Rochas eruptivas de entre Murca e Freixo de Numao

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Rochas eruptivas de entre Murça e Freixo de Numão e a ocorrência de minerais das
terras raras
Autor(es):
Neiva, J. M. Cotelo; Faria, F. Limpo de
Publicado por:
Museu e Laboratório Mineralógico e Geológico; Centro de Estudos
Geológicos
URL
persistente:
http://hdl.handle.net/10316.2/37990
Accessed :
29-May-2017 10:27:01
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PUBLICAÇÕES DO MUSEU E LABORATÓRIO MINERALÓGICO E GEOLÓGICO
E DO CENTRO DE ESTUDOS GEOLÓGICOS DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA
N.° 32
Memórias
e Notícias
SUMÁRIO
J. M. Cotelo Neiva e F. Limpo de Faria — Rochas eruptivas de entre Murça e
Freixo de Numão e a ocorrência de minerais das terras raras. F. Firtion e G. Soa­
res de Carvalho — Les formations détritiques quaternaires de S. Pedro de MoeL
Leiria (Portugal). G. Soares de Carvalho — Granulometria e morfoscopia de
algumas aluviões diamantíferas da Lunda (Angola). M. Montenegro de
Andrade — Sobre os granitos alcalinos e hiper alcalinos de Angola. M. Mon­
tenegro de Andrade e A. Graça da Cruz — Contribuição para o conhecimento
do quimismo das rochas quártzicas de Angola. J. Simões Redinha — Contribuição
para o estudo geoquímico das volframites portuguesas. ]. M. Cotelo Neiva —
Nova ocorrência de minerais uraníferos no Norte de Portugal.
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Rochas eruptivas de entre Murça e Freixo
de Numão e a ocorrência de minerais
das terras raras
por
J. M. Cotelo Neiva
Professor da Universidade de Coimbra
e
F. Limpo de Faria
Engenheiro do Serviço de Fomento Mineiro
A estrada que de Freixo de Numão vai para Murça (distrito
da Guarda) atravessa um afloramento de granito porfiróide de
duas micas no qual se encontram encraves homeógenos de gran­
des dimensões.
Tivemos ocasião de colher amostras relativamente frescas
destas rochas, que nos permitiram o seu estudo e o reconheci­
mento de minerais das terras raras.
O granito que aflora na região é de grão médio, de duas micas,
das quais predomina a biotite, e com pequenos fenocristais de
feldspato.
Tem textura porfiróide (fenocristais de microclina) de base
hipautomórfica-granular (Est. I — fig. 1).
A ortoclase, alotriomorfa, um pouco sericitizada, mostrando-se
as lamelas de sericite alinhadas em direcções predominantes que
se entrecruzam, contém inclusões de biotite.
2
Microclina encontra-se em grandes cristais alotriomorfos, um
tanto sericitizados e com inclusões de biotite, moscovite e oligoclase.
A plagioclase, do tipo oligoclase, com típicas macias polissintátieas segundo a lei da albite, contém inclusões de moscovite e
rutilo.
A biotite, hipidiomorfa, intensamente pleocróica (γ = β =
= castanho pinhão; α = amarelo palha), mostra alguns aspectos
de intercrescimento com a moscovite. Contém inclusões aciculares de rútilo e granulares de apatite.
Moscovite, alotriomorfa, está por vezes intercrescida com a
biotite.
Encontram-se cristais de apatite, e poucos grânulos de magne­
tite junto da biotite.
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Pelo seu quimismo (Quadros I e III) filia-se no magma engadinítico, com passagem ao magma yosemitítico
e pela composição normativa (Quadro II) e parâmetros I. 4.1'. 3
classifica-se como granito alcalino ortósico.
O encrave homeógeno, que estudámos, é de cor cinzenta
escura, de grão fino, em que a biotite predomina largamente. São
bem visíveis à vista desarmada numerosas lamelas deste mineral
e distinguem-se, por entre elas, o quartzo e o feldspato.
Apresenta textura hipautomórfica-granular (Est. I — fig. 2).
Mostra também alguns aspectos de estrutura suturada entre os
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minerais brancos, dos quais dominam os feldspatos potássicos na
relação ortose > microclina. A biotite é abundante; em menor
quantidade a horneblenda verde.
A microclina, alotriomorfa, formando eutético com o quartzo
(microclina-micropegmatite), mostra-se bastante sericitizada e com
inclusões de esfena.
A ortoclase, abundante, hipidiomorfa, com macia de Carlsbad,
está um tanto caulinizada e bastante sericitizada. Nalguns cris­
tais as lamelas de sericite encontram-se orientadas segundo três
direcções oblíquas entre si.
A plagioclase, abundante, por vezes em cristais de razoáveis
dimensões, com macias polissintéticas segundo a lei da albite, está
bastante sericitizada. E do tipo oligoclase.
A biotite é hipidiomorfa, pleocróica: por vezes um pouco
cloritizada e, então, com grânulos de rútilo exsudados. Contém
inclusões de zircão com auréola pleocróica.
A horneblenda verde ó hipidiomorfa a alotriomorfa, pleo­
cróica (ϓ= verde escuro, β = verde, α = verde amarelado), e com
as suas propriedades ópticas características. Contém inclusões de
magnetite.
O quartzo, que ocorre em pequena quantidade, é alotriomorfo,
de extinção ondulante, e preenche intervalos entre os outros mine­
rais. Mostra inclusões de biotite e agulhas de rútilo.
A apatite é prismática, granular quando individualizada e em
pequenos bastonetes quando inclusa nos feldspatos.
Rútilo, de hábito acicular, encontra-se incluso nos felds­
patos.
Esfena, hipídio a idiomorfa, observa-se por vezes como inclu­
são na biotite.
Alanite ocorre em cristais idiomorfos, zonados, de cor casta­
nha, pleocróicos (Est. II—fig. 1). No contacto com a biotite clo­
ritizada dá nesta uma auréola muito escura pleocróica (Est. II —
fig.2).
Alguns grânulos de magnetite encontram-se inclusos 11a bio­
tite e nos feldspatos, mas sempre junto a cristais de biotite.
Fracturas desta rocha mostram-se penetradas por vénulas
microscópicas de moscovite.
A norma (Quadro II) e os parâmetros II. 5. 2. 3 levam-nos à
classificação de monzonito (ramo ortósico) e os parâmetros de
Niggli (Quadro m) conferem-lhe semelhanças ao magma quartzo-
5
-diorítico com aproximação ao magma normal granítico e afinida­
des alcalino-potássicas (magma sienítico normal):
6
EST. I
(Página deixada propositadamente em branco)
EST. II
(Página deixada propositadamente em branco)
7
É de realçar no encrave homeógeno a ocorrência de alanite
que, pela sua radioactividade, nos leva a supor que além de ele­
mentos das terras raras conterá ThO2.
Em outras formações eruptivas da região das Chãs (Vila
Nova de Fozcoa) relacionadas com o mesmo tipo de granito, de
que serão diferenciados mais básicos de1 tendência alcalina, assina­
lamos também a ocorrência de alanite ( ).
Como então referimos, a alanite deixa prever a ocorrência de
outros minerais das terras raras e de minerais radioactivos, em
especial de monazite, naquelas rochas,
E mais um argumento para nos levar a admitir que é nos
diferenciados do magma que permitiu a granitização do Noroeste
da Península Ibérica que se devem buscar, no nosso País, as filia­
ções dos jazigos de berilo, de minerais das terras raras e de mine­
rais uraníferos.
SUMMARY
Igneous rocks located between Murça and Freixo de Numão,
and the occurrence of minerals of rare earths
Two-micas porphyritic granite crops out between Freixo de Numão
and Murça in the district of Guarda; it is the alkalic orthosic granite I . 4 . 1 ' . 3
of engadinitic chemism.
In the midst of the granite great homeogene xenoliths are found pre­
senting mineralogical and chemical compositions similar to those of the
monzonite II.5.2.3 of quartz dioritic chemism with certain potassic-alkalic
affinities, which must contain Th02.
Allanite is found in these xenoliths, as was also found in rocks of the
region of Chãs, Vila Nova de Fozcoa.
(1) Cotelo Neiva (J. M.) e Limpo de Faria (F.), 1033 — Rochas erupti­
vas das Chãs (Vila Nova de Fozcoa) e seu interesse para a prospecção de
minerais das terras raras. Estudos, Notas e Trabalhos do Serviço de
Fomento Mineiro, vol. viii, fases. 1-2, pág. 279.
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