Advérbios locativos na posição de sujeito no PB Zenaide Dias Teixeira (UnB/UEG) [email protected] Pesquisas como as de Pontes (1986; 1987), Kato e Duarte (2008), Munhoz e Naves (2010) demonstram que uma das estratégias utilizadas para o preenchimento do sujeito no PB é o alçamento de advérbios locativos e/ou sintagmas locativos para a posição de sujeito. Entre os argumentos para a hipótese de os locativos ocorrerem na posição de sujeito, constam: 1 – o desencadeamento de concordância verbal “A Belina cabe 60l de gasolina”/ “*A Belina cabem 60l de gasolina” (Pontes, 1986:19); 2 – a ocorrência anteposta ao verbo (posição canônica de sujeito); 3 – a possibilidade de serem coindexados a uma categoria (nula ou pronominal) que desempenha o papel de sujeito em oração coordenada ou encaixada: “Essas casasi batem bastante sol e não ei possuem sistema de captação de energia solar”, “Essas casasi batem bastante sol porque ei ficam distantes das árvores” (Munhoz e Naves, 2010, p.2). Munhoz e Naves sustentam ainda que as estruturas de tópico-sujeito locativo são licenciadas apenas com verbos inacusativos biargumentais, definidos pelo contraste (Bate sol *(na casa)/ Furou o pneu (do carro)). Assim, tópicos-sujeito locativos não ocorrem em contextos que envolvem o alçamento de sintagma modificador, como a seguir: “O carro furou o pneu”/ “?Aqui furou o pneu”. Adotando Cinque (1999), notamos que a possibilidade de ocupar a posição de sujeito interage com a tipologia sintática dos advérbios, pois está restrita aos advérbios ditos de VP. Ao contrastarmos dados em que advérbios e NPs locativos ocupam a posição de sujeito no PB, notamos também que NPs locativos comportam-se de maneira distinta de advérbios locativos. NPs locativos são capazes de desencadear concordância com verbos inacusativos biargumentais, enquanto advérbios locativos não: “Esse sítio e essa fazenda dão muita banana”; “?Aqui e ali dão muita banana”. Notamos, porém, que advérbios locativos desencadeiam concordância com verbos copulativos: “Aqui e ali são meu refúgio”; “?Aqui e ali é meu refúgio”. O contraste sugere que a possibilidade de desencadear a concordância de número no verbo em estruturas copulativas deve-se ao fato de tais construções permitirem leitura distributiva da relação entre o predicativo e o argumento locativo. Tal leitura não está disponível para verbo inacusativo biargumental, em que o predicado denota um evento homogêneo, que exclui a leitura distributiva da relação com o argumento locativo. Concluímos que, diferentemente do NPs plenos, os advérbios não manifestam a categoria ‘número’, inerentemente, embora manifestem a categoria ‘pessoa’. Finalmente, assumindo a hipótese de Baker (2004), que postula que nomes são marcados pelo traço +N por possuírem índice referencial, chegamos à conclusão de que advérbios locativos podem ocupar a posição de sujeito porque possuem índice referencial, sendo categorias [+N], como os nomes. Concluímos que a ocorrência de advérbios locativos na posição de sujeito está vinculada ao requisito de que a categoria seja um advérbio de VP, em que se configuram as seguintes propriedades: o traço [+N], a presença de índice referencial, o traço de pessoa (3ª pessoa), que permitem sua ocorrência na posição de sujeito, como licenciador do traço EPP. Referências Bibliográficas BAKER, M.C. (2004). Lexical Categories: verbs, nouns and adjectives. Cambridge University Press. CINQUE, G.(1999). Adverbs and functional heads: A cross-linguistic perspective. New York: Oxford University Press. KATO, M. & DUARTE, M.E.L. Mudança paramétrica e orientação para o discurso. In: Anais do Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Linguística, XXIV, 2008. Braga: Universidade do Minho, 20-22 nov. 2008. MUNHOZ, A.T.M. & NAVES, R.R. (2010). Notas a respeito da estrutura argumental de verbos com alternância entre tema e locativo no português brasileiro. In Anais do IX Encontro do Centro de Estudos Linguísticos do Sul (CELSUL). Universidade do Sul de Santa Catarina. PONTES, E. S. L.(1986). Sujeito: da sintaxe ao discurso. São Paulo: Ática; (Brasília): INL, Fundação Nacional Pró-Memória. _____. (1987). O tópico no português do Brasil. Campinas: Pontes.