INFECÇÃO PELO ZIKA VÍRUS E MALFORMAÇÕES DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL MOREIRA, Andréia de Santana Silva. Docente do Curso de Medicina Unifeso. DE OLIVEIRA, Paula Araújo Borba. Discente do curso de graduação em Medicina Palavras- Chaves: Zika vírus, Malformação do Sistema Nervoso Central, Microcefalia. INTRODUÇÃO No começo de 2015, um surto do vírus zika – um flavivírus transmitido pelo mosquito Aedes – foi identificado no nordeste do Brasil [SCHULER-FACCINI, jan2016]. O quadro apresentado pela infecção do Zika vírus é descrito como autolimitado, com duração em torno de 3-7 dias, sem complicações graves, baixa taxa de hospitalização. Formas graves e atípicas são raras, mas quando ocorrem podem evoluir para óbito, como registrado em Novembro de 2015 no Brasil [MINISTÉRIO DA SAÚDE, dez2015]. Acredita-se que maior parte da população infectada apresenta-se assintomática, porém quando o quadro é sintomático a clínica descrita é: exantema maculopapular, pruriginoso, febre intermitente, conjuntivite não purulenta e sem prurido, artralgia, mialgia, astenia, cefaleia[ D.FOY,maio2011]. Concomitante ao surto da infecção pelo Zika no início de 2015, principalmente no nordeste, ocorreu um aumento de relatos de microcefalia feito pelos médicos da mesma região. Tal fato fez com que o Ministério da Saúde levantasse suspeita de uma possível relação, entre Zika vírus e malformações do Sistema Nervoso Central. A microcefalia é definida como a medida da circunferência da cabeça menor ou igual a 2 desvios padrões abaixo da média para a idade gestacional e sexo da criança ao nascer [SCHULER-FACCINI, jan2016]. As consequências a longo prazo da microcefalia depende de anomalias cerebrais subjacentes, e pode variar de atrasos leves no desenvolvimento motor à graves e déficits intelectuais, podendo ocorrer paralisia cerebral e comprometimento da parte sensorial (visão/audição) [SCHULER-FACCINI, jan2016]. O objetivo deste trabalho é realizar uma revisão bibliográfica para compreender a associação entre Zika Vírus e microcefalia, apoiado em um relato de caso ocorrido em Teresópolis-RJ. METODOLOGIA O presente trabalho utiliza o referencial da pesquisa bibliográfica, afim de buscar informações sobre associação entre infecção por Zika Vírus e microcefalia, através de um levantamento realizado em base de dados nacionais e internacionais, com o objetivo de detectar o que existe de consenso ou de polêmico dentro do assunto para melhor compreensão do mesmo. Com este propósito foi efetuada uma revisão das publicações na área de saúde através da Biblioteca Virtual Bireme, tendo sido consultadas as bases de dados Medline e Scielo. Foram utilizados também artigos do PubMed e Portal Capes. Somente artigos destas fontes foram selecionados, devido à sua maior circulação no meio acadêmico e profissional. Sendo utilizados como descritores “zika vírus” e “microcefalia”. Para apoiar a discussão foi incorporado um relato de caso, ocorrido em Teresópolis- RJ em Fevereiro de 2016. RELATO DE CASO Paciente R.S.A, sexo feminino, 23 anos, moradora do munícipio de TeresópolisRJ, foi encaminhada pelo centro materno infantil para o ambulatório da UNIFESO com objetivo de realizar acompanhamento de pré-natal de alto risco, devido aparecimento de lâmina líquida no terceiro ventrículo na ultrassom do dia 06/10/15. Sua história social é composta por um relato de viagem à Salvador, durante o período de 13/06/15 a 05/07/15 e ao retornar apresentou um quadro virótico, que foi diagnosticado com Zika, pelo Instituto Fernandes Figueira (IFF), segundo informações da paciente. Foi atendida no Hospital das Clínicas de Teresópolis Constantino Ottaviano (HCTCO) no dia 22/11/15 devido um episódio de sangramento vaginal que evoluiu com melhora. Durante o acompanhamento do pré natal realizou todos os exames necessários, sendo que estes não obtiveram alteração exceto ultrassom morfológico que constatou microcefalia, devido diâmetro cefálico e diâmetro biparietal abaixo do percentil 5 para idade gestacional. DISCUSSÃO O Zika vírus é um arbovírus transmitido, no Brasil, pelo mosquito Aedes aegypti e Aedes albopictus. Pertence ao gênero Flavivírus, família Flaviviridae [ZANLUCA,jun2015]. Devido a poucos estudos ainda realizados, pouco se sabe sobre a patogênese da infecção pelo Zika vírus. Sabe-se até o momento que a infecção inicia-se pela fêmea do mosquito vetor, que ao se alimentar de sangue humano injeta o vírus na circulação do mesmo e segue infectando células da pele que são susceptíveis a este vírus [HAMEL,jun2015]. Além da infecção através do mosquito vetor, outras possibilidades de vias de transmissão têm sido estudadas, como a via sexual, transplacentária e por transfusão sanguínea EUROPEAN CENTRE FOR DISEASE PREVENTION AND CONTROL, maio2015. A confirmação laboratorial do Zika vírus pode ser feita através de RT-PCR, que é uma reação de transcriptase reversa seguida de reação em cadeia de polimerase. O exame ELISA, também é capaz de detectar anticorpos anti IgM e IgG contra o vírus, porém poucos laboratórios possuem essa capacidade. Além disso, há uma baixa viremia e uma sorologia cruzada com outros flavivírus, principalmente a dengue, o que dificulta a utilização deste exame [EUROPEAN CENTRE FOR DISEASE PREVENTION AND CONTROL, fev2014]. Foi identificado então, um surto de infecção pelo Zika vírus na região do nordeste brasileiro concomitante a um aumento de relatos de casos de microcefalia da mesma região. Desta forma iniciou um estudo em relação a uma possível associação entre esses acontecimentos [MINISTÉRIO DA SAÚDE, dez2015]. A suspeita da relação entre microcefalia e infecção pelo Zika vírus se deve ao fato do vírus ter sido detectado em líquido amniótico de 2 gestantes, no Brasil, e seus recém nascidos apresentaram diminuição da circunferência cefálica. O RNA viral também foi detectado em outros tecidos do corpo, incluindo o cérebro, de uma dessas crianças que acabou morrendo no período neonatal [SCHULER-FACCINI,jan2016]. Foi observado em fetos de mães que apresentaram Zika, um sistema nervoso central severamente afetado, dados da microscopia eletrônica que eram consistentes com detecção do Zika vírus no cérebro fetal. Partículas densas consistentes com Zika vírus foram vistos no retículo endoplasmático danificado. Grupos de estruturas com invólucro com um interior luminoso semelhante os restos de complexos de replicação que são característicos de flavivírus, indicam a replicação viral no cérebro. As conclusões sobre microscopia eletrônica sugerem uma possível persistência de Zika vírus no cérebro fetal, possivelmente por causa do meio imunologicamente seguro para o vírus [MALAKAR, mar.2016]. A associação entre infecção materna pelo Zika e anomalias congênitas tem sido reconhecida, devido fortes evidências. No entanto, não é possível afirmar que a presença do vírus durante a gestação leva, inevitavelmente, á microcefalia fetal. Estudos especiais, incluindo estudos de caso-controle, são necessários para confirmar a associação entre infecção pelo Zika vírus e malformações do sistema nervoso central, para determinar a magnitude do quadro e identificar outros possíveis fatores de risco [SCHULER-FACCINI, jan2016] [MINISTÉRIO DA SAÚDE, dez2015]. REFERÊNCIAS 1.EUROPEAN CENTRE FOR DISEASE PREVENTION AND CONTROL.Zika virus infection outbreak, brazil and the pacific region. Disponível em: <http://ecdc.europa.eu/en/publications/publications/rapid-risk-assessmentzika%20virus-south-america-brazil-2015.pdf>. Acesso em: 11 jan. 2016. 2..EUROPEAN CENTRE FOR DISEASE PREVENTION AND CONTROL.Zika virus infection outbreak, french polynesia. Disponível em: <http://ecdc.europa.eu/en/publications/publications/zika-virus-french-polynesia-rapidrisk-assessment.pdf>. Acesso em: 11 jan. 2016. 3. SAÚDE, Ministério Da. Protocolo de vigilância e resposta à ocorrência de microcefalia relacionada à infecção pelo vírus zika: Plano Nacional de Enfrentamento à Microcefalia no brasil. 1 ed. Brasília: Núcleo de Comunicação/SVS, 2015. 71 p. 4. THE NEW ENGLAND JOURNAL OF MEDICINE. Zika virus associated with microcephaly. Disponível em: <http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/nejmoa1600651>. Acesso em: 12 mar. 2016. 5.US NATIONA LIBRARY OF MEDICINE. Probable non–vector-borne transmission of zika virus, colorado, usa. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/pmc3321795/?tool=pubmed>. Acesso em: 21 dez. 2015. 6. US NATIONAL LIBRARY OF MEDICINE. Biology of zika virus infection in human skin cells. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/pmc4524089/?tool=pubmed>. Acesso em: 21 dez. 2015. 7. US NATIONAL LIBRARY OF MEDICINE. First report of autochthonous transmission of zika virus in brazil. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/pmc4501423/?tool=pubmed>. Acesso em: 21 dez. 2015.