GINCANA E A CRIAÇÃO DE MAQUETES: UMA POSSIBILIDADE

GINCANA E A CRIAÇÃO DE MAQUETES: UMA POSSIBILIDADE
Débora Schardosin Ferreira
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
([email protected])
INTRODUÇÃO
No início da carreira docente é importante o contato com práticas inovadoras assim
como com a dinâmica escolar para despertar o interesse do futuro professor por melhorias no
ensino. Neste sentido o PIBID – Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência,
promovido pela CAPES- Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior,
visa incentivar a formação de professores e promover a melhoria da qualidade da Educação
Básica, baseados na articulação integrada dos sistemas de Ensino Superior Federal com o da
Educação Básica pública, numa relação que beneficie ambas as partes.
Na UFRGS a Geografia no programa está incluída na área das Ciências
Sócio-geo-históricas, sendo os três cursos (Ciências Sociais, História e Geografia)
responsáveis por planejar além de atividades individuais, também algumas interdisciplinares
nas escolas em que atuam. Assim, para a Escola Estadual Padre Balduíno Rambo foi
planejada uma gincana para o fim do ano letivo de 2009 em que atuaram bolsistas da
Geografia e Ciências Sociais.
Para o planejamento das atividades partimos do pressuposto que o ensino de
Geografia deve priorizar a compreensão do cotidiano em que estamos inseridos. Este
cotidiano é enfatizado pela Callai(2003), pois é a partir do lugar que a Geografia pode
ensinar a compreensão da complexidade da vida social e assim reconhecer regras universais
no local, resgatando a identidade diante da pretensa homogeneização globalizada.
Num mundo em que tudo está globalizado e que a informação ultrapassa todo
tipo de fronteiras, encaminhando a que tudo se subordine a uma mesma
lógica, homogeneizando a tudo e a todos, torna-se fundamental resgatar a
construção da identidade e do pertencimento dos sujeitos. Nesta perspectiva
nada mais adequado que estudar o lugar em que se vive. (CALLAI, 2003, p.64)
Portanto, deve ser uma busca no ensino de Geografia a ruptura do senso comum
através da utilização do cotidiano. Para escolas públicas onde os recursos de infra-estrutura e
financeiros são muitas vezes escassos, a atividade de construção de maquete pelos alunos é
viável e pode suscitar bons resultados. A representação do entorno da escola, por exemplo,
pode despertar um novo olhar para a paisagem despercebida no cotidiano ao trazer
problematizações sobre o que pode ser observado, além de ser possível a visualização dos
conteúdos que muitas vezes são trabalhados como meras obrigações em sala de aula.
Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3
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OBJETIVOS
Visto que são poucas as iniciativas atuais de práticas em sala de aula que procurem
relacionar com o cotidiano do aluno, a experiência relatada neste trabalho procura demonstrar
que atividades extra-classe e a criação de maquetes como alternativas possíveis para o
enriquecimento do ensino de Geografia. O uso de instrumentos na aula de Geografia que
facilitem a aproximação com o espaço vivido do aluno pode suscitar resultados de
aprendizagem para além das expectativas do professor.
METODOLOGIA
A atividade de uma gincana interdisciplinar com turmas de quinta série foi
desenvolvida na Escola Estadual de Ensino Fundamental Padre Balduíno Rambo, Porto
Alegre-RS, ao final do ano letivo de 2009. As atividades desenvolvidas em quatro dias,
durante duas semanas na escola, foram planejadas interdisciplinarmente pelos bolsistas
durante três meses e envolveram, entre outras, a criação de uma maquete do entorno da
escola e o teatro de fantoches confeccionados pelos alunos, com roteiro elaborado de acordo
com alguma situação vivenciada no ambiente escolar.
Em um dos dias de gincana destinado à construção da maquete, inicialmente foram
disponibilizadas imagens em diferentes escalas da localização da escola (país, estado, cidade
e bairro) de modo que fosse possível partir do local para o global e que houvesse a
compreensão de que a orientação nestas diferentes escalas é a mesma. Após, para que fosse
possível a orientação os alunos foram levados para o pátio da escola para observação do Sol,
referência ao Leste, e a partir deste orientar o local da escola. No dia posterior foi
disponibilizado material para confecção de fantoches e as equipes elaboraram seu próprio
roteiro para apresentar às turmas de quarta série.
RESULTADOS PRELIMINARES
Uma das maiores preocupações dos bolsistas responsáveis pela gincana eram as
condições ofertadas pela a escola, tanto quanto a infra-estrutura como as condições
financeiras do público atendido por esta. Para a Escola Estadual Padre Balduíno Rambo,
situada num bairro de classe baixa de Porto Alegre e com as condições precárias do atual
Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3
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ensino público era inviável propormos qualquer atividade que exigisse computadores, por
exemplo, pois a maioria dos alunos e a própria escola não poderiam nos proporcionar esta
ferramenta. Assim, nos pareceu que para a Geografia a responsabilidade pela atividade de
montagem de uma maquete do entorno da escola seria viável para atendermos os objetivos
de uma maior percepção do lugar e trabalharmos interdisciplinarmente com as Ciências
Sociais.
Também durante algumas oportunidades em que conversamos com o professor da
escola responsável pela Geografia na quinta série, este nos relatou a dificuldade dos alunos
com a orientação espacial, o que reforçou nossa opção por trabalhar com maquetes. Talvez,
a nossa atividade de construção da maquete poderia ter sido mais aprofundada com uma
maior problematização a partir desta, conforme a proposta de Castrogiovanni
O trabalho com maqueta mistura o real com o possível imaginário. É
justamente na possibilidade desta amálgama que se desenvolve a criatividade
individual ou trocas coletivas. A interação do sujeito com o objeto
intensifica-se na medida em que ocorrem os desequilíbrios provocados pelos
exercícios (propostas) de contextualizações - Por quê? Para quê? Para quem?
Como? Quando? Onde? (CASTROGIVANNI, 2000, p. 75)
Porém, esta complementação da atividade demandaria um maior tempo de gincana na
escola, o que infelizmente não foi possível devido à incompatibilidade de horários disponíveis
entre escola e bolsistas. No entanto, durante o teatro de fantoches, em que os próprios alunos
criaram o roteiro, foi uma surpresa para todos que assistiam, pois uma das equipes
apresentou um enredo que envolvia a orientação da escola em relação aos pontos cardeais.
Para nós, bolsistas, esta pode ser uma das indicações de que o resultado foi positivo e de que
houve problematização, mesmo não planejada. O que para os alunos parecia uma brincadeira
pode ter gerado um grande aprendizado.
Para a Geografia a atividade trouxe resultados demonstrados pelos alunos
participantes na atividade posterior de teatro de fantoches, o que faz acreditar que propostas
alternativas à pratica escolar vigente podem suscitar uma nova forma de entendimento do
lugar geográfico. Os resultados desta atividade foram um incentivo para continuarmos
buscando este novo entendimento diferente da proposta distante do cotidiano dos alunos que,
na maioria das vezes, é apresentado em sala de aula. Neste ano de 2010 continuamos com o
trabalho de práticas alternativas na mesma escola, procurando aperfeiçoar nossas
experiências a partir das reflexões quanto à docência que esta atividade nos proporcionou.
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BIBLIOGRAFIA
CALLAI, Helena Copetti. Do ensinar Geografia ao produzir o pensamento geográfico. In:
REGO, Nelson et al. Um Pouco do Mundo Cabe nas Mãos; Geografizando em
Educação o Local e o Global. Porto Alegre: UFRGS, 2003.
CASTROGIOVANNI, Antônio Carlos. Apreensão e compreensão do espaço geográfico.
In: CASTROGIOVANNI, Antônio Carlos; CALLAI, Helena Copetti; KAERCHER, Nestor
André. Ensino de Geografia: práticas e textualizações no cotidiano. Porto Alegre:
Mediação, 2000
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