Maria Valdete Lira Aluna de Graduação do curso de Geografia da Universidade Federal do Ceará. Email: [email protected] Vanda Claudino-Sales Professora Adjunta do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará e do Programa de Doutorado em Geografia da Universidade Federal de Pernambuco. Email: [email protected] EVOLUÇÃO MORFOESTRUTURAL E USO E OCUPAÇÃO: O CASO DO FRONT NORTE DA SERRA DA IBIAPABA, CEARÁ. INTRODUÇÃO O relevo é um importante componente do meio natural e apresenta uma diversidade de formas (ROSS, 2005), as quais se originaram por ação de uma variedade de processos que vêm ocorrendo ao longo do tempo geológico. Por isso, o relevo expressa a organização da paisagem natural, ao mesmo tempo em que determina o seu potencial de exploração, pois, o potencial de exploração de determinado local depende das formas presentes, tal é o que ocorre na área de estudo. Figura 01: Mapa de Localização A área de estudo está localizada no noroeste do Estado do Ceará, próximo à divisa com o Estado do Piauí (FIG. 1). Ali é encontrado um grupo de serras cristalinas com altitudes máximas da ordem de 750m – são elas as serras da Ubatuba, Timbaúba, São Joaquim e Dom Simão. Esses relevos montanhosos, do ponto de vista climático, representariam área propícia à ocupação social, pois apresentarem índices pluviométricos elevados em relação às condições de semi-aridez que caracterizam a parcela mais significativa do território do Ceará, incluindo os interflúvios. Condições climáticas não muito severas são elementos que de certa Estágio da pesquisa: Trabalho de Graduação em Bacharelado em Geografia. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 1 forma determinam a relação da sociedade com o meio físico, pois esta é parcialmente definida pelas características naturais da área, já que existe um grau de (in) tolerância do homem em se adequar ao ambiente. A presente pesquisa tem o objetivo de reconstruir as etapas da evolução morfoestrutural do segmento noroeste do Ceará e relacionar com o processo de uso e ocupação. MATERIAL E MÉTODOS O procedimento metodológico adotado no presente trabalho é no que diz respeito à primeira parte da pesquisa, de caráter geomorfológico, é associado ao “Princípio do Uniformitarismo”, que foi elaborado por James Hutton no final do século XVIII e aperfeiçoado por Charles Lyell em 1802. Tal princípio define a existência de uma continuidade temporal dos processos internos e externos, e foi expresso através da afirmação “o presente é a chave do passado”. Através desse percurso metodológico, os pesquisadores buscam desvendar e esclarecer os passos da evolução dos grandes elementos que compõem as paisagens naturais (CLAUDINO-SALES, 2004). Para a segunda etapa da pesquisa, que implica na relação sociedade x natureza, foi realizada uma análise integrada da paisagem, agregando a sociedade, na perspectiva indicada por Rodriguez e Silva (2002). Para a consecução do trabalho, foram realizadas pesquisas bibliográficas sobre as produções científicas associado ao relevo e à geologia no noroeste do estado do Ceará, bem como ao processo de ocupação do solo. Na etapa de laboratório cartográfico, foi realizada uma profunda análise de mapas temáticos, como o mapa de uso e ocupação, o geológico e o geomorfológico de diferentes escalas e períodos. Foram analisados imagens de satélite CBERS_CCD_153-104_20041016 e imagem SRTM. O objetivo dessa análise cartográfica teve o intuito de elaborar mapas temáticos para esse setor, já que praticamente não existem registros dessa natureza sobre a área. Finalmente, foi realizado trabalho de campo na área de pesquisa, para levantamento preliminar dos elementos detectados nas análises bibliográficas e cartográficas. RESULTADOS E DISCUSSÃO Estágio da pesquisa: Trabalho de Graduação em Bacharelado em Geografia. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 2 1. As condições naturais Na área de estudo, ocorre o “front” da Serra da Ibiapaba, com características de glint. Tal definição de glint para essa forma de relevo, de borda de bacia sedimentar, deriva do fato de que, ao sopé da elevação, a depressão periférica foi modelada em terrenos cristalinos. Movimentando a depressão, ocorre o conjunto de serras, serrotes e morros esculpidos em rochas cristalinas. A evolução do relevo no estado do Ceará resulta de vários ciclos naturais, que comportaram eventos tectônicos e variações climáticas (MEIRELES, 2005) ao longo do tempo geológico. O primeiro momento do processo evolutivo corresponde à separação dos continentes sul-americano e africano, no Cretáceo Superior. A divisão iniciou-se por rifting intracratônico, seguido de abertura transformante do Atlântico setentrional, bem como de flexura marginal, a partir do Cretáceo Superior (CLAUDINO-SALES e PEUVAST, 2007). Essa atividade tectônica soergueu, na forma de ombro de rift, a superfície de piso do estado do Ceará, e afundou os segmentos nos quais os rifts foram instalados e posteriormente, abortados. Durante esse soerguimento, a borda da Bacia Sedimentar do Parnaíba foi soerguida solidariamente. A partir dessa grande deformação cretácea, a área de pesquisa passou a sofrer a ação intensa da ação erosiva, que deram início ao processo de recuo da Bacia Sedimentar do Parnaíba. Com a continuidade da erosão, a superfície exumada foi rebaixada nos setores menos resistentes, gerando a depressão periférica, chamada de depressão sertaneja. Os segmentos mais resistentes ficaram em relevo, originando os maciços cristalinos em análise, bem como a forma de glint, sustentada por rochas sedimentares. Assim, os relevos estudados foram produzidos por erosão diferencial a partir do Cretáceo Superior, em rochas que foram soerguidas durante a reativação tectônica Cretácea. Geologicamente, a área de estudo está situada na Província Borborema, formada por litologias arqueanas que foram retrabalhadas durante a colagem paleoproterozóica que produziu o megacontinente Panotia, através da orogênese brasiliana (BRITO NEVES, 1999). Esta província é composta, portanto, por vários domínios geológicos com diferentes características estruturais e evolutivas (BRITO NEVES et al, 2001), que se estende por todo o Nordeste. No Ceará, o domínio que caracteriza a área de estudo é o denominado NW do Ceará, Estágio da pesquisa: Trabalho de Graduação em Bacharelado em Geografia. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 3 ou Médio Coreaú. Corresponde a um cinturão dobrado (orogenic belt), no qual são encontradas diversas litologias com distintas idades (TORQUATO e NOGUEIRA NETO, 1996). É um local com importantes falhamentos, como o lineamento Sobral – Pedro II (SANTOS e BRITO NEVES, 1984), segmento no Ceará do chamado “Lineamento Transbrasiliano”, que corta o Brasil de ponta a ponta com direção NE-SO e corresponde à área de sutura brasiliana entre o Brasil e a África, Ocorrem ainda à falha de Jaguapari e as zonas de cisalhamento de Granja, Ubatuba e Araças. Representa uma estrutura tectonicamente dobrada, caracterizada pela existência de grabens e horsts e anticlinal e sinclinal como são típicos de áreas da crosta onde ocorreram colisões de placas litosféricas (RADAMBRASIL, 1981). Do ponto de vista da litologia, são encontrados maciços migmatítico-graníticos, com ocorrência ainda de quartzitos (SANTOS e BRITO NEVES, 1984). A mais importante das litologias corresponde ao “Grupo São Joaquim”, que possui idades aproximadas de 2.200 Ma a 2.300 Ma, formadas por gnaisses, migmatitos e quartzitos. Há também a presença do “Grupo Martinópole”, constituído basicamente de quartzitos, granitos brasilianos (granitóides Chaval, situado mais a norte da área de pesquisa), xistos e rochas vulcano-sedimentar que deram origem às formações Santa Teresinha, Covão e Goiabeira (CPRM, 2003). Do ponto de vista climático, o estado do Ceará é dominado é caracterizado por duas estações climáticas, uma chuvosa e outra seca. Na área de estudo os tipos climáticos são o “Tropical Quente Semi-árido Brando” nas áreas mais rebaixadas e, nas partes mais elevadas, do tipo “Tropical Quente Sub-úmido” (SILVA e CAVALCANTE, 2000). As médias anuais variam de acordo com a hipsometria e com a proximidade do litoral, ao norte. As precipitações variam de 1.000 a 1.350 mm/ano nas áreas elevadas, e inferiores a 900 mm/ano nas áreas rebaixadas. As taxas de evaporação são altas, assim como as temperaturas. Estas são da ordem de 24 graus a 26 graus no setor rebaixado, e no setor mais elevado, de 22 a 24 graus. Os tipos de solos variam de “Argissolos Vermelho Amarelo” no setor mais elevado e úmido, que corresponde a Serra da Ibiapaba. Os “Neossolos Litólicos” ocorrem no setor mais rebaixado, bem como nas serras elaboradas em rochas cristalinas, sendo originado de diversos tipos de litologias (PEREIRA e SILVA, 2005). Esses solos são rasos, dificultando o processo de ocupação social, pois o homem se fixa em áreas que eles possam tirar o sustento Estágio da pesquisa: Trabalho de Graduação em Bacharelado em Geografia. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 4 da própria terra. A partir dessas características naturais, pode-se falar em individualização das unidades geomorfológicas na área de estudo, as quais foram identificadas com base na homogeneidade das formas de relevo e no posicionamento altimétrico relativo. Como critérios secundários, utilizamos as características da geologia, da vegetação e dos solos. A região foi assim dividida em três unidades, denominadas Planalto da Ibiapaba, Maciços Residuais e Depressão Periférica. 1.2. A paisagem geomorfológica Vertentes com morfologias variadas caracterizam os três domínios identificados na área de estudo. Elas são as formas geomorfológicas em questão neste trabalho, que definem os espaços nos quais ocorreram, posteriormente, processos de uso e ocupação social. Segundo Bigarella (1965), o mecanismo da evolução das vertentes consiste essencialmente em uma sutil interação entre mudanças climáticas, variações dos níveis de base locais e deslocamentos crustais. A ação externa é fundamental nesse processo evolutivo, pois conforme ocorrem o intemperismo, o transporte e a deposição de sedimentos em outro local, a que denominamos erosão, a forma ou geometria das vertentes, e também de toda a superfície terrestre, é moldada, gerando as paisagens geomorfológicas que observamos. As encostas registram a ação desses processos que moldam as paisagens, por permitir que a gravidade, que em geral atua verticalmente, atue como um componente lateral. Desde a divisão o Pangea há 100 Ma, que produziu o soerguimento dos terrenos cristalinos e sedimentares, bem como exposição de granitos, a área passou a evoluir a partir da ação do clima, que comandou processos erosivos típicos de regiões secas. Os processos erosivos aplainaram as rochas mais frágeis, formando a “Depressão Sertaneja”, e deixaram em ressalto os quartzitos e os terrenos sedimentares, os quais, localmente mais resistentes, acabaram, no processo evolutivo, gerando o glint da Ibiapaba, que tem o cristalino arrasado ao sopé, e não rochas sedimentares, como ocorrem com cuestas. A erosão diferencial foi criando diferentes altitudes na paisagem local, o que por sua vez foi condicionando também o comportamento climático, perpetuando assim a tendência climatogeomorfológica que caracteriza a área de pesquisa, expressa pela ocorrência de processos mecânicos nos setores mais rebaixados e de ocorrência de morfogênese química nos setores mais elevados. No domínio Planalto da Ibiapaba, o relevo é caracterizado pelo “front” norte da Estágio da pesquisa: Trabalho de Graduação em Bacharelado em Geografia. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 5 Ibiapaba, mostrando-se como um bom exemplo do processo de erosão diferencial, já que é encontrada uma diversidade de materiais e climas. A escarpa da Ibiapaba perde altura na parte sul do seu front, o que produz uma morfologia de cornija dissimétrica e festonada. No município de Viçosa do Ceará, ocorre uma irregularidade na escarpa, com numerosas reentrâncias e anfiteatros de erosão (Fig.3). Tal fato é condicionado por diferentes litologias (sedimentar e cristalino), que produziram diferenças nos processos erosivos, bem como por fenômenos geológicos, como ocorrência de lineamentos estruturais, que orientam a ação da erosão, provocando ressaltos na topografia. Nos limites do município de Viçosa do Ceará, percebe-se ainda um adelgamento da cornija e, em alguns pontos, a exumação de rochas do embasamento cristalino na vertente que caracteriza o glint. Nesse setor, o relevo é dissecado em lombadas, cristas e colinas rasas. Esta escarpa perde ainda altura na parte norte, o que produz um front dissimétrico. No tocante ao domínio Maciço cristalinos, coloca-se que as maiores serras são a Timbaúba, Ubatuba, São Joaquim (Fig. 02), Umari e Dom Simão. Elas têm maior expressão espacial, existindo ainda alguns morros e serrotes, como o Serrote do Pitimbu, do Pilão, Tamboril, do Socorro, Serra do Serrano, São Vicente, Serra do Gado Brabo, da Gameleira, do Eufrazio e Serra do Bico Fino, e alguns morros com o Morro de Santana, do Angelim e Araçás. Alguns desses relevos representam pequenos Inselbergs em via de arrasamento, podendo ser considerados monadnocks. Figura 02: Conjunto de maciços e inselbergs elaborados em rochas cristalinas ao norte do glint da Ibiapaba. A Serra de São Joaquim é visualizada à esquerda. As serras de São Joaquim e Ubatuba apresentam em seu topo uma superfície plana, o que parece ser uma superfície de erosão que apresenta as mesmas características das partes mais elevadas do município de Viçosa do Ceará. Essa superfície plana provavelmente Estágio da pesquisa: Trabalho de Graduação em Bacharelado em Geografia. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 6 representa resquícios da superfície de aplainamento que existia na área, antes do rifting que precedeu a separação dos continentes Africano e sul-americano. As serras estão separadas da Serra da Ibiapaba por vales fluviais intermitentes. Figura 03: Depressão periférica – localmente denominada de Depressão Sertaneja – ao norte do glint da Ibiapaba, caracterizada pela ocorrência de inselbergs e monadnocks. No sopé dessas elevações, tanto cristalinas quanto sedimentares, ocorre o terceiro domínio, que é a depressão periférica, identificada localmente como depressão sertaneja (Fig. 03). Estas foram originadas por processos erosivos durante o Terciário. A depressão é dissecada em lombadas, inselbergs e colinas rasas, com altitudes máximas de 200m, e se estende em direção ao litoral, que dista cerca de 75 km do front norte da Ibiapaba em linha reta. A área de estudo este inserido dentro nas bacias hidrográficas dos rios Coreaú e Timonha. Ambos têm várias nascentes situada no glint da Ibiapaba, as quais contribuíram, ao longo do Terciário, para a modelagem da vertente desse planalto sedimentar. Estas nascentes deixam o relevo mais trabalhado, já que as serras são separadas umas das outras pelos pequenos vales dos rios (Fig.04). Os principais rios são o Ubatuba, afluente do Coreaú, que nasce na Serra da Ibiapaba, e o Timonha, que igualmente recebe pequenas contribuições oriundas do planalto sedimentar e das serras elaboradas em rochas cristalinas. Estágio da pesquisa: Trabalho de Graduação em Bacharelado em Geografia. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 7 Figura 04: Pequeno vale fluvial intermitente seccionando interflúvios, no front norte do glint da Ibiapaba. 2. Usos e ocupações A Serra da Ibiapaba foi ocupada inicialmente por povos indígenas, que exploravam a natureza de maneira mais cuidadosa no que ocorre no contexto social atual. O processo de ocupação sofreu grande crescimento com a chegada do colonizador, que veio seguindo as margens dos rios. Hoje, o processo de uso e ocupação social da área ocorre no topo do planalto sedimentar, no município de Viçosa do Ceará, e na depressão sertaneja, sobretudo bordejando os principais rios. As serras estabelecidas em rochas cristalinas representam grandes vazios humanos. Atualmente, as vertentes são utilizadas em alguns pontos para a agricultura de subsistência, que utiliza técnicas rudimentares, como a coiçara, que é o processo de queima da vegetação para o plantio. Este tipo de técnica nos períodos secos permite que o fogo se espalhe, gerando queimadas que acabam prejudicando as áreas de entorno. Nas áreas rebaixadas, é comum o extrativismo vegetal (carvão e madeira), a pecuária (criação de caprinos, bovinos e suínos) e a agricultura (com as culturas de feijão, mandioca e milho dominando). A existência de relevo movimentado e as condições climáticas, áridas ou semi-áridas, dificultam o povoamento de certas áreas (ANDRADE, 1987). É o que acontece nesta região, pois apresenta grande extensão, mas ainda assim, é despovoada em grande parcela dessa extensão. A declividade das vertentes, assim como o clima de tendência sub-úmida, são fatores limitantes quanto ao uso e ocupação sociais. Com efeito, nas áreas de rochas cristalinas, que ultrapassam 600m, o relevo é acidentado, com vertentes bastante íngremes que dificultam a fixação de solo. Mas, também as áreas rebaixadas, na Depressão Sertaneja, representam vazios humanos. Nesse caso, pode-se considerar que há problemas de oferta Estágio da pesquisa: Trabalho de Graduação em Bacharelado em Geografia. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 8 hídrica, pois a maioria dos rios locais é do tipo intermitente, criando dificuldades de disponibilidade de água para a agricultura, a pecuária e as atividades domésticas, necessárias à sobrevivência e fixação de contigentes populacionais. Há, assim, grande inibição da prática agrícola, que se reduz às áreas de solos agriculturáveis das planícies fluviais. O município de Viçosa do Ceará, por outro lado, está localizado na borda do glint Ibiapaba, onde as condições ambientais são completamente diferentes. O município, que possuiu uma extensão territorial de 1.311,59 km2, possui dois tipos climáticos, o “Tropical Quente Semi-árido Brando”, que corresponde ao segmento territorial com extensão na Depressão Sertaneja, e o “Tropical Quente Sub-úmido”, no topo do planalto sedimentar. Do ponto de vista da vegetação, ocorrem os complexos vegetacionais “carrasco”, “floresta caducifólia espinhosa”, “floresta subcaducifólia tropical pluvial”, “floresta subcaducifólia tropical xeromorfa” e “floresta subperenifólia tropical pluvio-nebular”. Tais características ambientais geram condições mais propícias à fixação de população. Assim o é que a população local foi estimada em 55.670 habitantes em 2008 (IPECE, 2009), e em sua maioria, localizada na zona rural. No sede do município, a economia local é baseada no setor terciário, através de serviços, seguido pelas atividades agropecuárias, mineradoras e industriais. As características ambientais conferem, em adição, atrativos turísticos, ainda pouco explorados, mas em vias de desenvolvimento. CONCLUSÃO A análise da organização e estruturação da paisagem geomorfológica na área de estudo nos permite considerar o quanto às formas de relevo exerce influência no processo de uso e ocupação social do solo, talvez mais do que todos os demais processos e elementos naturais, como clima, recursos hídricos e vegetação. Tal fato deriva da constatação de que, nos setores de vertentes íngremes, há um completo vazio humano. Tal vazio é reduzido nas áreas rebaixadas e inexistente nos setores onde a topografia é mais plana e onde as rochas são sedimentares, como é o caso do planalto sedimentar da Ibiapaba. Assim, verifica-se que a Geologia e a Geomorfologia possuem um importante papel em estudos ambientais, uma vez que determinam de certa forma, e em larga escala, a aptidão dos terrenos para os vários usos e atividades humanas – evidentemente, não desprezamos aqui a dimensão social, econômica e política condicionadora da ocupação social de uma dada área, Estágio da pesquisa: Trabalho de Graduação em Bacharelado em Geografia. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 9 mas também, não as colocamos como únicos fatores determinantes desse processo. Tal evidência é flagrante no setor de estudos. Na atualidade, há que se considerar que a própria atividade social e humana também traz condicionantes complementares, uma vez que processos ativos limitam ou ampliam a ocupação continuada, pois ocasionam modificações no ambiente, muitas vezes indesejáveis. Por fim, pode-se afirmar que a paisagem das serras no front da Ibiapaba, no que se refere, principalmente, ao seu meio físico, é bastante diversificada, contendo uma gama de variados recursos natural. Os aspectos sócio-econômicos mantêm uma relação estreita com as características geoambientais, ao condicionarem o uso, a ocupação e a expansão ou retração de contigentes populacionais, desde tempos antigos até a atualidade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, M. C. Espaço, Polarização e Desenvolvimento. Ed. Atlas, 1987 BIGARELLA, J. J; MOUSINHO, M. R; SILVA, J. X. Considerações a respeito da evolução das vertentes. Boletim Paranaense de Geografia, número 16 e 17 1965. BRITO NEVES, B. B; SCHMUS, W. R. V; FETTER, A. H. Noroeste da África- nordeste do Brasil (Província Borborema) ensaio comparativo o problemas de correlação. Rev. Geo. USP ser. Cient., São Paulo, v.1, novembro 2001. BRITO NEVES, B. B. América do Sul: quatro fusões, quatro fissões e o processo acrescionário andino. Rev. Brasileira de Geociências, 29(3) 379-392, set. de 1999. CLAUDINO-SALES, V; PEUVAST, J. P. Evolução morfoestrutural do relevo da margem continental do estado do Ceará, Nordeste do Brasil. Rev. Caminhos de Geografia. Uberlândia. V. 7, n. 20. Fev de 2007. __________________Geografia e Analise Ambiental: abordagem crítica. Geousp-espaço e tempo, São Paulo, n. 16, p. 125-141, 2004. CPRM. Mapa geológico do Estado do Ceará. Fortaleza 2003. IPECE, Perfil municipal de Viçosa do Ceará http://www.ipece.ce.gov.br/publicacoes/perfil_basico/pbm 2009. Disponível me 2009/Viçosa%20do%20 Ceara_Br_office.pdf acesso 27 de junho de 2010. MEIRELES, A. J. A. As unidades morfo-estruturais do Estado do Ceará. In: SILVA, J. B; Cavalcante, T (org). Ceará: um novo olhar geográfico. Fortaleza: Edições Demócrito Estágio da pesquisa: Trabalho de Graduação em Bacharelado em Geografia. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 10 Rocha, 2005. PEREIRA, R. C. M; SILVA, E. V. Solos e vegetação do estado do Ceará: Características gerais. In: SILVA, J. B; Cavalcante, T (org). Ceará: um novo olhar geográfico. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2006. PROJETO RADAMBRASIL. Folha SA. 24 Fortaleza. Rio de Janeiro, 1981. RODRIGUEZ, J. M. M; SILVA, E. V. A Classificação das paisagens a partir de uma visão Geossitêmica. Fortaleza. Rev. Mercator 1:95-112, 2002. ROSS, J. L. S. Geomorfologia-Ambiente e Planejamento. 8 ed. São Paulo: Contexto, 2005. SANTOS, E. J.; BRITO NEVES, B. B. Província Borborema. In: ALMEIDA, F. F. M.; HASUI, Y. O Pré-cambriano no Brasil. São Paulo: Edgard Blücher, 1984. SILVA J. B; CALCANTE. Atlas Escolar do Ceará: espaço geo-histórico e cultural. João Pessoa: Grafset, 2000. TORQUATO, J. R; NOGUEIRA NETO, J. A. Historiografia da Região de Dobramentos do Médio Coreaú. Rev. Brasileira de Geociências. 26(4): 303-314 dezembro de 1996. Estágio da pesquisa: Trabalho de Graduação em Bacharelado em Geografia. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 11