Respeitar o direito de índios e populações tradicionais ajuda o clima Tags: Andrew Steer, Andty White, aquecimento global, Combating Climate Change: How Strengthening Community Forest Rights Mitigates Climate Change, COP do Clima, desmatamento, direitos, efeito estufa,Lima, populações tradicionais, povos indígenas, RRI, Securing Rights, WRI Q ue proteger florestas combate o aquecimento global não é nenhuma novidade. A notícia é que a relação entre conservar as matas e reduzir o efeito estufa acaba de ganhar um estudo aprofundado, com medições e cálculos que incluem na equação um novo elemento: os direitos das populações tradicionais e dos povos indígenas. Pesquisadores do World Resources Institute (WRI), em parceria com o Rights and Resources Initiative (RRI), uma coalizão global de mais de 140 organizações internacionais, regionais e comunitárias, demonstraram que fortalecer os direitos das populações às florestas e terras onde vivem, além de garantir benefício social essencial a essas pessoas, constitui um instrumento altamente eficaz para o controle climático. Isso porque as matas onde essas pessoas vivem e das quais dependem armazenam 37,7 bilhões de toneladas de carbono, o equivalente a 29 vezes as emissões anuais de todos os usuários de veículos no mundo. Essa é a principal conclusão do estudo a ser lançado em Washington, D.C., em 24 de julho, intitulado Securing Rights, Combating Climate Change: How Strengthening Community Forest Rights Mitigates Climate Change (ou “Garantindo Direitos, Combatendo a Mudança Climática: Como Fortalecer os Direitos Florestais Comunitários Reduz a Mudança Climática”. O relatório foi preparado com os olhos voltados para a COP do Clima (conferência das Nações Unidas sobre mudança climática) que será realizada em Lima, no Peru, no final deste ano. O desafio – imposto a toda a humanidade – é evitar que o aumento da temperatura global ultrapasse dois graus Celsius nas próximas décadas, o que causaria efeitos catastróficos. Os pesquisadores valeram-se de dados de mapeamento de alta resolução em 14 países com áreas florestais bastante significativas, como Brasil, Indonésia e Colômbia. Somente no Brasil, 12 bilhões de toneladas de emissões de dióxido de carbono seriam evitadas se houvesse um fortalecimento nos direitos de povos indígenas e populações tradicionais capaz de impedir o desmatamento de 27,2 milhões de hectares até 2050. Esse fortalecimento poderia se dar pela consolidação de áreas protegidas e pelo combate ao desmatamento ilegal e à exploração nãosustentável de empresas extrativistas. Para Andrew Steer, presidente do WRI, "cada líder, ministro e negociador climático deveria prestar atenção a essa importante estratégia, frequentemente negligenciada, para lidar com a mudança climática". "É uma abordagem que deveria estar no mesmo patamar do Redd+ [redução de emissões por desmatamento evitado] ou da busca de eficiência energética", afirmou em comunicado à imprensa. “Ninguém tem mais interesse na saúde das florestas do que as comunidades que dependem delas para a sua subsistência e cultura”, afirmou Andy White, coordenador do RRI, também em material divulgado à mídia. “Por diversas vezes, pesquisas mostraram que direitos de propriedade claros e garantidos para as populações indígenas e comunidades locais aumentaram imensamente a capacidade dos países de proteger e reflorestar suas florestas. É trágico que isso ainda não tenha sido completamente adotado como estratégia central de mitigação da mudança climática.” O relatório traz cinco recomendações básicas aos governos: 1. Fornecer às comunidades o reconhecimento legal de direitos florestais; 2. Impor direitos florestais comunitários, como o mapeamento de fronteiras e a expulsão de invasores; 3. Fornecer assistência técnica e treinamento para comunidades florestais para melhorar o uso sustentável de florestas e o acesso ao mercado; 4. Envolver as comunidades florestais na tomada de decisões em relação a investimentos que afetem suas florestas; e 5. Compensar as comunidades pelos benefícios climáticos e outros benefícios fornecidos por suas florestas. As florestas do mundo estão sendo destruídas a uma taxa de 50 campos de futebol por minuto. O desmatamento e outras mudança no uso da terra representam 11% das emissões totais de dióxido de carbono.