ICTIOFAUNA DO ESTUÁRIO DO RIO CRICARÉ, LITORAL NORTE

Propaganda
AS ASSEMBLÉIAS DE PEIXES DOS
ESTUÁRIOS DE CONCEIÇÃO DA BARRA E
BARRA NOVA, ESPÍRITO SANTO
Arthur da Costa Lima
Dissertação de Mestrado
Mestrado em Biodiversidade Tropical
Centro Universitário Norte do Espírito Santo
São Mateus, Fevereiro de 2012
AS ASSEMBLÉIAS DE PEIXES DOS ESTUÁRIOS DE
CONCEIÇÃO DA BARRA E BARRA NOVA, ESPÍRITO
SANTO
Arthur da Costa Lima
Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Tropical do Centro
Universitário Norte do Espírito Santo como requisito parcial para a obtenção do grau de
Mestre em Biodiversidade Tropical.
Aprovado em 10/02/2012 por:
__________________________________________________
Prof. Dr. Maurício Hostim Silva - Orientador, CEUNES
__________________________________________________
Prof. Dr. Luis Fernando Loureiro Fernandes, UFES
__________________________________________________
Prof. Dr. Joaquim Olinto Branco, UNIVALI
Centro Universitário Norte do Espírito Santo
São Mateus, Fevereiro de 2012
.................................................................................................................................
Lima, Arthur da Costa, 1984
As Assembléias de Peixes dos Estuários de Conceição da Barra e Barra Nova, Espírito Santo.
São Mateus, 2012.
xii, 89 p., 29,7 cm (CEUNES, M. Sc., Biodiversidade tropical, 2012)
Dissertação, Centro Universitário Norte do Espírito Santo, PPGBT
.......................................................................................................................................................
I. Ecologia
I. PPGBT/CEUNES...........................................II. Ictiofauna do estuário do rio Cricaré, litoral
norte do Estado do Espírito Santo, Brasil.....................................................................................
Dedico esse trabalho a todos que de alguma
forma contribuíram para eu chegar onde eu
estou hoje, em especial aos meus pais por
todo carinho e apoio, que nos momentos
mais difíceis sempre estiveram ao meu lado.
AGRADECIMENTOS
A Deus que sempre esteve ao meu lado em todas as etapas da mimha vida.
Ao meu orientador Prof. Dr. Maurício Hostim Silva pelo ensinamento, paciência e
confiança a mim depositados.
Ao Prof. Dr. Henry Louis Spach e toda sua equipe que me ajudaram bastante na reta
final do meu trabalho.
A todos os professores do Programa de Mestrado em Biodiverssidade Tropical pelos
ensinamentos passados e funcionários por seus serviços prestados.
A todos os colegas de laboratório pela amizada construída nesses dois anos de trabalho
e pela ajuda, tanto nas coletas quanto na hora de processar o material.
Aos meus companheiros de turma pela companinha, amizade e ajuda durante as aulas.
A todos os pescadores que me acompanharam nas coletas, que além de colegas se
tornaram amigos.
Ao meu filho Heitor que está a caminho, minha esposa Saerly e meus familiares pelo
amor, carinho e compreensão durante todo meu trbalho.
Ao amigo Junio Damasceno pela ajuda, companinha, amizade e paciência, o qual foi
essencial na conclusão do meu mestrado.
A FAPES pela bolsa de pesquisa, ao IEMA e IBAMA pela licença de coleta e ao
CEUNES pelo curso cursado.
A todos meus amigos que me acompanharam nessa trajetória dando todo apoio
necessário.
Não quis colocar muitos nomes, pois poderia ser injusto com alguns, caso esquecese
de cita-los, afinal muitas forma as ajudas recebidas, muitas foram as pessoas que contribuíram
na conclusão desse trabalho.
A todos deixo registrado aqui o meu muito obrigado!
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA. ....................................................................................................................... 4
AGRADECIMENTOS .......................................................................................................................... 5
SUMÁRIO .............................................................................................................................................. 6
LISTA DE ILUSTRAÇÕES .................................................................................................................. 9
PREFÁCIO .............................................................................................................................................. 11
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 15
CAPÍTULO I - AS ASSEMBLÉIAS DE PEIXES DOS ESTUÁRIOS DE CONCEIÇÃO DA BARRA E BARRA
NOVA, ESPÍRITO S ANTO ...................................................................................................................... 20
RESUMO ................................................................................................................................................ 20
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................ 21
MATERIAL E MÉTODO .............................................................................................................................. 22
ÁREA DE ESTUDO ..................................................................................................................................... 22
COLETA DE DADOS .................................................................................................................................... 25
ANÁLISE DOS DADOS ........................................................................................................................... 27
RESULTADOS ........................................................................................................................................ 28
INFORMAÇÕES GERAIS ........................................................................................................................ 28
VARIAÇÃO T EMPORAL ......................................................................................................................... 34
VARIAÇÃO ESPACIAL ........................................................................................................................... 44
DISCUSSÃO ........................................................................................................................................... 52
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 57
CAPÍTULO II - ICTIOFAUNA DOS ESTUÁRIOS DE CONCEIÇÃO DA BARRA E BARRA NOVA: RELAÇÃO
PESO X COMPRIMENTO ........................................................................................................................ 64
RESUMO ................................................................................................................................................ 64
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................ 65
MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................................................. 66
ANÁLISE DE DADOS ............................................................................................................................. 67
RESULTADOS ........................................................................................................................................ 67
DISCUSSÃO ........................................................................................................................................... 72
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 73
CAPÍTULO III - PEIXES DE UMA REGIÃO DE TRANSIÇÃO ENTRE A ÁREA TROPICAL E SUBTROPICAL
DO A TLÂNTICO SUL ............................................................................................................................. 75
RESUMO ................................................................................................................................................ 75
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................ 76
MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................................................................ 76
ÁREA DE ESTUDO ................................................................................................................................. 76
COLETA DE DADOS ............................................................................................................................... 78
T RATAMENTO DOS DADOS ................................................................................................................... 79
RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................................................. 79
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 85
CONCLUSÃO ......................................................................................................................................... 89
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Lista de espécies capturadas nos estuários de Conceição da Barra e Barra Nova entre os
meses de novembro de 2010 e outubro de 2011. N, número de indivíduos; CT, comprimento total; DP,
desvio padrão. ................................................................................................................................... 3030
Tabela 2 - Número de indivíduos capturados de cada espécie em cada mês de coleta no estuário de
Conceição da Barra, Espírito Santo..................................................................................................... 355
Tabela 3 - Número de indivíduos capturados de cada espécie em cada mês de coleta no estuário de
Barra Nova, Espírito Santo.................................................................................................................. 377
Tabela 4 - Número de indivíduos capturados de cada espécie em cada ponto amostral do estuário de
Conceição da Barra, Espírito Santo..................................................................................................... 455
Tabela 5 - Número de indivíduos capturados de cada espécie em cada ponto amostral do estuário de
Barra Nova, Espírito Santo.................................................................................................................. 466
Tabela 1 - Espécies e parâmetros das relações peso-comprimento das coletas realizadas no estuário de
Conceição da Barra/ES, entre setembro de 2010 e outubro de 2011. Dados em negrito referem-se às
espécies que ocorreram unicamente no estuário de Conceição da Barra (I= isométrico, A+= alométrico
positivo)............................................................................................................................................... 689
Tabela 2 - Espécies e parâmetros das relações peso-comprimento das coletas realizadas no estuário de
Barra Nova, São Mateus/ES, entre setembro de 2010 e outubro de 2011. Dados em negrito referem-se
às espécies que ocorreram unicamente no estuário de Barra Nova (I= isométrico, A+= alométrico
positivo)............................................................................................................................................... 701
Tabela 3 - Classificação taxonômica da ictiofauna encontrada no norte do Espírito Santo, Atlântico Sul
Oeste. Distribuição Geográfica: CT = circuntropical, TA = Trans-Atlantic, WA = Western Atlantic,
SWA = Southern West Atlantic, SSWA = Southern South West Atlantic, Ca = Caribbean, Br =
Brazilian Province, EA = Eastern Atlantic, EP = Eastern Pacific and ? = not found. Status de
conservação segundo IUCN (2010): * = criticamente em perigo. Status de conservação segundo MMA
(2004, 2008): ††= sobreexplotada. Status de conservação segundo SEMA/SP (2010): † =
sobreexplotadas, ‡ = ameaçadas de sobreexplotação. ......................................................................... 812
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Localização dos estuários do rio Cricaré no município de Conceição da Barra, ao norte e de
Barra Nova – São Mateus, ao sul. ......................................................................................................... 23
Figura 2 - Temperatura atmosférica média (°C) nos estuários de Conceição da Barra e Barra nova
entre novembro de 2010 e outubro de 2011. ...................................................................................... 24
Figura 3 - Pluviosidade nos estuários de Conceição da Barra e Barra nova entre novembro de 2010 e
outubro de 2011.................................................................................................................................... 25
Figura 4 - Mapa do estuário de Conceição da Barra com a localização dos pontos amostrais. Ponto 1,
Foz do rio Santana; Ponto 2, Canal principal do rio Cricaré; Ponto 3, Enseada entre o manguezal;
Ponto 4, Riacho. .................................................................................................................................... 26
Figura 5 - Mapa do estuário de Barra Nova com a localização dos pontos amostrais. Ponto 1, Cais de
embarque e desembarque; Ponto 2, Foz do rio Mariricu; Ponto 3, Próximo a estação de
armazenamento e transporte de petróleo; Ponto 4, Rio Mariricu. ...................................................... 27
Figura 6 - Resultado da análise de variância avaliando as diferenças entre as médias mensais do
número de espécies (A), número de indivíduos (B), diversidade de Shannon-Wiener (C) e
Equitabilidade de Pielou (D) em Conceição da Barra, Espírito Santo ( Média Média±EP, EP=
erro padrão). .......................................................................................................................................... 39
Figura 7 - Resultado da análise de variância avaliando as diferenças entre as médias mensais do
número de espécies (A), número de indivíduos (B), diversidade de Shannon-Wiener (C) e
Equitabilidade de Pielou (D) na Barra Nova, Espírito Santo ( Média Média±EP, EP= erro padrão).
............................................................................................................................................................... 40
Figura 8 – MDS Cluster utilizando como atributos a ocorrência e a abundância mensal das espécies
capturadas em Conceição da Barra, Espírito Santo. ............................................................................. 42
Figura 9 – MDS e Cluster utilizando como atributos a ocorrência e a abundância mensal das espécies
capturadas na Barra Nova, Espírito Santo............................................................................................. 43
Figura 10 - Resultado da análise de variância avaliando as diferenças entre as médias mensais do
número de espécies (A), número de indivíduos (B), diversidade de Shannon-Wiener (C) e
Equitabilidade de Pielou (D) em Conceição da Barra, Espírito Santo ( Média Média±EP, EP= erro
padrão). ................................................................................................................................................. 48
Figura 11 - Resultado da análise de variância avaliando as diferenças entre as médias mensais do
número de espécies (A), número de indivíduos (B), diversidade de Shannon-Wiener (C) e
Equitabilidade de Pielou (D) na Barra Nova, Espírito Santo ( Média Média±EP, EP= erro padrão).
............................................................................................................................................................... 49
Figura 12 – MDS e Cluster utilizando como atributos a ocorrência e a abundância por ponto de coleta
das espécies capturadas em Conceição da Barra, Espírito Santo. ........................................................ 51
Figura 13 – MDS e Cluster utilizando como atributos a ocorrência e a abundância por ponto de coleta
das espécies capturadas na Barra Nova, Espírito Santo. ...................................................................... 52
Figura 1 - Localização dos estuários do rio Cricaré no município de Conceição da Barra ao norte e de
Barra Nova – São Mateus, ao sul. ......................................................................................................... 66
Figura 2 - Distribuição Geográfica da ictiofauna encontrada no no norte do Espírito Santo, Atlântico
Sul (CT = circuntropical, TA = Trans-Atlantic, WA = Western Atlantic, SWA = Southern West
Atlantic, SSWA = Southern South West Atlantic, Ca = Caribbean, Br = Brazilian Province, EA =
Eastern Atlantic e EP = Eastern Pacific. ............................................................................................... 84
11
PREFÁCIO
Estuário pode ser definido como sendo um corpo de água semi-fechado que se conecta
livremente com o oceano, onde em seu interior a água salgada vinda do mar sofre uma
diluição gradativa pela água doce vinda do continente (PRITCHARD, 1967 apud ELLIOTT
& McLUSKY, 2002), ou seja, apresenta uma água salobra. A salinidade diminui de acordo
com que vai subindo o rio e aumenta quando se caminha em direção ao oceano. Nos estuários
as variações espaciais e temporais são continuas (ELLIOTT & McLUSKY, 2002). Grandes
oscilações podem ocorrer em questões de horas.
Os estuários são caracterizados pelas mudanças naturais de suas variáveis abióticas e
consequentemente bióticas. Tem-se sugerido que os fatores abióticos sobrepõem-se aos
bióticos na determinação da presença das espécies nos estuários, assim como de suas
abundâncias (BLABER, 2000). Essas características influenciam direta ou indiretamente na
diversidade, densidade e biomassa dos organismos que utilizam esse ambiente. Os principais
fatores abióticos estruturadores dessas comunidades ícticas são a temperatura e a salinidade
(ANDRADE-TUBINO et al., 2008). De acordo com Blaber (2000) a salinidade é fator
limitante da presença de espécies que podem ocupar os estuários e a temperatura da água
limita a abundância individual dessas espécies. Sendo ambos os fatores influenciados pelo
regime pluviométrico da bacia de drenagem.
As variações abruptas dos parâmetros abióticos no meio aquático, principalmente
salinidade, demandam características fisiológicas necessárias às espécies adaptadas a este
meio. O número de espécies presentes nos estuários temperados e subtropicais apresenta picos
na primavera e verão, de acordo os padrões anuais de temperatura, enquanto os ciclos
sazonais de abundância nos sistemas estuarinos tropicais estão relacionados com variações da
salinidade (NORDLIE, 2003).
A ictiofauna dos estuários da região norte do Brasil apresentam ciclos sazonais em
seus índices de riqueza, diversidade e equitabilidade, estando esses relacionados às variações
anuais de salinidade, como característico em climas tropicais (BARLETTA-BERGAN et al.,
2002). Outros fatores abióticos como turbidez, efeito do substrato e profundidade são muitos
importantes na distribuição de peixes jovens nos estuários (BLABER, 2000). No rio Tibiri
(MA) Batista e Rêgo (2001) observaram que o aumento da turbidez ocorrida durante as
maiores amplitudes de marés, período que coincide ao aumento da salinidade, constitui um
fator adicional de atração para as espécies marinhas.
12
As espécies tolerantes as constantes mudanças dos estuários possuem uma vantagem
considerável, pois usufruem um ambiente rico em nutrientes e que exclui muitos
competidores potenciais devido às especificidades exigidas (WHITFIELD, 1999). Os
estuários são ambientes únicos para muitas espécies. Situados na fronteira entre o ambiente
marinho, terrestre e fluvial, recebem aporte de água doce e nutrientes do continente, de forma
que têm sido consideradas um dos habitats naturais mais produtivos do mundo (COSTA et al.,
1994; LONGHURST & PAULY, 1987; SHERIDAN, 1992).
A abundância de peixes nos estuários deve-se principalmente à disponibilidade de
alimentos, a partir da produção primária (ROBERTSON & BLABER 1992); complexidade
estrutural da vegetação de mangue, que propicia refúgio, principalmente para os peixes
jovens; elevada turbidez da água; e reduzido número de peixes carnívoros de grande porte
(ROBERTSON & BLABER, 1992; MULLIN, 1995). Sendo assim, suportam grandes
estoques de peixes, primariamente juvenis, pois são as principais áreas de criação,
alimentação, reprodução e crescimento para a maioria dos estoques de importância comercial,
proporcionando refúgio para os estágios mais vulneráveis a predação (GODEFROID et al.,
2003; KENNISH, 1990 apud RAMOS & VIEIRA, 2001).
Flutuações populacionais ocorrem em maior intensidade em condições variáveis como
as estuarinas (VAZZOLER et al., 1999). Os peixes de estuários tropicais estão sujeitos a uma
gama de interações de fatores físico-químicos e biológicos que determinam seus padrões de
ocorrência, distribuição e movimento (BLABER, 2000). Os estuários por sua dinâmica já
apresentam alterações contínuas dos valores das suas variáveis físicas e químicas (MIRANDA
et al., 2002).
A ictiofauna também apresenta respostas às variações climáticas, sendo que estas
respostas podem se caracterizar por composições diferenciadas nos períodos de estiagens em
relação aos de maior pluviosidade, bem como essas divergências podem ser atenuadas nos
períodos em que não há instabilidade pluviométrica tão marcada (BRANCO & VERANI,
2006; FALCÃO et al., 2006). Andrade-Tubino et al. (2008) afirmam que os padrões de
distribuição das ictiocenoses
ao longo da costa brasileira estão mais associadas à
heterogeneidade espacial e tolerância à variação de salinidade do que às estratégias de vida
das espécies.
Nos estudos realizados na costa norte do Brasil por Barthem (1985), Martins-Juras et
al., (1987), Batista e Rêgo (1996), Castro (2001), Barletta et al. (2003) e Barletta et al.
(2005), observa-se um predomínio de espécies pertencentes às famílias Sciaenidae, Ariidae,
Gobiidae e Gerreidae, as quais procuram áreas estuarinas tropicais para reprodução e/ou
13
crescimento (BLABER, 2002). Os peixes demersais estuarinos da costa nordeste brasileira
caracteriza-se pelo grande número de espécies marinhas oportunistas, como as representantes
das famílias Haemulidae e Lutjanidae que habitam as águas quentes e os fundos rochosos e
coralíneos ao largo da estreita plataforma continental nordestina e que, frequentemente,
penetram nos estuários atrás de suas presas (VAZZOLER et al., 1999). A mesma dominância
de peixes demersais marinhos oportunistas ocorre nos estuários da região sudeste, com
representantes das famílias Haemulidae e Serranidae que habitam os fundos rochosos ao largo
da plataforma continental, adentrando com frequência nos estuários (VAZZOLER et al.,
1999).
No Brasil foi catalogado um total de 617 espécies de teleósteos demersais marinhos e
estuarinos, distribuídos em 26 ordens e 118 famílias. Dentre as seis regiões litorâneas
brasileiras, a região amazônica destaca-se como a região que apresenta o maior número de
espécies distintas (443), seguido pela região sudeste (429). A região sul teve o menor número
de espécies: 248. Quando falamos em número de ordens, a região sul se destaca (96), ficando
atrás apenas da região sudeste (99). O número de famílias não variou muito entre as regiões,
em torno de 24. Dentre as famílias, a Serranidae foi a que mais de destacou com 7% das
espécies, seguido pela Sciaenidae (5,6%) e Gobiidae (3,8%). Mais de 50% do total de
espécies de teleósteos demersais do Brasil estão representadas pelas famílias Serranidae,
Sciaenidae, Gobiidae, Haemulidae, Carangidae, Paralichthyidae, Labridae, Ariidae,
Scorpaenidae, Lutjanidae, Scaridae, Pomacentridae, Gerreidae, Syngnathidae, Muraenidae,
Macrouridae,
Synodontidae,
Cynoglossidae,
Ophidiidae,
Ophichthidae,
Blenniidae,
Labrisomidae (HAIMOVICI & KLIPPEL, 1999).
Para peixes demersais estuarinos, Andrade-Tubino et al. (2008), encontraram que as
famílias de teleósteos mais representativas nos estuários brasileiros, representando 40% do
total de 304 espécies registradas, foram Sciaenidae (30), Gobiidae (21), Serranidae (17),
Ariidae (16), Haemulidae (15), Gerreidae e Paralichthyidae (14) e Syngnathidae (12). Já
Vieira e Musick (1994) afirmam que as famílias Ariidae, Gerreidae e Sciaenidae estão entre
as maiores responsáveis por cerca de 80% do total de peixes coletados entre as latitudes 35ºS
e 37ºN do Atlântico Ocidental.
Em um levantamento da ictiofauna demersal do estuário da Baía de Vitória, Chagas et
al (2006) catalogaram 60 espécies de teleósteos demersal, distribuído em 27 famílias. As
famílias mais representativas foram Gobiidae e Paralichthyidae com 06 representantes cada e
Sciaenidae e Achiridae com 05 espécies cada. Dentre as espécies que se destacaram em
14
abundância estão Eucinostomus sp., Cychlichthys spinosus, Lutjanus synagris, Achirus
lineatus e Sphoeroides testudineus.
Para estuários do norte do Estado do Espírito Santo, Macieira (2005) encontrou para
os estuários dos rios Piraquê-açu e Piraquê-mirim, na cidade de Aracruz, 104 espécies
distribuídas entre 38 familias. Um total de 10 taxas representaram mais de 70% das capturas,
são elas: Eucinostomus spp., Cychlichthys spinosus, Achirus lineatus, Lutjanus synagris,
Symphurus tesselatus, Sphoeroides testudineus, Achirus declivis, Anchoviella lepidentostole,
Stellifer rastrifer e S. greeleyi. O autor destaca a importância dos estuários capixabas (Baía de
Vitória e Piraquê-açu e Piraquê-mirim) para a família Lutjanidae, em especial para Lutjanus
synagris, indicando essas áreas como possíveis zonas de “berçários” para tal espécie.
No sul do Estado do Espírito Santo, Pinheiro et al. (2009) estudando a bacia do rio
Benevente, em ecossistema de plataforma, distado entre 500 e 1.000 mts da costa, registrou
57 espécies distribuídas em 26 famílias. As espécies residentes apresentaram uma alta
proporção de juvenis ao longo do ano, sendo as mais abundantes. Entre estes, os peixes
bentônicos da família Sciaenidae foram às dominantes, seguido de Tetraodontiformes,
Sciaenidae nectônico e Clupeiformes. No geral, a família Sciaenidae apresentou o maior
número de espécies (13), seguido por Carangidae (5) e Tetraodontidae (4).
Os estuários desempenham importante papel econômico e ecológico, mas ainda assim
sofrem pressão antrópica de origem diversa, como destruição dos manguezais, assoreamento e
descarga de efluentes urbanos (JESUS et al., 2004). Tais pressões apresentam resultados
negativos para a ictiofauna ali presente, (CHAVES & VENDEL, 2001). Mesmo se tratando
de um recurso de grande importância sócio econômica, a comunidade de peixes ainda é pouco
estudada quanto à avaliação dos impactos das atividades humanas sobre ela (ARAÚJO, 1998;
LIMA et al., 2001). Há séculos as populações humanas têm se concentrado nestas áreas,
visando à sobrevivência através da pesca extrativista de vários organismos. Os peixes
destacam-se entre os recursos com potencial para pesca, por serem fonte de alimento com alto
valor protéico e pela grande biomassa disponível (WHITFIELD, 1999). Devido a isso, vários
estoques estão entrando em colapso, incluindo espécies não alvo, pois a pesca predatória
atinge tanto as espécies comercialmente exploradas quanto as que compõem a complexa rede
alimentar estuarina (ELLIOTT & McLUSKY, 2002).
O litoral do Espírito Santo ocupa uma pequena parcela do litoral brasileiro.
Correspondendo a 5,4% de toda costa nacional e uma área ocupada por manguezais de
aproximadamente 70,35 Km² deste Estado (GUERRA, 1987). Juntamente com Vitória e
Aracruz, Conceição da Barra e São Mateus possuem os manguezais mais representativos do
15
Espírito Santo em área ocupada, com forte atuação da pesca artesanal sem qualquer
monitoramento desta atividade (VALE & FERREIRA, 1998).
Chagas et al. (2006), no seu trabalho com peixes nos manguezais da região da
“Grande Vitória”, expressam a preocupação com o grau de desconhecimento sobre a
ictiofauna do Estado do Espírito Santo e principalmente sobre a necessidade de pesquisas
sobre a biologia e a ecologia de peixes estuarinos. A determinação da biodiversidade,
especialmente da comunidade de peixes e dos seus padrões de variação espacial e temporal, é
de grande relevância para avaliar a qualidade ambiental, uma vez que os peixes ocupam
diversas posições na teia trófica (TEIXEIRA et al. 2005). Logo, estudos voltados ao
conhecimento das espécies que compõem a ictiofauna de um ambiente são fundamentais para
a compreensão do ecossistema, e fornecimento de dados necessários para ações de
conservação e preservação. Neste sentido, este trabalho objetiva a caracterização da ictiofauna
dos estuários de Conceição da Barra e Barra Nova.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE-TUBINO, M. F.; RIBEIRO, A. L.; VIANNA, M. 2008. Organização EspaçoTemporal Das Ictiocenoses Demersais Nos Ecossistemas Estuarinos Brasileiros: Uma Síntese.
Oecologia Brasiliensis, v. 12, p. 640-661.
ARAÚJO, F. G. 1998. Adaptação do índice de integridade biótica usando a comunidade de
peixes para o rio Paraíba do Sul. Revista Brasileira de Biologia. 58(4): 547-558.
BARLETTA-BERGAN, A.; BARLETTA, M.; SAINT-PAUL, U. 2002. Structure and
Seasonal Dynamics of Larval Fish in the Caeté River Estuary in North Brazil, Estuarine,
Coastal and Shelf Science 54: 193–206.
BARLETTA, M.; BARLETTA-BERGAN, A.; SAINT-PAUL, U.; HUBOLD, G. 2003.
Seasonal changes in density, biomass and diversity of estuarine fishes in tidal mangrove
creeks of the lower Caeté Estuary (northern Brazilian coast, east Amazon). Marine Ecology
Progress Series, 256: 217-228.
16
BARLETTA, M.; BARLETTA-BERGAN, A.; SAINT-PAUL, U.; HUBOLD, G. 2005. The
role of salinity in structuring the fish assemblages in a tropical estuary. Jornal of Fish
Biology, 66: 45-72.
BARTHEM, R.B. 1985. Ocorrência, distribuição e biologia dos peixes da Baía de Marajó,
Estuário Amazônico. Boletim do Museu Paraense Emilio Goeldi, 2 (1):49-69.
BATISTA, V. da S.; RÊGO, F.N. 1996. Análise das associações de peixes, em igarapés do
estuário do rio Tibiri, Maranhão. Revista Brasileira de Biologia, 56 (1), 163-176.
BATISTA, V. da S.; RÊGO, F. N. 2001. A influência da mare no sistema de amostragem de
peixes no estuário do rio Tibiri, São Luis-MA, Brasil. Arquivos de Ciências do Mar, 34:131136.
BLABER, S.J.M. 2000. Tropical estuarine fishes: ecology, exploitation and conservation.
Queensland, Blackwell Science, 372p.
BRANCO, J.O.; VERANI, J.R. 2006. Análise quali-quantitativa de ictiofauna acompanhante
na pesca do camarão sete-barbas, na Armação do Itapocory, Penha, Santa Catarina. Revista
Brasileira de Zoologio. 23(2): 381-391.
CASTRO, A. C. L. de. 2001. Diversidade da assembléia de peixes em igarapés do estuário do
Rio Paciência (MA-Brasil). Atlântica. v. 23, p. 39-46.
CHAGAS, L. P.; JOYEUX, J. C.; FONSECA, F. R. 2006. Small-scale spatial changes in
estuarine fish: subtidal assemblages in tropical Brazil. Journal of the Marine Biological
Association of the United Kingdom, v. 86, p. 861-875.
CHAVES, P. T. C.; VENDEL, A. L. 2001. Reunião técnica sobre ictiologia em estuários.
Curitiba. 109p.
COSTA, M. J., COSTA, J. L., ALMEIDA P. R. E Assis, C. A. 1994. Do eel grass beds and
salt marsh borders act as preferential murseries and spawning grounds for fish? An example
of the Mira estuary in Portugal. Ecological Engineering 3: 187-195.
17
ELLIOT, M.; McLUSKY, D. S. 2002. The need for definitions in understanding estuaries.
Estuar., Coast. And Shelf Sci., 55:815-827.
FALCÃO, M.G.; SARPÉDONTI, V.; SPACH, H.L.; OTERO, M. E. B.; QUEIROZ, M. C. L.
N.; SANTOS, C. 2006. A ictiofauna em planícies de maré das baías das Laranjeiras e de
Paranaguá, Paraná, Brasil. Revista Brasileira de Zoociências. 8(2): 125-138.
GODEFROID, R. S.; SPACH, H.; SCHWARZ, R. J.; QUEIROZ, G. M. L. N.; OLIVEIRA
NETO, J. F. 2003. Efeito da Lua e da Maré na Captura de Peixes em uma Planície de Maré do
Setor Euhalino da Baía de Paranaguá – PR. Boletim do Instituto de Pesca, São Paulo, v. 29,
n.1, p. 47-55.
GUERRA, A.T. 1987. Dicionário geológico-geomorfologico. 7 Ed. Rio de Janeiro, RJ –
FIBGE, 448p.
HAIMOVICI, M.; KLIPPEL, S. 1999. Diagnóstico da biodiversidade de teleósteos demersais
marinhos e estuarinos do Brasil. Ministério do Meio Ambiente/Programa Nacional de
Biodiversidade (MMA/PROBIO) (Trabalho de divulagação científica).
JESUS, H. C.; COSTA, E. A.; MENDONÇA, A. S. F.; ZANDONADE, E. 2004. Distribuição
de metais pesados em sedimentos do sistema estuarino da Ilha de Vitória-ES. Química Nova.
27(3): 378-386.
LIMA, N. R. W.; BIZERRIL, C. R. S. F.; CANIÇALLI, C. S.; SUZUKI, M. S.;
ASSUMPÇÃO, J. 2001. Atividade de pesca durante a abertura da Barra da Lagoa de Iquipari,
São João da Barra, RJ. Boletim do Instituto de pesca. 27(2): 191-200.
LONGHURST, A. R. E D. PAULY. 1987. Ecology of tropical oceans. Academic Press,
London, p 407.
MACIEIRA, R. M. 2005. Aspectos da ictiofauna do sistema estuarino dos rios Piraquê-açu e
Piraquê-mirim, ES. Monografia, Oceanografia, Universidade Federal do Espírito Santo, 50p.
18
MARTINS-JURAS, I.A.G.; JURAS, A.A.; MENEZES, N.A. 1987. Relação preliminar dos
peixes da ilha de São Luís, Maranhão, Brasil. Revista Brasileira de Zoologia, 4 (2): 105-113.
MIRANDA, L. B.; CASTRO, B. M.; KJERVFE, B. 2002. Princípios de oceanografia física
de estuários. Editora Universidade de São Paulo, São Paulo.
MULLIN S.J. 1995. Estuarine fish populations among red mangrove prop roots of small
overwash islands. Wetlands 15: 324-329.
NORDLIE, F. O. 2003. Fish communities of estuarine salt marshes of eastern North America,
and comparisons with temperate estuaries of other continentes. Reviews in Fish Biology and
Fisheries, 13:281-325.
PINHEIRO, H. T.; MARTINS, A.S.; ARAUJO, J. N.; PINTO, A. S. S. 2009. Evidence of
seasonal changes in community structure for a coastal ecosystem in the central coast of Brazil,
south-west Atlantic. Journal of the Marine Biological Association of the United Kingdom
(Print), v. 89, p. 217-224.
RAMOS, L. A.; VIEIRA, J. P. 2001. Composição específica e abundância de peixes de zonas
rasas dos cinco estuários do Rio Grande do Sul, Brasil. Boletim do Instituto de Pesca, 27(1):
109-121.
ROBERTSON, A.I.; S.J.M. BLABER. 1992. Plankton, epibenthos and fish communities, p.
63-100. In: A.I. ROBERTSON & D.M ALONGI (Eds). Tropical mangrove ecosystems.
Washinhton, American Geophysical Union, Coastal and Estuarine Studies 41, 236p.
SHERIDAN, P. F. 1992. Comparative habitat utilization by estuarine macrofauna within the
mangrove ecosystem of Rochery Bay, Florida. Bulletin of Marine Science 50(1): 21-39.
TEIXEIRA, T.P.; PINTO, B.C.T.; TERRA, B.F.; ESTILIANO, E.O.; GRACIA D.; ARAÚJO
F.G. 2005. Diversidade das assembléias de peixes nas quatro unidades geográficas do rio
Paraíba do Sul. Iheringia, Série Zoologia, 95 (4): 347-357.
19
VALE, C.C.; FERREIRA, R.D. 1998. Os manguezais do Estado do Espírito Santo. In.
Simpósio de Ecossistemas Brasileiros. Águas de Lindóia – SP. ACIESP. Anais, 1:88-94.
VAZZOLER, A. E. M.; SOARES, L. S. H.; CUNNINGHAM, P. M. 1999. Ictiofauna da
Costa Brasileira. In: LOWE McCONNELL, R. C. Estudos Ecológicos de Comunidades de
Peixes Tropicais. São Paulo: EDUSP. 534p.
VIEIRA, J. P.; MUSICK, J. A. 1994. Fish Faunal Composition In Warm-Temperate And
Tropical Estuaries Of Wesstern Atlantic. Atlântica, Rio Grande, v. 16, n. 1, p. 31-53.
WHITFIELD, A. K. 1999. Ichthyofaunal assemblages in estuaries: A South African case
study. Reviews in Fish Biology and Fisheries. Volume 9, p. 151-186.
CAPÍTULO I - AS ASSEMBLÉIAS DE PEIXES DOS ESTUÁRIOS DE
CONCEIÇÃO DA BARRA E BARRA NOVA, ESPÍRITO SANTO
RESUMO
As coletas foram realizadas utilizando redes de arrasto de fundo com portas (2,80m de
abertura de boca por 3,90m de comprimento e malha de 3,9cm no corpo e 2,2cm no saco da
rede, em quatro pontos amostrais de cada um dos dois estuários do rio Cricaré: Conceição da
Barra e Barra Nova, entre novembro de 2010 e outubro de 2011. Nesse estudo um total de
6243 indivíduos foi coletado nos estuários de Conceição da Barra (3159) e Barra Nova
(3084), classificados em 55 taxa (28 famílias), 44 em Conceição da Barra e 46 em Barra
Nova. As espécies mais abundantes nos dois estuários foram Stellifer sp. e Diapterus
rhombeus representando 54% do número e 39% do peso das espécies capturadas. No estuário
de Conceição da Barra diferenças significativas só foram observadas entre as médias mensais
do número de indivíduos, já no estuário de Barra Nova só as médias mensais da diversidade
não foram significativamente diferentes. Diferenças espaciais só não foram significativas
entre as médias da equitatividade e do número de indivíduos nos estuários de Conceição da
Barra e Barra Nova, respectivamente. Diferenças significativas entre as assembléias de peixes
dos pontos de coleta foram observadas no estuário de Conceição da Barra.
Palavras chave: assembléia de peixe, variação espacial, variação temporal, Espírito
Santo, Brasil
21
INTRODUÇÃO
Os estuários são áreas de transição entre rios e oceano, do tipo ecoclina, pois possuem
comunidades heterogêneas que apresentam mudanças graduais em resposta ao gradiente
ambiental (DE CAMPAS & NAIMAN apud ATTRILL & RUNDLE, 2002). Apresentam
grandes flutuações na salinidade, temperatura, oxigênio dissolvido, nutrientes, maré, fluxo de
água doce, corrente marinha e turbidez (KUPSCHUS & TREMAIN, 2001). As mudanças
nestes parâmetros físicos e químicos podem ser de curto prazo, sazonal e interanual, as quais
exercem grande influência nas comunidades aquáticas (DAY et al., 1989), inclusive na
comunidade ictiológica (MOYLE & CECH, 1982).
Os padrões espaciais e temporais nas comunidades estuarinas tem sido relacionados
com o estresse fisiológico resultante de gradientes físicos e químicos (MAES et al., 1998),
profundidade (HYNDES et al., 1999), distância da boca do estuário, velocidade da corrente
marinha (LONERAGAN et al. 1987; LONERAGAN et al., 1989), tolerância à salinidade
(MARSHALL & ELLIOTT, 1998; WHITFIELD, 1999), temperatura (PETERSON & ROSS,
1991; JAUREGUIZAR et al., 2003; JAUREGUIZAR et al., 2004) e turbidez (BLABER &
BLABER, 1980; CYRUS & BLABER, 1992). Conjuntamente, exercem interferência na
distribuição das espécies, fatores bióticos como as relações interespecíficas (efeito predadorpresa) e interações.
Apesar das rápidas mudanças nas condições ambientais, os estuários funcionam como
ambientes de criação para muitas espécies de peixes, em função da grande produtividade e
suprimento de alimento (CARMOUZE, 1994); baixa transparência (PATERSON &
WHITFIELD, 2000) e baixa incidência de piscívoros (KENNISH, 1990). Quanto ao tempo de
residência no ambiente estuarino, a maioria dos peixes permanece por um curto período de
tempo (LASIAK, 1984), com poucas espécies apresentando permanência anual (BROWN &
McLACHLAN, 1990).
Embora seja reconhecido o papel dos ecossistemas estuarinos como berçário para
muitos peixes, o endemismo nestes locais é baixo, existindo uma controvérsia sobre quais
espécies realmente dependem dos estuários e quais utilizam tais hábitats de forma oportunista,
aumentando a taxa de crescimento e diminuindo a exposição às espécies predadoras
encontradas nas áreas costeiras (LENANTON & POTTER, 1987). Assim, a classificação dos
peixes estuarinos torna-se extensa com agrupamentos taxonômicos, fisiológicos e ecológicos
22
baseados em atributos como tolerância à salinidade, reprodução, alimentação e hábitos
migratórios.
Segundo BLABER (2002), a diversidade de espécies de peixes em estuários tropicais
está relacionada a uma combinação entre o tamanho do estuário e a diversidade dos habitats
que o compõem. Conforme o autor, as comunidades de peixes estuarinos tropicais e
subtropicais possuem características em comum, havendo, em quase todos os casos,
dominância de peixes de origem marinha, representando mais da metade do número total de
espécies e de indivíduos de uma comunidade.
Este trabalho tenta descrever composição, estrutura e como as assembléias de peixes
utilizam ao longo do tempo e do espaço as áreas amostradas nos estuários de Conceição da
Barra e Barra Nova (Espírito Santo). São escassos os estudos sobre os peixes em estuários do
Espírito Santo (JOYEUX et al., 2004; REZENDE, 2005; MACIEIRA, 2005 ; CHAGAS et
al., 2006; COSER et al., 2007). Estudos sobre a fauna de peixes da região são de grande
importância para o conhecimento básico das espécies, que em muitos casos podem estar
desaparecendo ou sofrendo mudanças na sua biologia devido à ação antrópica.
MATERIAL E MÉTODO
ÁREA DE ESTUDO
A bacia do rio Cricaré localizada ao norte do Estado do Espírito Santo, abrange uma
área aproximada de 13.500 km2. Formada pelos rios Cotaxé e Cricaré, ambos com suas
nascentes situadas em Minas Gerais. A confluência desses rios ocorre no município de São
Mateus, sendo chamado de rio Cricaré ou São Mateus. O rio Cricaré direciona-se para o norte
e deságua no Oceano Atlântico, em Conceição da Barra, ES (SILVA et al., 2005). Afluente
do rio Cricaré, o rio Mariricu, direciona-se para o sul, desaguando na comunidade de Barra
Nova em São Mateus, formando o estuário de Barra Nova (Fig.1).
23
Figura 1 - Localização dos estuários do rio Cricaré no município de Conceição da Barra, ao
norte e de Barra Nova – São Mateus, ao sul.
O estuário do rio Cricaré em Conceição da Barra (39º43’56.3”W / 18º35’59.8”S) é
caracterizado principalmente pela vegetação de manguezal composta por Rhizophora mangle
(mangue vermelho) e Laguncularia racemosa (mangue branco) que ocupa 11 km2 (SILVA et
al., 2005). O estuário de Barra Nova (39º44’47.5”W / 18º57”05.3”S), na confluência do rio
Cricaré com o rio Mariricu até a foz predominam bosques de Avicennia schaueriana (mangue
preto) e A. germinans (mangue preto) no alto curso, bosques mistos de R. mangle, L.
racemosa e A. schaueriana no médio curso e R. mangle no baixo curso do rio. A foz do rio
Barra Nova chega a fechar em determinadas épocas do ano.
Os estuários do rio Cricaré apresentam marés semidiurnas. De acordo com os dados do
Terminal de Barra do Riacho, município de Aracruz, ES (19º50’ S; 40º03’ W) no período
estudado (Nov/2010 a Out/2011), a média das marés foi de 0,78 m, com intervalo médio entre
-0,04 e 1,51 m (Diretoria de Hidrografia e Navegação, Ministério da Marinha). O clima é
classificado como tropical úmido. Considerando o período do desenvolvimento do trabalho, a
24
temperatura média foi de 23,3ºC, com temperatura máxima de 34,5ºC em fevereiro de 2011 e
mínima de 12,0ºC em agosto de 2011. A região apresenta duas estações bem definidas,
período quente entre novembro e abril, e um período com clima mais ameno entre maio e
outubro (Fig. 2). A pluviosidade observada mensal no período variou de 15,4 mm
(Setembro/2011) a 239,8 mm (Abril/2011), sem estações bem definidas (Fig. 3) (Dados
meteorológicos médios, para o município de São Mateus-ES - LAT: 18,714S LON: 39,848W
ALT: 39m, obtidos na estação meteorológica automática do INMET- disponibilizado pelo
Instituto Capixaba de Pesquisa e Extensão Rural).
Figura 2 - Temperatura atmosférica média (°C) nos estuários de Conceição da Barra e Barra
nova entre novembro de 2010 e outubro de 2011.
25
Figura 3 - Pluviosidade nos estuários de Conceição da Barra e Barra nova entre novembro de
2010 e outubro de 2011.
COLETA DE DADOS
As coletas foram realizadas em quatro pontos amostrais de dois estuários do rio
Cricaré: Conceição da Barra ao norte (Figura 4) e Barra Nova/São Mateus ao sul (Figura 5),
entre novembro de 2010 e outubro de 2011.
As amostras foram obtidas utilizando redes de arrasto de fundo com portas (2,80m de
abertura de boca por 3,90m de comprimento e malha (distância entre nós opostos) de 3,9cm
no corpo e 2,2cm no saco da rede. A rede foi arrastada em Conceição da Barra por uma
embarcação de madeira do tipo “bote” com 6,40m de comprimento e motor de polpa de 15
HP e na Barra Nova por uma embarcação com 9,50m e motor de centro de 4 cilíndros e 90
HP. Mensalmente, durante a maré alta, em cada uma das quatro áreas escolhidas, foram
realizados três arrastos de fundo de cinco minutos cada, a uma velocidade média de 2,9 Km/h.
26
Figura 4 - Mapa do estuário de Conceição da Barra com a localização dos pontos amostrais.
Ponto 1, Foz do rio Santana; Ponto 2, Canal principal do rio Cricaré; Ponto 3, Enseada entre o
manguezal; Ponto 4, Riacho.
27
Figura 5 - Mapa do estuário de Barra Nova com a localização dos pontos amostrais. Ponto 1,
Cais de embarque e desembarque; Ponto 2, Foz do rio Mariricu; Ponto 3, Próximo a estação
de armazenamento e transporte de petróleo; Ponto 4, Rio Mariricu.
Imediatamente após cada amostragem todo material coletado foi devidamente
codificado, armazenado em sacos plásticos, acondicionados sob refrigeração e encaminhado
ao Laboratório de Zoologia do Centro Universitário Norte do Espírito Santo para
identificação e biometria. A identificação dos peixes foi feita ao menor nível taxonômico
possível com o auxílio de literatura especializada (BARLETTA & CORRÊA, 1992;
FIGUEIREDO & MENEZES, 1978, 1980 e 2000, MENEZES & FIGUEIREDO, 1980 e
1985). Os indivíduos foram mensurados (comprimento total e comprimento padrão com
precisão de 1,0mm) e pesados (peso total com precisão de 0,01g).
ANÁLISE DOS DADOS
Diferenças entre as médias mensais e espaciais em cada estuário do número de
espécies, número de indivíduos, diversidade de Shannon-Wiener (H' = - (pi * Ln (pi)), onde
pi = proporção da espécie i na amostra total, e s = número de espécies, e o i variando de 1 a
28
s.) e Equitabilidade de Pielou (J = H' / H' Max) foram avaliadas através de análise de
variância (ANOVA) unifatorial, com os pressupostos de normalidade e homogeneidade de
variância sendo testados através dos testes de Kolmogorov-Smirnov e de Bartlett,
respectivamente (SOKAL & ROHLF, 1995). Onde ocorreram diferenças significativas
(p<0,01 e p<0,05), aplicou-se o teste a posteriori de Tukey (SOKAL & ROHLF, 1995).
Para cada estuário em separado, foi aplicada a todas as espécies, o método de
escalonamento multidimensional não linear (nMDS) (CLARK & WARWICH, 1994), a partir
da geração de uma matriz de similaridade através do coeficiente de Bray-Curtis, sem a
transformação dos dados de freqüência absoluta, para avaliar se as assembléias apresentaramse diferentes entre os meses e pontos de coleta. Para a avaliação da significância das
diferenças entre os grupos de meses e pontos de coleta visualizados no MDS, foi utilizada a
análise de agrupamento Cluster e o teste Simprof, enquanto que as espécies que mais
contribuíram com as dissimilaridades entre os grupos de meses e pontos de coleta de cada
estuário foram identificadas através da análise SIMPER (CLARK & WARWICH, 1994).
RESULTADOS
INFORMAÇÕES GERAIS
Nesse estudo um total de 6243 indivíduos foi coletado nos estuários de Conceição da
Barra (3159) e Barra Nova (3084), classificados em 55 taxa (28 famílias), 44 em Conceição
da Barra e 46 em Barra Nova (Tabela 1), com apenas três taxa de água doce (Oreochromis
niloticus, Prochilodus sp. e Pseudauchenipterus nodosus). As famílias com maior número de
espécies no estuário de Conceição da Barra foram Sciaenidae (7), Gerreidae (3), Engraulidae
(3), Carangidae (3) e Haemulidae (3), já em Barra Nova a maior diversidade de espécies
ocorreram em Sciaenidae (8), Gerreidae (6) e Carangidae (3).
As espécies mais abundantes nos dois estuários foram Stellifer sp. e Diapterus
rhombeus representando 54% do número e 39% do peso das espécies capturadas. Também
tiveram uma contribuição significativa para a abundância e biomassa nos dois estuários as
espécies Achirus declives e Sphoeroides testudineus, com grande contribuição só para a
biomassa de Cathorops spixii e Genidens genidens em Conceição da Barra e de Bairdiella
ronchus, Centropomus paralellus, Centropomus undecimalis, Gobioides broussonnetii e
29
Micropogonias furnieri na Barra Nova (Tabela 1). Nas áreas estudadas, 30 espécies de peixes
contribuíram cada uma com menos de 1% da captura total de cada área.
Estiveram presentes apenas nas amostras de Conceição da Barra, as espécies Anchovia
clupeoides, Anchoviella brevirostris, Caranx crysus, Caranx latus, Cynoscion leiarchus,
Gymnothorax funebris, Odontognathus mucronatus, Pomadasys ramosus, Prochilodus sp. e
Trichiurus lepturus (Tabela 1) . Foram exclusivas da Barra do Sul as espécies Epinephelus
itajara, Eugerres brasilianus, Gobioides broussonnetii, Larimus breviceps, Mugil liza,
Ophichthus parilis, Ophioscion punctatissimus, Oreochromis niloticus, Prionotus punctatus e
Synodus foetens.
Em média foram maiores em Conceição da Barra os exemplares de Paralichthys
brasiliensis, Centropomus undecimalis, Micropogonias furnieri e Genidens genidens, com as
espécies Mugil liza, Gobioides broussonnetii, Mugil curema, Paralichthys brasiliensis e
Centropomus undecimalis apresentando os maiores tamanhos médios na Barra Nova (Tabela
1). Maiores amplitudes de tamanhos foram observadas em Paralichthys brasilianus, Genidens
genidens e Cysnoscion acoupa no estuário de Conceição da Barra, já na região de Barra Nova
a amplitude de tamanho foi maior em Cynoscion acoupa, Centropomus paralellus e
Centropomus undecimalis.
30
Tabela 1 - Lista de espécies capturadas nos estuários de Conceição da Barra e Barra Nova entre os meses de novembro de 2010 e outubro de 2011. N,
número de indivíduos; CT, comprimento total; DP, desvio padrão.
(continua)
Conceição da Barra
Espécie
N
CTmédio (Mín-Máx) ± DP
Barra Nova
Biomassa (g)
N
(mm)
CTmédio (Mín-Máx) ± DP
Peso total (g)
(mm)
Achirus declivis
205
95 (39 - 180) ± 28,8
4785
126
72 (43 - 150) ± 15
1034
Achirus lineatus
77
86 (42 - 114) ± 14,7
1042
36
58 (40 - 75) ± 8
135
Anchovia clupeoides
1
103
6
-
-
-
Anchoviella brevirostris
1
87
2
-
-
-
1
97
20
38
121 (82 - 186) ± 19
1464
Bairdiella ronchus
26
117 (77 - 186) ± 29,8
655
200
163 (60 - 210) ± 27
11862
Caranx crysos
6
77 (56 - 104) ± 21
43
-
-
-
Caranx latus
24
73 (34 - 115) ± 22,7
180
-
-
-
Cathorops spixii
69
176 (122 - 250) ± 27,4
4217
18
204 (174 - 224) ± 16
1410
Centropomus parallelus
15
185 (135 - 269) ± 36
911
100
185 (99 - 419) ± 47
6978
Centropomus undecimalis
12
237 (131 - 296) ± 52,5
1370
34
254 (167 - 417) ± 58
4823
Cetengraulis edentulus
63
142 (96 - 170) ± 15,9
1677
57
144 (79 - 194) ± 21
1446
Chaetodipterus faber
5
76 (47 - 145) ± 40,2
165
8
78 (45 - 140) ± 31
170
Chloroscombrus chrysurus
16
108 (52 - 139) ± 21
194
1
115
12
Citharichthys spilopterus
99
99 (55 - 165) ± 21,7
920
35
108 (59 - 180) ± 26
446
Cyclichthys spinosus
64
74 (60 - 113) ± 9,4
2139
1
62
28
Archosargus
probatocephalus
31
Cynoscion acoupa
57
133 (51 - 287) ± 55,6
1741
38
136 (36 - 414) ± 98
2648
Cynoscion leiarchus
13
127 (52 - 183) ± 42,8
556
-
-
-
Diapterus auratus
3
89 (83 - 94) ± 5,7
30
27
127 (98 - 282) ± 40
941
Diapterus rhombeus
813
83 (10 - 188) ± 21,1
8186
541
118 (50 - 192) ± 30
15941
Epinephelus itajara
-
-
-
1
169
71
2
145 (132 - 158) ± 18,4
72
4
115 (109 - 128) ± 9
72
Eugerres brasilianus
-
-
-
1
174
61
Genidens genidens
148
192 (20 - 274) ± 37,9
9158
1
235
99
Genyatremus luteus
1
251
338
6
84 (75 - 98) ± 9
75
Gobioides broussonnetii
-
-
-
75
353 (244 - 488) ± 60
5312
Gobionellus oceanicus
2
122 (114 - 131) ± 12
21
8
199 (160 - 259) ± 35
108
Gymnothorax funebris
1
793
1272
-
-
-
Eucinostomus
melanopterus
32
Tabela 1 - Lista de espécies capturadas nos estuários de Conceição da Barra e Barra Nova. N, número de indivíduos; CT, comprimento total; DP, desvio
padrão.
(conclusão)
Conceição da Barra
Espécie
N
CTmédio (Mín-Máx) ± DP
Barra Nova
Biomassa (g)
N
(mm)
CTmédio (Mín-Máx) ± DP
Peso total (g)
(mm)
Lagocephalus laevigatus
22
83 (62 - 175) ± 22,8
401
19
110 (59 - 277) ± 56
932
Larimus breviceps
-
-
-
4
62 (59 - 65) ± 3
9
Lutjanus jocu
12
160 (107 - 208) ± 35,7
954
10
171 (139 - 207) ± 24
756
Micropogonias furnieri
18
149 (92 - 265) ± 50,4
824
180
131 (71 - 218) ± 31
4471
Mugil curema
16
205 (124 - 312) ± 48,5
1586
4
299 (229 - 360) ± 55
1014
Mugil liza
-
-
-
3
445 (311 - 533) ± 118
2540
Odontognathus mucronatus
2
121 (112 - 130) ± 12,7
13
-
-
-
Ophichthus parilis
-
-
-
1
186
2
Ophioscion punctatissimus
-
-
-
1
135
32
Oreochromis niloticus
-
-
-
1
148
54
Paralichthys brasiliensis
6
283 (132 - 455) ± 122,3
2254
3
290 (246 - 376) ± 75
975
Polydactylus oligodon
30
157 (112 - 252) ± 26,8
1232
28
174 (116 - 230) ± 29
1536
Polydactylus virginicus
3
147 (136 - 163) ± 14,2
94
7
189 (155 - 221) ± 26
471
Pomadasys corvinaeformis
1
170,0
73
3
144 (130 - 161) ± 16
139
Pomadasys ramosus
1
384
680
-
-
-
Prionotus punctatus
-
-
-
2
116 (107 - 124) ± 12
37
Prochilodus sp.
2
89 (85 - 94) ± 6,4
16
-
-
-
33
Pseudauchenipterus
57
101 (10 - 131) ± 17,6
759
8
111 (104 - 130) ± 8
121
Rypticus randalli
21
139 (105 - 162) ± 17,6
838
44
137 (103 - 172) ± 18
1734
Selene vômer
13
86 (42 - 163) ± 34,4
168
8
70 (52 - 125) ± 25
94
Sphoeroides testudineus
256
154 (18 - 238) ± 38,3
25243
203
130 (50 - 231) ± 30
10904
Stellifer rastrifer
87
92 (52 - 163) ± 23,8
986
1
126
23
Stellifer sp.
844
132 (61 - 179) ± 22,9
24922
1168
139 (62 - 189) ± 21
37028
Stellifer stellifer
7
133 (112 - 155) ± 13,1
219
2
111 (109 - 112) ± 2
27
Symphurus tessellatus
42
154 (95 - 195) ± 28,6
1397
19
126 (117 - 150) ± 10
264
Synodus foetens
-
-
-
3
167 (120 - 250) ± 72
135
Trichiurus lepturus
1
27
13
-
-
-
Total
3159
119 (10 -793) ± 45,9
102327
3084
140 (36 -533) ± 54
118474
nodosus
34
VARIAÇÃO TEMPORAL
Conceição da Barra em junho, julho, novembro e dezembro foram amostrados os maiores números
de indivíduos, com as menores capturas presentes em fevereiro, março e setembro (Tabela 2). Nos meses de
janeiro, abril e maio foram coletados mais peixes no estuário de Barra Nova, enquanto que, o número de
peixes foi menor nos arrastos de agosto, outubro e novembro (Tabela 3). Um maior número de espécies foi
observado em julho e novembro, com um menor número nas amostras de setembro e dezembro em
Conceição da Barra (Tabela 2). No estuário de Barra Nova mais espécies ocorreram nas coletas de janeiro e
abril e menos nos meses de agosto, setembro e outubro (Tabela 3).
Estiveram presentes em todos os meses de coleta Diapterus rhombeus e Stellifer sp. em ambos os
estuários e Micropogonias furnieri e Sphoeroides testudineus somente na Barra Nova. Também apareceram
na maioria dos meses de coleta as espécies Achirus declives, Achirus lineatus, Cetengraulis edentulus,
Citharicthys spilopterus e Sphoeroides testudineus em Conceição da Barra e Archosargus probatocephalus,
Centropomus paralellus, Centropomus undecimalis, Citharichthys spilopterus, Cynoscion acoupa e
Rypticus randalli na Barra Nova (Tabelas 2 e 3). Em apenas um mês de coleta 10 e 15 espécies foram
registradas nos estuários de Conceição da Barra e Barra Nova, respectivamente.
No estuário de Conceição da Barra não foi observada nenhuma diferença significativa entre as
médias mensais do número de espécies (Figura 6A), diversidade de Shannon-Wiener (Figura 6C) e
equitabilidade de Pielou (Figura 6D). Diferenças significativas foram observadas entre as médias mensais do
número de indivíduos, com um valor médio maior em dezembro em relação a setembro e similar entre os
demais meses de coleta (Figura 6B). Entre os meses de coleta a diversidade média de Shannon-Wiener não
diferiu na Barra Nova (Figura 7C). Nesse estuário, em média o número de espécies capturadas em cada mês
de coleta, foi menor em março em relação aos demais meses do ano, com exceção de novembro e fevereiro
(Figura 7A). Também foram diferentes as médias mensais do número de indivíduos, com maiores capturas
em janeiro, abril e maio em comparação a março, agosto e novembro (Figura 7B). Na Barra Nova, menores
equitabilidades médias ocorreram em abril e maio quando comparados com outubro, novembro e dezembro
(Figura 7D).
35
Tabela 2 - Número de indivíduos capturados de cada espécie em cada mês de coleta no estuário de Conceição da Barra, Espírito Santo.
Espécie
Achirus declivis
Achirus lineatus
Anchovia clupeoides
Anchoviella brevirostris
Archosargus probatocephalus
Bairdiella ronchus
Caranx latus
Cathorops spixii
Centropomus parallelus
Centropomus undecimalis
Cetengraulis edentulus
Chaetodipterus faber
Chloroscombrus chrysurus
Citharichthys spilopterus
Cyclichthys spinosus
Cynoscion acoupa
Cynoscion leiarchus
Diapterus auratus
Diapterus rhombeus
Eucinostomus melanopterus
Genidens genidens
Genyatremus luteus
Gobionellus oceanicus
Gymnothorax funebris
Lagocephalus laevigatus
Lutjanus jocu
Micropogonias furnieri
Mugil curema
Odontognathus mucronatus
Paralichthys brasiliensis
N
8
14
1
1
24
3
29
1
17
1
11
34
3
5
1
-
D
39
7
27
1
1
8
8
29
141
1
-
J
24
11
1
2
3
2
1
16
10
13
1
8
3
F
9
5
1
3
2
1
4
2
8
9
13
11
1
2
2
5
-
M
49
6
1
9
20
7
6
1
-
Meses
A
M
18
30
5
24
1
5
2
2
4
1
5
4
5
31
73
2
1
8
2
1
1
J
5
2
1
3
1
6
17
3
176
7
1
-
J
1
15
15
1
1
22
3
30
4
9
257
6
2
7
2
-
A
1
4
1
2
2
4
4
3
159
2
5
1
2
-
S
11
2
2
1
2
6
1
12
1
1
O
11
5
2
1
3
4
9
1
4
12
2
1
1
-
36
Polydactylus oligodon
Polydactylus virginicus
Pomadasys corvinaeformis
Pomadasys ramosus
Prochilodus sp.
Pseudauchenipterus nodosus
Rypticus randalli
Selene vomer
Sphoeroides testudineus
Stellifer rastrifer
Stellifer sp.
Stellifer stellifer
Symphurus tessellatus
Trichiurus lepturus
Número indivíduos
Número de espécies
1
40
4
8
61
195
19
1
482
23
2
17
21
80
382
14
5
87
1
83
1
6
278
19
2
26
24
130
19
1
6
1
1
13
1
1
123
15
1
34
5
92
2
213
16
1
1
1
1
3
5
55
8
221
18
1
2
4
110
339
15
20
2
8
32
1
79
4
521
22
6
1
1
13
1
1
213
19
24
14
77
12
3
1
16
13
86
5
180
19
37
Tabela 3 - Número de indivíduos capturados de cada espécie em cada mês de coleta no estuário de Barra Nova, Espírito Santo.
Espécie
Achirus declivis
Achirus lineatus
Archosargus
probatocephalus
Bairdiella ronchus
Caranx crysos
Cathorops spixii
Centropomus parallelus
Centropomus undecimalis
Cetengraulis edentulus
Chaetodipterus faber
Chloroscombrus chrysurus
Citharichthys spilopterus
Cyclichthys spinosus
Cynoscion acoupa
Diapterus auratus
Diapterus rhombeus
Epinephelus itajara
Eucinostomus melanopterus
Eugerres brasilianus
Genidens genidens
Genyatremus luteus
Gobioides broussonnetii
Gobionellus oceanicus
Lagocephalus laevigatus
Larimus breviceps
Lutjanus jocu
Micropogonias furnieri
Mugil curema
Mugil liza
Ophichthus parilis
Ophioscion punctatissimus
N
-
D
-
J
4
4
F
19
7
M
38
8
Meses
A
M
58
1
4
11
2
9
2
10
2
1
1
14
1
15
-
1
20
9
2
20
2
1
52
1
3
16
2
-
5
82
13
4
2
8
6
14
39
1
5
4
20
1
1
8
1
7
8
5
4
47
50
1
32
-
15
4
5
4
9
8
39
24
8
3
1
-
1
53
18
1
6
1
30
1
1
5
1
2
-
6
18
22
3
4
7
1
57
2
6
1
-
J
-
J
1
1
A
1
S
3
-
O
2
-
3
6
4
14
8
2
2
2
1
4
2
45
2
2
7
-
4
8
1
4
2
1
58
7
3
7
-
1
4
3
4
2
47
1
4
2
12
-
1
8
1
15
1
2
3
76
2
23
-
8
2
4
1
37
3
1
34
-
38
Oreochromis niloticus
Paralichthys brasiliensis
Polydactylus oligodon
Polydactylus virginicus
Pomadasys corvinaeformis
Prionotus punctatus
Pseudauchenipterus
nodosus
Rypticus randalli
Selene vomer
Sphoeroides testudineus
Stellifer rastrifer
Stellifer sp.
Stellifer stellifer
Symphurus tessellatus
Synodus foetens
Número de indivíduos
Número de espécies
1
3
2
1
-
2
-
-
-
1
1
-
1
-
2
-
1
2
5
-
2
-
14
-
1
5
-
6
29
32
3
133
17
4
5
1
33
67
2
242
19
8
13
209
1
446
22
3
1
33
1
109
3
339
18
2
1
20
22
12
223
18
2
6
7
208
407
20
8
1
12
259
2
422
19
1
12
117
236
18
3
13
65
1
187
19
1
15
27
126
15
3
3
33
188
15
4
13
20
135
14
39
1,6
0,9
B
F(11;131) = 1,496; p = 0,140
Número de indivíduos (log
10(X+1))
Número de espécies (log
10 (X+1))
A
0,8
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
1,2
1,0
0,8
0,6
0,4
0,2
Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out
Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out
1,4
1,00
C
F(11;131) = 1,172; p = 0,312
0,95
Equitabilidade de Pielou
Diversidade de Shannon-Wiener
F(11;131) = 1,763; p = 0,066
1,4
1,2
1,0
0,8
0,6
D
F(11;100) = 1,251; p = 0,263
0,90
0,85
0,80
0,75
0,70
0,65
0,60
0,4
0,55
Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out
Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out
Figura 6 - Resultado da análise de variância avaliando as diferenças entre as médias mensais
do número de espécies (A), número de indivíduos (B), diversidade de Shannon-Wiener (C) e
Equitabilidade de Pielou (D) em Conceição da Barra, Espírito Santo ( Média Média±EP,
EP= erro padrão).
40
9
1,8
Número de indivíduos (log
10(X+1))
8
Número de espécies
F(11;132) = 1,892; p = 0,045
A
7
6
5
4
3
1,6
1,4
1,2
1,0
0,8
0,6
0,4
2
Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out
Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out
1,6
0,95
C
F(11;132) = 1,4; p = 0,180
0,90
1,4
Equitabilidade de Pielou
Diversidade de Shannon-Wiener(log
e)
F(11;132) = 4,490; p = 0,000
B
1,2
1,0
0,8
0,6
D
F(11;116) = 3,764; p = 0,000
0,85
0,80
0,75
0,70
0,65
0,60
0,4
0,55
0,2
Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out
0,50
Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out
Figura 7 - Resultado da análise de variância avaliando as diferenças entre as médias mensais
do número de espécies (A), número de indivíduos (B), diversidade de Shannon-Wiener (C) e
Equitabilidade de Pielou (D) na Barra Nova, Espírito Santo ( Média Média±EP, EP= erro
padrão).
Com base nos dados de todas as espécies amostradas no estuário de Conceição da
Barra, as análises de agrupamento (Cluster) e ordenamento (MDS) (Figura 8), mostram a
formação de dois grupos de meses. O grupo A formado pelos meses de setembro, outubro,
novembro, dezembro, janeiro, fevereiro, março, abril e maio e o grupo B contendo os meses
de junho, julho e agosto. Contribuiu mais para a similaridade média interna do grupo A, a
maior abundância média de Stellifer sp., Achirus declives, Diapterus rhombeus, Cathorops
spixii e Achirus lineatus. Já as relativas altas capturas de Diapterus rhombeus, Stellifer sp.,
Citharichthys spilopterus resultaram no agrupamento B. Os dois grupos separam-se pela alta
captura de Achirus declives, Sphoeroides testudineus, Achirus lineatus e Cathorops spixii no
grupo A e de Diapterus rhombeus, Citarichthys spilopterus, Lagocephalus laevigatus,
Polidactylus oligodon, Caranx latus e Bairdiella ronchus no grupo B.
A utilização de todas as espécies capturadas no estuário da Barra Nova para compor a
análise de agrupamento através do cluster hierárquico e o escalonamento multidimensional
não métrico (MDS) revelou a formação de dois grupos principais de meses (Figura 9). Um
41
primeiro grupo (A) é formado pelos meses de junho, julho, agosto, setembro, outubro,
novembro e dezembro, quando foram predominantes em ordem de abundância média, as
espécies Diapterus rhombeus, Stellifer sp., Micropogonias furnieri, Sphoeroides testudineus e
Centropomus parallelus. Um segundo grupo (B), este formado pelos meses de janeiro,
fevereiro, março, abril e maio, que esteve representado em maior abundância pelas espécies
Stellifer
sp.,
Diapterus
rhombeus,
Sphoeroides
testudineus,
Bairdiella
ronchus,
Micropogonias furnieri e Achirus lineatus. A dissimilaridade entre os dois grupos deve-se
principalmente as capturas em média maiores de Cetengraulis edentulus e Lagocephalus
laevigatus no grupo A e de Achirus declives, Bairdiella ronchus, Achirus lineatus e Gobioides
broussonnetii no grupo B.
42
Transform: Log(X+1)
Resemblance: S17 Bray Curtis similarity
2D Stress: 0,13
Set
Mai
Mar
Ago
Abr
Jun
Jan
Dez
Fev
Out
Jul
Nov
Figura 8 – MDS e Cluster utilizando como atributos a ocorrência e a abundância mensal das
espécies capturadas em Conceição da Barra, Espírito Santo.
43
Transform: Log(X+1)
Resemblance: S17 Bray Curtis similarity
2D Stress: 0,11
Mar
Ago
Jul
Fev
Out
Jun
Mai
Set
Jan
Dez
Abr
Nov
Figura 9 – MDS e Cluster utilizando como atributos a ocorrência e a abundância mensal das
espécies capturadas na Barra Nova, Espírito Santo.
44
VARIAÇÃO ESPACIAL
Na área de coleta do Bininho, no estuário de Conceição da Barra, foi coletado o maior
número de peixes, com o menor número presentes nas amostras do canal principal do rio
Cricaré (Tabela 4). Na foz do rio Mariricu e nas proximidades do terminal da Transpetro,
foram coletados o maior e o menor número de exemplares, respectivamente (Tabela 5). Em
Conceição da Barra o número de espécies foi maior no Bininho e menor na foz do rio
Santana, com capturas em número de espécies muito próximas nos pontos de amostragem do
estuário de Barra Nova.
Estiveram presentes em todos os pontos de coleta de Conceição da Barra as espécies
Achirus lineatus, Cathorops spixii, Citharichthys spilopterus, Cyclichthys spinosus, Diapterus
rhombeus, Micropogonias furnieri, Stellifer rastrifer e Stellifer sp., por outro lado, só
apareceram em um ponto de coleta desse estuário as espécies
Anchovia cluepoides,
Anchoviella brevirostris, Archosargus probatocephalus, Caranx latus, Diapterus auratus,
Eucinostomus melanopterus, Genyatremus luteus, Gobionellus oceanicus, Gymnothorax
funebris, Lutjanus jocu, Odontognathus mucronatus, Pomadasys corvinaeformis, Pomadasys
ramosus, Prochilodus sp. e Trichiurus lepturus (Tabela 4).
No estuário de Barra Nova, a presença em todos os pontos de amostragem foi de
Achirus declivis, Achirus lineatus, Archosargus probatocephalus, Bairdiella ronchus,
Centropomus paralellus, Centropomus undecimalis, Cetengraulis edentulus, Citharichthys
spilopterus, Cynoscion acoupa, Diapterus auratus, Diapterus rhombeus, Lagocephalus
laevigatus, Lutajanus jocu, Micropogonias furnieri, Polydactylus oligodon, Rypticus randalli,
Selene vomer, Sphoeroides testudineus e Stellifer sp.. Foram exclusivas de apenas um ponto
de coleta Chloroscombrus chrysurus, Cyclichthys spinosus, Epinephelus itajara, Eugerres
brasilianus, Genidens genidens, Gobioides broussonnetii, Gobionellus oceanicus, Larimus
breviceps, Ophichthus parilis, Ophioscion punctatissimus, Orechromis niloticus, Paralichthys
brasilianus, Polydactylus virginicus, Prionotus punctatus, Stellifer rastrifer, Stellifer stellifer
e Synodus foetens (Tabela 5).
45
Tabela 4 - Número de indivíduos capturados de cada espécie em cada ponto amostral do
estuário de Conceição da Barra, Espírito Santo.
Espécie
Achirus declivis
Achirus lineatus
Anchovia clupeoides
Anchoviella brevirostris
Archosargus probatocephalus
Bairdiella ronchus
Caranx latus
Cathorops spixii
Centropomus parallelus
Centropomus undecimalis
Cetengraulis edentulus
Chaetodipterus faber
Chloroscombrus chrysurus
Citharichthys spilopterus
Cyclichthys spinosus
Cynoscion acoupa
Cynoscion leiarchus
Diapterus auratus
Diapterus rhombeus
Eucinostomus melanopterus
Genidens genidens
Genyatremus luteus
Gobionellus oceanicus
Gymnothorax funebris
Lagocephalus laevigatus
Lutjanus jocu
Micropogonias furnieri
Mugil curema
Odontognathus mucronatus
Paralichthys brasiliensis
Polydactylus oligodon
Polydactylus virginicus
Pomadasys corvinaeformis
Pomadasys ramosus
Prochilodus sp.
Pseudauchenipterus nodosus
Rypticus randalli
Selene vômer
Sphoeroides testudineus
Stellifer rastrifer
Stellifer sp.
Stellifer stellifer
Symphurus tessellatus
Trichiurus lepturus
Ponto
Foz
do
Santana
2
40
2
46
5
9
2
2
2
43
1
3
1
1
1
46
7
69
220
21
-
Rio
Canal
28
1
5
1
1
6
6
8
1
16
2
100
1
3
1
1
1
1
2
11
5
16
10
119
11
-
Bininho
170
5
1
1
22
24
2
7
8
57
1
1
83
49
49
12
651
2
1
16
13
15
1
3
26
1
2
7
93
5
245
5
6
1
Pitangueira
33
4
1
1
16
8
4
3
8
5
7
1
3
144
5
2
12
1
1
1
3
2
14
6
140
3
260
2
4
-
46
Número de indivíduos
Número de espécies
523
20
357
25
1585
34
694
29
Tabela 5 - Número de indivíduos capturados de cada espécie em cada ponto amostral do
estuário de Barra Nova, Espírito Santo.
Ponto
Espécie
Achirus declivis
Achirus lineatus
Archosargus
probatocephalus
Bairdiella ronchus
Caranx crysos
Cathorops spixii
Centropomus parallelus
Centropomus undecimalis
Cetengraulis edentulus
Chaetodipterus faber
Chloroscombrus
chrysurus
Citharichthys spilopterus
Cyclichthys spinosus
Cynoscion acoupa
Diapterus auratus
Diapterus rhombeus
Epinephelus itajara
Eucinostomus
melanopterus
Eugerres brasilianus
Genidens genidens
Genyatremus luteus
Gobioides broussonnetii
Gobionellus oceanicus
Lagocephalus laevigatus
Larimus breviceps
Lutjanus jocu
Micropogonias furnieri
Mugil curema
Mugil Liza
Ophichthus parilis
Ophioscion punctatissimus
Oreochromis niloticus
Paralichthys brasiliensis
Polydactylus oligodon
Polydactylus virginicus
Pomadasys
Foz do Rio
Mariricu
28
15
Transpetro
58
5
17
66
2
35
13
19
2
8
37
1
9
30
13
12
-
8
31
8
15
5
19
3
5
66
3
1
20
3
7
3
11
1
7
10
238
-
12
13
3
147
-
8
14
1
30
1
1
4
4
13
126
-
3
1
15
2
69
1
3
15
6
2
2
4
67
2
1
1
3
1
1
1
5
1
4
2
15
3
1
2
-
1
75
8
1
2
29
1
8
1
-
Cais
20
7
Rio
Mariricu
20
9
47
corvinaeformis
Prionotus punctatus
Pseudauchenipterus
nodosus
Rypticus randalli
Selene vômer
Sphoeroides testudineus
Stellifer rastrifer
Stellifer sp.
Stellifer stellifer
Symphurus tessellatus
Synodus foetens
Número de indivíduos
Número de espécies
2
-
-
-
1
21
5
123
126
10
1
854
32
5
2
1
23
1
454
2
5
902
29
2
3
1
17
336
600
29
18
1
40
252
4
2
728
30
A análise de variância e o teste de Tukey revelaram diferenças significativas no
número médio de espécies entre os quatro pontos amostrais do estuário de Conceição da Barra
(Figura 10A), com médias maiores e diferentes entre si no Bininho e Pitangueira, e menores
mais sem diferença significativa entre as médias da foz do rio Santana e do canal principal do
rio Cricaré. Em média o número de indivíduos foram significativamente maiores e similares
no Bininho e Pitangueira, com as áreas da foz do rio Santana e do canal principal do rio
Cricaré apresentando médias menores e não diferentes entre si (Figura 10B).
As áreas de coleta no canal principal do rio Cricaré e na foz do rio Santana
apresentaram médias de diversidade não diferentes entre si, mas menores quando comparadas
com o Bininho e Pitangueira, essas últimas também similares entre si (Figura 10C). Apesar
do valor de p = 0,049, o teste a posteriori de Tukey não apontou diferenças estatísticas entre
as equitabilidades médias dos pontos amostrais no estuário de Conceição da Barra (Figura
10D).
Analisando a média do número de espécies por ponto de coleta do estuário de Barra
Nova, obervou-se diferença significativa, com maior média no Cais em relação aos demais,
esses com médias não diferentes entre si (Figura 11A). Já para o número de indivíduos, a
analise de variância entre as médias não revelou diferenças significativas entre os pontos
amostrais (Figura 11B).
Em termos de diversidade, foi possível observar uma média significativamente maior
no Cais em relação aos demais locais de coleta, uma diversidade média maior no rio Mariricu
em comparação a localidade Transpetro e diversidades não diferenciando entre a foz e parte
mais interna do rio Mariricu e entre a foz do rio Mariricu e a Transpetro (Figura 11C). Após a
48
aplicação da análise de variância aos dados de equitabilidade, verificou-se valores médios de
equitabilidade maiores no Cais e rio Mariricu em relação a Transpetro, não diferindo entre as
demais áreas de coleta (Figura 11D).
8
F(3;140) = 9,896; p = 0,000
A
F(3;140) = 29,158; p = 0.000
6
5
4
3
40
30
20
10
2
1
Foz Santana
Canal
Bininho
0
Pitangueira
Foz Santana
1,6
Canal
Bininho
Pitangueira
0,90
F(3;140) = 21,844; p = 0.000
C
1,2
1,0
0,8
F(3;109) = 2,689; p = 0,049
0,88
1,4
Equitabilidade de Pielou
Diversidade de Shannon-Wiener (log
e)
B
50
Número de indivíduos
Número de espécies
7
60
D
0,86
0,84
0,82
0,80
0,78
0,76
0,74
0,6
0,72
0,4
Foz Santana
Canal
Bininho
Pitangueira
0,70
Foz Santana
Canal
Bininho
Pitangueira
Figura 1 Figura 10 - Resultado da análise de variância avaliando as diferenças entre as médias
mensais do número de espécies (A), número de indivíduos (B), diversidade de ShannonWiener (C) e Equitabilidade de Pielou (D) em Conceição da Barra, Espírito Santo ( Média
Média±EP, EP= erro padrão).
49
7,5
30
F(3;139) = 7,038; p = 0,000
28
6,5
Número de indivíduos
Número de espécies
7,0
6,0
5,5
5,0
4,5
20
18
16
14
Foz Mariricu
12
Transpetro Rio Mariricu
1,6
Cais
Foz Mariricu
Transpetro
Rio Mariricu
0,84
1,5
F(3;139) = 13,330; p = 0,000
1,4
F(3;123) = 5,222; p = 0,002
0,82
C
Equitabilidade de Pielou
Diversidade de Shannon-Wiener
22
3,5
Cais
B
24
4,0
3,0
F(3;139) = 1,421; p = 0,239
26
1,3
1,2
1,1
1,0
0,9
0,8
0,7
D
0,80
0,78
0,76
0,74
0,72
0,70
0,68
0,66
0,6
0,64
0,5
Cais
Foz Mariricu
Transpetro Rio Mariricu
0,62
Cais
Foz Mariricu
Transpetro Rio Mariricu
Figura 2 - Resultado da análise de variância avaliando as diferenças entre as médias mensais
do número de espécies (A), número de indivíduos (B), diversidade de Shannon-Wiener (C) e
Equitabilidade de Pielou (D) na Barra Nova, Espírito Santo ( Média Média±EP, EP= erro
padrão).
As análises de cluster e MDS com base na abundância de todas as espécies coletadas
mostraram mudança na estrutura das assembléias de peixes entre as áreas de coleta no
estuário de Conceição da Barra (Figura 12). As assembléias amostradas na Pitangueira e
Bininho, áreas fora do canal principal do rio Cricaré, são semelhantes entre si principalmente
pelas abundancias médias de Stellifer sp., Diapterus rhombeus, Sphoeroides testudineus,
Achirus declives, Citharichthys spilopterus e Cynoscion acoupa. A semelhança ictiofaunistica
também foi observada entre a foz do rio Santana e o canal principal do rio Cricaré,
contribuindo mais para isto a abundância média de Stellifer sp., Genidens genidens, Achirus
lineatus, Pseudauchenipterus nodosus, Symphurus tesselatus e Stellifer rastrifer. Os dois
grupos definidos nas análises de agrupamento e ordenamento, possuem assembléias
relativamente diferentes, em função principalmente da maior abundancia média de Genidens
genidens e Pseudauchenipterus nodosus nas áreas do canal principal do rio Cricaré e foz do
50
rio Santana, e das espécies Achirus declives, Diapterus rhombeus, Cynoscion acoupa e
Sphoeroides testudineus no Bininho e Pitangueira.
Mudanças espaciais com base na composição em espécies e suas abundâncias, não
foram observadas entre as assembléias de peixes coletadas no Cais, foz do rio Mariricu,
Transpetro e rio Mariricu, áreas amostradas no estuário de Barra Nova (Figura 13). Em
termos ictiofaunisticos estas quatro áreas apresentaram entre si, uma similaridade de 72%.
Mesmo não diferindo significativamente entre si, observou-se uma maior proximidade
faunística entre as áreas Cais e rio Mariricu e entre foz do rio Mariricu e Transpetro.
51
Transform: Log(X+1)
Resemblance: S17 Bray Curtis similarity
2D Stress: 0
Bininho
Foz do Rio Santana
Canal
Pitangueira
Transform: Log(X+1)
Resemblance: S17 Bray Curtis similarity
Pitangueira
Bininho
Canal
Foz do Rio Santana
40
60
80
Similaridade de Bray-Curtis (%)
100
Figura 3 – MDS e Cluster utilizando como atributos a ocorrência e a abundância por ponto de
coleta das espécies capturadas em Conceição da Barra, Espírito Santo.
52
Transform: Log(X+1)
Resemblance: S17 Bray Curtis similarity
2D Stress: 0
Cais
Foz Mariricu
Transpetro
Rio Mariricu
Transform: Log(X+1)
Resemblance: S17 Bray Curtis similarity
Rio Mariricu
Cais
Transpetro
Foz Mariricu
70
75
80
85
90
Similaridade de Bray-Curtis (%)
95
100
Figura 4 – MDS e Cluster utilizando como atributos a ocorrência e a abundância por ponto de
coleta das espécies capturadas na Barra Nova, Espírito Santo.
DISCUSSÃO
A diversidade de espécies registrada nesse estudo é menor que os valores registrados
em outros estudos da ictiofauna em estuários (BARLETTA et al., 2003; BARLETTA et al.,
2008; CHAGAS et al., 2006 e SCHWARZ et al., 2006). No entanto, são similares aos valores
53
encontrados por Queiroz et al. (2006), para a ictiofauna demersal no Complexo Estuarino de
Paranaguá (PR) e também similar aos estudos de Paiva et al. (2008) em estuário de águas
rasas em Pernambuco. Estudos apontam que o litoral do Espírito Santo está localizado em
uma zona de transição entre ambientes estuarinos distintos, um ao norte e outro sul da costa
brasileira (FLOETER et al., 2001; JOYEUX et al., 2001; FERREIRA et al., 2004; CHAGAS,
2005). Sendo assim, os estuários capixabas apesar de suas particularidades possuem
características similares a outros estuários brasileiros. No entanto as semelhanças entre os
estuários brasileiros limitam-se ao táxon família (CHAGAS, 2005).
As diferenças existentes podem ser atribuídas à dificuldade de comparar dados de
riqueza entre diferentes estuários, uma vez que alguns fatores como a heterogeneidade de
habitats, diferenças na composição físico-química do ambiente e os esforços de captura são
variáveis (ARAÚJO et al., 1998). Importante considerar também o conhecimento e
experiência no manejo dos apetrechos de pesca e definição das áreas de amostragem.
A presença de apenas três taxa da ictiofauna de água doce nos estuários norte do
Espírito Santo parece ser uma característica de estuário tropical e temperado, sugerindo níveis
acentuados de salinidade em estuário dominado por marés (VIEIRA & MUSICK, 1993;
VILAR et al., 2010). A dominância da assembléia de peixes marinhos é outra característica
geral em estuários tropical e temperado do Atlântico Oeste (KENNISH, 1990; VIEIRA &
MUSICK, 1993). Esta dominância também encontrado nesse trabalho corroborando com
dados de Queiroz et al. (2006) que destaca a ocorrência de grande número de espécies
ocasionais com contribuição menor que 1% do total.
Em estudo realizado na Baía de Vitória (ES), Chagas et al. (2006) afirmam que as
famílias mais diversificadas nesse ambiente foram Paralichthyidae, Sciaenidae e Gobiidae,
Macieira (2005) destaca a importância das famílias Gerreidae, Achiridae, Cynoglossidae,
Tetraodontidae e Lutjanidae nos estuários da Baía de Vitória e dos Rios Piraquê-açu e
Piraquê-mirim no Espírito Santo.
As famílias Sciaenidae (ARAÚJO et al., 1998; SCHWARZ et al., 2006) e Gerreidae
(ARAÚJO et al., 1998; BARLETTA et al., 2003 CHAGAS et al., 2006; PAIVA et al., 2008),
abundantes nesse estudo, foram bem diversificadas em outros estuários. Nos estuários de
Conceição da Barra e Barra Nova a representatividade das famílias se deve a abundância de
indivíduos Stellifer sp. e Diapterus rhombeus.
A dominância de Sciaenidae era esperada, uma vez que regiões tropicais e subtropicais
apresentam características estuarinas similares a outras regiões zoogeográficas no mundo,
favorecendo a adaptação para as espécies dessa família (BLABER, 2002). Segundo
54
Figueiredo e Menezes (1980), os Sciaenideos são comuns em águas rasas com fundos de areia
ou lama, coincidindo com o tipo de substrato observado nas áreas de coletas.
Souza et al. (2008) encontraram correlação entre a biomassa de espécies da família
Sciaenidae com a biomassa de pequenas espécies de camarão (Penaeoidea) em ambientes
rasos do litoral de São Paulo. No entanto, Rodrigues-Filho et al. (2011), na costa norte de
Santa Catarina, observaram que o maior período de captura de Stellifer (Sciaenidae) ocorre no
verão devido aumento da temperatura e para a espécie de camarão-sete-barbas (Xiphopenaeus
kroiery) ocorre no outono, período de maior salinidade. No presente estudo não ficou evidente
a correlação com o período de verão, mas não foram obtidos dados que possam inferir quanto
à correlação com espécies de Penaeoidea.
Segundo Chaves & Otto (1998) D. rhombeus é uma espécie marinha migrante muito
comum em ambientes estuarinos e de manguezais, embora apresente pequeno porte, a
abundância de indivíduos pode ter grande importância na dinâmica biológica desses
ambientes. Além disso, D. rhombeus é tolerante a baixos níveis de salinidade e podem ser
dominantes em fase juvenil nos ambientes estuarinos mais interiores de mangue e áreas rasas
de praia, principalmente estuários sob forte influência marinha. Já indivíduos adultos
procuram áreas mais profundas para desova (FIGUEIREDO & MENESES, 1980; PAIVA et
al. 2008; VILAR et al., 2010).
Fatores bióticos e abióticos podem interferir na composição e abundância de espécies
nos estuários. Tem-se sugerido que os fatores abióticos sobrepõem os bióticos nessa
determinação. Dentre os fatores abióticos, destacam-se a salinidade e temperatura (BLABER,
2000).
A alta abundância de indivíduos e diversidade de espécies de peixes foi observada no
período compreendido entre os meses de novembro e abril (época em que foram observadas
as maiores temperaturas no ambiente), exceto para o estuário de Conceição da Barra que
apresentou um número grande de indivíduos coletados também no mês de junho. No entanto,
no estuário de Conceição da Barra diferenças significativas só foram observadas entre as
médias mensais do número de indivíduos, já no estuário de Barra Nova só as médias mensais
da diversidade não foram significativamente diferentes.
Apesar de poucos dados precisos das variáveis ambientais, o agrupamento do Cluster
para ocorrência e abundância mensal das espécies no estuário de Conceição da Barra tende
apresentar uma resposta, principalmente, para variação na temperatura, com os meses de
menor média mensal (junho a agosto) que não corresponderam ao período de menor média de
precipitação. Embora transparência e temperatura sejam considerados fatores secundários à
55
salinidade e profundidade na distribuição da ictiofauna, Marshall & Elliott (1998) no Estuário
Humber na Inglaterra e Vilar et al. (2010) na Baía de Babitonga em Santa Catarina,
relacionam a variação sazonal da temperatura, com processos no ciclo de vida (migração,
reprodução e recrutamento), provavelmente responsáveis pela variação temporal na
distribuição da ictiofauna nesses ambientes.
Louis et al. (1995) afirmam que os valores mais elevados de riqueza e diversidade são
encontrados nas estações mais quentes do ano. O que vem a corroborar com resultados
encontrados em estudos realizados por outros autores sobre ictiofauna demersal (QUEIROZ et
al., 2006; GODEFROID et al., 2004; BRANCO & VERANI, 2006).
Diferenças espaciais só não foram significativas entre as médias da equitatividade e do
número de indivíduos nos estuários de Conceição da Barra e Barra Nova, respectivamente.
Diferenças significativas entre as assembléias de peixes dos pontos de coleta foram
observadas no estuário de Conceição da Barra.
O estuário de Conceição da Barra foi dividido em dois grupos definidos nas análises
de agrupamento e ordenamento. Um compreende as áreas mais reservadas do estuário
(riachos de mangue) onde as florestas de mangue exercem grande influência sobre o meio, os
pontos Bininho e Pitangueira. Um segundo grupo compreende as áreas mais abertas do
estuário com alto fluxo de água (baixa influência das florestas de mangue), o Canal principal
do rio e a Foz do Rio Santana.
A dominância de algumas espécies em alguns meses do ano, especialmente no final
das estações seca e chuvosa podem indicar um processo de migração entre áreas menos
instáveis para áreas mais estáveis, provavelmente associada à variação na salinidade, pelo
incremento de água doce (BARLETTA et al., 2003; BARLETTA, et al., 2008).
Aparentemente as áreas do Bininho e Pitangueira, mais isoladas pela geografia do estuário de
Conceição da Barra, estão menos sujeitas às oscilações que as áreas do Canal e Foz do Rio
Santana e por isso apresentam diferenças significativas.
Alguns estudos relatam que as florestas de mangue exercem grande influência sobre a
ictiofauna em estuários (NAGELKERKEN et al., 2000), a qual produz elevada produção de
detrito vegetal. Chaves e Vendel (2008) afirmam que o ponto inicial de obtenção de energia
pelos peixes de estuário está no habito detritívoro da matéria vegetal por algumas espécies.
Outros fatores que influenciam na abundância de peixes nos estuários é a utilização desses
ambientes para reprodução e migração (BLABER & BLABER, 1980), seja nos estágios
iniciais ou durante todo o ciclo de vida (LAFFAILLE et al., 2000).
56
A abundância média de duas espécies de bagres (Genidens genidens e
Pseudauchenipterus nodosus) foi primordial na separação das áreas abertas (Canal e Foz do
Rio Santana) em relação às áreas fechadas (Bininho e Pitangueira). Houve grande captura de
Genidens genidens em ambas as áreas abertas no mês de dezembro, período de maiores
temperatura e transparência e baixa salinidade. Os indivíduos coletados apresentavam elevado
número de alevinos e ovos transportados na boca, demonstrando se tratar de uma importante
área de recrutamento dessa espécies.
A instabilidade ambiental, principalmente causada pelo regime de chuvas pode induzir
a movimentação da assembléia de peixes para áreas estuarinas mais estáveis. Contudo,
algumas espécies, como Genidens genidens, mais tolerantes às oscilações de salinidade,
podem permanecer em altas densidades de indivíduos juvenis para evitar a concentração de
peixes nas áreas mais estáveis (BARLETTA, et al., 2003; BARLETTA et al., 2008). Segundo
Gomes et al. (1999) G. genidens apresenta variação temporal associado ao período
reprodutivo da espécie. A abundância de machos e fêmeas é baixa no período entre junho e
setembro e com picos de abundância de fêmeas (dezembro e janeiro) e de machos (fevereiro e
março) durante o verão, o que explica a abundância da espécie encontrada no período
chuvoso, devido ao grande número de fêmeas com ovócitos. Já Queiroz et al. (2006) sugere
que G. genidens tende a estar associado também à ambientes com menores profundidades.
O Pseudauchenipterus nodosus foi largamente capturada entre os meses de novembro
a dezembro, sendo o mês de dezembro época de reprodução dessa espécie, peixe de habito
detritívoro é largamente encontrado próximo a áreas de despejo de águas residuais de cidades
(LE BAIL et al. 2000), ressaltamos que as áreas abertas estudadas estão localizadas próximo
ao cais da cidade. Tem preferência por grandes rios e águas ligeiramente salobras, mais
próxima de doce (KENNY, 1995; BOUJARD et al. 1997).
Mudanças espaciais com base na composição em espécies e suas abundâncias, não
foram observadas entre as assembléias de peixes coletadas nos pontos estudados para o
estuário de Barra Nova. Isso pode estar relacionado à similaridade existente entre os quatros
ambientes estudados. No entanto observou-se uma maior proximidade faunística entre as
áreas Cais e rio Mariricu e entre foz do rio Mariricu e Transpetro.
57
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO, F.R.; CRUZ-FILHO, A.G.; AZEVÊDO, M.C.C.; SANTOS, A.C.A. 1998.
Estrutura da Comunidade de Peixes Demersais da Baía de Sepetiba, RJ. Rev. Brasil. Biol.,
58(3): 417-430.
ATTRILL, M. L. & RUNDLE, S. D. 2002. Ecotone or Ecocline: ecological boundaries in
estuaries. Estuarine, Coastal and Shelf Science 5: 929-936.
BARLETTA, M. & CORRÊA, M. F. M. 1992. Guia para identificação de peixes da costa do
Brasil. Curitiba, Ed. da UFPR, 131 p.
BARLETTA, M.; BARLETTA-BERGAN, A. SAINT-PAUL. U.; HUBOLD, G. 2003.
Seasonal changes in density, biomass, and diversity of estuarine fishes in tidal mangrove
creeks of the lower Caeté Estuary (northern Brazilian coast, east Amazon). Mar Ecol Prog Ser
256: 217–228.
BARLETTA, M.; AMARAL, C.M.; CORRÊA, M.F.M.; GUEBERT, F.; DANTAS, D.V.;
LORENZI, L.; SAINT-PAUL, U. 2008. Factors affecting seasonal variations in demersal fish
assemblages at an ecocline in a tropical–subtropical estuary. Journal of Fish Biology (2008)
73, 1314–1336.
BLABER, S. J. M. & BLABER, T. G. 1980. Factors afecting the distribution of juvenile
estuarine and inshore fish. Journal of Fish Biology 17, p. 143–162.
BLABER, S. J. M. 2000. Tropical estuarine fishes. Ecology, Exploration and Conservation.
Fish and Aquatic Resources series 7. Blackwell Science, Oxford, 372 pp.
BLABER, S.J.M. 2002. ‘Fish in hot water’: the challenges facing fish and fisheries research
in tropical estuaries. Journal of Fish Biology 61, (Supplement A), 1–20.
58
BOUJARD, T.; PASCAL, M.; MEUNIER, F.J.; LE BAIL P.-Y. 1997. Poissons de Guyane.
Guide écologique do Approuague te de a réserve des Nouragues. Instituto National da
Recherche Agronomique, Paris, 219 p.
BRANCO, J.O.; VERANI, J.R. 2006. Análise quali-quantitativa da ictiofauna acompanhante
na pesca do camarão sete-barbas na Armação do Itapocoroy, Penha, Santa Catarina. Revista
Brasileira de Zoologia, 23(2):381-391.
BROWN, A. C. & MCLACHLAN, A. 1990. Ecology of sandy shores. [S.I.]: Elsevier, 328 p.
CARMOUZE, J. P. 1994. O metabolismo dos ecossistemas aquáticos. São Paulo: Ed.Edgard
Blücher/Sbl.
CHAGAS, L. P. 2005. Aspectos zoogeografics da ictiofauna estuarina no Atlântico oeste.
Monografia (Bacharelado em Oceanografia), Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória.
CHAGAS , L. P., JOYEUX, J-C & FONSECA, F.R. 2006.
Small scale spatial changes in
estuarine fish subtidal assemblage in tropical Brazil. Journal of Marine Biology Association
of the United Kingdon. 86: 861-875.
CHAVES, P.T.C.; OTTO, G. 1998. Aspectos Biológicos de Diapterus rhombeus (Cuvier)
(Teleostei, Gerreidae) na Baía de Guaratuba, Paraná, Brasil. Revta. bras. Zool, 15(2): 289295.
CHAVES, P.T.C, & VENDEL, A.L. 2008 Análise comparativa da alimentação de peixes
(Teleostei) entre ambientes de marisma e de manguezal num estuário do sul do Brasil (Baía
de Guaratuba, Paraná). Revta. bras. Zool. v. 25, n. 1, p. 10-15.
CLARKE, K. R. & WARWICK, R. W. 1994 Change in marine communities: an aproach to
statistical analysis and interpretation. [S.l.]: Plymouth Marine Laboratory, 859 p.
COSER, L. M., PEREIRA, B. B. & JOYEUX, J-C. 2007. Descrição da comunidade
ictioplanctônica e sua distribuição espacial no estuário dos rios Piraquê-Açu e Piraquê-Mirim,
Aracruz, ES, Brasil. Interciencia, 32(4): 233-241.
59
CYRUS, D. P. & BLABER, S. J. M. 1992 Turbidity and salinity in a tropical Northern
Autralian estuary and their influence on fish distribution. Estuarine, Coastal and Shelf
Science, [S.l.], v. 35, p. 545–563.
DAY, J. W. JR, HALL, C. A. S., KEMP, W. M. & YÁNEZ-ARANCIBIA, A. 1989.
Estuarine ecology. New York. John Wiley & Sons, 558p.
FERREIRA, C. E. L., FLOETER, S. R., GASPARINI, J. L., FERREIRA, B. P. & JOYEUX,
J.-C. 2004. Trophic structure patterns of Brazilian reef fishes: a latitudinal comparison.
Journal of Biogeography 31: 1093–1106.
FIGUEIREDO, J.L. & MENEZES, N. 1978. Manual de Peixes Marinhos do Sudeste do
Brasil – II. Teleostei (1). Museu de Zoologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 110 p.
FIGUEIREDO, J.L. & MENEZES, N. 1980. Manual de Peixes Marinhos do Sudeste do
Brasil – III. Teleostei (2). Museu de Zoologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 90 p.
Brasil – VI. Teleostei (5). Museu de Zoologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 116 p.
FIGUEIREDO, J.L. & MENEZES, N. 2000. Manual de peixes marinhos do sudeste do Brasil.
VI. Teleostei (5). São Paulo, Museu de Zoologia, USP.
FLOETER, S. R., GUIMARÃES, R. Z. P., ROCHA, L. A., FERREIRA, C. E. L., RANGEL,
C. A. & GASPARINI, J. L. 2001. Geographic variation in reef-fish assemblages along the
Brazilian coast. Global Ecology and Biogeography 10, 423–433.
GOMES, I.D., ARAÚJO, F.G., AZEVEDO, M.C.C. & PESSANHA, A.L.M. 1999. Biologia
reprodutiva dos bagres marinhos Genidens genidens (Valenciennes) e Cathorops spixii
(Agassiz) (Siluriformes, Ariidae), na baía de Sepetiba, Rio de Janeiro, Brasil. Rev. Bras. Zool.
16(supl.2):171-180.
GODEFROID, R.S.; SPACH, H.L.; SANTOS, C.; MACLAREN, G.; SCHWARZ-JUNIOR,
R. 2004. Mudanças temporais na abundância e diversidade da fauna de peixes do infralitoral
raso de uma praia, sul do Brasil. Iheringia, Série Zoologia, 94(1):95-104.
60
HYNDES, G. A., PLATELL, M. E., POTTER, I. C. & LENANTON, R. C. J. 1999. Does the
composition of the demersal fish assemblages in temperate coastal waters change with depth
and undergo consistent seasonal changes? Mar. Biol., New York, v. 134, p. 335 – 352.
JAUREGUIZAR, A. J.; MENNI, R.; BREMEC, C.; MIANZAN, H. & LASTA, C. 2003 Fish
assemblage and environmental patterns in the Río de La Plata estuary. Estuarine, Coastal and
Shelf Science., London, v. 56, p. 921–933.
JAUREGUIZAR, A. J.; MENNI, R.; GUERRERO, R. & LASTA, C. 2004 Environmental
factors struturing fish communities of the Río de La Plata estuary. Fisheries Research, [S.l.],
v. 66, p. 195–211.
JOYEUX, J.-C., FLOETER, S. R., FERREIRA, C. E. L. & GASPARINI, J. L. 2001
Biogeography of tropical reef fish: the South Atlantic puzzle. Journal of Biogeography 28,
831–841.
JOYEUX, J.-C., PEREIRA, B.B. & ALMEIDA, H.G. 2004. The Floodtide ichthyoplanktonic
community at the entrance into a Brazilian tropical estuary. Journal of Plankton Research, 26:
1277-1287.
KENNISH, M. J., 1986. Ecology of estuaries (1). CRC Press, Boston, p 253.
KENNISH, M. J. 1990, Ecology of estuaries. [S.l.]: CRC Press, Inc., v. II: Biological aspects.
p. 391.
KENNY, J.S. 1995. Views from the bridge: a memoir onde the freshwater fishes of Trinidad.
Julian S. Kenny, Maracas, St. Joseph, Trinitat e Tobago. 98 p.
KUPSCHUS, S. & TREMAIN, D. 2001. Associations between fish assemblages and
environmental factors in nearshore habitats of a subtropical estuary. Journal of Fish Biology,
[S.l.], v. 58, p. 1383-1403.
61
LAFFAILLE, P.; FEUNTEUN, E. & FEFEUVRE, J. C. 2000. Composition of Fish
Communities in a European Macrotidal Salt Marsh (The Mont Saint-Michel Bay, France).
Estuarine, Coastal and Shelf Science 21: 429-438.
LASIAK, T. A. 1984. Structural aspects of the surf zone fish assemblage at King’s Beach,
Algoa Bay, South Africa: Long - term fluctuations. Estuar. Coast. Shelf Sci., London, v. 18,
n. 4, p. 459 – 483.
LE BAIL, P. Y; KEITH, P.; PLANQUETTE, P. 2000. Atlas des poissons d’eau douce de
Guyane. Tomo II. Paris: Muséum National d’Histoire Naturelle.
LENANTON, R.C.J.& POTTER, I.C. 1987. Contribution of estuaries to commercial fisheries
in temperate Western Australia and the concept of estuarine dependence. Estuaries 10, p. 28–
35.
LONERAGAN, N. R.; POTTER, I. C.; LENANTON, R. C. J. & CAPUTI, N. 1987, Influence
of environmental variables on the fish fauna of the deeper waters of a large Australian
estuary. Marine Biology, [S.l.], v. 94, p. 631-641.
LONERAGAN, N. R.; POTTER, I. C. & LENANTON, R. C. J. 1989, Influence of site,
season and year on contributions made by marine, estuarine, diadromous and freshwater
species to the fish fauna of a temperate Australian estuary. Marine Biology, [S.l.], v. 103, p.
575-586.
LOUIS, M.; BOUCHON, C.; BOUCHON-NAVARRO, Y. 1995. Spatial and temporal
variations of mangrove fish assemblages in Martinique (French West Indies). Hydrobiologia,
295:275-284.
MACIEIRA, R. M. 2005. Aspectos da ictiofauna do sistema estuarino dos rios Piraquê-açu e
Piraquê-mirim, ES. Monografia, Oceanografia, Universidade Federal do Espírito Santo, 50p.
MAES, J.; VAN DAMME, P. A.; TAILLIEU, A. & OLLIVIER, F. 1998. Fish communities
along na oxygen-poor salinity gradient (Zeeschelde Estuary, Belgium). Journal of Fish
Biology, [S.l.], v. 52, p. 534-546.
62
MARSHALL, S. & ELLIOTT, M. 1998. Environmental influences on the fish assemblage of
the Humber estuary. Estuarine, Coastal and Shelf Science, London, v. 46, p. 175–184.
MENEZES, N. & FIGUEIREDO, J.L. 1980. Manual de Peixes Marinhos do Sudeste do
Brasil – IV. Teleostei (3). Museu de Zoologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 96 p.
MENEZES, N. & FIGUEIREDO, J.L. 1985. Manual de Peixes Marinhos do Sudeste do
Brasil – V. Teleostei (4). Museu de Zoologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 105 p.
MOYLE, P.B. & CECH, Jr., J.J. 1982. Fishes: an Introduction to Ichthyology. 3rd ed.
Prentice Hall. New Jersey. 590 pp.
NAGELKERKEN, I.; VAN DER VELD, G.; GORISSEN, M.W.; MEIJER, G.J.;
VAN’THOF, T. & DEN HARTOG, C. 2000. Importance of mangroves, seagrass beds and the
shallow coral reef as a nursery for importance coral reef fish, using a visual census technique.
Estuarine, Coastal and Shelf Science. n. 51, p. 31-44.
PAIVA, A.C.G.; CHAVES, P.T.C.; ARAÚJO, M.E. 2008. Estrutura e Organização Trófica
da Ictiofauna de Águas Rasas em um Estuário Tropical. Revta. bras, Zool. 25(4): 647-661.
PATTERSON, A.W. & WHITFIELD, A.K. 2000. Do the shallow-water habitats function as
refugia for juveniles fishes? Estuarine, Coastal and Shelf Science, London, v.51,p.359-364.
PETERSON, M.S. & ROSS, S.T. 1991. Dynamics of littoral fishes and decapods along
coastal river-estuarine gradient. Estuarine, Coastal and Shelf Science, v. 33, p. 467–483.
QUEIROZ, G.L.M.N.; SPACH, H.L.; SOBOLEWSKI-MORELOS, M.; SANTOS, L.O.;
SCHWARZ JR, R. 2006. Caracterização da Ictiofauna Demersal de Duaas Áreas do
Complexo Estuarino de Paranaguá, Paraná, Brasil. BIOCIÊNCIAS, Porto Alegre, v. 14, n. 2,
p. 112-124.
RESENDE, F.. 2005. Análise da variabilidade da utilização de informações a respeito da
comunidade de peixes e de variáveis ambientais no monitoramento da qualidade da água em
63
canais de mangue do estuário da baía de Vitória. Dissertação de Mestrado, Engenharia
Ambiental, Universidade Federal do Espírito Santo, 134p.
RODRIGUES-FILHO, J.L.; BRANCO, J.O.; PERET, A.C.; DECKER, F.K.; LUIZ, T.F.;
VERANI, J.R. 2011 Impacts of the seabob shrimp fishery on Stellifer spp. (Perciformes,
Sciaenidae) assemblage in Armação do Itapocoroy, Penha (SC), Brazil. Pan-American Journal
of Aquatic Sciences, 6(2):170-184.
SCHWARZ JR, R.; FRANCO, A.C.N.P.; SPACH, H.L.; SARPEDONTI, V.; PICHLER,
H.A.; QUEIROZ, G.M.L.N. 2006. Composição e Estrutura da Ictiofauna Demersal na Baía
dos Pinheiros, Paraná. Braz. J. Aquat. Sci. Technol., 10(1):27-39.
SILVA, M.A.B. da; BERNINII, E. & CARMO, T.M.S. 2005. Características estruturais de
bosques de mangue do estuário do rio São Mateus, ES, Brasil. Acta bot. bras. 19(3): 465-471.
SOKAL, R. R. & ROHLF, F. J. 1995. Biometry; the principles and practice of statistics in
biological research. W. H. Freeman and Co., 3d. ed. San Francisco, 887 p.
SOUZA, U.P.; COSTA, R.C. Da., MARTINS, I.A.; FRANSOZO, A. 2008. Associações entre
as biomassas de peixes Sciaenidae (Teleostei: Perciformes) e de camarões Penaeoidea
(Decapoda: Dendrobranchiata) no litoral norte do Estado de São Paulo. Biota Neotropica 8(1):
83-92.
VIEIRA, J.P.; MUSICK, J.A. 1993 Latitudinal patterns in diversity of fishes in warmtemperate and tropical estuarine waters of the western Atlantic. Atlântica, Rio Grande, 15:
115-133.
VILAR, C.C.; SPACH, H.L.; JOYEUX, J.C. 2010. Spatial and temporal changes in the fish
assemblage of a subtropical estuary in Brazil: environmental effects. Journal of the Marine
Biological Association of the United Kingdom. pp. 1-14.
WHITFIELD, A.K. 1999. Ichthyofaunal assemblages in estuaries: a South African case study.
Reviews in Fish Biology and Fisheries 9, p. 151–186.
CAPÍTULO II - ICTIOFAUNA DOS ESTUÁRIOS DE CONCEIÇÃO DA
BARRA E BARRA NOVA: RELAÇÃO PESO X COMPRIMENTO
RESUMO
A Biologia Pesqueira analisa a relação peso-comprimento para manejo e conservação
de espécies permitindo estimativas de peso e s biométricos das espécies sob diferentes
condições ambientais. No Estuário de Conceição da Barra e Barra Nova ao norte do Espírito
os dados biométricos são escassos ou inexistentes para as espécies, o que torna importante um
estudo sistemático para esta região. O comprimeno total e peso da ictiofauna de cada estuário
foram amostrados em quatro áreas com características distintas e analisados através de teste
de regressão linear com indicador de qualidade pelo coeficiente de determinação. O teste-t foi
aplicado para detectar diferença entre os coeficientes de 21 espécies comuns nos estuários das
33 analisadas, além da comparação dos valores no portal eletrônico Fishbase. Das 21 espécies
presentes em ambos os estuários, o crescimento isométrico foi observado em 18 espécies e o
alométrico positivo em uma. Na aplicação do teste-t de Student, não foram encontradas
diferenças significativas entre os valores de b das espécies que ocorreram em ambos os
estuários. Dados de relação peso-comprimento de R. randalli, não constam na base de dados
fishbase, enquanto que de P. virginicus estão disponíveis apenas para a Colômbia. Os
resultados obtidos demonstraram elevados coeficientes de determinação para os peixes nos
estuários do rio Cricaré. O crescimento isométrico presente na maioria das espécies reforça
este fato e indica que estes estuários apresentam condições favoráveis ao desenvolvimento da
fauna íctica.
65
INTRODUÇÃO
Estudos da relação peso-comprimento são utilizados na biologia pesqueira e no
manejo de peixes por permitir estimar o peso a partir de dados do comprimento, e vice-versa
(FROESE, 2006), comparar diferenças espaciais e temporais entre populações ou espécies e
para determinar o fator de condição (VIANA et al., 2004). Os parâmetros desta relação (a e b)
variam de acordo com o sexo, tamanho do corpo, tempo e espaço e variações na estrutura da
população, disponibilidade de alimentos e pressão de pesca podem resultar em diferentes
relações peso-comprimento para a mesma espécie (GIACLONE et al., 2010).
A bacia do rio Cricaré, no norte do Estado do Espírito Santo, abrange uma área de
cerca de 13.500 km2, sendo formada pelos rios Cotaxé e Cricaré, cujas nascentes encontramse no estado de Minas Gerais, e confluem no município capixaba de São Mateus. O rio
Cricaré direciona-se então para o norte e deságua no Oceano Atlântico, em Conceição da
Barra, ES (SILVA et al., 2005), enquanto o rio Mariricu (afluente do rio Cricaré) direciona-se
para o sul, desaguando na comunidade de Barra Nova no município de São Mateus, formando
o estuário de Barra Nova (Fig.1). A partir desse ponto, os dois estuários são nitidamente
diferentes: enquanto o do Cricaré em Conceição da Barra (39º43’56.3”W / 18º35’59.8”S), ao
norte, é caracterizado principalmente por mangue vermelho (Rhizophora mangle) e branco
(Laguncularia racemosa) (SILVA et al., 2005), o de Barra Nova (39º44’47.5”W /
18º57”05.3”S), ao sul, é formado por bosques de mangue preto (Avicennia schaueriana e A.
germinans) no alto curso, mistos (R. mangle,L. racemosa e A. schaueriana) no médio curso e
vermelho (R. mangle) no baixo curso (PETROBRÁS, 2007). As marés dos estuarios do rio
Cricaré são semidiurnas e no período estudado (Nov/2010 a Out/2011) apresentaram media de
0,78 m (dados do Terminal de Barra do Riacho, município de Aracruz, ES), com intervalo
médio entre -0,04 e 1,51 m (Diretoria de Hidrografia e Navegação, Ministério da Marinha). O
clima é tropical úmido, com duas estações bem definidas: quente entre novembro e abril, e
mais ameno entre maio e outubro.
66
Figura 5 Figura 1 - Localização dos estuários do rio Cricaré no município de Conceição da
Barra ao norte e de Barra Nova – São Mateus, ao sul.
MATERIAL E MÉTODOS
O presente trabalho foi desenvolvido nos estuários do rio Cricaré (Conceição da Barra,
ao norte e Barra Nova/São Mateus ao sul), entre setembro de 2010 e outubro de 2011.
Mensalmente, em cada uma das quatro áreas escolhidas em cada estuário, foram realizados
três arrastos de fundo de cinco minutos cada, com rede de porta (2,80m de abertura de boca
por 3,90m de comprimento e malha (distância entre nós opostos com a malha esticada) de
3,9cm no corpo e 2,2cm no saco da rede), arrastada a uma velocidade média de 2,9 Km/h.
Todo material coletado foi separado em sacos plásticos por ponto e arrasto,
acondicionado sob refrigeração e encaminhado ao Laboratório de Zoologia do Centro
Universitário Norte do Espírito Santo (UFES) para identificação e biometria. A identificação
dos peixes foi feita ao menor nível taxonômico possível, usando como referências Figueiredo
67
e Menezes (1978, 1980 e 2000), Menezes e Figueiredo (1980 e 1985), Barletta e Corrêa
(1992) e consulta a especialistas. As biometrias foram realizadas utilizando balança digital
com precisão de 0,01g e ictiômetro manual com precisão de 1,0 mm.
ANÁLISE DE DADOS
Os dados de comprimento total (CT) em mm e de peso (P) em g de cada peixe com
número de captura ≥5 por espécie e estuário (Conceição da Barra e Barra Nova) foram logtransformados a fim de identificar possíveis outliers. A constante da equação da reta (a) e o
coeficiente de alometria (b) foram obtidos por análises de regressão linear (log P= log a +b
log CT) com os dados de CT e P log-transformados. O coeficiente de determinação (r2) foi
usado como indicador da qualidade da regressão linear (JOYEUX et al., 2008). O test-t
(p<0,05) foi aplicado para verificar se b difere significativamente de três e assim definir o tipo
de crescimento (isométrico ou alométrico), bem como para detectar diferenças significativas
entre os coeficientes das 21 espécies comuns aos dois estuários (LE CREN, 1951; ZAR,
1984). Os dados obtidos foram comparados com aqueles presentes no portal eletrônico
fishbase, preferencialmente do estado do Espírito Santo, quando disponíveis. Dados obtidos
na literatura também foram utilizados para comparação com os obtidos no presente estudo.
RESULTADOS
Foi analisado um total de 33 espécies, sendo que destas 21 ocorreram em ambos os
estuários, oito exclusivamente em Barra Nova e quatro apenas em Conceição da Barra. Nas
espécies que ocorreram em ambos os estuários, o coeficiente de relação (r2) variou de 0,8183
(Pseudauchenipterus nodosus) a 0,9975 (Chaetodipterus faber). Nas espécies exclusivas de
Barra Nova o r2 variou de 0,769 (Gobionellus oceanicus) a 0,986 (Archosargus
protabocephalus) e nas de Conceição da Barra de 0,6618 (Cyclichhys spinosus) a 0,999
(Paralichthys brasiliensis). Os valores de log b variaram de 2,5742 em Centropomus
parallelus a 3,5174 em Rypticus randalli nas espécies comuns a ambos os estuários; de
2,4716 (C. spinosus) a 3,4986 (Stellifer stellifer) nas presentes apenas em Conceição da Barra
e de 1,4545 (Gobionellus oceanicus) a 3,0572 (A. probatocephalus) nas de ocorrência apenas
em Barra Nova (Tabs. 1 e 2).
68
Tabela 1 - Espécies e parâmetros das relações peso-comprimento das coletas realizadas no estuário de Conceição da Barra/ES, entre setembro de
2010 e outubro de 2011. Dados em negrito referem-se às espécies que ocorreram unicamente no estuário de Conceição da Barra (I= isométrico,
A+= alométrico positivo).
Espécie
N
CT (mm)
mín-máx
a
CL 95%
inf.
sup.
B
CL 95%
inf.
sup.
r2
Cresc.
Achirus declivis
207
39-180
-4,9338
-5,0384
-4,8291
3,1170 3,0639
3,1702 0,9849
I
Achirus lineatus
89
42-114
-4,8830
-5,0909
-4,6751
3,0870 2,9794
3,1946 0,9739
I
Bairdiella ronchus
35
77-208
-5,2466
-5,4470
-5,0463
3,1660 3,0716
3,2604 0,9930
I
Cathorops spixii
65
112-250
-4,9498
-5,2586
-4,6410
2,9847 2,8465
3,1229 0,9673
I
Centropomus parallelus
15
135-269
-4,0838
-5,0035
-3,1641
2,5742 2,1691
2,9794 0,9355
A+
Centropomus undecimalis
9
208-296
-5,0807
-6,2600
-3,9014
2,9725 2,4835
3,4615 0,9672
I
Cetengraulis edentulus
57
112-162
-5,8015
-6,7204
-4,8826
3,3441 2,9183
3,7700 0,8183
I
Chaetodipterus faber
6
49-145
-4,6308
-5,0594
-4,2022
3,1238 2,9047
3,3430 0,9975
I
Citharichthys spilopterus
113
72-165
-5,3909
-5,6556
-5,1261
3,1453 3,0125
3,2781 0,9520
I
Cynoscion acoupa
59
51-287
-5,2511
-5,4184
-5,0839
3,0744 2,9946
3,1542 0,9905
I
Diapterus rhombeus
1151 40-195
-5,1954
-5,2759
-5,1149
3,1717 3,1298
3,2136 0,9505
I
Lagocephalus laevigatus
24
38-175
-4,9403
-5,4008
-4,4798
3,1641 2,9173
3,4109 0,9698
I
Lutjanus jocu
15
76-210
-4,6757
-4,9554
-4,3960
2,9612 2,8334
3,0889 0,9948
I
Micropogonias furnieri
41
89-165
-5,1225
-5,3066
-4,9383
3,0552 2,9680
3,1424 0,9923
I
Mugil curema
15
153-312
-4,2524
-4,7333
-3,7715
2,6709 2,4627
2,8790 0,9834
A+
Polydactylus oligodon
21
112-192
-5,2904
-5,9335
-4,6474
3,1228 2,8268
3,4188 0,9625
I
69
Pseudauchenipterus nodosus
48
82-131
-4,8585
-5,5232
-4,1938
2,9579 2,6279
3,2880 0,876
I
Rypticus randalli
25
105-164
-4,7132
-5,4629
-3,9636
2,9347 2,5841
3,2854 0,9287
I
Sphoeroides testudineus
237
54-238
-4,6457
-4,8292
-4,4622
3,0000 2,9158
3,0841 0,9545
I
Stellifer spn.
790
67-179
-5,1019
-5,1825
-5,0212
3,0781 3,0398
3,1163 0,9694
I
Symphurus tessellatus
45
99-195
-5,8434
-6,0924
-5,5943
3,3399 3,2263
3,4535 0,9879
I
Caranx latus
21
36-115
-4,2123
-4,4973
-3,9274
2,6796 2,5259
2,8333 0,9851
A+
Chloroscombrus chrysurus
9
112-139
-5,7171
-7,5206
-3,9135
3,3112 2,4513
4,1710 0,9221
I
Cyclichthys spinosus
47
60-86
-3,1284
-4,1073
-2,1494
2,4716 1,9472
2,9959 0,6618
A+
Cynoscion leiarchus
10
91-183
-5,5757
-6,1794
-4,9720
3,2782 2,9981
3,5583 0,9891
I
Paralichthys brasiliensis
6
132-455
-5,2500
-5,5911
-4,9090
3,1195 2,9793
3,2598 0,9990
I
Polydactylus virginicus
5
136-195
-5,8533
-7,7031
-4,0035
3,3781 2,5452
4,2109 0,9823
I
Selene vômer
23
42-163
-4,1467
-4,4379
-3,8554
2,6453 2,4946
2,7960 0,9845
A+
Stellifer rastrifer
79
53-163
-5,4199
-5,5760
-5,2638
3,2429 3,1635
3,3222 0,9885
I
Stellifer stellifer
8
76-154
-5,9440
-6,3759
-5,5120
3,4986 3,2934
3,7039 0,9966
I
70
Tabela 2 - Espécies e parâmetros das relações peso-comprimento das coletas realizadas no estuário de Barra Nova, São Mateus/ES, entre
setembro de 2010 e outubro de 2011. Dados em negrito referem-se às espécies que ocorreram unicamente no estuário de Barra Nova (I=
isométrico, A+= alométrico positivo).
Espécie
N
CT (mm)
mín-máx
a
CL 95%
inf.
Sup.
b
CL 95%
inf.
sup.
r2
Cresc.
Achirus declivis
120
43-110
-4,6898
-4,9830
-4,3967
2,9742
2,8156
3,1328
0,9212
I
Achirus lineatus
32
40-75
-4,6491
-5,1850
-4,1131
2,9504
2,6473
3,2534
0,9295
I
Bairdiella ronchus
156
96-210
-5,2519
-5,4338
-5,0701
3,1543
3,0714
3,2373
0,9734
I
Cathorops spixii
14
174-224
-5,3505
-6,2760
-4,4249
3,1357
2,7352
3,5363
0,9604
I
Centropomus parallelus
94
99-419
-5,0998
-5,2891
-4,9106
3,0256
2,9419
3,1093
0,9825
I
Centropomus undecimalis
31
167-417
-5,6747
-5,1287
-6,2207
3,2185
2,9920
3,4450
0,9668
I
Cetengraulis edentulus
34
79-194
-6,0034
-6,7315
-5,2752
3,4353
3,0929
3,7776
0,9288
I
Chaetodipterus faber
8
52-140
-3,9958
-4,8659
-3,1258
2,7521
2,2870
3,2171
0,9722
A+
Citharichthys spilopterus
24
65-180
-5,1418
-5,5832
-4,7005
3,0156
2,7997
3,2316
0,9744
I
Cynoscion acoupa
32
36-414
-5,3044
-5,5535
-5,0552
3,0915
2,9676
3,2154
0,9886
I
Diapterus rhombeus
407
50-192
-5,5794
-5,6660
-5,4929
3,3518
3,3100
3,3935
0,9840
I
Lagocephalus laevigatus
12
65-277
-4,3559
-4,7680
-3,9438
2,8308
2,6237
3,0378
0,9893
A+
Lutjanus jocu
8
139-207
-4,0940
-5,1204
-3,0676
2,6678
2,2094
3,1263
0,9713
A+
Micropogonias furnieri
114
71-202
-5,4465
-5,6588
-5,2343
3,1933
3,0930
3,2935
0,9726
I
Mugil curema
5
229-360
-4,4220
-6,9243
-1,9197
2,7507
1,7384
3,7630
0,9614
A+
Polydactylus oligodon
9
116-230
-5,2904
-6,6943
-3,8865
3,1067
2,4769
3,7366
0,9511
I
71
Pseudauchenipterus nodosus
8
104-130
-4,8631
-6,7257
-3,0005
2,9531
2,0417
3,8646
0,9129
I
Rypticus randalli
44
65-172
-5,9586
-6,5171
-5,4000
3,5174
3,2555
3,7794
0,9446
I
Sphoeroides testudineus
182
50-231
-4,7864
-4,9289
-4,6439
3,0485
2,9807
3,1163
0,9775
I
Stellifer spn.
1087
62-189
-5,3235
-5,4110
-5,2360
3,1684
3,1274
3,2093
0,9550
I
Symphurus tessellatus
19
117-150
-5,1831
-6,1247
-4,2415
3,0070
2,5586
3,4553
0,9217
I
Archosargus probatocephalus
36
82-186
-4,8138
-5,0784
-4,5491
3,0572
2,9300
3,1843
0,9860
I
Cranx crysos
5
56-100
-4,2266
-5,6881
-2,7652
2,6657
1,8741
3,4572
0,9745
A+
Gobioides broussonnetii
75
244-488
-3,4728
-4,0880
-2,8577
2,0810
1,8391
2,3229
0,8011
A+
Gobionellus oceanicus
8
164-259
-2,2224
-4,0514
-0,3934
1,4545
0,6576
2,2515
0,7687
A+
72
Das 21 espécies presentes em ambos os estuários, o crescimento isométrico foi
observado em 18 espécies e o alométrico positivo em uma (M. curema), já as espécies C.
faber, L. laevigatus e L. jocu apresentaram crescimento isométrico em Conceição da Barra e
alométrico positivo em Barra Nova, enquanto que C. paralellus apresentou isométrico em
Barra Nova e alométrico positivo em Conceição da Barra (Tabs. 1 e 2). Entre as quatro
espécies capturadas somente no estuário de Barra Nova, três apresentaram crescimento
alométrico positivo (Tab. 2), o mesmo número do total de nove espécies presentes somente
nas amostras de Conceição da Barra (Tab. 1). Na aplicação do teste-t de Student, não foram
encontradas diferenças significativas entre os valores de b das espécies que ocorreram em
ambos os estuários. Dados de relação peso-comprimento de R. randalli, não constam na base
de dados fishbase, enquanto que de P. virginicus estão disponíveis apenas para a Colômbia.
DISCUSSÃO
Os resultados obtidos demonstraram elevados coeficientes de determinação para os
peixes nos estuários do rio Cricaré, o que indica a efetiva relação entre o crescimento
(comprimento) e ganho de peso nesses peixes. O crescimento isométrico presente na maioria
das espécies reforça este fato e indica que estes estuários apresentam condições favoráveis ao
desenvolvimento da fauna íctica. No entanto, cabe ressaltar que o tipo de crescimento
determinado pelas relações de peso-comprimento refere-se ao local e momento estudados,
pois uma serie de fatores influenciam no desenvolvimento ontogenético da ictiofauna
(FROESE, 2006). Talvez seja esse o motivo das espécies C. faber, C. parallelus, L. laevigatus
e L. jocu terem apresentado diferente tipo de crescimento em cada estuário, e também daquele
encontrado na literatura (SILVA-JR., 2007; GIARRIZO et al., 2006), principalmente
considerando-se que os valores de b das espécies que ocorreram em ambos os estuários não
apresentaram diferenças significativas. Já o crescimento alométrico de M. curema foi também
encontrado na literatura (SAAD, 2003; GIARRIZO et al., 2005; SILVA JR. et al., 2007),
embora sempre negativo, ao contrario deste estudo, em que a espécie apresentou crescimento
alométrico positivo, exemplifica a tendência de crescimento alométrico de algumas espécies,
como encontrado por Froese (2006) para Cepolama cropthalmae Chaenocephalu saceratus.
Evidencia-se assim, que embora este estudo tenha englobado todas as estações do ano, e das
diferenças nas condições oceanográficas e de composição de vegetação dos estuários de Barra
Nova e Conceição da Barra, esses fatores não foram suficientes para prover diferenças no tipo
73
de crescimento dos peixes, devendo-se, portanto, considerar outros fatores, como sexo,
maturidade gonodal, dieta, entre outros, em futuras análises.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARLETTA, M. & CORRÊA, M.F.M. 1992. Guia para identificação de peixes da costa do
Brasil. Editora UFPR, Curitiba.
FROESE, R., 2006. Cube law, condition factor and weight-length relationships: history, metaanalysis and recommendations. J. Appl. Ichthyol. 22:241–253.
FIGUEIREDO, J.L. & MENEZES, N. 1978. Manual de peixes marinhos do sudeste do Brasil.
II. Teleostei (1). São Paulo, Museu de Zoologia, USP.
FIGUEIREDO, J.L. & MENEZES, N. 1980. Manual de peixes marinhos do sudeste do Brasil.
III. Teleostei (2). São Paulo, Museu de Zoologia, USP.
FIGUEIREDO, J.L. & MENEZES, N. 2000. Manual de peixes marinhos do sudeste do Brasil.
VI. Teleostei (5). São Paulo, Museu de Zoologia, USP.
GIACALONE, V.M.; ANNA, G.D.; BADALAMENTI, F. & PIPITONE, C. 2010. Weightlength relationships and condition factor trends for thirty-eight fish species in trawled and
untrawled areas off the coast of northern Sicily (central Mediterranean Sea). J. Appl. Ichthyol.
26:954–957.
GIARRIZO, T.; SILVA DE JESUS, A. J.; LAMEIRA, E. C.; ARAÚJO DE ALMEIDA, J. B.;
ISSAC, V.; SAINT-PAUL, U. 2006. Weight-length relationships for intertidal fish fauna in a
mangrove estuary in Northern Brazil. J. Appl. Ichthyol. 22:325–327.
JOYEUX, J.-C.; GIARRIZO, T.; MACIEIRA, R.M.; SPACH, H.L.; VASKE, T., Jr. 2008.
Length-weight relationships for Brazilian estuarine fishes along a latitudinal gradient. J. Appl.
Ichthyol. 25:350–355
74
LE CREN, E.D. 1951. The lenght-weitht relationship and seasonal cycle in gonad weight and
condition in the perch. (Perca fluviatilis). J. Anim. Ecol. 20:201-219.
MENEZES, N.A. & FIGUEIREDO, J.L. 1980. Manual de peixes marinhos do sudeste do
Brasil. IV. Teleostei (3). São Paulo, Museu de Zoologia da USP.
MENEZES, N.A. & FIGUEIREDO, J.L. 1985. Manual de peixes marinhos do sudeste do
Brasil. V. Teleostei (4), Museu de Zoologia da USP.
PETROBRAS 2007. Diagnóstico Ambiental: Atividade de Produção e Escoamento de Gás
Natural e Petróleo do Campo de Camarupim, Bacia do Espírito Santo. Pags: 283-284.
Saad, A.M. Composição, distribuição espacial, dinâmica de populações de peixes e estatística
pesqueira na lagoa hipersalina de Araruama, RJ. 2003. São Carlos. Tese (Doutorado em
Ciências Biológicas – área de concentração Ecologia e Recursos Naturais), Universidade
Federal de São Carlos, São Carlos.
SAAD, A. M. 2003. Composição, Distribuição Espacial, Dinâmica de Populações de Peixes e
Estatística Pesqueira na Lagoa Hipersalina de Araruama, RJ. Tese de Doutorado em Ecologia
e Recursos Naturais, Universidade Federal de São Carlos, 2003. 105p.
SILVA-JÚNIOR, M.G.; CASTRO, A.C.L.; SOARES, L.S. & FRANÇA, L.V. Relação PesoComprimento de Espécies de Peixes do Estuário do Rio Paciência da Ilha do Maranhão,
Brasil. 2007. Boletim do Laboratório de Hidrobiologia. 20:31-38.
SILVA, M.A.B.da; BERNINI, E.; CARMO, T.M.S. do. 2005. Características estruturais de
bosques de mangue do estuário do rio São Mateus, ES, Brasil. Acta Bot. Bras., São Paulo, v.
19, n. 3, Sept. 2005.
VIANNA, M.; COSTA, F.E.S.; FERREIRA, C. N. 2004. Length-weight relationship of fish
caught as by-catch by shrimp fishery in the southeastern coast of Brazil. Bol. Inst. Pesca São
Paulo. 30:81–85.
ZAR, J.H. 1984. Bioestatistical analysis. Prentice-Hall, New Jersey. 663p.
CAPÍTULO III - PEIXES DE UMA REGIÃO DE TRANSIÇÃO ENTRE A
ÁREA TROPICAL E SUBTROPICAL DO ATLÂNTICO SUL
RESUMO
O estado do Espírito Santo está inserido na Região Central do Brasil, onde a produtividade
biológica é considerada baixa, típica das regiões tropicais. Apesar de possuir estuários
importantes, a região necessita de informações disponibilizadas em literatura publicada. O
objetivo deste trabalho é apresentar uma lista de espécies atualizada a partir do conhecimento
atual dos peixes no norte do Espírito Santo (estuários de Conceição da Barra e Barra Nova),
com comentários sobre a distribuição geográfica das espécies e status de conservação. Este
trabalho é baseado na compilação de dados coletados mensalmente por um período de um
ano. As amostras foram obtidas utilizando redes de arrasto de fundo com portas. A ictiofauna
é composta por 57 espécies, distribuídas em 10 ordens e 32 famílias. 98% são Actinopterygii
e 2% são Elasmobranchii. Perciformes (36) dominou em número de espécies, seguido por
Pleuronectiformes (5) e Clupeiformes (4). Sciaenidae (8) foi a família com maior número de
espécies, seguida por Carangidae e Gerreidae, cada um com quatro espécies. Esse resultado
coincide com o encontrado para a costa do Brasil e para a costa do Atlântico Sul. Comparando
a composição de espécies do norte do Espírito Santo com a Baía de Vitória, os estuários
revelam um número relativamente alto de espécies comuns aos dois locais e um número
razoável de espécies exclusivas. Em termos de números de espécies, é importante notar que a
riqueza total de espécies nos estuários ao norte do Espírito Santo é menor do que aquela
reportada em outros estuários da costa do Atlântico Sul Oeste. A maioria das espécies está
amplamente distribuída ao longo do Atlântico Oeste. Apenas uma pequena parte (14%) da
fauna do norte do ES foi avaliada quanto ao risco de extinção. Apesar disso, a área deve ser
prioritária na preservação devido às espécies sobreexplotadas e em perigo de extinção.
76
INTRODUÇÃO
O estado do Espírito Santo (18°22’S - 21°19’S), costa sudeste do Brasil, está
dentro da zona de transição tropical-subtropical, com um clima típico de regiões
intertropicais, apresentando um período chuvoso no verão e estiagem entre abril e
setembro. Está inserido na Região Central (sul da Bahia e Espírito Santo) e a
produtividade biológica da região é baixa, típica das regiões tropicais. Apesar de possuir
estuários importantes, a região necessita de informações disponibilizadas em literatura
publicada (ANDRADE-TUBINO et al., 2008).
Compilações de fauna são importantes por dois motivos: melhorar nosso
entendimento da distribuição geográfica e dos traços macro-ecológicos dos peixes
estuarinos do Atlântico Sul Oeste (BARLETTA & BLABER, 2007) e apoiar esforços
de conservação (BARLETTA et al. 2010). A diversidade de peixes em ambientes
estuarinos é grande, mas contrasta com atividades antrópicas como sobrepesca,
introdução de espécies exóticas, atividades portuárias e petrolíferas e perda de habitat.
O objetivo deste trabalho é apresentar uma lista de espécies atualizada a partir do
conhecimento atual dos peixes no norte do Espírito Santo (estuários de Conceição da
Barra e Barra Nova), com comentários sobre a distribuição geográfica das espécies e
status de conservação.
MATERIAL E MÉTODOS
ÁREA DE ESTUDO
A bacia do rio Cricaré localizada ao norte do Estado do Espírito Santo, abrange
uma área aproximada de 13.500 km2. Formada pelos rios Cotaxé e Cricaré, ambos com
suas nascentes situadas em Minas Gerais. A confluência desses rios ocorre no município
de São Mateus, sendo chamado de rio Cricaré ou São Mateus. O rio Cricaré direciona-se
para o norte e deságua no Oceano Atlântico, em Conceição da Barra, ES (C.C. VALE in
SILVA et al., 2005). Afluente do rio Cricaré, o rio Mariricu, direciona-se para o sul,
desaguando na comunidade de Barra Nova em São Mateus, formando o estuário de
Barra Nova (Fig.1).
77
Figura 1 - Localização dos estuários do rio Cricaré no município de Conceição da Barra
ao norte e de Barra Nova – São Mateus, ao sul. Locais de coleta no estuário de
Conceição da Barra. Ponto 1 – Foz do rio Santana; Ponto 2 – Canal principal do rio
Cricaré; Ponto 3 – Enseada entre o manguezal e Ponto 4 – Riacho. Locais de coleta no
estuário de Barra Nova. Ponto 1 – Cais de embarque e desembarque; Ponto 2 – Foz do
rio Mariricu; Ponto 3 – Próximo a estação de armazenamento e transporte de petróleo e
Ponto 4 – Rio Mariricu. Imagens de satélite disponibilizadas pelo Sistema Integrado de
Bases
Geoespaciais
do
Estado
do
Espírito
Santo
(http://www.geobases.es.gov.br/portal/index.php/navegadores.html).
O estuário do rio Cricaré em Conceição da Barra (39º43’56.3”W / 18º35’59.8”S)
é caracterizado principalmente pela vegetação de manguezal composta por Rhizophora
mangle (mangue vermelho) e Laguncularia racemosa (mangue branco) que ocupa 11
km2 (Silva et al, 2005). O estuário de Barra Nova (39º44’47.5”W / 18º57”05.3”S), na
confluência do rio Cricaré com o rio Mariricu até a foz predominam bosques de
Avicennia schaueriana (mangue preto) e A. germinans (mangue preto) no alto curso,
bosques mistos de R. mangle, L. racemosa e A. schaueriana no médio curso e R.
78
mangle no baixo curso do rio (PETROBRÁS, 2007). A foz do rio Barra Nova chega a
fechar em determinadas épocas do ano.
Os estuários do rio Cricaré apresentam marés semidiurnas. De acordo com os
dados do Terminal de Barra do Riacho, município de Aracruz, ES (19º50’ S; 40º03’ W)
no período estudado (Nov/2010 a Out/2011), a média das marés foi de 0,78 m, com
intervalo médio entre -0,04 e 1,51 m (Diretoria de Hidrografia e Navegação, Ministério
da Marinha). O clima é classificado como tropical úmido. Considerando o período do
desenvolvimento do trabalho, a temperatura média foi de 23,3ºC, com temperatura
máxima de 34,5ºC em fevereiro de 2011 e mínima de 12,0ºC em agosto de 2011. A
região apresenta duas estações bem definidas, período quente entre novembro e abril, e
um período com clima mais ameno entre maio e outubro. A pluviosidade observada
mensal no período variou de 15,4 mm (Setembro/2011) a 239,8 mm (Abril/2011), sem
estações bem definidas (Dados meteorológicos médios, para o município de São
Mateus-ES (LAT: 18,714S LON: 39,848W ALT: 39m), obtidos na estação
meteorológica automática do INMET- disponibilizado pelo Instituto Capixaba de
Pesquisa e Extensão Rural).
COLETA DE DADOS
Este trabalho é baseado na compilação de dados coletados mensalmente por um
período de um ano. As coletas iniciaram em setembro de 2010 e finalizaram em outubro
de 2011. As amostras foram obtidas utilizando redes de arrasto de fundo com portas nas
dimensões de 2,80 m de abertura de boca por 3,90 m de comprimento e malha (distância
entre nós opostos com a malha esticada) de 3,9 cm no corpo e 2,2 cm no saco da rede.
Mensalmente e sempre na maré alta, em 4 pontos de amostragem por estuário (Fig. 1),
foram realizados por ponto três arrastos de cinco minutos cada a uma velocidade média
de 2,9 Km/h.
Todo material coletado foi separado em sacos plásticos por ponto e número do
arrasto, acondicionado sob refrigeração e encaminhado ao Laboratório de Zoologia do
Centro Universitário Norte do Espírito Santo para identificação e realização de
biometria. A identificação da ictiofauna foi feita ao menor nível taxonômico possível,
de acordo com Figueiredo e Menezes (1978, 1980 e 2000), Menezes e Figueiredo (1980
e 1985), Barletta & Corrêa (1992) e consulta a especialistas. As biometrias foram
79
realizadas utilizando balança digital, com precisão de 0,01g e ictômetro manual com
precisão de 1,0 mm.
TRATAMENTO DOS DADOS
As espécies deste estudo foram revisadas conforme a classificação taxonômica e
nomenclatura baseada em Marceniuk (2005), Craig e Hastings (2007), Smith e Craig
(2007), Eschmeyer (2010) e Menezes et al. (2010). As ordens e famílias foram listadas
em ordem filogenética conforme Eschmeyer (2010) e as espécies foram organizadas
dentro de cada família em ordem alfabética. Para analisar a distribuição geográfica das
espécies, a distribuição de cada espécie foi verificada na literatura e então inserida nas
categorias adaptadas baseadas em Floeter et al. (2008) e Luiz Jr. et al. (2008) como se
segue: CT = Circumtropical, TA = Trans-Atlantic (western and eastern Atlantic Ocean),
WA = Western Atlantic (northern and southern Atlantic Ocean), SWA = Southern West
Atlantic (from northern Brazil to Argentina), SSWA = Southern South West Atlantic
(species with temperate affinities occurring from Argentina and Uruguay to the south
and southeast of Brazil), Ca = Caribbean (from Florida state to Venezuela), Br =
Brazilian Province (area between the Orinoco Delta in Venezuela and Santa Catarina in
Brazil), EA = Eastern Atlantic and EP = Eastern Pacific. O status de conservação das
espécies foi baseado na lista da International Union for Conservation of Nature (IUCN,
2010), na lista vermelha do Ministério do Meio Ambiente (MMA 2004, 2008) e na lista
regional para o estado de São Paulo (SEMA/SP, 2010).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A ictiofauna do norte do Espírito Santo é composta por 57 espécies, distribuídas
em 10 ordens e 32 famílias (Tab.1). 98% (56 spp.) são Actinopterygii e 2% (1 spp.) são
Elasmobranchii. Perciformes (36) dominou em número de espécies, seguido por
Pleuronectiformes (5) e Clupeiformes (4). Sciaenidae (8) foi a família com maior
número de espécies, seguida por Carangidae e Gerreidae, cada um com quatro espécies.
Esse resultado coincide com o encontrado para a costa do Brasil (ANDRADE-TUBINO
et al. 2008) e para a costa do Atlântico Sul (VIEIRA & MUSICK, 1994), em que
80
Sciaenidae é a família mais representativa. Sciaenidae também foi uma das famílias
com maior número de espécies em outro estuário, ao sul do Espírito Santo, a Baía de
Vitória, localizado a 160 Km dos estuários ao norte do estado (CHAGAS et al. 2006).
Os gêneros mais ricos foram Achirus, Caranx, Centropomus, Cynoscion, Diapterus,
Lutjanus, Mugil, Polydactylus, Pomadasys e Stellifer, cada um com duas espécies.
Comparando a composição de espécies do norte do Espírito Santo com a Baía de
Vitória, os estuários revelam um número relativamente alto de espécies comuns aos dois
locais (aproximadamente 58%) e um número razoável de espécies exclusivas
(aproximadamente 42%). Isso é esperado, pois a distribuição da maioria das espécies
que ocorrem nos estuários é sobreposta.
Em termos de números de espécies, é importante notar que a riqueza total de
espécies nos estuários ao norte do Espírito Santo é menor do que aquela reportada em
outros estuários da costa do Atlântico Sul Oeste: estuário do rio Caeté (82spp., Barletta
et al., 2005), estuário do rio Sergipe (136 spp., Alcântara 2006), estuário Curuçá (98
spp., Hercos 2006, Giarrizzo & Krumme 2007, Sarpedonti et al., 2008), estuário do rio
Paraguaçu (124 spp., Reis-Filho et al., 2010) e baía de Vitória (77 spp., Chagas et al.
2006). Por outro lado, não se pode desconsiderar o tamanho das áreas amostrais
(estuário do rio Sergipe = 47.1 km2 e estuário do rio Paraguaçu = 127.9 km2) e o esforço
e estratégia de amostragem em cada uma dessas áreas para explicar essas diferenças de
riqueza. Além disso, deve-se considerar a diversidade de ambientes estuarinos, os
padrões pluviais, a hidrografia e os padrões oceanográficos.
As espécies se enquadraram bem nas categorias adaptadas a partir dos trabalhos
de Floeter et al. (2008) e Luiz Jr. et al et al. (2008), portanto, essa adaptação poderá ser
utilizada futuramente para a categorização da distribuição geográfica de peixes
estuarinos. A maioria da espécies está amplamente distribuída ao longo do Atlântico
Oeste (aproximadamente 42%), seguido por aquelas restritas (mas ocorrem em ambos)
as províncias do Caribe e do Brasil (21%) (Tab. 1, Fig. 2). A fauna dessa região de
transição possui ampla distribuição ao longo de todo o Atlântico Oeste, sendo que parte
dessa fauna apresenta afinidade com a fauna do Caribe e do Brasil.
Apenas uma pequena parte (14%) da fauna do norte do ES foi avaliada quanto
ao risco de extinção: uma está na lista vermelha da IUCN (2010), três estão na lista
vermelha do MMA (2004, 2008) e oito estão na lista vermelha regional de São Paulo
(SEMA/SP 2010) (Tab.1). Essa deficiência ocorre por falta de informações básicas
sobre a biologia e ecologia das espécies. Além disso, as listas regionais e nacionais
81
devem ser melhor divulgadas para que esses dados façam parte da próxima lista
internacional da IUCN.
Tabela 3 - Classificação taxonômica da ictiofauna encontrada no norte do Espírito
Santo, Atlântico Sul Oeste. Distribuição Geográfica: CT = circuntropical, TA = TransAtlantic, WA = Western Atlantic, SWA = Southern West Atlantic, SSWA = Southern
South West Atlantic, Ca = Caribbean, Br = Brazilian Province, EA = Eastern Atlantic,
EP = Eastern Pacific and ? = not found. Status de conservação segundo IUCN (2010): *
= criticamente em perigo. Status de conservação segundo MMA (2004, 2008): ††=
sobreexplotada. Status de conservação segundo SEMA/SP (2010): † = sobreexplotadas,
‡ = ameaçadas de sobreexplotação.
Orders/Families/Species
Rajiformes
Dasyatidae
Dasyatis guttata (Bloch & Schneider 1801)
Anguilliformes
Muraenidae
Gymnothorax funebris Ranzani 1839
Ophichthidae
Ophichthus cylindroideus (Ranzani 1839)
Clupeiformes
Engraulidae
Anchovia clupeoides (Swainson 1839)
Anchoviella brevirostris (Günther 1868)
Cetengraulis edentulus (Cuvier 1829)
Pristigasteridae
Odontognathus mucronatus Lacepède 1800
Characiformes
Prochilodontidae
Prochilodus sp.
Siluriformes
Ariidae
Cathorops spixii (Agassiz 1829)
Genidens genidens (Cuvier 1829)
Auchenipteridae
Pseudauchenipterus nodosus (Bloch 1794)
Aulopiformes
Synodontidae
Synodus foetens (Linnaeus 1766)
Scorpaeniformes
Triglidae
Prionotus punctatus (Bloch 1793)
Geographic
distribution
Ca+Br
WA
WA
Ca+Br
Br
Ca+Br
WA
?
Ca+Br
SSWA
Br
WA
Ca+SWA
82
Perciformes
Centropomidae
Centropomus parallelus Poey 1860 ‡
C. undecimalis(Bloch 1792) ‡
Serranidae
Epinephelus itajara (Lichtenstein 1822)*/††/†
Rypticus randalli Courtenay 1967
Carangidae
Caranx crysos (Mitchill 1815)
C. latus Agassiz 1831
Chloroscombrus chrysurus (Linnaeus 1766)
Selene vomer (Linnaeus 1758)
Lutjanidae
Lutjanus jocu (Bloch & Schneider 1801)
L. synagris (Linnaeus 1758)
Gerreidae
Diapterus auratus Ranzani 1842
D. rhombeus (Cuvier 1829)
Eucinostomus melanopterus (Bleeker 1863)
Eugerres brasilianus (Cuvier 1830)
Haemulidae
Genyatremus luteus (Bloch 1790)
Pomadasys corvinaeformis (Steindachner 1868)
P. ramosus (Poey 1860)
Sparidae
Archosargus probatocephalus (Walbaum 1792)
Sciaenidae
Bairdiella ronchus (Cuvier 1830)
Cynoscion acoupa ‡
C. leiarchus (Cuvier 1830) ‡
Larimus breviceps Cuvier 1830
Micropogonias furnieri (Desmarest 1823) ††/†
Ophioscion punctatissimus Meek & Hildebrand 1925
Stellifer rastrifer (Jordan 1889)
S. stellifer (Bloch 1790)
Polynemidae
Polydactylus oligodon (Günther 1860)
P. virginicus (Linnaeus 1758)
Mugilidae
Mugil curema Valenciennes 1836
M. liza Valenciennes 1836 ††/†
Cichlidae
Oreochromis niloticus (Linnaeus 1758)
Uranoscopidae
WA
WA
WA
Ca+Br
TA
TA
TA
WA
WA
WA
WA
Ca+Br
TA
WA
Ca+Br
Ca+SWA
Ca+Br
WA
Ca+Br
Ca+SWA
Ca+Br
Ca+Br
Ca+SWA
Ca+Br
Br+SSWA
Br
WA
WA
TA+EP
WA
EA
83
Astroscopus y-graecum (Cuvier 1829)
Gobiidae
Gobioides broussonnetii Lacepède 1800
Gobionellus oceanicus (Pallas 1770)
Ephippidae
Chaetodipterus faber (Broussonet 1782)
Trichiuridae
Trichiurus lepturus Linnaeus 1758
Pleuronectiformes
Paralichthyidae
Citharichthys spilopterus Günther 1862
Paralichthys brasiliensis (Ranzani 1842) ‡
Achiridae
Achirus declivis Chabanaud 1940
A. lineatus (Linnaeus 1758)
Cynoglossidae
Symphurus tessellatus (Quoy & Gaimard 1824)
Tetraodontiformes
Tetraodontidae
Lagocephalus laevigatus (Linnaeus 1766)
Sphoeroides testudineus (Linnaeus 1758)
Diodontidae
Chilomycterus spinosus (Linnaeus 1758)
WA
WA
WA
WA
CT
WA
SWA
WA
WA
Ca+Br+SSWA
TA
WA
SWA
84
Figura 6 Figura
2 - Distribuição Geográfica da ictiofauna encontrada no norte do Espírito
Santo, Atlântico Sul (CT = circuntropical, TA = Trans-Atlantic, WA = Western
Atlantic, SWA = Southern West Atlantic, SSWA = Southern South West Atlantic, Ca =
Caribbean, Br = Brazilian Province, EA = Eastern Atlantic e EP = Eastern Pacific.
Outro fato que ser considerado nesta fauna de transição é a ocorrência da espécie
Oreochromis
niloticus,
espécie
invasora
proveniente
do
litoral
da
África
(ESCHMEYER, 2010). A espécie é classificada como uma peste e tem causado
diversos impactos nos ecossistemas após sua introdução (FROESE & PAULY, 2010).
São recomendáveis futuros estudos acerca do sucesso de estabelecimento dessas
espécies e seu impacto sobre a fauna local.
Esse estudo forneceu uma lista completa da fauna de transição do norte do ES
baseada em diversas amostras espaciais e temporais. A fauna possui ampla distribuição
ao longo do Atlântico Oeste e afinidades com a fauna caribenha e brasileira. A
diversidade de espécies (57spp.) foi considerada baixa se comparada com outros
sistemas, porém, é importante ressaltar dos diferentes tamanhos dos locais amostrados,
os métodos e o esforço empreendido, além de características ambientais mais
85
específicas. Apesar disso, a área deve ser prioritária na preservação devido às espécies
sobreexplotadas e em perigo de extinção.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALCÂNTARA, A.V. 2006. A ictiofauna do estuário do Rio Sergipe. In Rio Sergipe:
importância, vulnerabilidade e preservação (J.P.H. Alves, org.). Editora UFS, Sergipe,
p. 111–142.
ANDRADE-TUBINO, M.F., RIBEIRO, A.L.R. & VIANNA, M. 2008. Organização
espaço-temporal das ictiocenoses demersais nos ecossistemas estuarinos brasileiros:
uma síntese. Oecol. Bras. 12(4): 640–661.
BARLETTA, M. & CORRÊA, M.F.M. 1992. Guia para identificação de peixes da costa
do Brasil. Editora UFPR, Curitiba.
BARLETTA, M., BARLETTA-BERGAN, A., SAINT-PAUL, U. & HUBOLD, G.
2005. The role of salinity in structuring the fish assemblages in a tropical estuary. J.
Fish. Biol. 66: 45–72.
BARLETTA, M. & BLABER, S. J. M. 2007. Comparison of fish assemblages and
guilds in tropical habitats of the Embley (Indo-West Pacific) and Caeté (western
Atlantic) estuaries.
Bulletin of Marine Science 80: 647–680.
BARLETTA, M.; JAUREGUIZAR, A.J.; BAIGUN, C.; FONTOURA, N.F.;
AGOSTINHO, A.A.; ALMEIDA-VAL, V.M.F.; VAL, A.L.; TORRES, R.A.;
JIMENES-SEGURA, L.F.; GIARIZZO, T.; FABRÉ, N.N.; BATISTA, V.S.; LASSO,
C.; TAPHORN, D.C.; COSTA, M.F.; CHAVES, P.T.; VIEIRA, J.P.; CORRÊA,
M.F.M. 2010. Fish and aquatic habitat conservation in South America: a continental
overview with emphasis on neotropical systems. Journal of Fish Biology 76: 21182176.
86
CHAGAS, L.P.; Joyeux, J.-C. & Fonseca, F.R. 2006. Small-scale spatial changes in
estuarine fish: subtidal assemblafes in tropical Brazil. Journal of Marine Biological
Association of the UK 86: 861-875.
CRAIG, M.T. & HASTINGS, P.A. 2007. A molecular phylogeny of the groupers of the
subfamily Epinephelinae (Serranidae) with a revised classification of Epinephelini.
Ichthiol. Res. 54: 1–17.
ESCHMEYER, W.N. 2010. Catalog of Fishes, California Academy of Sciences, San
Francisco. http://www.calacademy.org/research/ichthyology/catalog/ (último acesso em
20/10/2010).
FIGUEIREDO, J.L. & MENEZES, N. 1978. Manual de peixes marinhos do sudeste do
Brasil. II. Teleostei (1). São Paulo, Museu de Zoologia, USP.
FIGUEIREDO, J.L. & MENEZES, N. 1980. Manual de peixes marinhos do sudeste do
Brasil. III. Teleostei (2). São Paulo, Museu de Zoologia, USP.
FIGUEIREDO, J.L. & MENEZES, N. 2000. Manual de peixes marinhos do sudeste do
Brasil. VI. Teleostei (5). São Paulo, Museu de Zoologia, USP.
FLOETER, S.R., ROCHA, L.A., ROBERTSON, D.R., JOYEUX, J.C., SMITHVANIZ, W.F., WIRTZ, P., EDWARDS, A.J., BARREIROS, J.P., FERREIRA, C.E.L.,
GASPARINI, J.L., BRITO, A., FALCÓN, J.M., BOWEN, B.W. & BERNARDI, G.
2008. Atlantic reef fish biogeography and evolution. J. Biogeogr. 35: 22–47.
FROESE, R. & PAULY, D. 2010. FishBase. World Wide Web electronic publication.
Version (07/2010). http://www.fishbase.org/home.htm (último acesso em 27/10/2010).
GIARRIZZO, T. & KRUMME, U. 2007. Spatial differences and seasonal cyclicity in
the intertidal fish fauna from four mangrove creeks in a salinity zone of the Curuçá
estuary, north Brazil. B. Mar. Sci. 80(3): 739–754.
87
HERCOS, A.P. 2006. Diversidade e variabilidade espaço-temporal da ictiofauna da
região estuarina do rio Curuçá município de Curuçá, Pará Brasil. Dissertação de
mestrado, Universidade Federal do Pará, Belém.
IUCN 2010. IUCN Red List of Threatened Species. http://www.iucnredlist.org/ (ultimo
acesso em 16/08/2010).
LUIZ JR., O.J., CARVALHO-FILHO, A., FERREIRA, C.E.L., FLOETER, S.R.,
GASPARINI, J.L. & SAZIMA, I. 2008. The reef fish assemblage of the Laje de Santos
Marine State Park, Southwestern Atlantic: annotated checklist with comments on
abundance, distribution, trophic structure, symbiotic associations, and conservation.
Zootaxa 1807: 1–25.
MARCENIUK, A. P. 2005. Chave para identificação das espécies de bagres marinhos
(Siluriformes, Ariidae) da costa brasileira. B. Inst. Pesca 31(2): 89–101.
MENEZES, N.A. & FIGUEIREDO, J.L. 1980. Manual de peixes marinhos do sudeste
do Brasil. IV. Teleostei (3). São Paulo, Museu de Zoologia da USP.
MENEZES, N.A. & FIGUEIREDO, J.L. 1985. Manual de peixes marinhos do sudeste
do Brasil. V. Teleostei (4), Museu de Zoologia da USP.
MENEZES, N.A., OLIVEIRA, C. & NIRCHIO, M. 2010. An old taxonomic dilemma:
the identity of the western south Atlantic lebranche mullet (Teleostei: Perciformes:
Mugilidae). Zootaxa 2519: 59–68.
MMA
2004.
Instrução
Normativa
No
005,
de
21
de
maio
http://www.mma.gov.br/estruturas/179/_arquivos/179_05122008033927.pdf.
de
2004.
(último
acesso em 19/01/2011).
MMA 2008. Livro vermelho da fauna Brasileira ameaçada de extinção. Volume II.
Ministério do Meio Ambiente, Brasília.
88
PETROBRAS 2007. Diagnóstico Ambiental: Atividade de Produção e Escoamento de
Gás Natural e Petróleo do Campo de Camarupim, Bacia do Espírito Santo. Pags: 283284.
SAAD, A.M. 2003. Composição, distribuição espacial, dinâmica de populações de
peixes e estatística pesqueira na lagoa hipersalina de Araruama, RJ. São Carlos. Tese
(Doutorado em Ciências Biológicas – área de concentração Ecologia e Recursos
Naturais), Universidade Federal de São Carlos, São Carlos.
REIS-FILHO, J.A., NUNES, J.A.C.C & FERREIRA, A. 2010. Estuarine ichthyofauna
of the Paraguaçu River, Todos os Santos Bay, Bahia, Brazil. Biota Neotrop. 10(4):
http://www.biotaneotropica.org.br/v10n4/pt/abstract?inventory+bn03610042010
(último acesso em 06/09/2011).
SARPEDONTI, V., ANUNCIAÇÃO, E.M.S. & NAHUM, V.J.I. 2008. Ichthyoplankton
variation in two mangrove creeks of the Curuçá estuary, Pará, Brazil. Ecotrópicos 21(1):
1–12.
SEMA/SP
(2010)
Decreto
Nº
56.031,
de
20
de
julho
de
2010.
http://www.cetesb.sp.gov.br/licenciamentoo/legislacao/estadual/decretos/2010_Dec_Est
_56031.pdf. (último acesso em 16/02/2011).
SILVA, M.A.B. da; BERNINII, E. & CARMO, T.M.S. 2005. Características estruturais
de bosques de mangue do estuário do rio São Mateus, ES, Brasil. Acta bot. bras. 19(3):
465-471.
SMITH, W.L. & CRAIG, M.T. 2007. Casting the Percomorph net widely: the
importance of broad taxonomic sampling in the search for the placement of the serranid
and percid fishes. Copeia 2007(1): 35–55.
VIEIRA, J.P. & MUSICK, J.A. 1994. Fish faunal composition in warm-temperate and
tropical estuaries of western Atlantic. Atlântica 16: 31–53.
89
CONCLUSÃO
De um modo geral, as ictiofaunas dos dois estuários apresentaram pequenas
diferenças entre si. O número de exemplares e espécies amostrados foi semelhante, foi
baixa a ocorrência de espécies de água doce e a diversidade por família esteve próxima.
O predomínio em número e peso foi exercido pelas mesmas espécies, com um grande
número de espécies contribuindo cada uma com menos de 1% da captura de cada área.
Mesmo as espécies exclusivas, por estarem presentes, na maioria dos casos, em pequena
quantidade, parecem não definir preferência ambiental.
Por outro lado, diferenças nos padrões temporais e espaciais na estrutura e
composição das assembléias de peixes foram evidentes entre as duas áreas amostrais.
Apesar de não existirem dados suficientes sobre as características ambientais dos dois
setores, estas diferenças podem ser resultado de variações nos parâmetros abióticos ao
longo do tempo e espaço. A adequada interpretação do significado dessas diferenças
esta na dependência de uma melhor definição dos parâmetros oceanográficos nas duas
áreas (temperatura, salinidade, pH, oxigênio dissolvida, velocidade de corrente,
profundidade e características sedimentares das áreas amostradas)
Download