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Ser Pop É “Ser Tanejo”?
Por: Fabio Noogh (21/02/2017)
Campus Party 2017. Foto: Francis Farago
Nos últimos dias, a Rede Jovem Pan FM anunciou que tocará
sertanejo pop em sua programação. A mudança no segmento causou
um furdúncio no meio e foi assunto “pra mais de metro” nas
redes sociais.
Mas ser ou não ser, é a questão?
Tocar ou não tocar um certo tipo de música em determinada
emissora de rádio ou TV é algo tão relevante que mereça o
levante duma bandeira, causa ou passeata?
Sinceramente, acho a polêmica um desperdício de tempo útil.
Pense: faz pelo menos uns 25 anos que a internet descabelou
gravadoras, produtoras, emissoras, o mercado musical (vamos
chamá-los de “os Grandes”) a ponto de muitos deles terem
fechado as portas, isso quando não tiveram que rebolar para
sobreviver. Agora pense um pouco mais: desde quando e por
acaso, com todas estas fontes “monetárias-comerciais”
abaladas, algum músico/artista/maluco, de qualquer estilo
musical, parou de produzir música?
Não, né?
Entenda o seguinte – parte 1:
Músico (instrumentista, letrista, compositor etc) é igual a
barata: no melhor sentido da bichinha, é uma raça persistente.
Pode cair o mundo que ele vai continuar escrevendo,
produzindo, tocando e cantando, não só por que é da nossa
natureza, mas porque SEMPRE HAVERÁ ALGUÉM PARA ESCUTÁ-LO. Essa
é a primeira lei incontestável da audiência. Não existe música
“ruim”. O que existe é apreciador para tudo quanto é tipo de
coisa, e não adianta tentar convencer fulano que música X é
péssima por causa daquilo e tal, pois como disse o sábio “a
beleza está no olho de quem a vê” – seja ela como for…
Entenda o seguinte – parte 2:
Se por um lado a internet ferrou “os grandes”, por outro ela
democratizou a música (e os gêneros musicais) de tal maneira
que hoje todo mundo pode ouvir tudo o que quiser ao toque de
um dedo! E isso não é sensacional? Claro que é! Lembra que
antigamente você só conseguia ouvir aquela música que você
gostava quando, às vezes, ela tocava de supetão em uma ou
outra rádio? Hoje você a tem na hora que quiser até enjoar no
seu celular ou pendrive, de modo legal ou pirata (que é coisa
feia, mas isso a gente discute outra hora) e já já vão
inventar de implantá-la no seu cérebro.
A democratização que a internet propôs te permite ser o dono
da sua playlist sem esperar que alguém a toque. “Ah, perdeu a
graça aquela expectativa de esperar pra ouvir a música na
rádio”. Bitch, get over it. A vida é assim agora e ser feliz
hoje é muito mais bacana quando você corre atrás de algo e faz
por merecer, mais até do que aquele conforto retrô de quando
esse algo cai no teu colo de mão beijada. Arrume uma internet
boa e seja feliz com seu streaming, Spotify, iTunes ou do
gênero.
Antigamente, você tinha meia dúzia de “conjuntos musicais”
(como diziam nossos pais) que era quase como time de futebol –
tu só podias gostar de um, jamais de outro. Quem era
Beatlemaníaco não podia ser Rollingstoner, o Rei era Elvis ou
Roberto, ou era Pelé ou Maradona. Era que nem o highlander: só
podia haver um. Fosse como fosse, o lance é que havia milhares
de fãs para poucos artistas conhecidos só por rádio,
eventualmente por discos e depois TV. Hoje, no entanto, a
disputa não é de fã por bandas, mas sim de bandas por fãs.
Antigamente tinha meia dúzia de bandas para milhões de fãs.
Vivemos uma inversão. Há um ouvinte para milhões de bandas.
Qual artista não quer uma fatia deste bolo, um lugar ao sol
(ou som alheio) e ser bem quisto, comprado, mais até do que
idolatrado? Não, NÃO EXISTE MAIS ESPAÇO PARA IDOLATRIA – o
mundo quer deuses e exemplos alcançáveis, Stevens Tylers que
cantam com buskers no meio da rua (mesmo que sendo meio
armado), que desçam de seus pedestais, vistam sandálias da
humildade e continuem tocando corações com músicas bacanas,
mais do que necessariamente em determinada emissora – o que
nos faz voltar ao assunto original desse devaneio musical.
Resumo da ópera:
1) Você não deve gostar de tudo, mas tem que parar de se
preocupar com o que os outros devem ou não gostar!
2) Não chore pitangas porque sua rádio favorita mudou de
estilo. Elas vêm e vão, renascem em Cristo ou no rock, como A
Rádio Rock, que demorou, mas ressucitou – o que importa é você
se adaptar a novos e melhores rumos (leia-se que te agradem e
façam feliz). Mudar te obriga a ser pra melhor, até escolher
uma nova emissora que te apeteça.
3) Valorize os profissionais do meio musical, seja comprando
suas músicas ou indo a seus shows, principalmente aqueles que
não têm condições de expor seus materiais no mainstream. Para
isso, temos que nos tornar mais curiosos e melhores
apreciadores musicais, não como meros críticos, depreciando
certo estilo ou música, mas valorizando de fato aquelas que
mexem com o teu brio, que te arrepiam, te façam rir ou se
emocionar, pelo batidão, pelo vozeirão doce ou rasgado, pelo
groove do baixo, o solo da cuíca, do violino ou da guitarra.
Mais do que nunca, hoje quem dita as regras é você, ouvinteapreciador: ligue, mande whatsapp, e-mail, sms para as rádios,
canais de TV, de Youtube, gravadoras e peça suas músicas
favoritas. Agregue, interaja, provoque e incentive as mídias,
os meios e os artistas que vocês mais curtem a produzirem
músicas como as que vocês já gostam. No final, é tudo sobre
como a música te faz sentir: no caso, pra mim, o que importa é
ser feliz, com a cabeça leve e ter paz de espírito, curtindo
aquela música bacana, treinando, meditando, cantando, dançando
ou curtindo com quem você mais gosta!
A vida sempre muda, portanto adapte-se e let the music play!
*pitacos e edição mestre da minha querida Patrícia Pasquini!
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