S I A T E M S O técnica M I T Ó Dave Stewart N o mundo efêmero e de curta duração da música popular, é bom saber que existem certos elementos duradouros que resistiram ao teste do tempo. Um destes componentes duradouros é o arranjo clássico de metais de pop/soul, um item musical que mantém sua relevância, vivacidade e atrativo há mais de meio século. Embora eu não esteja aqui para ensinar história, vale a pena lembrar que muitos componentes fundamentais de arranjos de metais contemporâneos são baseados em um roteiro musical estabelecido nos anos 1960. Na metade dessa década, o cenário do soul nos EUA estava a todo vapor e as paradas estavam repletas de tracks inovadores de artistas como Otis Redding, Wilson Pickett e James Brown. Dê uma olhada no box ‘20 Arranjos Clássicos de Metais’ e você verá uma lista cronológica de gravações deste período que foram bastante influentes em moldar o desenvolvimento do arranjo de metais de pop. Note que eu estou usando a palavra ‘pop’ em seu sentido mais amplo, significando a vasta extensão da música popular (em vez de música clássica, ópera, 52 Metais Top Esta nova série de quatro partes explica tudo que você precisa saber sobre criar arranjos de metais para vários gêneros. música de gaita de fole armênia ou canto difônico tuvano). Isso obviamente abrange uma enorme quantidade de gêneros, mas, hoje em dia, é mais provável que você encontre metais baseados em soul nos gêneros contemporâneos de R&B, funk, Latin, urban, rap, hip-hop, ska, reggae, blues rock e pop mainstream (minhas desculpas para quaisquer estilos que eu tiver deixado de fora sem querer). Tendo dito isso, eu não gosto muito de categorização musical, então, se você quiser adicionar alguns metais de funk a uma composição de canto difônico tuvano tradicional, vá em frente - e boa sorte! Táticas de metais Nesta matéria, eu explicarei algumas ideias musicais básicas que aparecem em arranjos de metais de pop, com a intenção de lhe encorajar a criar os seus próprios arranjos avançados. Para auxiliar Edição 59 / w w w . s o u n d o n s o u n d . c o m . b r quem não sabe ler música, incluímos uma captura de tela de piano-roll do Logic Pro com cada exemplo musical. Quem sabe ler música deve lembrar que um ponto escrito em cima de uma nota colcheia indica que ela deve ser tocada como uma nota semicolcheia (isso evita incluir várias pausas trabalhosas). A não ser que você faça parte da minoria de músicos que sabe elaborar uma tabela de acordes e pode pagar músicos de sessão para gravá-las, você precisa de certas ferramentas para lhe ajudar: especificamente, uma DAW ou sequenciador hardware, alguns sons de metais apropriados (veja a seção ‘Mandadas’ mais adiante) e um teclado MIDI no qual tocar as suas ideias. Se você não toca teclado, um controlador de guitarra ou instrumento de sopro MIDI serve, mas note que o segundo só pode tocar linhas únicas, não acordes. técnica a r r a n j o s pa r a m e ta i s Alguns compositores para filmes e TV contornam o problema de teclado inserindo notas diretamente na página de partitura de seu sequenciador software. Embora já tenha ouvido esboços de orquestra convincentes que foram criados desta maneira, eu não recomendo isso para composição de metais de pop - este material depende, em grande medida, de sensação humana, então funciona melhor quando tocado em um instrumento, e não por meio de uma série elaborada de cliques do mouse. Bancando o advogado do diabo, existe outra maneira menos trabalhosa de lidar com a tarefa: você pode seguir o exemplo de Prodigy e Sugababes e samplear um arranjo de metais de uma gravação antiga, como estes conjuntos fizeram (respectivamente) com ‘Stand Up’ (incluindo o intervalo instrumental alto e antêmico de ‘One Way Glass’ da banda Manfred Mann Chapter) e ‘Girls’, que faz uso liberal de uma frase de metais extremamente cativante de ‘Here Come The Girls’ de Ernie K-Doe. Entretanto, a não ser que você tenha um convincente advogado especialista em música e bastante dinheiro para acalmar os detentores de direitos originais, é melhor evitar esse caminho. Uma abordagem menos legalmente perigosa é comprar uma biblioteca de samples de frases de metais prégravadas e colá-las sobre um track de apoio na sua DAW. Embora seja fácil de fazer e aparentemente gratificante, essa abordagem trivial carece de criatividade e costuma inverter a situação - você acaba tentando fazer o seu track combinar com as frases, e não o contrário. É muito melhor usar a sua imaginação, pensar em alguns riffs de metais próprios e tocá-los no seu sequenciador, mesmo se você precisar fazer isso um compasso de cada vez, tocando devagar com um dedo (não há nenhuma vergonha nisso). Pelo menos assim você não repetirá as mesmas frases pré-gravadas igual a todo mundo! 20 Arranjos Clássicos de Metais Eis um ‘Top 20’ de gravações datando de meados dos anos 1960 que apresentam arranjos de metais icônicos. Frequentemente criados na hora pelos músicos na sessão de gravação, estas partes de metais enganosamente simples, mas muito cativantes, definiram um modelo musical que perdura até hoje. A audição destes tracks é recomendada para todos os arranjadores de metais aspirantes e para fãs da era de ouro do soul! 1. ‘Dancing In The Street’ (Martha & The Vandellas) 1964 2. ‘Papa’s Got A Brand New Bag’ ( James Brown) 1965 3. ‘In The Midnight Hour’ (Wilson Pickett) 1965 4. ‘I Can’t Turn You Loose’ (Otis Redding) 1965 5. ‘I Got You (I Feel Good)’ ( James Brown) 1965 6. ‘Rescue Me’ (Fontella Bass) 1965 7. ‘Uptight (Everything’s Alright)’ (Stevie Wonder) 1965 8. ‘Hold On I’m Comin’’ (Sam & Dave) 1966 9. ‘Land Of 1000 Dances’ (Wilson Pickett) 1966 10. ‘Knock On Wood’ (Eddie Floyd) 1966 11. ‘Road Runner’ ( Junior Walker & the All Stars) 1966 12 ‘Mustang Sally’ (Wilson Pickett) 1966 13. ‘Respect’ (Aretha Franklin) 1967 14. ‘Soul Man’ (Sam & Dave) 1967 15. ‘Tell Mama’ (Etta James) 1967 16. ‘Dance To The Music’ (Sly & the Family Stone) 1967 17. ‘Hard to Handle’ (Otis Redding) 1968 18. ‘It’s Your Thing’ (The Isley Brothers) 1969 19. ‘Vehicle’ (The Ides Of March) 1970 20. ‘Move On Up’ (Curtis Mayfield) 1970 Se você conseguir encontrá-la online, escute a agitada versão de ‘I Can’t Turn You Loose’ no programa de TV ‘Ready Steady Go!’ do Reino Unido de 1966. Instrumentação Metais de pop usam terminologia e instrumentação diferentes de metais de orquestra (‘de música clássica’). No mundo do pop, trompetes, trombones e saxofones são misturados, com todos os instrumentos chamados indistintamente de ‘horns’ (ou seja, “metais”). Em círculos de orquestra, ‘horn’ significa trompa, aquele complexo pedaço de tubo redondo com uma grande campânula cônica e bocal saliente. Alguns compositores modernos usam saxofones em obras sinfônicas, mas uma seção de metais de orquestra tradicional contém apenas trompetes, trombones, trompas e tubas. Esta diferença crucial marca a principal distinção entre metais de orquestra e de pop: sem o timbre distinto, fino e um pouco estridente do saxofone, metais de música clássica têm uma qualidade tímbrica pura, homogênea e refinada que evoluiu ao longo de centenas de anos. Em comparação, uma seção de metais de pop é basicamente uma invenção do século XX que, por causa dos saxes, pode produzir um som mais harmonioso, Este multi do Kontakt usa dois instrumentos solo da biblioteca de samples Chris Hein Horns Vol. 2. Uma mandada de sustentação de trompete é sobreposta com um trompete de staccato para reforçar o attack. Com as duas mandadas configuradas no mesmo canal de MIDI, notas curtas tocadas produzem um efeito de staccato, enquanto notas mais longas acionam um som sustentado com um forte attack. Neste multi, a mesma técnica é aplicada a um saxofone tenor solo (operando em um canal de MIDI diferente das mandadas de trompete). w w w . s o u n d o n s o u n d . c o m . b r / Edição 59 53 técnica A r r a n j o s pa r a m e ta i s O saxofone está presente por padrão na maioria das seções de metais de pop/soul, enquanto que sua presença em conjuntos de orquestra é mais incomum. complexo, insinuante e sensual. Conjuntos de metais contemporâneos variam de tamanho de um único músico (normalmente um músico de trompete, trombone ou sax) até cinco metais (trompete, sax alto, sax tenor, trombone e sax barítono). A instrumentação e os tamanhos de seção variam: é comum ouvir um único músico de metais tocando um solo de jazz ao longo de um track, enquanto muitas bandas incluem apenas dois músicos - exemplos típicos incluem trompete e sax, trompete e trombone e dois saxes. Trios de trompete, sax alto e tenor também são comuns. A única regra que podemos aplicar aqui é dizer que uma seção de mais do que cinco músicos está entrando no território de big band de jazz, o que é algo que eu tratarei mais tarde nesta série. Mandadas Como primeiro passo em direção a criar um arranjo de metais, eu sugiro usar um som de trompete, pelo simples motivo de que muitas vezes um trompete toca a parte mais alta em um arranjo, e é esta linha superior que se comunica com os ouvintes e dá ao arranjo sua personalidade. Se você estiver usando um teclado ou instrumento 54 virtual de DAW como a sua fonte de som, tente encontrar um trompete solo de som simples com um attack forte e uma sustentação uniforme. Talvez você precise passar por dúzias de presets de metais de orquestra fracos para encontrá-lo, mas provavelmente existirá um trompete ali com a energia, atitude e attack corretos. Além de oferecer um conjunto de trompetes solo, as estações de trabalho de teclado de hoje em dia normalmente contêm mandadas de seção de trompete de dois músicos ou mais. Para os propósitos de esboçar um arranjo, é aceitável usar tal mandada, contanto que os instrumentos nela sejam tocados em uníssono (ou seja, todos os trompetes tocam a mesma nota). Você deve evitar presets de ‘metais de pop’ que incluem uma mistura de instrumentos diferentes, e nunca use mandadas com oitavas embutidas, já que elas ficam terrivelmente confusas quando você constrói acordes e linhas de harmonia. Se você não tiver certeza se está ouvindo oitavas, compare o preset em questão com uma mandada de trompete solo e escute cuidadosamente para tentar encontrar indícios de uma nota mais baixa abaixo do pitch principal. Eu também não recomendo o uso de mandadas e samples com acordes embutidos, já que eles ficam muito óbvios e lhe impedem de criar os seus próprios voicings de acordes! A alternativa a trabalhar com um teclado ou instrumento de DAW é usar uma biblioteca de samples; eu listei alguns exemplos em um box nesta matéria. Embora instrumentos sampleados tenham o potencial para soarem mais realistas e profissionais do que uma mandada de sintetizador, eles exigem mais esforço do usuário. O primeiro obstáculo é navegar por listas intermináveis de mandadas para encontrar um simples trompete solo tocável: bibliotecas de samples de metais de pop invariavelmente oferecem uma opção de notas sustentadas e entregas de staccato curtas, além de outros estilos com nomes obscuros como ‘decrescendo’, ‘trinado’ ou ‘crescendo’, que eu explicarei em uma futura matéria. Para começar, um trompete solo convencional é suficiente. Já que estou no assunto de instrumentos baseados em samples, eis uma dica útil: ao trabalhar com samples, você pode reforçar attacks de notas sobrepondo uma mandada de staccato ou marcato em uma mandada de sustentação. Configure as mandadas de Edição 59 / w w w . s o u n d o n s o u n d . c o m . b r Exemplos 1 a 5. Não seja enganado pela simplicidade destas batidas de nota única e notas duplas - elas podem ser muito eficientes. staccato e sustentação para o mesmo canal de MIDI e faça experimentações com seus volumes relativos para obter a combinação ideal. (O truque nem sempre funciona, mas, com sorte, você acabará tendo uma combinação geral que você pode usar para notas curtas e longas.) Pontuação Se escutar alguns arranjos clássicos dos anos 1960 listados no box já mencionado, você notará que, na verdade, os músicos de metais não tocam muito; depois de começar a canção com um forte tema melódico, muitas vezes eles ficam em segundo plano e só reaparecem no intervalo instrumental intermediário. Quando eles tocam, muitas vezes as partes são esparsas e simples, deixando bastante espaço para o vocal. Wayne Jackson da The Memphis Horns (uma dupla de trompete e sax que escreveu e tocou as partes de metais em várias gravações da nossa lista) resumiu a filosofia da seguinte técnica a r r a n j o s pa r a m e ta i s Exemplos 6 e 7. Frases de notas repetidas como estas prendem a atenção do ouvinte. maneira: “Não atrapalhe o cantor.” Sábias palavras. Felizmente, você pode evitar isso mantendo o seu arranjo de metais adequado e simples nas passagens em que o vocalista estiver cantando: espere a linha de vocal acabar (por exemplo, no final de um refrão) e depois insira uma acentuação de nota única de staccato alta - parabéns! Você acabou de criar o seu primeiro arranjo de metais. Outros exemplos desta pontuação rítmica de nota única são mostrados nos exemplos dois a cinco. Você pode colocar as acentuações simples de batidas duplas mostradas nos exemplos dois e três mais ou menos em qualquer lugar no compasso, enquanto os exemplos quatro e cinco também são boas frases rítmicas gerais. Além de ser a maneira perfeita de adicionar um ‘ponto de exclamação’ musical ao final de uma linha de vocal, tais interjeições acentuadas são concisas o suficiente para inserir atrás de um vocal sem risco indevido de ofuscar o cantor. Entretanto, se você quiser que os metais toquem um tema rítmico que chame mais atenção, qualquer uma das frases de notas repetidas nos exemplos seis e sete representa uma maneira dramática de terminar uma passagem. Frases melódicas curtas Exemplos 8 a 12. Cinco riffs melódicos curtos, com os dois últimos apresentando uma nota sustentada no final. Podemos estender esta ideia inserindo um pouco de movimento melódico nas nossas frases rítmicas: os exemplos oito a 12 mostram cinco exemplos de frases melódicas curtas, sendo que as duas últimas apresentam uma nota sustentada no final do riff. Para estes exemplos, eu usei a escala de notas brancas em Ré menor de Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si e Dó (exemplo 13); para obter um efeito mais forte e mais sério, você pode excluir o Mi e o Si e usar a escala de blues pentatônica em Ré menor de Ré, Fá, Sol, Lá e Dó (exemplo 14). Se quiser, você pode adicionar a nota extremamente de blues de Lá bemol, usada tradicionalmente como nota de passagem para os pitches adjacentes de Lá ou Sol. Frases simples de blues soam bem em metais de pop, o que é um lembrete de onde o estilo musical fundamental veio de fato, a escala de blues é um som tão familiar neste contexto que você pode até inserir ocasionais frases de blues em tom menor sobre um acorde maior sem que isso soe incorreto! Você notará nestes exemplos que muitas vezes existem espaços entre as notas e que algumas frases terminam antes do final do compasso. Estes espaços e pausas são importantes: eles definem a forma rítmica de frases, abrem espaço para outros instrumentos e ajudam a enfatizar o contraste entre notas longas e curtas que é uma característica muito importante da composição de metais. Ao criar um arranjo, você deve prestar muita atenção em onde você começa e acaba notas, já que isso tem um impacto significativo na sensação geral. Fortes temas melódicos Em algum ponto em um arranjo, os metais devem ficar em destaque e se sobressair; caso contrário, não faz sentido tê-los. As ótimas gravações da época do soul eram comandadas por melodias de metais memoráveis. Como Wayne Jackson disse: “Talvez no meio da canção, os metais tocam um tema tão forte que fica inesquecível.” Esse certamente foi o caso com ‘Knock On Wood’, ‘In The Midnight Hour’ e ‘Hold On I’m Comin’’, sendo que todas incluem introduções e pontes de metais empolgantes e irresistivelmente cativantes. Se quiser voltar no tempo e compor um intervalo de metais tão incrivelmente melódico que as pessoas farão fila para sampleá-lo pelos próximos 50 anos, você deve obedecer à regra de ouro e mantê-lo simples. Como diz o velho clichê, menos O exemplo 13 mostra uma escala white-note em Ré Menor de Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si e Dó usadas nos exemplos 8-12, com o exemplo 14 mostrando uma escala de Ré Menor pentatonica blues em Ré, Fá, Sol, Lá e Sol. A “blue note”adicional lá bemol (em parenteses) é tradicionalmente usada como passagem entre vindo do Lá ou Sol. w w w . s o u n d o n s o u n d . c o m . b r / Edição 59 55 técnica A r r a n j o s pa r a m e ta i s A escala pentatônica em Ré maior de Ré, Mi, Fá sustenido, Lá e Si tem um som alegre, simples e proclamatório. é mais - em vez de incluir todas as notas existentes, você pode se restringir à escala pentatônica em Ré maior de Ré, Mi, Fá sustenido, Lá e Si (exemplo 15), que tem um som alegre, simples e proclamatório. Os exemplos 16 e 17 são exemplos de fortes frases melódicas criadas com esta simples escala maior de cinco notas. Obviamente, escolher a escala correta para as suas melodias depende dos acordes usados na música, mas, como muitas canções incluindo metais de pop são baseadas em simples sequências de acordes homogêneas, é possível compor melodias que permanecem na mesma escala maior ou menor durante a canção inteira. Isso tem semelhanças no mundo do rock, onde muitas vezes os guitarristas Estas frases melódicas fortes foram criadas com a simples escala maior pentatônica de cinco notas em Ré maior (veja o exemplo 15). repetem a mesma frase durante um conjunto de mudanças de acorde (com, é preciso ser dito, resultados ocasionalmente dolorosos). A canção ‘One Way Glass’ já mencionada é um bom exemplo: durante uma sequência de acordes de (por exemplo) Ré, Dó, Sol e Ré, a linha de metais permanece em uma escala maior de seis notas de Ré, Mi, Fá sustenido, Sol, Lá e Si (nenhuma sétima é usada). Portanto, a maravilhosa melodia largamente pentatônica que surge não deve seu sucesso a uma série de notas de jazz, e sim a um tema melódico forte, focado e intencionalmente simples com um ótimo ritmo cativante. Adicionando uma parte mais grave Como mencionado anteriormente, muitas bandas incluem uma seção de metais de trompete e sax tenor. Apesar 56 Timing de seu tamanho, este conjunto modesto pode fazer um som alto, e esse som é fácil de obter: simplesmente duplicamos a parte de trompete com um sax tenor tocando uma oitava abaixo. Sendo um instrumento fisicamente maior e de pitch mais baixo, o sax tenor teria dificuldade de tocar uma melodia no registro alto do trompete, mas abaixar sua parte em uma oitava funciona muito bem, adicionando força, aspereza e coloração (e, para passagens mais comedidas, um timbre intermitente e aveludado) ao timbre puro e estridente do trompete. As extensões de execução do trompete e do sax tenor são mostradas abaixo. Além de reforçar a parte de trompete, o sax tenor pode adicionar harmonias simples sob uma linha superior. Eu vou falar mais sobre este assunto na matéria do mês que vem, mas, por enquanto, eu lhe deixarei com a frase de funk do exemplo 18 - este motivo fantástico (que eu sempre associo ao James Brown) Ao sequenciar as suas partes de metais, eu recomendo que você não use quantização (a correção automática de notas de acordo com um grid de timing exato). Embora seja ótimo que linhas de baixo, percussão e baterias programadas e algumas partes rítmicas de sintetizador ou teclado sejam quantizadas, outros elementos do track precisam manter seu timing humano natural, senão tudo acaba soando mecânico e computadorizado. Um aspecto negativo desta abordagem naturalista é que erros de timing óbvios inevitavelmente ocorrem de vez em quando. A maneira para lidar com isso é usar o editor de notas do seu sequenciador para localizar as notas problemáticas e arrastá-las para frente ou para trás no tempo, usando movimentos pequenos, até elas parecerem corretas com o track. Não seja enganado a pensar que um evento que fica exatamente na batida deve é baseado em um intervalo de quinta abemolada (também conhecido como ‘trítono’) que oscila rapidamente para cima e para baixo em um semitom. Neste caso específico (composto no tom de Lá), a linha superior de trompete alterna entre uma terça menor e maior (Dó e Dó sustenido), enquanto o sax tenor abaixo se move entre uma sexta e uma sétima abemolada (Fá sustenido e Sol). Você pode inverter os intervalos para que a sexta e a sétima toquem a linha superior com as terças arranjadas abaixo, como mostrado no exemplo 19. estar ‘correto’ - com muita frequência, uma entrada um pouco atrasada ajuda a criar uma sensação descontraída e notas tocadas um pouco antes da batida podem adicionar urgência e empolgação. O segredo aqui (se é que se pode ser chamado assim) é não contar com os seus olhos, e sim usar os seus ouvidos. Se você estiver ajustando o timing de um acorde, é boa prática preservar a posição relativa de suas notas componentes selecionando todas elas e as movendo como uma unidade - assim, você preserva as minúsculas diferenças Exemplo 18. Enquanto a linha superior de trompete alterna entre uma terça menor e maior, o sax tenor abaixo se move entre uma sexta e uma sétima abemolada. Os intervalos no exemplo 18 podem ser invertidos, para que a sexta e a sétima toquem a linha superior com as terças arranjadas abaixo. Edição 59 / w w w . s o u n d o n s o u n d . c o m . b r técnica a r r a n j o s pa r a m e ta i s de timing entre pitches que ocorrem naturalmente em um acorde tocado. Isso pode parecer metódico ou exigente, mas este tipo de questões sutis de microtiming pode ter um efeito cumulativo sobre a sensação rítmica geral. Reunindo os elementos Para ilustrar como as várias interjeições acentuadas, frases rítmicas e linhas de melodia já descritas podem ser combinadas em um conjunto coerente, eu criei o arranjo de metais mostrado no exemplo 20 - ele está no tom de Ré, usa um ritmo de 115bpm e é baseado em uma sequência simples de 12 compassos, como o refrão do single ‘Mercy’ de 2008 da Duffy (e, antes disso, inúmeras canções de blues desde o início dos tempos). Eu optei intencionalmente por uma sensação retrô neste arranjo para demonstrar como frases clássicas de soul podem ser sequenciadas. Um arranjo contemporâneo provavelmente focaria mais em figuras rítmicas sincopadas à custa do material melódico - esta mudança estilística reflete a evolução do soul dos anos 1960 aos estilos de funk dos anos 1970 mais baseados em notas semicolcheias que perduram até hoje. Esta míni composição funciona bem com trompete tocando a linha superior e sax tenor duplicando a mesma parte uma oitava abaixo (exceto para os acordes nos compassos seis, nove, 10 e 12, onde o sax toca as harmonias mais baixas). Eu incluí as mudanças de acorde onde elas ocorrem - note que, embora estes acordes sejam nominalmente maiores, a linha de metais frequentemente apresenta uma terça menor (Fá), o que cria um pouco de tensão harmônica e uma ótima sensação de blues. O arranjo começa de maneira tradicional com um forte tema melódico - tomara que você também reconheça algumas das outras ideias musicais já descritas nesta matéria Metais na sua DAW Ao procurar sons de metais ‘de pop’ para usar na sua DAW, tente evitar bibliotecas de orquestra. Embora algumas contenham estilos de execução que podem funcionar em um contexto de pop, suas entregas normalmente não possuem a atitude ousada e desinibida necessária para o pop e seus menus de articulação e instrumentação provavelmente conterão omissões significativas. Abaixo listamos algumas das melhores bibliotecas e instrumentos de metais que apresentam estilos de execução com keyswitching otimizados para pop, soul, R&B, funk e big band de jazz. Todos eles foram bem recebidos pela comunidade de sampling e, com programação inteligente, adicionam realismo e cor às suas tabelas de metais. (Avaliações da SOS em parênteses). Instrumentos de samples • Chris Hein Horns Vols. 1-4 • Big Fish Audio First Call Horns (http://sosm.ag/big-fish-firstcall-horns) • Big Fish Audio Vintage Horns • Fable Sounds Broadway Big Band (http://sosm.ag/fablesounds-broadway) • Vir2 Instruments Mojo Horn Section (http://sosm.ag/vir2-mojo-horns) • Native Instruments Session Horns (http://sosm.ag/ni-session-horns) Instrumentos modelados A Sample Modelling oferece um conjunto impressionante de instrumentos solo, incluindo Trumpet, Trombone e vários saxofones (http://sosm.ag/sample-modelling-trumpet e http://sosm.ag/samplemodelling-solo-wind-brass). Bibliotecas de frases Eu não gosto muito de frases pré-gravadas, mas recomendo a biblioteca de samples Memphis Horns (http://sosm.ag/memphis-horns), criada por Wayne Jackson (trompete) e Andrew Love (sax tenor). Gravados pelos caras que definiram o estilo, este abrangente léxico de frases de metais de soul tem a vantagem de total autenticidade e também é um ótimo recurso educativo. simultaneamente falo sobre estilos de metais datando de meio século atrás, mas veja bem: como eu disse no começo da matéria, em vez de serem artefatos esquecidos varridos pelas marés do tempo, os preceitos musicais históricos dos metais de pop sobrevivem em arranjos modernos, continuam soando legais e mantêm uma ligação vital com o passado que seria insensato ignorar. Compreenda também que esta matéria é planejada como uma introdução: da mesma maneira que você aprenderia alguns acordes e algumas escalas básicas em um instrumento e tocaria um blues de 12 compassos antes de passar para uma tabela de jazz complicada, os simples exemplos musicais mencionados são planejados como pontos de partida dos quais, tomara, você pode prosseguir para construir os seus próprios arranjos. Em outras palavras, você precisa aprender a andar antes de conseguir correr, e eu espero que esta matéria ajude a fornecer um pouco de progresso! No mês que vem, eu vou apresentar os instrumentos de metais mais graves, explorar o maravilhoso mundo do funk, falar sobre como construir acordes para conjuntos de metais maiores, dar uma olhada no papel de keyswitches em bibliotecas de samples de metais e examinar maneiras de adicionar expressão e realismo a mandadas de metais de sintetizador e instrumentos de metais sampleados. Eu também vou dar algumas dicas sobre como guitarristas, baixistas, tecladistas e bateristas podem adaptar suas partes para integrá-las com sucesso a uma seção de metais. Retrô versus novo Pode parecer contraditório que eu enfatize a necessidade por raciocínio musical criativo e original enquanto Este arranjo de metais de 12 compassos de estilo retrô no tom de Ré mostra como interjeições acentuadas, frases rítmicas e linhas de melodia podem ser combinadas em um conjunto coerente. Um trompete toca a linha superior, com o sax tenor duplicando a parte de trompete uma oitava abaixo (exceto para os acordes nos compassos 6, 9, 10 e 12, onde o sax toca as harmonias mais baixas). w w w . s o u n d o n s o u n d . c o m . b r / Edição 59 57