O maior de vocês deve ser aquele que serve.

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O MAIOR NO REINO DOS CÉUS!
(Homilia de Dom José Belvino do Nascimento na Ordenação Diaconal de Carlos Eduardo de Morais Filho, Guilherme da
Silveira Machado, Helton Ferreira Rodrigues, Leonardo Moisés de Azevedo e Rodrigo Botelho Moreira Júnior, na
Catedral do Divino Espírito Santo, em Divinópolis, no dia 21 de julho de 2013.)
“O maior de vocês deve ser aquele que serve.” (Mt 25,11)
Meus caros diaconandos,
Gostei do lema que vocês escolheram... servir! Eis a grandeza do cristão! Dizia São Bernardo: “Servir
é reinar; não é um ônus, mas uma honra!” No entanto, servir supõe sacrifício, esforço, sofrimento... os
discípulos de Jesus ainda não entendiam assim. Para eles, o Mestre instalaria um reino terreno. Por
isso, disputavam qual seria o maior neste reino. Nem sonhavam que Jesus falava de um outro Reino:
um reino de justiça, de amor e de paz!...
Quando a mãe de Tiago e João pediu a Jesus um lugar à direita e outro à esquerda para seus dois
filhos, deu a Cristo a oportunidade de indagar deles: “Vocês poderão beber do cálice de que beberei?...
Na verdade, irão beber do meu cálice, mas sentar-se à minha direita ou a minha esquerda... é para
aqueles a quem o Pai o tem reservado... Quem quiser ser grande entre vocês, seja o servo de todos. E
quem quiser ser o primeiro, seja o servo de vocês. O Filho do Homem não veio para ser servido, mas
para servir e dar a vida pelo resgate de muitos.” (Mt 20,20-28).
De fato, meus irmãos e irmãs, não existe Jesus sem a cruz. Nem cristão sem Paixão... Jesus teve que
usar de uma pedagogia muito especial que preparasse os discípulos para o escândalo da cruz!...
O evangelista Marcos conta que, quando Jesus interrogava os apóstolos sobre o que conversavam pelo
caminho, eles se calaram pois tinham discutido sobre qual deles seria o maior no Reino de Jesus (Mt
28,1).
Considerando que o reino de Jesus seria terreno, os discípulos candidatavam-se aos melhores postos...
Então o Mestre os adverte: “Se alguém quer ser o primeiro, seja o último de todos” (Mc 9,35). E
apresenta-lhes uma criança: “Todo aquele que recebe um destes pequeninos em meu nome, é a mim
que recebe” (Mc 9,36-37). Mateus repetiu outra palavra ainda mais forte de Jesus: “Em verdade vos
declaro: se não vos transformardes e não tornardes como criancinhas, não entrareis no Reino dos
Céus” (Mt 18, 3). São Lucas aprofunda o que Jesus disse: “Que o maior entre vocês seja como um
menor; e aquele que manda como aquele que serve... Eu estou no meio de vocês como aquele que
serve!... (Lc 22,25-27)
Somente mais tarde, depois da ressurreição de Jesus, os discípulos iriam compreender todo este critério
de amor, de dor e de serviço!
A idéia que temos de um cacique, nas tribos indígenas, é de alguém que manda e é obedecido
cegamente... Mas, em muitas tribos, não é bem assim o que acontece. Para eles, na verdade, o cacique
é o servidor da comunidade. Chega visita, é ele quem hospeda e alimenta os visitantes... Vai haver
festa? É ele o que mais trabalha na preparação... é o que busca lenha mais longe... é o que vai à frente
nas caçadas. Passa pelas casas a ver se falta comida ou se há doentes... Está sempre trabalhando e
servindo, mesmo quando os outros descansam, e se riem, e se divertem. Afinal, para eles, o cacique só
vive para o bem e para a paz de todos... assim deve agir sempre o servidor cristão!...
Até aqui, meus irmãos e irmãs, meus caros futuros diáconos, até aqui falamos apenas sobre o que
aconteceu no tempo de Jesus. Agora, vamos dar um passo a mais: fazer daquele tempo o nosso tempo,
não como espectadores, mas como personagens vivos da história... Santo Agostinho nos orienta: “O
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amor de Deus é o primeiro na ordem do preceito; mas o amor ao próximo é o primeiro na ordem da
ação” ( Sobre Jo, 17,8).
O Evangelho é, sobretudo, para ser vivido, como se falasse de nós e para nós, aqui e agora! Somos
humanos como os discípulos e, pelos caminhos da vida, gostamos de discutir sobre quem de nós é o
maior... Pois então, agora, como se Jesus estivesse assentado à nossa frente, ouçamos o que Ele nos
diz! Ele não fala muito. Apenas isto: “O maior de vocês deve ser aquele que serve!” (Mt 23, 11). “Se
alguém quer ser o primeiro, seja o último der todos, o servo de todos” (Mc 9, 35).
Aprofundemos um pouco a nossa reflexão. Todos querem ser os primeiros: na escola, no jogo, no
trabalho... Até dentro da Igreja, todos desejam ser os melhores: o melhor leigo, o melhor seminarista, o
melhor padre, o melhor bispo, o melhor arcebispo, o melhore cardeal, o melhor... Oh! Eu ia quase
dizendo: o melhor papa! Mas o papa e só um; quero dizer, agora temos dois... Sabem de uma coisa:
vamos deixar os papas em paz! Eles são santos!...
Concluamos o seguinte: desde que o mundo é mundo, a moda que impulsiona as pessoas para frente é
esta emulação de ser o melhor... Não é, portanto, algo de ruim, só é talvez um pouco ambíguo...
Alguém desavisado poderia concluir que o Evangelho condena todo esforço de progredir na vida e
elogia a inércia e passividade. Não!... Querer ser o primeiro é bom. O que Jesus muda, radicalmente, é
o motivo e o modo de realizar o sonho de ser o maior e o melhor: “Os reis dos pagãos, disse Ele,
dominam com senhores... Não seja como último; e o que governa seja o servo” (Lc 22, 25).
Assim falando, Jesus dava um golpe mortal na ideia que os homens tinham de autoridade, de poder, do
governo. Autoridade é “ser o primeiro para os outros”. E ajudar a quem precisa de ajuda. Eis a
verdadeira grandeza do Evangelho: se “os primeiros são os últimos” na terra, “os últimos serão os
primeiros no céu” (Mt 20,16).
Se indagarmos o motivo desta inversão de valores, a Bíblia nos dá duas explicações: um remota e outra
imediata (ver Cantalamessa, em “O Verbo se Fez Carne”, página, 438).
A remota assim se explica: o homem pecou, em lugar do amor a Deus e ao próximo, instalou-se em
seu coração o amor ao poder, ao domínio dos outros, até a destruição dos irmãos... Este desvio pode
ser curado com a graça de Deus, de modo a sermos novamente criaturas novas ...
A explicação imediata foi o próprio Jesus quem a deu: “ Eu estou no meio de vós como aquele que
serve” (Lc 22,27). “O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida pela
redenção de muitos” (Mc 10,45)...
São Paulo nos lembra na carta aos Filipenses: “Jesus despojou-se de si mesmo, tomando a condição de
servo... Humilhou-se a si mesmo, feito obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2,6-8).
Os descrentes, como os judeus e os gregos no tempo de Cristo, ouvindo isto, se escandalizavam e
diziam que é uma loucura ... A loucura verdadeira, no entanto, é a deles, a do mundo .... Como se o
mundo do poder, da ambição, das vaidades, da ambição, da tentações ... fosse o melhor dos mundos.
Todos sabem que todos os nossos males vem daí!... São Tiago pergunta: “De onde vem as guerras, as
lutas entre vós? Cobiçais e não conseguis. Então matais...” (Tg 4,1-2).
Jesus nos mostra um caminho novo para sermos felizes: abrir as mãos fechadas, estender os braços
encolhidos, agilizar os pés parados, escancarar o coração para... amar, servir e dar a vida por todos,
principalmente pelos mais carentes e sofridos...
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Pode ser difícil entender e viver tudo isto. Mas, se nos entregamos de coração, o Senhor nos fará
compreender o mistério do serviço humilde e dadivoso. E teremos uma revelação: seremos novamente
como crianças e... muito felizes...
Menina ainda, a rainha Guilhermina da Holanda subiu ao trono quando o rei, seu pai, falecera bastante
jovem. Vendo a multidão que a aclamava e gritava seu nome, a menina perguntou à sua mãe: “Mãe,
agora todo este povo é meu, para me servir, não é? “ A mãe respondeu: “ Não, minha filha, agora você
é que toda deste povo; você é quem vai servir a todos!...”
Meus caros já, já diáconos: Carlos Eduardo de Morais Filho, Guilherme da Silveira Machado, Hélton
Ferreira Rodrigues, Leonardo Moisés de Azevedo, Rodrigo Botelho Moreira Júnior,... foi para mim
uma surpresa e uma alegria o convite do dedicado Administrador Diocesano, Padre José Carlos de
Souza Campos, para ordená-los diáconos. E mais alegria ainda senti vendo o entusiasmo de vocês com
o seu próximo diaconato.
Parabenizo vocês, seus felizes pais, seus familiares e seus amigos. E peço a Deus que os abençoe e os
faça santos servidores de Deus e dos irmãos, não só agora, mas durante toda a vida de vocês.
Para tanto, procurem ter entre vocês esta santa imitação: o maior seja o servidor de todos, o melhor
seja o de coração mais aberto, sorriso mais franco, mãos mais estendidas, pés mais agilizados, só para
servir, só para fazer o bem, agora e sempre, até o fim da vida.
O nosso atual Papa Francisco tem insistido sobre o espírito de pobreza e de serviço, que toda a igreja
precisa viver. “ Não se entende, queixa-se ele, que o sacerdote o servidor ... ande por aí em um carrão,
enquanto os pobres são esquecidos...” Em 2012, quando ainda cardeal em Buenos Aires, por ocasião
de uma tragédia ferroviária, quando morreram 51 pessoas, assim disse ele em um comunicado oficial:
“ Não nos conformemos em só ler notícias no jornal ou em só ver televisão. Aproximem seu
coração!... E ninguém diga: “ Estou de férias e não posso ...” Um coração cristão nunca está de férias.
Sempre está aberto ao serviço onde há necessidade, porque sabe que onde há necessidade, há um
direito!... E agora, como Papa, numa de suas frases mais famosas está : “ Deus jamais se cansa dos
pobres e do... perdão!...
A Igreja, que somos nós, clérigos e leigos, pelo sacerdócio ministerial e pelo sacerdócio batismal, nós
somos e devemos ser sempre “diáconos”, isto é, servidores... Temos a obrigação de viver uma vida
mais simples, mais pobre, mais despojada, mais desapegada, mais serviçal... É Santo Agostinho quem
nos alerta: “ Não sirvas resmungando, pois isto não te livrará de servir, mas fará de ti um mau servidor.
(Sobre João 17,8).
Vamos ver, meus caros diáconos, qual de vocês cinco que, diante de Deus e diante dos homens, será o
melhor cacique, o melhor rei, o melhor servidor, porque o menor e mais humilde! Espero sinceramente
que vocês terminem esta santa batalha, simplesmente empatados, como humildes servidores, para a
glória de Deus e o bem das almas...
A Virgem Maria, que disse: “Eu sou a serva do Senhor!” (Lc 1,38), faça de vocês santos servidores de
Deus e dos irmãos por toda a sua vida. E daqui a muitos anos, quando vocês chegarem à porta do céu,
que a mãe de Deus e nossa os receba com um sorriso bondoso, abrindo-lhes as portas da felicidade
eterna. Assim seja!...
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