; LICHT, O.A. B; VASCONCELLOS; E.M.G; BONNET, K,L ;SANTOS.M. do. 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