RECUPERAÇÃO DE ÁREA PERTURBADA NA LOCALIDADE DA COXILHA RICA CPF: 071.235.919-25 CPF: 499.704.969-72 CPF: 007.930.579-22 CPF: 053.435.229-47 LAGES (SC) 2009 1 1 INTRODUÇÃO Na atualidade, cada vez mais se tem a necessidade da preservação ambiental, mas também é necessário observar o desenvolvimento econômico. Hoje, se questiona o desenvolvimento da Coxilha Rica, com a introdução do Pinus sp.. Contudo, se esse investimento for aplicado de maneira correta, utilizando um manejo adequado e com o cumprimento da lei, certamente os resultados não irão agredir substancialmente o ambiente conseguindo assim, aplicar o conceito de sustentabilidade. Observando a fragilidade do ecossistema da região, como sendo um refúgio para muitas espécies de fauna e flora, a região da Coxilha Rica é um berçário da biodiversidade. Observa-se a necessidade de buscar a sustentabilidade entre esse desenvolvimento econômico e a conservação ambiental. A área a ser trabalhada possui um relevante valor biológico. Buscar-se-á, portanto, o resgate das características originais, a conservação e a recuperação de sua funcionalidade para o ecossistema em si através da aplicação de técnicas e metodologias que venham a recuperar a área perturbada, no total de 12 hectares, situado na Fazenda Rodeio Bonito, na região da Coxilha Rica, interior do Município de Lages - SC. 1.1 Caracterização do Problema Quais são as ações necessárias para promover a recuperação dessa área perturbada com 12 hectares? No passado a mesma foi explorada de maneira inadequada e hoje, busca-se através da aplicação técnica, a sua recuperação, uma vez que se trata de um corredor ecológico. O projeto promove a contextualização dos conhecimentos técnicos adquiridos no curso, com as atividades desenvolvidas no local do estudo. 1.1.1 Justificativa A relação do desenvolvimento econômico com a preservação ambiental sempre foi estreita. O desrespeito e a exploração excessiva dos recursos naturais 2 estão presentes no modelo econômico da sociedade. Devido ao elevado potencial madeireiro da região serrana de Santa Catarina está evidenciada esta realidade. No passado houve a exploração excessiva da madeira e isso resultou num desequilíbrio ambiental, afetando significativamente o ecossistema local e alterando a sua biodiversidade. Apesar de haver na época leis, a sua fiscalização e aplicabilidade não eram rigorosas, além da ausência da preocupação ambiental. A implantação de um projeto de recuperação de área, degradada pelo processo histórico e cultural é um desafio. Com isso, priorizou-se desenvolver um projeto de Recuperação de Área Perturbada na localidade de Coxilha Rica, Santa Catarina, para que se promova a melhoria ambiental da região. 1.1.2 Fundamentação teórica Segundo (Valdeci Israel 2006, p. 17) Local de passagem (caminho das tropas) é de imensurável importância histórico-cultural e econômica. Essa região da Coxilha Rica tornou-se importante durante o período de colonização do Brasil, por fazer parte de uma rota de comércio de muares que serviam como meio de transporte para a circulação de pessoas e produtos oriundos do interior até os portos, como o ouro, a madeira, açúcar, mantimentos e roupas. Implementando dessa forma, o desenvolvimento do comércio nessa região. “Os muares e o gado vindos das colônias espanholas encontravam pastos abundantes e locais propícios para o descanso que os espanhóis denominavam de cuchillas muy ricas (coxilhas muito ricas)”, conforme (ICR 2004, p.04). “Evidências arqueológicas mostram a existência de caminhos ainda mais antigos que provavelmente, antecederam os dos corredores de taipas”, cita (Valdeci Israel 2006, p. 17) O mapa a seguir mostra a localização da Fazenda Rodeio Bonito, foco do projeto (destaque em vermelho). 3 Localização da Fazenda no Estado de SC. Diagnóstico Ambiental da localidade a) Referências sobre a vegetação original: Conforme (Veloso 1991, p. 71 apud Valdeci Israel 2006, p. 17) a vegetação que define cor à paisagem da Coxilha Rica, integrava originalmente, parcelas de duas regiões fitoecológicas: a Floresta Ambrófila Mista (floresta de araucárias), conhecida também como mata de araucárias. O “pinheiral” é um tipo de vegetação típica do Planalto Meridional. De acordo com o IBGE (1992), os campos sulinos- chamados de estepe gramíneo-lenhosa integram a região coberta pela floresta Ombrófila Mista (floresta de araucária), juntamente com diversos ecossistemas associados entre os quais, a savana aberta e os campos rupestres. Trata-se de uma formação geológica antiqüíssima com cerca de 60 milhões de anos e altitudes que variam de 750 m a 1200 m. e depressões circulares de até 100 m de profundidade (AHE,2003, p.21: BUTZKE, 1997, p.29/30), e a Estepe, supramencionada, restando na região, algumas parcelas da primeira em relevos mais acidentados e de difícil acesso, popularmente chamados capões; enquanto as áreas campestres naturais foram ocupadas, especialmente pela atividade pecuária. A floresta de araucária é uma mata mista que apresenta um estrato superior dominada pela Araucaria angustifolia com altura aproximada de 35 metros. (Valdeci Israel 2006, p. 18). 4 No século passado além da abundância de araucárias, havia na região enorme quantidade de madeira de lei como: Cambará, Bugre, Canela, Cedro, Laranjeira do Mato, Aroeira, Cabriúva, Peroba, Maçaranduba, Tarumã, Angico, Imbuia e várias outras que foram desaparecendo ou escasseando pela preferência que mereciam para construção de casas rústicas, palanques de cercas, etc. (Costa Licurgo 1982, p. 907). b) Atividades Antrópicas – “Atualmente, a paisagem natural, assim como as reminiscências dos corredores de tropas vêm sendo fortemente ameaçados e/ou transformadas pela introdução de espécies exóticas, como Pinus sp” (Pereira 2005, p.92 apud Valdeci Israel 2006, p.18). Além disso, o projeto de construção de usinas hidrelétricas na região promete mudanças significativas na paisagem com a possibilidade de surgimento de grandes lagos, novos reassentamentos humanos e de novas comunidades rurais em áreas de campos, antes exploradas com bovinocultura. Conforme (Pereira 2005, p.92 apud Valdeci Israel 2006, p.18). No século passado o extrativismo, característica do setor primário da economia desenvolveu-se com o começo das derrubadas a formar matériaprima para as serrarias. Somente mais tarde houve a evolução para o setor secundário, isto é, a indústria de transformação. (Costa Licurgo 2005, p.907). c) Solo - De acordo com (Pereira 2005, p.65 Apud Valdeci Israel 2006, p. 65) “o solo da região é considerado raso, ácido, pouco fértil, Ph ácido, presença de alumínio, correção necessária para as plantas, calcário”. Os solos da região são originários de basalto e riodacitos e poderiam ter dado origem a solos quimicamente mais ricos, entretanto, isso não ocorreu devido a intensa alteração sofrida por essas rochas em clima pretérito mais quente e úmido, que favoreceu alta lixiviação e perda de fertilidade durante prolongado tempo causou grande erosão sobre um material já previamente muito alterado, o que se pode observar pela própria configuração da superfície, bastante erosionada, antiga e irregular. (Pereira 2005, p.65 Apud Valdeci Israel 2006, p. 65). 5 1.2 Objetivos e Metas 1.2.1 Objetivo geral Implantar um projeto de recuperação de área perturbada, otimizando o seu desempenho para o equilíbrio ecológico dessa região. 1.2.2 Objetivos específicos Identificar e delimitar o local para a implementação do Projeto; Elaborar um plano de ação para a execução do Projeto; Definir as técnicas de recuperação a serem utilizadas; Identificar as espécies de flora mais adaptáveis à região; Estimular a proteção dos recursos hídricos; Contribuir na formação de corredores ecológicos. 1.2.3 Metas - Fornecer subsídios necessários para que 95 % das mudas de árvores nativas plantadas no local se desenvolvam adequadamente, ocorrendo a sucessão ecologia natural; - Proporcionar aos elaboradores do projeto a aplicação dos conhecimentos teóricos adquiridos em sala de aula, na execução das atividades desenvolvidas no campo, contemplando os conceitos de trabalho em equipe, comprometimento, responsabilidade, pesquisa e logística; - Recuperar o valor econômico, social e ambiental da região, buscando sua sustentabilidade. 2 DESENVOLVIMENTO 2.1 Métodos e Procedimentos O reconhecimento da área foi realizado através de visitas de observações com registros escritos e fotográficos. Observou-se que a mata apresentava áreas de 6 clareiras, isto é, áreas com falta de vegetação arbórea ou arbustos, com apenas vegetação rasteira ou herbáceas e gramíneas. Vista parcial da área em questão. Analisando o ecossistema em seu contexto mais amplo pode-se classificar a área como de vegetação secundária em estágio médio de regeneração natural, conforme a Resolução do Conama nº. 04, de 04 de maio de 1994. Essa informação foi substancial para que se definisse uma série de estratégias e métodos de recuperação que acelerasse este processo natural. Para que um projeto de recuperação seja eficiente é importante que se trabalhe com a flora regional buscando manter o dinamismo e a funcionalidade do ecossistema existente na região. Portanto buscou-se, obter informações sobre a flora e a fauna nativa, entendendo a necessidade da região. Com isso se utilizou prioritariamente de espécies de araucária e outras frutíferas, como a goiabeira, aroeira, araçá e pitanga para o plantio, isso com o intuito de resgatar as características originais, possibilitar e aumentar o fluxo da fauna no local. Imaginava-se num primeiro momento que o simples plantio de espécies era o único método de recuperação de áreas perturbadas. Porém se verificou a existência de outras técnicas, métodos e estratégias com o intuito de promover essa interação do ecossistema. 7 Plantio de mudas no local do estudo. Delimitação do quadrante na área do estudo. Dentre as técnicas utilizadas no desenvolver do projeto destacam-se as principais: para medição de área utilizou-se do aparelho de GPS e da trena como instrumento manual para a determinação da área dos quadrantes. A área dos quadrantes foram determinadas, observando-se basicamente a existência das clareiras. Além disso, houve a confecção de poleiros artificiais que, de acordo com (Ademir Reis 2003, p. 48): Imita galhos secos de árvores para pouso de aves. As aves os utilizam para repouso ou forrageamento de presas (muitas aves são onívoras e, enquanto caçam, depositam sementes). O poleiro seco pode ser confeccionado com diversos materiais, como por exemplo, restos de madeira ou bambu. A transposição de galhadas e o plantio das mudas de árvores nativas também foram realizados na área, reforçando essa idéia (Ademir Reis 2003, p. 48) destaca ser um: Excelente abrigo para fauna, um ambiente propício para a germinação de sementes mais adaptadas aos ambientes sombreados e úmidos. Para as aves serve de local para caça de pequenos animais, principalmente cupins, larvas de coleópteros e outros insetos que colonizam a madeira. 8 Transposição de galhada. Poleiro artificial. Segue abaixo uma tabela especificando as atividades desenvolvidas nos quadrantes: Quadrante Tam. do Poleiros Transposição Quadrante de galhadas Plantio de Plantio de Araucárias outras frutíferas 25 29 1 499.2 m² 1 1 2 412.8 m² 1 1 15 27 3 134.4 m² 1 1 2 11 4 440 m² 0 1 34 30 5 210.9 m² 1 0 50 9 6 153.9m² 0 1 18 15 7 288.4 0 1 54 20 TOTAL 2139.6 m² 4 6 198 141 Para o monitoramento do desenvolvimento das plantas foram utilizadas fitas coloridas colocadas em estacas para sua diferenciação sendo a cor verde para araucárias e vermelha para outras frutíferas. A execução do projeto gerou um custo monetário baixo comparado à sua dimensão e melhoramento ambiental que trará à região, e contou com o apoio logístico das seguintes instituições: Florestal Indusflora, com a doação do combustível e transporte ao local do estudo; Polícia Militar Ambiental, com a doação de mudas de árvores nativas; Prefeitura Municipal de Lages, através das secretarias, realizaram a doação de mudas de árvores nativas e estacas de madeira. 9 A tabela abaixo apresenta os recursos monetários utilizados na execução do projeto: Despesas Valor em R$ Transporte e combustível (equivalente a 05 viagens) 950,00 Alimentação 75,40 Estacas de madeira 75,00 Encadernação 35,00 Materiais Diversos 20,21 Total 1.155,61 Registra-se que o custo efetivo do projeto foi de aproximadamente R$ 205,61 gastos com alimentação, estacas de madeira, encadernação e materiais diversos os demais gastos foram cobertos pelos colaboradores supramencionados. O mapa a seguir nos dá uma visão geral da área em questão: Localização do Projeto de Recuperação na Fazenda Rodeio Bonito. Podemos visualizar a importância da área e sua funcionalidade em relação ao arroio que corta o terreno na sua totalidade. Auxiliando, portanto na proteção do arroio e da conservação da fauna e flora existentes no local. Com o recuperação da mata ciliar será possível a formação de um corredor ecológico que “são áreas que unem os remanescentes florestais e a dispersão de sementes das espécies vegetais” (Wigold B. Schaffer & Miriam Prochnow 2002, p. 28). 10 2.2 Resultados esperados A aplicação das técnicas selecionadas no projeto promoverá a funcionalidade do ecossistema local; contribuirá na formação do corredor ecológico, que fará a ligação dos habitats fragmentados, favorecendo significativamente o fluxo gênico entre as espécies e aumentando sua biodiversidade; restabelecerá a mata ciliar, considerada Área de Preservação Permanente e possui um relevante valor ecológico; recuperará simultaneamente a flora e a fauna, e resgatará o valor cênico da paisagem, garantindo a harmonia e interrelação do ecossistema regional, proporcionando ao ambiente o seu retorno próximo ao status quo ante. 3 CONCLUSÃO Um projeto que se desenvolveu pela consciência ecológica de um grupo de estudantes do curso técnico em Monitoramento e Controle Ambiental, trouxe aos participantes a oportunidade de aplicar seus conhecimentos numa prática real, envolvendo aspectos ambientais, sociais e econômicos de uma região com importância impar no ecossistema. Vale salientar que as atividades exigiram o máximo de desenvolvimento dos integrantes nos quesitos de participação, responsabilidade, conhecimentos, comprometimento com o tema proposto e superação de situações adversas deparadas na aplicação do projeto. Através do monitoramento realizado pelos integrantes do projeto, na área em estudo, constatou-se que houve perda de mudas plantadas menor que os 5% esperados, comprovando a eficácia das técnicas utilizadas para o plantio. A recuperação da área perturbada proporcionará ao ambiente o retorno de sua funcionalidade, melhorando diretamente a qualidade de vida da população e conciliando o desenvolvimento econômico da região com a preservação ambiental. Quanto a aplicabilidade do projeto, espera-se que a ação antrópica realizada seja favorável, e que o ecossistema tenha a condição de se reestruturar garantindo às atuais e às futuras gerações um ambiente sadio e ecologicamente equilibrado, constatando dessa maneira, que é possível no meio de uma floresta de Pinnus sp criarmos um ambiente harmônico, propício ao desenvolvimento das espécies nativas, interligados com outros ecossistemas. 11 REFERÊNCIAS ALMEIDA, Danilo Sette. Recuperação Ambiental da Mata Atlântica. Editus, 2000, 134p. CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO, Lei nº 4771 de 15 de setembro de 1.965 (D.O.U. de 16.09.65) Art. 1º/II, Art. 2º a) 1, b, c, d, e. Art. 3º a, b, c. VIc. do Meio Ambiente, Art. 225. COSTA, Licurgo. O Continente das Lagens, Fundação Catarinense de Cultura, 1982, p. 907, v.4. CONAMA. Conselho Nacional do Meio Ambiente. RESOLUÇÃO CONAMA, nº 4, de 04 de Maio de 1994. GUALBERTO, José. Os Campos da Coxilha Rica: Memórias de uma cidade, Ano 02 nº 5, Lages: Alma Lageana, 2008. INSTITUTO COXILHA, Projeto de criação e implantação da área de proteção ambiental. Coxilha Rica, Lages, Julho. 2007. ISRAEL, Valdeci. Mestrado em Direito, Proteção Jurídica do Patrimônio Paisagístico – Ambiental de Interesse Cultural: Os corredores de tropas de Coxilha Rica, no estado de Santa Catarina. Caxias do Sul, 2006. REIS, Ademir. Restauração de área degradada: Imitando a Natureza, 2003, p. 47 e 48. SILVA, Américo Luís Martins, Direito do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, Vol. 2. WIGOLD B. Schäffer & MIRIAN P., A Mata Atlântica e Você. Apremavi. Brasília 2002. 12