ANÁLISE DO CONCEITO DE PAISAGEM NO ENSINO DE GEOGRAFIA: LIVRO DIDÁTICO E O PIBID1 Eliete Woitowicz (PÓS-GRADUAÇÃO/UNIOESTE). E-mail: [email protected]. Marli Terezinha Szumilo Schlosser (PÓS-GRADUAÇÃO/UNIOESTE). E-mail: [email protected]. Universidade Estadual do Oeste do Paraná/ Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Geografia/Francisco Beltrão, PR. Currículo, conceitos e a prática do professor de Geografia Palavras-chave: Conceito de Paisagem, Livro Didático, Ensino de Geografia, PIBID. Resumo: O presente trabalho traz a discussão conceitual de paisagem como ponto chave na ciência geográfica, na intenção de averiguar como este conceito é trabalhado no ensino de Geografia, por meio da análise da coleção do Livro Didático do Projeto Araribá, destinado a discentes do Ensino Fundamental II (6° ao 9° ano). Para tanto, realizou-se pesquisa qualitativa com o uso da técnica de estudo de caso, com a participação de duas docentes de Geografia da Rede Pública de Ensino do município de Marechal Cândido Rondon-PR (MCR). Ambas docentes eram supervisoras do Subprojeto do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), intitulado “O ensino da Geografia: da teoria à prática”, desenvolvido na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), sob a coordenação da Profa. Dra. Marli Terezinha Szumilo Schlosser. As docentes supervisoras lecionam no Colégio Estadual Antônio Maximiliano Ceretta – Ensino Fundamental, Médio e Profissional, o qual é participante do PIBID de Geografia/UNIOESTE desde 2011. A partir do levantamento bibliográfico sobre a temática proposta, da análise conceitual de paisagem no Livro Didático supracitado e, desenvolvimento de entrevistas com as docentes supervisoras do PIBID, apresentam-se os resultados encontrados. Defende-se que para promover a compreensão do conceito de paisagem no ensino geográfico faz-se necessário valorizar os elementos do cotidiano, ou seja, a paisagem vivida. Espera-se que a discussão exposta possa estimular os leitores e amantes da Geografia á reflexões que se preocupem mais com as compreensões conceituais desta ciência, na busca de articular os conhecimentos apreendidos na Universidade ao cotidiano escolar. Introdução A discussão conceitual de paisagem é um tema antigo na ciência geográfica e vem sofrendo mudanças no decorrer do tempo em relação a sua interpretação e abordagem. Entendida como uma das categorias de análise da Geografia que 1 Este esboço faz parte do trabalho desenvolvido no primeiro semestre de 2014 como requisito da disciplina “A análise da paisagem como subsídio teórico-metodológico às pesquisas de Educação Ambiental”, ministrada pela Profa. Dra. Rosana Cristina Biral Leme, do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Geografia, da UNIOESTE, campus de Francisco Beltrão-PR. Anais do I EPPG – I ENCONTRO PARANAENSE DO PIBID GEOGRAFIA: “O ESTADO DA ARTE DA PESQUISA EM ENSINO DE GEOGRAFIA E PRÁTICA PEDAGÓGICA ESCOLAR” 20 a 21 de novembro de 2015, UNICENTRO, ISSN – XXX viabiliza a compreensão da organização do espaço e das relações socioespaciais, “percebe-se que a paisagem, enquanto objeto de estudo, foi evoluindo, já que o método de análise e os paradigmas foram sendo revistos” (PUNTEL, 2007, p. 283). Existem diversos trabalhos científicos que discutem as trajetórias do conceito de paisagem na Geografia, em busca de evidenciar as diferentes abordagens metodológicas deste conceito no decorrer do tempo, além de desmistificar seu estereótipo estático2. O Livro Didático (LD) é um dos materiais mais utilizados no dia a dia escolar. Nesse sentido, entende-se que há necessidade de averiguar como os conceitos geográficos são trabalhados neste material. Ressalta-se que esta é uma das preocupações frequentes do Subprojeto do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), intitulado “O ensino da Geografia: da teoria à prática”, desenvolvido na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), campus de Marechal Cândido Rondon (MCR). Neste trabalho, busca-se analisar como o conceito de paisagem é abordado no ensino de Geografia, por meio da investigação do LD do Projeto Araribá, destinado a discentes do Ensino Fundamental II (EF), do Colégio Estadual Antônio Maximiliano Ceretta (participante do PIBID3). Procura-se compreender quais são as dificuldades encontradas em sala de aula, por docentes de Geografia quando trabalham com o conceito, além das estratégias de ensino utilizadas para minimizar ou suprir as adversidades pedagógicas. Sabe-se que existem outros conceitos importantes para a ciência geográfica (espaço, natureza, lugar, território, região, sociedade, etc.), no entanto, o enfoque aqui é dado ao conceito de paisagem, devido às acaloradas reflexões teóricas desenvolvidas no âmbito da disciplina “A análise da paisagem como subsídio teórico-metodológico às pesquisas de Educação Ambiental”, ministrada pela Profa. Dra. Rosana Cristina Biral Leme em 2014, no Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Geografia (UNIOESTE, campus de Francisco Beltrão). Procedimentos Metodológicos Para o desenvolvimento deste trabalho, selecionou-se a pesquisa qualitativa com o uso da técnica de estudo de caso, com a participação de duas docentes de Geografia da Rede Pública de Ensino do município de MCR por meio de entrevista. Ambas docentes eram supervisoras do Subprojeto do PIBID de Geografia/UNIOESTE/MCR. Realizou-se pesquisa bibliográfica sobre o conceito de paisagem na Geografia, e análise do conceito no LD do EF (6° ao 9° ano). Resultados e Discussão 2 Paisagem e Geografia Física Global: esboço metodológico (BERTRAND, 2004); Trajetórias do conceito de paisagem na Geografia (SCHIER, 2003); Paisagem: evolução conceitual, métodos de abordagem e categoria de análise da Geografia (CARVALHO; CAVICCHIOLI; CUNHA, 2002); O conceito de paisagem na Geografia e sua relação como o conceito de cultura (NAME, 2010); O estudo da paisagem e o ensino da Geografia: breves reflexões para docentes do Ensino Fundamental II (MACIEL; MARINHO, 2011); entre outros. 3 O PIBID de Geografia/UNIOESTE/MCR, desenvolve atividades com alunos do 6º e 7º anos do Ensino Fundamental II, em duas instituições públicas de ensino do município de MCR. Anais do I EPPG – I ENCONTRO PARANAENSE DO PIBID GEOGRAFIA: “O ESTADO DA ARTE DA PESQUISA EM ENSINO DE GEOGRAFIA E PRÁTICA PEDAGÓGICA ESCOLAR” 20 a 21 de novembro de 2015, UNICENTRO, ISSN – XXX Em muitos casos o LD foi e é o norteador das aulas de Geografia, orientando a prática docente e o aprendizado dos discentes, o que por vezes restringe a construção do conhecimento a este recurso. “Este, na realidade, nunca deveria ser o definidor das aulas ou de todo um curso, como muitas vezes ocorre. Ele é apenas um instrumento, entre tantos outros, possíveis de ser utilizado na sala de aula ou até fora dela” (VESENTINI, 1992, p.123). O LD de Geografia do Projeto Araribá 4, em seus quatro volumes (6º ao 9º ano), é composto por oito unidades de conteúdo, subdivididas em quatro temas que desenvolvem os conteúdos de modo objetivo e claro, combinando textos e diversas imagens. De modo geral, pode-se considerar que a coleção do LD analisado se preocupa com o conhecimento prévio do educando, visto que apresenta os conteúdos por meio de texto introdutório com questões que convidam docentes e discentes a analisar as imagens da abertura e refletir sobre o que conhecem a respeito do assunto. Além disso, o LD apresenta sequência lógica dos conteúdos. Defende-se que “O aluno, qualquer aluno, já traz consigo uma carga de experiências, conhecimentos sistematizados, realidades vividas. Por que desprezar tudo isto e não basear o ensino formal nessa realidade vivida?” (RUA et al., 1993). Ao realizar a investigação do LD, e entrevistas com as docentes (D1 e D2)5, constataram-se diversos aspectos positivos e negativos (Quadro 01). Quadro 01 – Características do Livro Didático de Geografia (Projeto Araribá) Aspectos Positivos Diversidade de temas atuais Estrutura física do LD (formato de revista) Imagens, tabelas, mapas e gráficos atrativos Variedade das atividades propostas Glossários e informações adicionais *Fonte: elaborado pelas autoras. Aspectos Negativos Fragilidade na abordagem dos conceitos Exemplos distantes da realidade do aluno Pouca abordagem teórica Linguagem inadequada para os educandos Nota-se no Quadro 01 que foram poucos os pontos negativos encontrados no LD. Entretanto, a maioria destes aspectos está relacionada à escassa abordagem teórico-conceitual. Esta característica demonstra que cabe ao docente realizar “[...] as adequações necessárias às discussões atuais relacionadas à paisagem geográfica, decorrentes do acúmulo e da evolução do conhecimento científico no último século” (MACIEL; MARINHO, 2011, p. 58). No LD analisado, evidenciou-se que o estudo da paisagem é exposto, principalmente, nos primeiros capítulos dos volumes destinados aos 6º e 7º anos do EF, onde se destaca as diferenças entre as paisagens naturais e culturais. Ressalta-se que o conceito de paisagem geográfica ou cultural se apresenta no LD como o registro da história e do modo de vida das pessoas que ali habitam. 4 O Livro do “Projeto Araribá: Geografia”, da Editora Moderna (2007), tem como editora executiva a bacharela em Jornalismo Sônia Cunha de Souza Danelli. 5 As docentes entrevistadas foram denominadas como Docente 1 (D1) e Docente 2 (D2). Constatouse que ambas as profissionais possuem Licenciatura Plena em Geografia (licenciadas em universidade pública), e estão lecionando a disciplina há mais de 6 (seis) anos em Instituições de Ensino Públicas e Privadas do município de MCR. Portanto, trata-se de docentes que possuem experiência no ensino de Geografia. Anais do I EPPG – I ENCONTRO PARANAENSE DO PIBID GEOGRAFIA: “O ESTADO DA ARTE DA PESQUISA EM ENSINO DE GEOGRAFIA E PRÁTICA PEDAGÓGICA ESCOLAR” 20 a 21 de novembro de 2015, UNICENTRO, ISSN – XXX Além disso, os elementos naturais também são considerados como responsáveis pela modificação da paisagem. No entanto, a ausência da discussão do caráter imaterial da paisagem empobrece a compreensão do discente. Nesta perspectiva, cabe ao docente articular, ampliar e fundamentar esta discussão de modo que os educandos reflitam a paisagem para além do visível, na busca de compreender as simbologias e significados que nela aparecem (MACIEL; MARINHO, 2011). Evidenciou-se que as diferentes abordagens teórico-metodológicas para o conceito de paisagem, presente no LD investigado, foram significativamente influenciadas por autores renomados no assunto, como: Milton Santos, Carl O. Sauer, Georges Bertrand e Aziz Ab'Saber. O LD frequentemente traz diferentes propostas metodológicas como apoio pedagógico ao docente. Este aspecto pode se configurar em mudanças na prática de ensino de Geografia, ou na manutenção das metodologias tradicionais. Conclusões Notou-se que a maior limitação para trabalhar o conceito de paisagem está atrelada a sua complexidade teórico-conceitual, sendo de difícil compreensão para discentes do 6° e 7° anos. As docentes entrevistadas atribuem esta dificuldade a falta de ênfase do conceito no LD e no decorrer dos conteúdos, assim como ao despreparo teórico-metodológico do docente em relação à discussão conceitual de paisagem. Para minimizar ou suprir estas dificuldades, as docentes afirmam utilizar de diferentes recursos didáticos, como: imagens, aulas de campo, vídeos e outros materiais alternativos. Tanto a D1 como a D2, acreditam que os conteúdos presentes no LD não são suficientes para trabalhar o conceito de paisagem no ensino de Geografia, visto que apresenta uma linguagem inadequada para os educandos e, poucas vezes os conceitos geográficos aparecem durante o texto. Agradecimentos Agradeço a Profa. Dra. Rosana Cristina Biral Leme pelas motivadoras discussões. Referências MACIEL, A. B. C.; MARINHO, F. D. P.. O estudo da paisagem e o ensino de Geografia: breves reflexões para docentes do Ensino Fundamental II. Geosaberes. V. 2, n. 4, p. 55-60, 2011. RUA, J.; WASZKIAVICUS, F. A.; TANNURI, M. R. P.; NETO, H. P.. Para ensinar Geografia: contribuição para o trabalho com 1º e 2º graus. Rio de Janeiro: ACCESS Editora, 1993. PUNTEL, G. A. A Paisagem no Ensino da Geografia. Ágora, Santa Cruz do Sul, v. 13, n. 1, p. 283-298, jan./jun. 2007. VESENTINI, José W. Para uma Geografia Crítica na Escola. São Paulo: Ática, 1992. Anais do I EPPG – I ENCONTRO PARANAENSE DO PIBID GEOGRAFIA: “O ESTADO DA ARTE DA PESQUISA EM ENSINO DE GEOGRAFIA E PRÁTICA PEDAGÓGICA ESCOLAR” 20 a 21 de novembro de 2015, UNICENTRO, ISSN – XXX