11 11 CAPÍTULO Neoplasia Prévia de Mama e Uso de Imunossupressor Hélio Rzetelna VI CURSO PRÉ-CONGRESSO DO GEDIIB As doenças inflamatórias intestinais (DII) compreendem duas formas de inflamação intestinal idiopática: a doença de Crohn (DC) e a retocolite ulcerativa (RCU). São doenças inflamatórias crônicas com períodos de agudização, diagnosticadas principalmente em indivíduos jovens1. Devido à característica crônica das DII poder levar a diversas complicações tem-se como objetivo ao longo prazo a cicatrização da mucosa intestinal2. Para isso, tem-se utilizado o tratamento com imunossupressores, incluindo tiopurinas, metotrexate e agentes anti fator de necrose tumoral alfa (anti-TNF-α). A recorrência da doença é frequente após a suspensão do tratamento de manutenção o que nos faz utilizar o tratamento imunossupressor durante longos períodos. Por outro lado, os cânceres de modo geral, podem ser promovidos por imunossupressores, devido a diversos mecanismos que incluem a diminuição da imunovigilância, pela facilitação da ação de vírus oncogênicos, e por alteração direta no DNA3. O câncer de mama é o segundo tipo de câncer mais comum no mundo e o mais comum entre as mulheres4. Se diagnosticado e tratado oportunamente o prognóstico é relativamente bom. Risco de câncer em pacientes com câncer prévio O risco de câncer vem progressivamente aumentando conforme a maior expectativa de vida dos indivíduos em países ocidentais. Pacientes que já tiveram um câncer podem desenvolver recorrência local, regional ou metastático do câncer; um tumor primário do 89 VI CURSO PRÉ-CONGRESSO DO GEDIIB mesmo órgão ou um tumor primário em outro órgão. Em pacientes pós-transplantes o uso prolongado de imunossupressores, incluindo as tiopurinas e inibidores da calcineurina associam-se com risco de câncer de novo e também a sua recorrência. O impacto de diferentes tipos de imunossupressores pode variar conforme o tipo do tumor. As tiopurinas se relacionam principalmente com linfoma não-Hogkin, linfoma de células T hepatoesplênica, câncer de pele não melanoma e câncer do trato urinário. Os anti-TNFs demonstram um risco de câncer de pele tipo melanoma.5 O risco de câncer de mama de novo não está aumentado com as tiopurinas em um estudo prospectivo em doentes com DII6 e/ou agentes anti-TNFs na reumatologia5. Penn observou que a taxa global de recorrência de câncer no cenário pós-transplante em paciente usando imunossupressores foi de 20% poucos anos após o transplante e que o risco de recorrência difere entre os órgãos7. No pós-transplante a recorrência do câncer de mama está em um nível intermediário, da mesma forma dos cânceres de corpo uterino, cólon e próstata7. As recomendações do uso de imunossupressores em pacientes com DII e câncer prévio são baseadas em posições de especialistas. As decisões devem ser feitas caso a caso baseando-se em alguns elementos, tais como: a idade e o sexo do paciente, fatores de risco para câncer (exemplo: tabagismo), história natural de um câncer prévio, ausência de um câncer latente em outro órgão (avaliado através de tomografia computadorizada de tórax e abdômen e screening para câncer de mama, pele e próstata), atividade da doença inflamatória intestinal, impacto esperado dos imunossupressores em câncer prévio e a opinião do oncologista. Deve-se evitar o uso de imunossupressores durante o tratamento de um câncer ativo. Se a DII não estiver controlada, pode-se usar mesalazina, terapia nutricional, corticoides e antibióticos. Em casos mais graves onde não há resposta pode ser considerado o ouso de terapia anti-TNF e/ou cirurgia5. Dois anos após ter completado o tratamento do câncer é recomendado ficar sem terapia imunossupressora devido ao risco de recorrência local, regional ou metastática. Nesses casos a atividade de doença deve ser tratada com o modelo step-up tradicional. 90 Essa mesma recomendação pode ser extendida por um período de 5 anos após ter completado o tratamento do câncer naqueles cânceres com risco elevado ou intermediário (caso do câncer de mama) de recorrência durante o tratamento com tiopurinas. Nos casos em que a DII estiver complicada o uso de imunossupressores pode ser continuado quando não houver outra alternativa satisfatória. De acordo com o tipo do primeiro câncer os imunossupressores (tiopurinas e anti-TNFs) podem ser usados com cautela (é o caso dos tumores de mama e próstata) e o metotrexate e corticoides podem ser usados sem problemas. Concluindo, o intervalo entre 2 a 5 anos sem imunossupressores (exceto corticoides) deve ser considerado após o tratamento de qualquer tipo de câncer que tem potencial de recorrência. Nos casos de má-evolução da DII o uso de imunossupressores pode ser considerado em conjunto com um oncologista. Bibliografia VI CURSO PRÉ-CONGRESSO DO GEDIIB 1. Andres PG, Friedman LS. Ulcerative Colitis In: Lichtenstein GR, Scherl EJ, editor. The Natural History of Inflammatory Bowel Disease. New Jersey: SLACK Incorporated; 2011.p.13-26. 2. Neurath MF, Travis SP. Mucosal healing in inflammatory bowel diseases: a systematic review. Gut 2012;61:1619-35. 3. Beaugerie L, Carrat F, Colombel J-F, Bouvier A-M, Sokol H, Babouri A et al. Gut 2014;63:1416-23. 4. INCA. Disponível em http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/tiposdecancer/site/home/ mama. acesso em 28 de junho de 2015. 5. Beaugerie L. Management of Inflammatory Bowel Disease Patients with a Cancer History. Curr Drug Targets 2014;15:1042-1048. 6. Pasternak B, Svanstrom H, Schmiegelow K et al. Use of azathioprine and the risk of cancer in inflammatory bowel disease. Am J Epidemiol 2013;177:1296-305. 7. Penn I. The effect of immunossupresion on pre-existing cancers. Transplantation 1993;55:742-7. 91 VI CURSO PRÉ-CONGRESSO DO GEDIIB 92