AMBIENTE MUSICAL NA PERSPECTIVA PSICOSSOCIAL Autor: Esp. Valdier Ribeiro Santos Junior Co-autora: Drª Andrezza Maria B. do N. Tavares RESUMO A pesquisa em questão analisa espaços de obtenção de conhecimentos e socialização, observando e refletindo sobre os benefícios proporcionados pela inserção da música nestes ambientes, tendo em vista uma perspectiva alicerçada no estudo qualitativo e, objetivando também a reflexão ampla e mais comprometida sobre o estudo do tema. Este trabalho defende a manutenção da música no ambiente escolar por diversos motivos: como instrumento de grande poder socializador, como método de aprimoramento do campo cognitivo e como algo campo de estudo individual. A música no ambiente escolar pode proporcionar grande desenvolvimento social e cognitivo, proporcionando a retomada de valores éticos e morais nos mesmos. Palavras chave: música, socialização, cognição. 1. INTRODUÇÃO Muitos são os desafios da sociedade pós-moderna e muitas são as indagações recorrentes de mudanças aceleradas com o avanço tecnológico promovido pelo sistema capitalista nas últimas décadas, presenciado e vivenciado pela humanidade em fragmentos, os quais preocupam os educadores de nosso país. Este estudo não tem respostas para todas as indagações, mas levanta questões do tipo: como será a educação frente ao volume e a velocidade de tantas informações? Quais e quantas informações seriam realmente importantes neste momento, para o educando? No contexto atual como se aplica a formação de um educador, haja vista que sempre se espera que através da educação da criança se tenha um mundo melhor e uma sociedade mais justa e mais democrática. De modo, que é decisivo buscar caminhos e alternativas para a insuficiência qualitativa da educação em seu modo e em sua essência de facilitar o aprendizado do educando e poder iluminar educadores em sua nova missão com idéias de ordem didática, de fácil cognição, porém humana e cultural. Desta forma, o objetivo geral desta pesquisa consiste em refletir sobre os benefícios da inclusão da educação musical nos ambientes responsáveis pela construção dos saberes, bem como a construção de argumentos capazes de gerar reflexões sobre o tema. Para melhor compreensão, abordaremos alguns pontos que fazem alusão a os objetivos específicos: compreender a educação musical como ferramenta pedagógica que proporciona o desenvolvimento social e cognitivo dos alunos, analisar a postura do docente que participou da pesquisa de campo e sugerir a inclusão da educação musical nos espaços responsáveis pela construção dos saberes. A escolha do tema a ser trabalhado surgiu a partir de vivências próprias e questionamentos que apareceram através de pesquisas relacionadas nas áreas de cognição e relações sociais. A partir destas vivências e, somado ao fato de ser licenciado em música pela UFRN e também esta concluindo a pós-graduação em psicopedagogia pela FIP, é que surge o tema em questão. Como procedimento metodológico, partiu-se com a pesquisa empírica, objetivando uma abordagem qualitativa e, permitindo com isso, um aprofundamento maior do objeto de estudo. A fonte instrumental foi utilizada nas seguintes estratégias: pesquisa de campo, pesquisa bibliográfica e pesquisa virtual. 2. O PODER SOCIALIZANTE DA MÚSICA A sociedade moderna percorre por caminhos de ambição e de uma desenfreada competição. Todos querem ter o melhor de tudo. É a sociedade dos competitivos e a manutenção da vida torna-se uma busca constante dentro de um crescimento econômico, associado ao individualismo. Assim, o próprio sistema propicia ao homem menos importância a presença do outro. As instituições (família – escola – igreja, etc) desabafam aos olhos do Estado e do mundo. Jean-Jacques Rousseau, filósofo, sociólogo e pedagogo, cidadão francês (1712-1778), sustentava a idéia de que o homem nasce bom, a sociedade o corrompe. Essa constante corrida pelo dinheiro, a atração pelo poder, fama e prazer corrompem a vontade firme e a disciplina da educação. Não só isso, mas reprime o ser social, configurandose talvez como “a verdadeira bomba atômica” não a bomba com a qual os governantes ameaçam destruírem os outros países, mas a bomba social que é lentamente ativada todos os dias nas relações sociais. Estaria à própria sociedade contribuindo para fazer do indivíduo sua vítima? Um indivíduo que corre sempre atrás do dinheiro esteja ele onde estiver, sem afeto, sem responsabilidades, sem limites, perdido quando se trata de decidir sua própria vida ou construir por meio da educação? É com base nestes argumentos e perspectiva, que a educação caminha a passos rápidos. É em meio a esse conflito que busca conhecimentos e caminhos a fim de não justificar e validar o individualismo exacerbado dos seres humanos. Essa nova ordem de que “felicidade é acúmulo de coisas” enfraquece as relações entre as pessoas e destrói as instituições em seus valores mais sublimes, em nome da riqueza própria. Suprimindo ainda, valores que já foram tão preciosos e que ao longo do tempo entraram em desuso, tais como: moral e a ética. O pensamento de Freire reflete tal realidade quando fala: Assumir-se como sujeito porque capaz de reconhecer-se como objeto. A assunção de nós mesmos não significa a exclusão dos outros. É a “outredade” do “não eu”, ou do tu, que me faz assumir a radicalidade de meu eu. (FREIRE, 1996, p. 41). Certamente, hoje a exigência da ética está ligada a consciência do desgaste em busca de uma sociedade fortemente individualista (MORIM, 2001). No reverso dessas duas teorias, será possível se pensar em sensibilidade do ser e de que existam possibilidades de um ser fraterno e feliz com os outros. E a partir do processo de aprendizagem artística, como forma de aquisição de uma nova cultura e modelo cognitivo seria semear a religação dos conhecimentos obtidos sobre o poder de unificar as pessoas e de valorizar as expressões sociais e do meio, tanto pelo educador, quanto pelo educando. Com efeito, os Parâmetros Curriculares Nacional (PCNs) defendem o estudo da arte como atitude que valoriza a figura do outro: As oportunidades de aprendizagem de arte, dentro e fora da escola, mobilizam a expressão e a comunicação pessoal e ampliam a formação do estudante como cidadão, principalmente por intersificar as relações dos indivíduos tanto com o seu mundo interior como exterior. (PCNs, 1998, p. 19). Valorizar a livre expressão artística e principalmente na escola, é defender a valorização da expressão musical, é ajudar a construir o tecido de um cidadão que se comunica melhor. Que reflete melhor sobre sua identidade, que debate melhor e com mais freqüência sobre seus problemas e podem ajudar a compor de certa forma, uma ética de solidariedade, transmitida através das letras e das melodias interpretadas ou compostas pelo próprio indivíduo. Em muito pode ajudar nas relações sociais, assim o quanto ajudar a mediar os valores benéficos de cada conteúdo escolar, entendendo que o ambiente da escola é propício, aconchegante a formação de um ser, socializável e não a de um ser exclusivo de competição de valores. A música é capaz de estabelecer as interrelações de conteúdos entre todas as disciplinas da escola, mantendo uma práxis ininterrupta da vida, quanto é percebida na sua produção intelectual e nas múltiplas facetas de idéias exigidas para se produzir uma música. O professor de Biologia pode utilizar paródias que discriminem o corpo humano em suas aulas; na Matemática, podem ser contadas as figuras musicais e relacionadas com o conteúdo de probabilidade; o Inglês também faz uso da música nas suas traduções; já na disciplina de Educação Física, o professor marca o tempo, fazendo divisões rítmicas; o relaxamento com os alunos pode ser feito antes de todas as aulas com músicas suáveis. Segundo Gunther a música contribui na convivência das pessoas: Para nós a música é, sem dúvida, a mais social das artes. A familiaridade com a música “abre” as pessoas aos seus semelhantes... visto que a música, como meio de contato pode ter efeitos socializadores e ético-socais, a obrigatoriedade social da escola educativa, em geral, inclui sua obrigatoriedade artística. (GUNTHER, 2009, p. 39). As ações do professor de música são de grande relevância na prática pedagógica, enfatizando o aspecto de melhor convivência entre os alunos e promovendo a inclusão entre todos. A criação de pequenas orquestras e grupos musicais é uma das provas do poder socializante da música, onde o resultado final, revelado nas apresentações, não pode ser mensurado como resultado individual e sim de todos que compõem a orquestra ou os grupos. Propicia uma visão ao educando de que ele é capaz, mas não é capaz de alcançar o objetivo da orquestra sozinho. Dali passa a perceber as limitações que lhe são colocadas se adentrar numa linha individualista. A criação de um coral é outro exemplo, de que a música produz laços de amizade entre os alunos, principalmente quando as músicas são bem trabalhadas e envolvem todos no mesmo interesse musical. O ambiente do coral proporciona a interação social, onde os participantes conseguem ultrapassar problemas de relacionamentos. No Coral todos imprimem a sua marca como agente sociável e socializante. Contudo, é bom frisar ao profissional musical o dever de ser um pesquisador no assunto, observando o gosto pela pesquisa e a sua própria especialização. Ferreira concorda com a especialização do profissional musical quando relata: Valerá muito ao professor utilizar a música em suas aulas, más é preciso dedicar-se ao seu estudo, procurando compreendê-la em sua amplitude, desenvolvendo o prazeroso trabalho de sempre escutar os mais variados sons em suas combinatórias infinitas, com “ouvidos atentos”, e também ler o que for possível a respeito. (FERREIRA, 2009, p. 13 a 14). O fim da inclusão musical é que possamos esquecer-nos de nós mesmos e, de mãos dadas, conseguimos mudar o nosso destino de degradação humana. Seres humanos não podem tão somente nascer e explorar o mundo e as outras pessoas. É necessária essa contribuição da música, no entendimento de que estamos todos no mesmo espaço social e necessitamos de uma convivência saudável se desejamos preservar nosso futuro enquanto pessoas. Segundo Freire isso é abordado quando relata: {...} Estar no mundo sem fazer história, sem por ela ser feito, sem fazer cultura, sem “tratar” sua própria presença no mundo, sem sonhar, sem cantar, sem musicar, sem pintar, sem cuidar da terra, das águas, sem usar as mãos, sem esculpir, sem filosofar, sem pontos de vista sobre o mundo, sem fazer ciência, ou teologia, sem assombro em face do mistério, sem aprender, sem ensinar, sem idéias de formação, sem politizar não é possível. (FREIRE, 1996, p. 57 a 58). Vê-se através dos próprios autores da educação a importância da Educação Musical como parcela de contribuição para com as instituições de ensino. Em todos os níveis de escolaridade, a música fomenta energia socializante e ajuda a organizar e a reorganizar a história de vida das pessoas. 3. CONTRIBUIÇÃO MUSICAL NAS RELAÇÕES COGNITIVAS Cientistas do mundo inteiro buscam respostas, através de pesquisas que justifiquem e possam respaldar o tema música/cognição. Profissionais da música nunca tiveram tão próximos de estudiosos e pesquisadores da área da cognição (processo de conhecer que envolve algumas atitudes do tipo: atenção, percepção, memória, raciocínio, imaginação). São psicólogos, cientistas da cognição, neurocientistas, sociólogos, antropólogos e assim por diante. As profissões comungam pesquisas nas quais objetivam desvendar e mapear a influência da música no cérebro. Gardner (1995) teorizou as múltiplas inteligências e identificou a inteligência musical como uma entre as sete inteligências do ser humano. Segundo ele, o hemisfério direito do cérebro é responsável pela inteligência musical. Porém a ação musical sugere desenvolvimento em muitas áreas do cérebro, pois neste ato não é desenvolvido apenas uma única área e sim praticamente todas as zonas cerebrais. Sacks torna essa afirmação bem evidente: {...} somos uma espécie musical além de lingüística. Isso assume muitas formas. Todos nós somos capazes de perceber música, tons, timbre, intervalos entre notas, contornos melódicos, harmonia e, talvez no nível mais fundamental, ritmo. Integramos isso tudo e “construímos” a música na mente usando muitas partes do cérebro. (SACKS, 2007, p. 10). Evidencia-se a espécime no ato de ler uma partitura, essa ação proporciona benefícios para o cérebro. No momento da execução de uma peça através da partitura, o cérebro é estimulado na área da visão, audição e tato. Na interpretação de uma peça musical, ocorre intervenção na área da sensibilidade e da emoção. Já na divisão rítmica, é proporcionado estímulo à área cerebral responsável pela coordenação motora. Respaldado pela visão do livre acesso da música dentro do cérebro, é que entendemos o fato de uma pessoa com disfemia (gagueira) conseguir cantar bem e pronunciar todas as palavras com perfeição. Isso ocorre porque quando a pessoa com disfemia canta, ela faz uso de muitas outras partes do cérebro e não apenas a parte responsável pela lingüística, contribuindo para a fluidez do seu canto. É surpreendente o poder da inteligência musical nos seres humanos e de como isso pode favorecer para o aprimoramento de outras inteligências. Segundo o livro alucinações musicais de Sacks (2007), há relatos de músicos que, devido algum acidente, perderam áreas do cérebro e mesmo assim ainda conseguiam ter o dom musical. Para Sacks (2007, p. 16) “A música pode sobreviver a danos cerebrais devastadores”. Em suma a música favorece ao desenvolvimento cerebral do aluno, contribuindo para que o mesmo construa o desenvolvimento cognitivo em muitas áreas e conteúdos disciplinares. Para isso, o educador de música é parte determinante com o seu conhecimento, fomentando a arte de interagir com a imaginação musical de seus educandos. Seguindo o raciocínio, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs, 1997) confirmam que a música propícia o desenvolvimento da mente humana quando cita: “um aluno que exercita continuamente sua imaginação estará mais habilitado a construir um texto, a desenvolver estratégias pessoas para resolver um problema matemático”. O educador de música não deve apenas lecionar os conteúdos que contemplem a livre expressão artística ou as apresentações de datas comemorativas. É imprescindível que, além disso, o professor transforme as aulas de música em uma atividade significativa, construindo um caminho de entendimento que almeje a verdadeira expressão cultural e de como essa cultura atua na esfera social. As formas de envolvimento são as mais diversas e dinâmicas possíveis que vão desde o ato de tocar algum instrumento até outras formas lúdicas de ensino musical. O educador pode fazer uso de jogos rítmicos com os quais proporciona uma relação matemática com exercícios motores. Realizar momentos de audição também é uma atividade de suma importância, com músicas eruditas e populares, objetivando temas regionais, nacionais e internacionais. Nesse caso, a tão relutante interdisciplinaridade acontece, através das mais diversas dinâmicas que o conteúdo musical contempla e que, certamente, proporciona ao educando uma substancial melhoria nas suas atividades cognitivas. Gunther defende os benefícios da música ao relatar: Uma fundamentação compacta para os efeitos da prática da música pode ser formulada da seguinte maneira: tocar um instrumento musical é uma das atividades humanas mais complexas. Até mesmo para as peças mais fáceis, exigem-se capacidades do intelecto. (GUNTHER, 2009, p.111). É notório o benefício cognitivo da música no ambiente escolar. Diante do exposto, é preciso que o educador faça uso da música como ferramenta pedagógica, procurando valorizar a sua função como disciplina e, também, planejando cada momento para que o resultado final seja realmente uma experiência satisfatória. 4. O AMBIENTE MUSICAL Uma vez pretendida o pesquisador buscou dados e se ocupou do fenômeno social construído, com significados do homem para o homem, dentro de suas experiências de educador, por vivências extraídas das atividades pedagógicas/musicais realizadas na instituição em que trabalha com crianças em processo de socialização na cidade de Guamaré/RN. Exclusivamente com o Programa para crianças mantido pela EMPRESA DE PETROLEO NACIONAL (PETROBRAS) e a Prefeitura Municipal de Guamaré. O projeto social trabalha o reforço escolar e aulas de artes como música, artes plásticas e dança. O Programa de Criança da Petrobras esta situado na Rua Manoel Lucas de Miranda, S/N, centro da cidade de Guamaré/RN. Atende educandos da comunidade e também, de outras áreas vizinhas. As famílias dos alunos possuem poder aquisitivo baixo. A grande maioria dos atendidos por este projeto estão expostos aos graves problemas sociais, como a prostituição infantil e as drogas. O educador entrevistado comenta sobre o início de sua vida docente, do quanto sentiu dificuldades e necessidade de se ajustar ao processo: Iniciei como professor neste projeto e também estou aqui desde o seu início. Quando começou foi tudo muito difícil, pois os alunos não respeitavam ninguém e minha postura não estava bem adequada para a situação encontrada. Foi preciso algum tempo para que tanto eu como meus alunos se adaptassem a essa realidade. Foi preciso também auxílio na questão de estudar a disciplina de didática, pois precisei encontrar saídas para determinadas situações. (PROFESSOR SOM, 2011). Percebe-se na fala do educador a necessidade de ampliar o que já sabia, recorrendo à didática e ao seu próprio estilo particular de vida, para enfim, se ajustar ao grupo e a missão que acabara de receber. Quanto à metodologia pedagógica/musical desenvolvida no projeto e qual sedução a música exerce sob alunos, o entrevistado respondeu: O método musical utilizado é o Suzuki que é a repetição da música após ouvir. Primeiro ele ouve e só depois entende a escrita, pois assim, ele trabalha primeiro o ouvido e isso é muito prazeroso, pois a música já faz parte da vida dele no seu cotidiano e ouvir música já é uma das coisas da vida dele. (PROFESSOR SOM, 2011). Verifica-se que o método utilizado faz referência a livre expressão e desperta a curiosidade através da liberdade musical. Amparado por Gunther (2009, p. 47), “A música é, primeiramente, um espaço livre e um campo experimental para a fantasia estético-musical e sócio musical”. A respeito aos hábitos sociais dos alunos e de como a intervenção musical contribui nessa questão se pronuncia o educador: Os hábitos sociais dos alunos, com certeza mudaram bastante após as aulas de música, pois neste projeto no qual eu dou aula é um espaço onde os alunos entram com um histórico social de exclusão e bastante violência física entre eles. As aulas de música e a criação de uma orquestra de violões fez com que os alunos diminuíssem as agressões e os palavrões. A música contribuiu positivamente, pois muitos hoje conseguem ter um bom convívio social com seus colegas. (PROFESSOR SOM, 2011). Vê-se uma mudança de comportamento quanto à interrelação entre os educandos, extraída da disciplina de precisar para ouvir e aprender uma música. Relata Gunther (2009, p. 56): “A música e a prática da música são uma oportunidade social para uma apropriada e efetiva prevenção e intervenção contra o potencial agressivo de nossos filhos”. O educador fala de sua experiência em lecionar música para alunos não alfabetizados e se as aulas colaboraram com a alfabetização dos mesmos: Sim, e as aulas de música ajudaram os alunos na sua alfabetização e isso foi uma contribuição de forma determinante na sua vida extra a música. A música ajuda na alfabetização dos alunos, na medida em que usamos a linguagem musical através de comparações, assim como as palavras, por exemplo, o aluno não sabe escrever o nome da nota musical, mas sabe falar e isso vai fazer com que a sua curiosidade seja despertada para que também saiba escrever aquela nota musical que faz parte de sua vida. (PROFESSOR SOM, 2011). Entende-se com esse relato uma nova função da música dentro da instituição de ensino: o despertar para o novo e o desconhecido, de maneira livre, sem imposições. Conforme orienta os PCNs (1997). Sobre a participação da família na vida dos alunos no projeto, comenta o educador: Muitas famílias não ajudam seus filhos e nem incentivam, pois eles talvez não consigam entender os benefícios que um projeto como esse pode proporcionar nas pessoas. O problema em questão é que os pais dos alunos não tiveram uma cultura que contribuísse para o crescimento deles como pessoas e muitos deles são na verdade vitimas da sociedade e, com isso, fica difícil procurar outra postura deles para com seus filhos. (PROFESSOR SOM, 2011). Como a música ajuda nas relações sociais, certamente que a escola possa mediar a comunicação escola x família, estabelecendo momentos de sensibilização a fim de gerar mais confiança e credibilidade por parte dos pais, ajudando com o aconchego da formação de seus filhos. Quanto ao reconhecimento de mudança de atitudes e se foi cercada de aspectos positivos, comenta o educado: Há mudança de atitude, no que diz respeito a vários aspectos, como por exemplo, as interações sociais certamente aconteceram com muitos de meus alunos, porém essa mudança foi algo gradativo e conquistado com o tempo. Consigo enxergar que é preciso um período de tempo razoável para as mudanças de atitudes, pois só a partir de uma relação de conversas e questionamentos é que podemos ver essa mudança de atitude. (PROFESSOR SOM, 2011). A revelação nessa afirmação é no papel do educador, da importância e do compromisso de que o mesmo deve assumir: disseminando o diálogo para a compreensão das partes, entendendo o processo e que como tal precisa de tempo para a obtenção de sucesso. Relata Paulo Freire (1996, p. 86) “O fundamental é que professor e alunos saibam que a postura deles, do professor e dos alunos, é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não apassivada, enquanto fala ou enquanto ouve”. Quanto à melhoria na cognição do educando, contemplando outros conhecimentos, responde o educador: Com certeza a aula de música proporciona uma grande melhoria na cognição de meus alunos, pois aqui isso é bastante visível se comparado com outras crianças que não estudaram música. Há relatos na própria escola em que os alunos estudam, pois vários professores de outras disciplinas dizem que a inclusão dos alunos na música certamente foi decisivo na inteligência deles. (PROFESSOR SOM, 2011). Nota-se que a aula de música não produz milagres imediatos, porque precisa de tempo para agrupar conhecimentos e provocar melhorias significativas na aprendizagem dos alunos, pois como todo e qualquer processo de mudança é necessário tempo para se atingir aos resultados. Gunther (2009, p. 97) “A educação musical expandida tem um efeito positivo não casual no desenvolvimento da inteligência das crianças quando é inserida por um longo período e pode agir”. Comenta o educando sobre os problemas encontrados em sua ação pedagógica: O principal problema é o espaço físico não apropriado para a prática musical. Um bom espaço acolhedor é muito importante na minha prática e isso é uma questão que tento resolver a muito tempo, porém sem êxito. (PROFESSOR SOM, 2011). É lícito supor que a qualidade da educação não se concentre apenas na didática e na vontade do educador. Tendenciosamente, outorga-se-ia uma responsabilidade polarizada da situação. Assim evidencia-se a escola e espera-se que desempenhe o seu papel de manter os recursos e apoios: físico e moral ao sucesso do aprendizado dos seus educandos. O educador faz alusão aos aspectos positivos em sua ação pedagógica: Um dos aspectos positivos é a própria musica que me proporciona um bem estar enorme. É impressionante como o som pode mudar os sentimentos das pessoas para melhor, assim como o meu. Quando um aluno chega muito perturbado, começo logo a tocar minha guitarra e sua perturbação se transforma em curiosidade e entusiasmo e isso é muito prazeroso. (PROFESSOR SOM, 2011). Nesse relato funde-se a imagem do educador com a do educando. O educador crê em si mesmo e de ser capaz de exteriorizar e projetar a sua aspiração de músico, transgredindo o limite das palavras para a musicalidade apenas. Onde o aluno se reconhece e tenta identificar o duplo: o que está na música e o que está dentro dele. Os caminhos não são impostos devem sugerir e atenuar o problema do descaso com a educação e a disciplina de música nas escolas, comenta o educado: Acho que descaso com a educação em geral é bastante antiga e isso é refletido nas artes, assim como também na música, pois ela também reflete a sociedade e seus problemas. É preciso que ambos os professores de todas as disciplinas tenham uma visão única, visão essa de que todos unidos poderão fazer barulhos e esses barulhos podem sim ser ouvidos muito longe. Acho que apenas com esse grito de socorro é que pode provocar uma mudança de atitude por parte dos gestores. (PROFESSOR SOM, 2011). Importa nesse relato a união para projeção de uma ação conjunta que atribuiria a todos os cidadãos o compromisso com a qualidade do ensino dos educandos. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho convergiu na sustentação e esclarecimento do poder que a música exerce sob as pessoas. O aprofundamento teórico foi em busca de constatar se a hipótese proposta se confirmaria ou não. De modo, que é possível afirmar pela prática e pela teoria, neste trabalho, argumentadas que a música contribui valiosamente no desempenho e na melhoria das pessoas no que tange as características sociais e cognitivas. A educação através da música cria novas perspectivas de convivência e ao mesmo tempo segue num caminho árduo que trilha a sua própria emancipação. Os educadores de música devem estar atentos para a democratização dos saberes, possibilitando o livre acesso perdido através do tempo, principalmente na capacidade de pensar e questionar dos alunos. Se para os autores, a música é mais social de todas as artes, cabe ao educador de música a relevância de sua prática pedagógica, enfatizando a projeção, identificação e transferência de seus conhecimentos em estados considerados na magia, no afetivo, no racional, no estético e no lúdico. Implica dizer que suas ações não serão atrativas somente, terão que ter algo mais do tipo: magia nas ações, as quais possam encantar e enamorar os educandos. Do mesmo modo, demonstrar o equilíbrio de afeto em suas atitudes para com todos. Suas habilidades serão racionais, embora os padrões sejam construídos e reconstruídos por eles, diversificar sem alterar o sentido da educação. A beleza de uma melodia contribui para a severidade de um ser, é como lapidar uma pedra preciosa, precisa-se de instrumento e tempo para se alcançar o brilho radiante da pedra, oculto na profundeza de sua essência. A Música, como disciplina, propõe romper com os padrões curriculares atuais. É preciso que os gestores da educação reflitam sobre o verdadeiro significado de educar um ser para a vida. Seres humanos não podem fazer parte de um processo pelo qual não sejam tratados como partes integrantes do mesmo. É eficaz essa ruptura histórica e social, corroborando no sentido de resgatar a livre expressão dos seres humanos, a qual se perdeu com o passar dos séculos. A busca pela reflexão, objetiva o pensar crítico do que pessoas, enquanto educadores e educandos podem contribuir no sentido de gerar ações com propósitos de verdadeira relevância na sociedade. A exposição do tão almejado processo de modernização do mundo capitalista é eminente, revelando como pode ser algo benéfico para com todos os seres humanos, caso continuemos a objetivar o desenfreado crescimento econômico. Diante do exposto, é natural entender que, cada vez mais o profissional musical almeja a difícil tarefa de estar entre as discussões sobre os caminhos da educação brasileira, contribuindo com a sua intervenção no sentido de apontar sugestões que, dentre muitas outras, colabora com o desenvolvimento psicossocial dos seres humanos. Deste modo, a inclusão da música no ambiente escolar não é mais algo tão distante ou apenas um privilégio das classes altas ou das escolas particulares, pois argumentado pelas novas pesquisas científicas, quando afirma que a música pode ser um artifício de grande valor positivo dentro das escolas, já está aprovado à lei “11.769/2008” que trata da obrigatoriedade da música nas escolas públicas e particulares brasileiras. A conclusão que emergimos aponta a aula de música com grandes perspectivas para com o desenvolvimento humano e precisa de fato ser respeitada no ambiente escolar, colaborando na construção de valores e atitudes, formando cidadãos conscientes de seu papel na sociedade. REFERÊNCIAS BASTIAN, Hans Gunther. Música na escola: a contribuição do ensino da música no aprendizado e no convívio social da criança. 1ª ed. São Paulo: Paulinas, 2009. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: artes. Brasília: MEC/ SEF, 1997. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: artes. Brasília: MEC/ SEF, 1998. FERREIRA, Martins. Como usar a música na sala de aula. 7ª ed., 2ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2009. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 35ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. MORIN, Edgar. Ética, Cultura e Educação / Alfredo Pen -Vega, Cleide R. S. de Almeida, Izabel Petraglia (orgs.). São Paulo : Cortez, 2001. PLATÃO. La République. Paris: Garnier – Flammarion, 1966. ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do Contrato Social. Enciclopédia Livros do Século XVIII, Filosofia, 1762. SACKS, Oliver. Alucinações musicais: relatos sobre a música e o cérebro. São Paulo: Companhia das letras, 2007. ZIMMERMANN, Nilsa. A música através dos tempos. 3ª ed. São Paulo: Paulinas, 2007.