Unidade I INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO SOCIOLÓGICO Profa. Rita Maciel Introdução ao Pensamento Sociológico Ementa: Unidade I 1. A Sociologia nos diversos campos da vida humana 2 O Renascimento e o novo pensamento 2. social 3. O surgimento da ciência e as bases da Sociologia 4. Surgimento da Sociologia Introdução ao Pensamento Sociológico Unidade II 5. A Sociologia de Durkheim 6. Max Weber e a Sociologia alemã 7. Marx e o materialismo dialético 8. A contribuição de Gramsci ao pensamento sociológico Introdução ao Pensamento Sociológico Apresentação: A sociologia nasce diretamente relacionada aos objetivos de estabilidade social das classes dominantes e tem como preocupação compreender as consequências dos conflitos de classes, e sua função passa a ser dar respostas a essa crise. “A sociologia é uma ciência que se define não por seu objeto de estudo, mas por sua abordagem, isto é, pela forma como pesquisa, analisa e interpreta os fenômenos sociais.” (COSTA, 1997, p. 11) Introdução ao Pensamento Sociológico Cont.: Apresentação: A história do pensamento sociológico no Ocidente tem sua origem no século XVIII, período de grandes transformações nas conjunturas política, econômica e cultural da sociedade, em um contexto marcado pelo impacto da eclosão de duas grandes revoluções: a Revolução Industrial, na Inglaterra, e a Revolução Francesa. Introdução ao Pensamento Sociológico Objetivos: Contribuir para a compreensão dos princípios da sociologia como uma forma de conhecimento que se transformou em campo científico. Oferecer subsídios para a compreensão da história da sociologia como ciência, seus conceitos, objetos e métodos, assim como suas matrizes clássicas. Possibilitar o desenvolvimento de habilidades que permitam compreender a vida cotidiana e os conceitos específicos dessa ciência. Introdução ao Pensamento Sociológico Introdução: A função da sociologia como ciência é, ao mesmo tempo, observar os fenômenos que se repetem nas relações sociais e se ocupar com eventos específicos, únicos, como o surgimento do capitalismo ou do Estado moderno, explicando os significados e a importância que esses eventos têm na vida dos cidadãos. Introdução ao Pensamento Sociológico A Sociologia nos diversos campos da vida humana As ciências sociais têm sua origem na preocupação que o homem adquiriu com o tempo em entender os denominados comportamentos sociais, isto é, aqueles que existem a partir da vida em sociedade, da convivência em grupo. Para facilitar a sistematização do estudo e das pesquisas que se inseriram nessa área de conhecimento, foi necessária a divisão em diversas disciplinas, entre elas: Introdução ao Pensamento Sociológico A sociologia: abrange o estudo dos grupos resultantes da divisão da sociedade em camadas, além de buscar compreender o processo de mobilidade social, cooperação, competição e conflito existente nos diferentes tempos e espaços. A economia: nessa área de estudo, a preocupação está voltada a entender, por exemplo, a distribuição de renda de um país país, sua política salarial salarial, a produção de empresas, entre outras atividades relacionadas à economia. Introdução ao Pensamento Sociológico A antropologia: fazem parte dos objetos de estudo da antropologia a diversidade cultural, os tipos de organizações familiares, as religiões, os rituais etc. A ciência política: preocupa-se em entender e analisar as relações de poder existentes na sociedade, assim como as diversas formas de governo, os partidos políticos etc. Essa divisão não é nítida entre as diversas disciplinas, que se complementam e se juntam para explicar a vida em sociedade em todos os contextos e com toda a complexidade de cada tempo e espaço. Introdução ao Pensamento Sociológico A sociologia pré-científica: No decorrer dos anos, várias foram as maneiras que as sociedades humanas encontraram para compreender a vida em grupo. Nesse período, as explicações se apoiaram na fantasia, resultado de uma visão mítica. Dessa capacidade de pensar o mundo, atribuindo significados à sua realidade, o homem criou o conhecimento. Durante séculos, o homem pensou sobre si mesmo e sobre seu mundo, adquirindo conhecimentos e estabelecendo interpretações de acordo com a sua vida cotidiana. Introdução ao Pensamento Sociológico As explicações sobre a vida social estavam relacionadas ao mito, à religião e à filosofia, que passam a constituir as formas pré-científicas de consciência e de explicação da realidade humana. Para muitos pesquisadores, essas maneiras de compreender a representação da vida social nada têm em comum com a sociologia e, no máximo, desenvolvem tipos de raciocínio fundamentalmente diferentes e opostos ao raciocínio científico. Introdução ao Pensamento Sociológico A filosofia, os mitos, a religião: “O homem nasce para viver em sociedade.” (Aristóteles) Os primeiros passos para explicar e estudar as sociedades humanas foram dados pelos filósofos gregos Platão (427-347 a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C), que publicaram em suas obras “A República” e “Política” suas considerações sobre aspectos da vida em sociedade. Introdução ao Pensamento Sociológico Em “A República”, Platão analisa como deve ser organizada uma cidade-estado para evitar as crises políticas e sociais: estipulado o número máximo de habitantes. Nessa cidade, os dirigentes e guardiões representam a concretização da racionalidade, enquanto os discípulos são dóceis e capazes de compreender todas as renúncias que a razão lhes impõe, mesmo quando duras. Aristóteles descreve em “Política” que as crises são inevitáveis e não existe maneira de se escapar das mudanças institucionais. Introdução ao Pensamento Sociológico No período da Idade Média, a vida em sociedade era vista pelos filósofos como uma forma de convivência desorganizada, por isso, propunham normas para que o homem vivesse em uma sociedade ideal ideal. A obra “Cidade de Deus”, escrita por Santo Agostinho, por exemplo, descreve a vida dos homens em suas cidades e a convivência com o pecado. A definição de normas normas, para esse autor, autor possibilitaria uma vivência em uma cidade sem pecado. Introdução ao Pensamento Sociológico De uma maneira geral, essas obras descreviam a sociedade humana de uma perspectiva religiosa muito acentuada. Baseavam-se mais na imaginação, na fantasia e na especulação do que na investigação científica dos fenômenos. Deuses e heróis eram invocados para explicar certos fenômenos sociais. Desde a Antiguidade, passando pelo período medieval até o início da Idade Moderna, as interpretações e as explicações sobre a sociedade foram influenciadas pela filosofia e pela religião. Interatividade Na obra “Cidade de Deus”, Santo Agostinho descreve a vida dos homens em suas cidades e a convivência com o pecado. A perspectiva usada pelo autor em sua obra baseia-se na perspectiva: a) Científica. b) Sociológica. c) Positivista. d) Religiosa. e) Antropológica. Introdução ao Pensamento Sociológico O Renascimento e o novo pensamento social: As bases do Renascimento eram proporcionadas pelo humanismo, corrente filosófica que negava a escolástica medieval, que até então predominava, e propunha o retorno às virtudes da Antiguidade. Alguns autores greco-romanos como Platão, Aristóteles, Virgílio, Sêneca e outros começam a ser traduzidos e rapidamente difundidos. Introdução ao Pensamento Sociológico As concepções passadas por essas obras favoreceram o desligamento das questões sagradas e transcendentais e, ao mesmo tempo, contribuíram para uma mentalidade mais laica, com características imediatistas e materiais materiais. Os filósofos renascentistas imaginaram uma sociedade perfeita. Assim como a Atlântida, obra de Francis Bacon, Thomas Morus imagina uma comunidade em que todas as soluções ç foram encontradas: a Utopia. Uma ilha cujo nome significa “nenhum lugar”, onde existe harmonia, equilíbrio e virtude (COSTA, 1997). Introdução ao Pensamento Sociológico A obra “Utopia” é considerada a primeira a criticar o regime burguês, encerrando uma análise profunda das especificidades do feudalismo em decadência, inaugurando outra maneira de compreender a sociedade, considerada por muitos pesquisadores como o germe do pensamento sociológico. Introdução ao Pensamento Sociológico “Para muitos pesquisadores, coube a Maquiavel obter maior êxito em relação ao desenvolvimento do pensamento sociológico, na medida em que seu objetivo foi conhecer a realidade tal como se lhe apresentava em vez de imaginar como ela apresentava, deveria ser.” (COSTA, 1997) As obras de Thomas Morus e Maquiavel exemplificam a maneira diferente de perceber b as relações l õ sociais, i i que passam a se constituir como objetos de estudos. Esses filósofos descrevem em seus livros a vida humana e sua relação com as condições políticas e econômicas, ao contrário dos seus antecessores, que exaltavam a fé ou a consciência individual. individual O contexto do movimento renascentista motivou a formação de uma nova sociedade e contribuiu para o aparecimento de novas relações sociais em seu cotidiano. cotidiano A vida urbana fez surgir um novo comportamento, já que as relações cotidianas como o trabalho, o lazer, o tipo de moradia, por exemplo, exigiam um novo comportamento dos homens. O Renascimento foi, assim, fundamentalmente uma nova concepção de vida adotada por uma significativa parcela da sociedade e que será difundida nas obras de arte. Thomas Morus concebeu, em sua obra, a ilha de Utopia, baseado na crença da existência da propriedade privada e na importância do alcance dos interesses individuais, o que para ele era viável se feito através do preenchimento prévio das necessidades coletivas. A propriedade privada é a essência dos problemas da humanidade. Entende-se como propriedade privada a desigualdade material, material que se refere muito mais à propriedade privada como vemos hoje do que à concentração de riquezas por direito de posse, como no caso da nobreza europeia tradicional. A ideia defendida é a de que a sociedade é um conjunto de interesses coletivos, mais importantes que os individuais, aliás, a única maneira de alcançar prosperidade e progresso é subordinar os últimos aos primeiros. primeiros Reconhecido por possuir uma experiência empírica e realista, Maquiavel traçou as bases de uma nova concepção política referente ao conceito de virtú, virtú o que fez da obra “O Príncipe” alvo de equivocadas interpretações. Historiador, poeta, diplomata e músico italiano do Renascimento, Nicolau Maquiavel (1469-1527) foi considerado fundador do pensamento e da ciência política moderna por ter escrito várias obras sobre o Estado e o governo governo, descrevendo suas reais características e as possibilidades que essas instituições poderiam ter. Os valores do Renascimento: Humanismo: primeira forma de elaborar uma concepção do mundo cujo centro fosse o próprio homem, origem de todo o pensamento moderno. Movimento intelectual floresceu durante o século XIV, no final da Idade Média, e alcançou plena maturidade no Renascimento, cuja orientação era reviver os modelos artísticos da antiguidade clássica, considerados exemplos de afirmação da independência do espírito humano. Destacam-se no Renascimento valores como: O antropocentrismo: “o homem é a medida de todas as coisas”; a compreensão do mundo passava a ser relacionada à importância do ser humano. O trabalho, as guerras, as transformações, as contradições humanas tornaram-se objetos de preocupação entendida como produto da ação do homem. O racionalismo: a crença de que tudo pode ser explicado pela razão do homem e pela ciência e, como consequência, a recusa em acreditar em qualquer coisa que não tenha sido provada. Dessa forma, o experimentalismo e a ciência conheceram grande desenvolvimento como o estímulo à invenção de objetos como o telescópio, que permitiram a ampliação dos conhecimentos e a convicção na capacidade humana de explicar o mundo de forma racional. O individualismo: a convicção de que cada um é responsável pela condução de sua vida, criando a possibilidade de fazer opções e de manifestar-se sobre diversos assuntos, caracterizaram o individualismo. Essa concepção refletiu a emergência da burguesia e de novas relações de trabalho. O naturalismo: destacou-se a importância do estudo da natureza, aguçando o espírito de observação do homem. Não apenas a natureza física era investigada, como também a natureza humana, nos estudos de anatomia e nas representações dos corpos humanos nas obras de arte, com o uso cada vez mais frequente da nudez nas pinturas renascentistas. O hedonismo: representou o “culto ao prazer”, ou seja, a ideia de que o homem pode produzir o belo, pode gerar uma obra apenas pelo prazer que isso possa lhe proporcionar, rompendo com o pragmatismo. pragmatismo O universalismo: é considerado uma das principais características do Renascimento ao propor que o homem deve desenvolver todas as áreas do saber. O resgate da Antiguidade: ao estudar a forma de viver e de pensar dos antepassados, os humanistas acabaram contribuindo para a compreensão das instituições e saberes, suas mudanças e alterações O conhecimento adquirido por alterações. esses estudos não significava a busca de uma repetição, mas a possibilidade de estabelecer um vínculo entre antigos e modernos, estes deviam àqueles o embasamento e o estímulo para novas criações e transformações. Interatividade Primeira forma de elaborar uma concepção do mundo cujo centro fosse o próprio homem. Movimento intelectual que floresceu no século XIV, no final da Idade Média, e alcançou plena maturidade no Renascimento Denomina Renascimento. Denomina-se: se: a) Racionalismo. b) Humanismo. c) Naturalismo. d) Individualismo. Individualismo e) Universalismo. As Grandes Navegações: Por meio das grandes navegações, pela primeira vez na história o mundo seria totalmente interligado e somente após o encontro dos vários povos foi possível falar em uma história em escala mundial mundial. As viagens marítimas tornaram-se um empreendimento do Estado, que através da centralização política ofereceu condições para mobilizar os capitais necessários ao financiamento das expedições. Estava assim garantido o sucesso dos projetos de conquista e colonização. Objetivos da expansão: acúmulo de metais, principalmente, o ouro e a prata; ampliação do mercado consumidor dos produtos europeus; comércio de especiarias (noz moscada, cravo etc.); acúmulo de terras como fonte de riquezas; conversão de fiéis ao catolicismo. O Iluminismo: movimento filosófico que sucedeu o Renascimento. Esse movimento possibilitou o surgimento de novas ideias sobre a vida social e da coletividade. Define-se o conceito de nação como forma de organização política, o que correspondeu à expansão territorial e ao fortalecimento da burguesia local, que teria total controle sobre o mercado. Os pensadores do Iluminismo: Montesquieu (1689-1755): fez parte da primeira geração de iluministas e sua obra principal foi “O espírito das leis”. Considerado um dos precursores da sociologia, levantou questões sociológicas antes mesmo do surgimento da ciência. Voltaire (1694-1778): destacou-se por elaborar críticas à religião e à monarquia e foi considerado o homem símbolo do movimento iluminista, além de ser um grande agitador, polêmico e propagandista das ideias iluministas. Diderot (1713-1784): grande parte de sua vida foi dedicada à organização da primeira Enciclopédia, sendo essa a sua principal contribuição. De inspiração racionalista e materialista, propunha a imediata separação da Igreja e do Estado e o combate às superstições e às diversas manifestações do pensamento mágico, entre elas as instituições religiosas. Sofreu intervenção da censura e condenação papal, mas acabou por exercer grande influência no mundo intelectual e inspirou os líderes da Revolução Francesa. D’Alembert (1717-1783): escreveu e ajudou na organização da enciclopédia, tornando-se uma figura-chave do século do Iluminismo. Foi matemático e abriu novos caminhos ao desenvolvimento dos métodos de cálculo matemático e físico, matemático, físico contribuindo para a unificação dos princípios da mecânica dos sólidos e dos fluidos. Filósofo, examinando de maneira crítica a gênese e o significado dos conhecimentos científicos, interessandose notadamente pela questão de sua validade, assim como das condições de sua aplicação. Rousseau (1712-1778): redigiu alguns verbetes para a “Enciclopédia”, dedicandose também ao desenho, à pintura e à música. Suas principais obras foram “Emílio”, “Do contrato social”, “Discursos sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens” e “Discurso sobre as ciências e as artes”. Foi criticado severamente e perseguido, mas suas ideias foram amplamente divulgadas no contexto da Revolução Francesa. John Locke (1632-1704): teórico inglês, defendeu a ideia de que a sociedade resultava da livre associação entre indivíduos dotados de razão e vontade. Para Locke, esse contrato definia as formas de poder poder, as garantias de liberdade individual e o respeito à propriedade e, por isso, deveria ser redigido como uma constituição. A ilustração e a influência dos fisiocratas: A escola fisiocrática teve origem no século XVIII e é considerada a primeira escola de economia científica. Seu surgimento esteve relacionado com a luta contra o mercantilismo, um sistema que enfatizava a indústria e comércio voltado à exportação, regido pelas complexas regulamentações governamentais. Os produtos da agricultura deveriam ser valorizados e vendidos a alto preço e os proprietários de terras reconhecidos como os verdadeiros promotores da riqueza do país e respeitados como tal. Para os fisiocratas, a economia deveria ser regida por leis naturais de oferta e procura que tendiam a estabelecer, de maneira mais eficiente, os preços, assim como o melhor produto e o melhor contrato direcionado pela livre concorrência. A origem da ciência econômica foi atribuída a Adam Smith, que em seus estudos buscou demonstrar a importância da análise científica e do trabalho, trabalho principal fonte de riqueza. As transformações do liberalismo: As concepções do liberalismo contribuíram para transformações na forma de pensar as relações de poder, as ações econômicas e políticas. As propostas liberais provocaram uma separação entre negócios públicos e privados, ou seja, entre os assuntos do Estado (que deve se ocupar com a política, isto é, com as questões da esfera pública) e os da sociedade civil (que deve se ocupar das atividades particulares, principalmente, as econômicas). Faz parte dos princípios básicos do liberalismo, no âmbito político, a divisão do poder em três instâncias autônomas e equilibradas: Executivo, Legislativo e Judiciário, conforme postulado pela primeira vez pelo escritor e filósofo francês Montesquieu. Cada uma delas tem suas atribuições específicas e acima delas estão as leis, das quais a maior é a Constituição de um país. No liberalismo liberalismo, a consciência é marcada pela valorização do princípio da legalidade, ou seja, ninguém pode se colocar acima da lei, inclusive o governante. Dos ideais do liberalismo também se originou o conceito de cidadania que, em suas origens, no século XVIII, referia-se apenas a direitos civis: à liberdade e à segurança individual, direito de ir e vir, liberdade de crença e opinião opinião, seu lugar institucional eram os tribunais e sua vigência dependia da aplicação progressivamente imparcial da lei. O surgimento da ciência e as bases da sociologia: Os efeitos da nova tecnologia foram verificados na sistematização do pensamento científico que se favoreceu dos inventos como o para-raios e as vacinas, assim como o desenvolvimento da mecânica para que se concretizassem os êxitos. Essas ideias de progresso, racionalismo, cientificismo contribuíram para uma mudança de mentalidade da época. Para a filósofa Marilena Chaui, existe uma diferença entre a atitude científica e as atitudes costumeiras, também chamadas de senso comum. Para a pesquisadora, somente a ciência desconfia da veracidade de nossas certezas certezas, de nossa adesão imediata às coisas, da ausência de crítica e falta de curiosidade. “Por isso, ali onde vemos coisas, fatos e acontecimentos, a atitude científica vê problemas e obstáculos, aparências que precisam ser explicadas e, em certos casos, afastadas” (CHAUI, 1999). Nesse contexto em que o método científico se afirma como poder, formouse a primeira escola científica do pensamento sociológico, o positivismo. Essa primeira corrente deu início à definição do objeto e estabeleceu conceitos e uma nova metodologia de investigação. Surgimento da sociologia: No século XVIII surgiu a sociologia, influenciada pelas primeiras pesquisas sociais e pelas ideias gerais do Iluminismo, como forma de entender e explicar aquelas mudanças sociais. Ao refletirmos sobre a sociologia, temos que considerar que é uma ciência datada historicamente e que sua origem está vinculada à consolidação do capitalismo moderno. A sociologia marca uma mudança na maneira de se pensar a realidade social, diferenciando-se das preocupações voltadas às explicações transcendentais e assim progressivamente das demais ciências como uma forma racional e ciências, sistemática de compreensão da sociedade. Diferentemente das explicações da filosofia, a sociologia utiliza em suas análises o método estatístico estatístico, além da observação empírica e de uma neutralidade metodológica. Para a sociologia, o tipo de conhecimento produzido pode servir a diferentes tipos de interesses; desde construir uma forma de conhecimento comprometido com emancipação humana, até criar um tipo de conhecimento orientado no sentido da promoção do melhor entendimento dos homens acerca de si mesmos, com a finalidade de alcançar maiores patamares de liberdade política e de bem-estar social. A sociologia pode também ser considerada uma “ciência da ordem”, a partir do momento em que seus resultados sejam utilizados para melhorar os mecanismos de dominação por parte do Estado ou de grupos minoritários minoritários. Interatividade A escola fisiocrática teve origem no século XVIII e é considerada a primeira escola científica. Seu surgimento esteve relacionado com: a) O pioneirismo português. b) Os contratos entre os homens e as garantias de liberdade individual. c) A expansão marítima. d) A colonização espanhola. e) A luta contra o mercantilismo. Principais correntes sociológicas: Com o desenvolvimento do pensamento sociológico, surgiram diferentes correntes, isto é, maneiras diversas de conceber essa forma de conhecimento. Essas correntes são classificadas em: organicismo positivista, teorias do conflito, formalismo, behaviorismo social e funcionalismo. Organicismo positivista: Tendência do pensamento originado na filosofia idealista que construiu sua visão do mundo sobre um modelo orgânico, enquanto o positivismo se fundamenta em uma interpretação do mundo baseada exclusivamente na experiência e adota como ponto de partida a ciência natural, que tenta aplicar seus métodos no exame dos fenômenos sociais sociais. Teoria do conflito: Permitiu à sociologia uma nova dimensão da realidade e é considerada a segunda grande construção do pensamento sociológico, surgida ainda antes que o organicismo tivesse alcançado sua maturidade. Em seus pressupostos, o problema das origens e do equilíbrio das sociedades perdeu importância diante dos significados atribuídos aos mecanismos de conflito e de defesa dos grupos e da função de ambos na organização de formas mais complexas de vida social. É importante destacar, entre essas teorias, o socialismo marxista, que representava uma ideologia do conflito defendida em nome do proletariado, além do darwinismo social, que representava uma ideologia elaborada para as classes superiores da sociedade que defendia uma política seletiva e eugênica. Ambas enriqueceram a sociologia com novas perspectivas teóricas. Para os darwinistas sociais, as atividades de assistência e bem-estar social não devem ocupar-se dos menos favorecidos socialmente porque estariam contribuindo para a destruição do potencial biológico da raça, raça já que a pobreza seria apenas a manifestação de inferioridade biológica. Esses teóricos passaram a ser criticados pelas suas conotações claramente racistas e sectárias sectárias. Formalismo: Corrente teórica que definiu a sociologia como o estudo das formas sociais, isto é, para esses teóricos, o papel da sociologia era estudar os acontecimentos e as relações sociais. A sociedade só pode ser compreendida a medida que se façam comparações entre as relações que caracterizam qualquer sociedade ou instituição, como as relações entre marido e mulher ou entre patrão e empregado, e não entre sociedades globais, ou entre instituições de diferentes sociedades. Behaviorismo social: Corrente surgida entre 1890 e 1910, que se dividiu em três grandes ramos: Behaviorismo pluralista; Interacionismo simbólico; Teoria da ação. Funcionalismo: integrado por dois importantes ramos: o macrofuncionalismo, derivado do organicismo sociológico e da antropologia, e o microfuncionalismo, inspirado nas teorias da escola psicológica da Gestalt e no positivismo. Auguste Comte e o positivismo: Nasceu do “cientificismo”. Após a Revolução Industrial, a ciência e a técnica tornaram-se aliadas, provocando intensas modificações na sociedade como jamais havia ocorrido. A ciência passa a ser considerada o único conhecimento possível e o método das ciências da natureza, o único válido. O método do positivismo: Baseado na observação dos fenômenos, por meio da promoção do primado da experiência sensível, única capaz de produzir, a partir dos dados concretos (positivos), a verdadeira ciência (na concepção positivista), sem qualquer atributo teológico ou metafísico, subordinando a imaginação à observação, tomando como base apenas o mundo físico ou material material. Na concepção de Comte, o estado positivo corresponde à maturidade do espírito humano e o termo positivo designa o real em oposição ao quimérico, a certeza em oposição à indecisão o preciso em oposição ao indecisão, vago. É o que se opõe a formas tecnológicas ou metafísicas de explicação do mundo. “O objetivo da sociologia, portanto, é definir o que a sociedade é e não dizer o que ela deveria ser.” (Auguste Comte) A influência do positivismo no Brasil: Destacam-se em suas ações as seguintes medidas republicanas sob a influência do positivismo: a frase expressa na bandeira republicana: “Ordem e Progresso”; a separação da Igreja e do Estado; as leis de decreto dos feriados; a instituição do casamento civil. O darwinismo social e o contexto histórico do positivismo: Ao se apoderarem de regiões do mundo cujo modo de vida era totalmente diferente do capitalismo europeu, o confronto entre as diferentes culturas era inevitável. “Assim, a ‘civilização’ era oferecida, mesmo contra a vontade dos dominados, como forma de ‘elevar’ essas nações do seu estágio primitivo a um nível mais desenvolvido” (COSTA, (COSTA 1997, p. 47). As ideias de Charles Darwin sobre a evolução biológica das espécies animais contribuíram para desenvolver essa nova forma de pensar dos europeus. Essas ideias que estavam relacionadas às ciências naturais passaram a ser utilizadas também por alguns estudiosos das ciências humanas, resultando no darwinismo social. Para essa concepção, as sociedades se transformam passando de um estágio inferior a outro superior, garantindo a sobrevivência de sociedades e indivíduos mais fortes e mais evoluídos. O livro “A origem das espécies”, de Darwin: Nessa obra, Darwin propôs uma teoria para o surgimento de novas espécies partindo de outras. A seleção natural seria o resultado da luta pela sobrevivência, envolvendo o ser humano e sua capacidade de se reproduzir. Francis Dalton transportou essas ideias à sociedade, buscando promover o conceito de “melhorias hereditárias”. Essa proposta se desenvolveu entre 1865 e 1869 e passou a ser conhecida como eugenia após a morte de Darwin. As críticas ao darwinismo: Aplicar os princípios da seleção natural nas sociedades humanas tornou-se o centro das críticas ao darwinismo que, em sua concepção, não levou em conta o caráter cultural da vida humana, o desenvolvimento de suas formas de vida ou princípios diferentes daqueles existentes na natureza. Essa transposição serviu para justificar ações políticas e econômicas que intervinham em sociedades sem ao menos avaliar o que realmente significava o “mais forte” ou o “mais evoluído”. O determinismo científico: De acordo com as concepções do determinismo científico, tudo que existe tem uma causa e o mundo é explicado pelas suas necessidades e não pela liberdade. Necessário significa tudo que tem de ser e não pode deixar de ser. No século XIX, essa concepção foi aplicada pelos positivistas às ciências humanas, considerando a escolha livre uma mera ilusão. Taine (1828-1893), discípulo de Comte, tornou-se conhecido por adequar essas concepções às leis da sociologia, segundo as quais toda vida humana social se explicaria por três fatores: A raça: grande força biológica das características hereditárias, as quais determinam o comportamento do indivíduo. O meio: no qual o indivíduo se submete a fatores geográficos (como o clima, por exemplo), bem como o ambiente sociocultural e as ocupações cotidianas da vida. O momento: pelo qual o indivíduo é fruto da sociedade em que vive, estando subordinado a uma determinada maneira de pensar as características de seu tempo. O pressuposto do pensamento de Taine é o determinismo, pois para ele o ato humano não é livre, já que esses fatores interferem em todos os aspectos da vida. Interatividade Podemos destacar como influência do positivismo no Brasil, as seguintes ações republicanas: a) A separação da Igreja e do Estado e a instituição do casamento. b) A impossibilidade da liberdade religiosa e a expansão da Igreja. c) A reforma da imprensa e a união das escolas militares. d) As leis de decretos dos feriados e a imposição da religião positivista. e) A frase expressa na bandeira: “Liberdade e Ordem” e o anonimato da imprensa. ATÉ A PRÓXIMA!