OFICINAS DE TEATRO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UM OLHAR A PARTIR DOS OBJETIVOS DA ONU PARA O DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO¹ 1 Bittencourt, C. dos, Santos2; Boer, N.3 Trabalho de extensão, PROEX/ UNIFRA, RS. Acadêmico do Curso de Pedagogia, UNIFRA, RS, Brasil. 3 Professora orientadora da UNIFRA, RS, Brasil. E-mail: [email protected]; [email protected] 2 RESUMO O trabalho relata experiências vivenciadas em dois anos e meio da oficina de teatro-educação, realizada com o objetivo de sensibilizar estudantes do ensino fundamental acerca das questões ambientais, em especial a água. Os participantes foram 36 estudantes das séries finais do Ensino Fundamental de uma escola municipal de Santa Maria, RS e 15 bailarinas que frequentam a Royale Escola de Dança e Integração Social, da mesma cidade. As atividades desenvolvidas fundamentamse nos princípios do teatro-educação, descritos por Spolin (1987) e, no Teatro do Oprimido, de Boal (1996). A análise é realizada a partir dos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODMs), especificamente, o objetivo número dois Educação Básica e o objetivo número sete, Sustentabilidade. Conclui-se que aliar o teatro à educação contribui, de forma efetiva, para atender os oito ODMs, no que tange à sensibilização dos educandos. Portanto, a educação, como mediadora das relações humanas, é uma das instituições responsáveis por difundir os “oito jeitos” para transformar o mundo em um local mais harmônico para todos. Palavras - chaves: teatro-educação; Objetivos de Desenvolvimento do Milênio; meio ambiente. 1 INTRODUÇÃO O teatro como recurso didático apresenta, ao longo do desenvolvimento da humanidade, um quadro bastante rico em aspectos educacionais e de transformações sociais, desde a antigüidade clássica à atualidade. Neste intuito, estruturou-se a oficina de teatro-educação, como metodologia para trabalhar as questões referentes ao meio ambiente, em especial, a água. A primeira oficina foi desenvolvida na Escola Municipal de Ensino Fundamenta Tenente João Pedro Menna Barreto, no período de 2008 – 2009 e, a partir de 2010, na Royale Escola de Dança e Integração Social, de Santa Maria, RS. A oficina visa proporcionar aos estudantes e comunidade escolar o contato direto com o fazer teatral aliado à educação. Portanto, trata-se de uma atividade interdisciplinar, desenvolvida de forma lúdica, criativa e voltada à crítica reflexiva das questões globais emergentes como a sustentabilidade dos recursos hídricos necessários à continuidade da vida no planeta. Os resultados obtidos com as vivências nas oficinas possibilitaram a elaboração de diversos artigos que foram apresentados em eventos científicos e, portanto, publicados. Neste trabalho, procurou-se um novo olhar sobre as atividades do teatro educação, a partir dos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODMs), estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU). Para análise, considera-se o objetivo número dois Educação Básica, por apresentar uma proposta de educação de qualidade para todos e, o objetivo de número sete, Sustentabilidade, por estar voltado à melhoria na qualidade de vida da população e a sensibilização para os cuidados com as questões do meio ambiente. As informações partilhadas e as situações experienciadas na oficina de teatroeducação têm por objetivo geral conhecer as percepções dos participantes a respeito das questões ambientais, para atuar no desenvolvimento de sensibilidades e da reflexão crítica sobre a realidade dos problemas emergenciais. 1 De modo específico, o presente trabalho visa apresentar uma análise do teatro, como arte capaz de transformar a educação ambiental em sala de aula e em espaços sócioeducativos em uma prática reflexiva e significativa, nas perspectivas apresentadas pela ONU, para o desenvolvimento dos povos no terceiro milênio. 2 REVISÃO DA LITERATURA Esta seção está dividida em dois tópicos. No primeiro apresenta-se a construção histórica dos ODMs e, na sequência, a proposta da oficina de teatro – educação. 2.1 OS OBJETIVOS E SUA CONSTRUÇÃO HISTÓRICA Almeida (2007) apresenta em sua obra: Os desafios da sustentabilidade, uma retrospectiva histórica da construção da proposta da ONU e algumas ações que efetivaram tais proposições. Em setembro do ano 2000, representantes de 189 países reuniram-se na sede da ONU, em Nova York, em clima de otimismo, para compactuar com a análise dos maiores problemas mundiais, estabelece-se assim, os oito Objetivos do Desenvolvimento do Milênio ou ODMs, que no Brasil são chamados de oito Jeitos de Mudar o Mundo. Neste encontro, ficou definido o prazo de 2015 para alcançar as principais metas dos oito ODMs que estão voltadas à construção de uma sociedade mais justa, harmônica, sustentável, em equilíbrio com o planeta, o grande oprimido pelos sistemas políticos, econômicos e sociais que vigoram. Parte-se da premissa que juntos nós podemos mudar a nossa rua, a nossa comunidade, a nossa cidade, o nosso país e porque não o mundo? A discussão levantada pelo maior encontro de líderes mundiais na história da ONU aprovou a Declaração do Milênio, comprometendo as nações para uma nova cooperação global para reduzir a pobreza extrema, as acentuadas desigualdades e a sustentabilidade, ainda estabelece uma série de metas e prazos, que ficaram conhecidos como Metas do Milênio a serem alcançadas até o ano de 2015. As metas expostas neste documento são obrigatórias, quantificáveis e visam combater a pobreza extrema, a fome, doenças infectocontagiosas, a falta de moradia adequada e a exclusão, enquanto promoção da igualdade de gênero, educação e sustentabilidade ambiental. Tais objetivos, também se apropriam dos direitos humanos, em específico: o direito a saúde, educação, habitação, segurança e busca pela sustentabilidade. Os oito jeitos de mudar o mundo, ou os ODMs apresentam-se divididos da seguinte maneira: 1- Erradicar a pobreza extrema e a fome; 2- Atingir o ensino básico fundamental; 3 – Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia da mulher; 4 – Reduzir a mortalidade infantil; 5 – Melhorar a saúde materna; 6 – Combater o HIV, AIDS, Malária e outras doenças; 7 – Garantir a sustentabilidade ambiental e 8 – Estabelecer parcerias mundiais para o desenvolvimento. Cada objetivo é representado por um logo, que circula pelos países envolvidos, difundindo e popularizando as metas previstas. O selo social, ou selos ODMs foram criados em 2007, pela empresa Effetiva Comunicação & Marketing, em Itajaí, Santa Catarina – Brasil, analisado e aprovado pela ONU, encontra-se disponíveis em sua página oficial e buscam sintetizar os oito objetivos para a construção de um mundo mais justo. 2 Figura 1 Fonte: http://www.onu-brasil.org.br/levantese.php Neste texto, a atenção está centrada nos objetivos número dois e sete, por aproximarem-se de algumas propostas apresentadas pelo curso de graduação em Pedagogia, no que tange aos fundamentos da educação ambiental, em especial, metodologias para tais fins. Na América Latina, as problemáticas emergentes são inúmeras, em especial as questões referentes a uma educação de qualidade, um dos pontos específicos a serem abordados no trabalho, bem como a sua aplicabilidade em relação à Educação Ambiental. Assim, pode-se questionar como a Pedagogia e os cursos de formação de professores contribuírem para a instauração efetiva de tais mudanças? Segundo aponta Almeida (2007), a degradação do meio ambiente é produto do desenvolvimento do capitalismo e do paralelo crescimento das condições de miserabilidade que cada vez mais pessoas se encontram no mundo. Com este pensamento, A Declaração Mundial do Milênio se propôs a fomentar e cobrar dos países uma complexa relação de ajuda e colaborações para articular todas as sociedades na busca da construção de uma sociedade mais justa, harmônica para todos e com um meio em que os homens, assim como as demais espécies, construam interrelações e ações para minimizar a degradação ambiental. Segundo o autor, propõe-se uma articulação do mundo tripolar: governos, empresas e a sociedade civil organizada. Na Declaração Mundial do Milênio, mais especificamente em 2005, o relatório publicado pela ONU, revela que a renda per capta dos vinte países mais ricos do mundo triplicou, enquanto a renda dos vinte países mais pobres subiu apenas 25 % Isto mostra que historicamente amplia-se o abismo entre pobres e ricos no mundo (ALMEIDA, 2007). A análise dos dois objetivos anteriormente especificados cumpre o papel de oportunizar a reflexão para tais problemáticas, enfocando a realidade brasileira e latino americana, convergindo para o papel da educação e dos educadores, colaboradores para essa nova visão de homem, mundo, sociedade e meio ambiente. Centra-se a discussão na América latina, em especial, o Brasil, por serem, segundo o relatório de Genebra (2006), exposto por Almeida (2007), como a parcela do globo que mais lentamente apresenta resultados satisfatórios. Em relação ao objetivo número dois, uma educação de qualidade para todos, um direito constitucional, agora internacional, como mostra o autor, o Brasil tem 18 milhões de habitantes que nunca foram matriculados em uma escola e estamos no sétimo lugar no ranking dos países com maior números de analfabetos, isso, sem mencionar o de analfabetos funcionais, produto dos ineficientes programas educacionais. 3 Acredita-se assim como aponta Boer (2007) que uma educação que não busque desenvolver as sensibilidades dos educandos, jamais conseguirá contribuir para a ruptura com os alarmantes índices apresentados pela ONU. Neste sentido estruturou-se a proposta de um projeto de extensão que se propusesse a trabalhar com o que intitulamos processo de alfabetização estética, direcionado a estudantes de uma escola municipal, da rede pública de Santa Maria, pelo período de dois anos. A partir de 2010, estas ações se estendem a um espaço de educação não formal, uma ONG sócioeducativa que trabalha com meninas em situação de vulnerabilidade social. O trabalho que está sendo desenvolvido por meio do teatro atende o sétimo ODM, no que tange a melhoria da qualidade de vida e o respeito ao meio ambiente. Assim, a partir da experiência na escola regular e nesta ONG, percebe-se que a metodologia voltada para as sensibilizações mostra-se eficiente ao unir teatro e educação como condutores de um amplo e complexo processo de mudança de atitudes voltadas à melhoria e transformação da realidade. Neste intuito, lança-se a perspectiva de direcionar o olhar para cada um dos oito ODMs, apresentados a partir da metodologia do teatro– educação A síntese do processo dos ODMs converge para que todos trabalhem pelo desenvolvimento da humanidade. Proponham ações, busquem colaborações e colaboradores para se alcançar a construção da almejada nova sociedade. Entre as inúmeras ações possíveis para se engajar na filosofia preconizada pela ONU, apresenta-se esta reflexão fundamentada em uma prática educativa por meio do teatro. Acredita-se que desta maneira eleva-se a condição de responsável pelos processos educativos e transformação social. Converge-se o pensamento na busca de ações pedagógicas que culminem para a proposição da ONU e os oito ODMs, na construção de um sistema mundial de cooperação e ajuda mútua entre os povos e melhoria das condições subumanas que milhões de seres humanos, em plena era da globalização, ainda se encontram. 2.2 A PROPOSTA DE SENSIBILIZAR PELO TEATRO - EDUCAÇÃO Pode-se considerar a pesquisadora norte-americana Viola Spolin (1987), como a autora que mais contribui para o esclarecimento das inter-relações entre teatro e educação, por meio da linguagem cênica, do jogo e da improvisação, como formas naturais de expressão da espécie humana. Com mais de três décadas de pesquisas junto a crianças, pré-adolescentes, adultos e idosos nos Estados Unidos da América, Spolin (1987), utiliza a estrutura do jogo com regras como base para o treinamento técnico do teatro para tentar libertar os participantes de comportamentos mecanicistas e massificados. A técnica por ela desenvolvida permite conhecer a abordagem histórico – cultural de um indivíduo, seu desenvolvimento intelectual, a fim de incorporá-lo ao exercício lúdico do teatro. Segundo essa autora, o ato de improvisar, ou, oportunizar aos estudantes um momento de expressão criativa conduzido pelo jogo de contracenação, na solução de um problema, introduzido pelos jogos infantis, constroem as bases iniciais da alfabetização da linguagem teatral, que apresenta uma estrutura básica que ordena a ação da temática explorada. Tal estrutura se caracteriza pelo início, desenvolvimento, clímax e fim. Essa estrutura aristotélica é básica para que os estudantes familiarizem-se com a linguagem teatral. Permite transmitirem idéias e sentimentos, que expressados para o coletivo, convide-o a mergulhar no lúdico e no imaginário. Aplica-se, portanto, para a resolução de qualquer problemática que parta da realidade e do contexto histórico–social da comunidade e, ou, da escola. A experiência profissional com o teatro mostra que normalmente no início de uma atividade, coloca-se o problema ou situação sobre o qual a improvisação está amparada. Pelo desenvolvimento a situação é ampliada por meio do encadeamento das ações conduzidas a um clímax, que é o auge do conflito colocado pelo problema, sendo a solução do mesmo exposta no final. 4 É por meio da exploração do jogo, que os estudantes podem desenvolver esta estrutura que passa pela ação e que coletivamente caminha para a identificação de aspectos como ritmo pessoal e ritmo coletivo. Movimentados de forma dinâmica e pelo respeito às diferenças apresentadas, no desenvolvimento dos encontros e familiarização com os integrantes de um grupo, os participantes interagem e socializam o conhecimento na construção estética da expressão. No teatro, considera-se a ação teatralizada o enfoque central, sob o qual os estudantes, a partir de uma linguagem corporal (corpo e pensamentos integrados), podem comunicar os seus sentidos. O corpo é o ponto de partida para o teatro e a expressão que irá determinar o surgimento da ação assim que cada atividade, movimento ou gesto tiver uma motivação, uma intenção, um objetivo a ser alcançado no contexto colocado pelo tema ou problema da improvisação. Segundo Spolin (1987), os elementos da ação a serem considerados são: a atenção, que está relacionada à atenção a si e, portanto ao relativo controle do corpo e do pensamento; a atenção ao objeto de jogo (problema) e aos colegas, reforçando a idéia das trocas entre o coletivo. O trabalho contínuo com estudantes nos leva a observar que a imaginação faz parte da relação construída pelos estudantes com o objeto de atenção que é proposto pelos colegas de cena ou por uma ação individual. Pelo exercício da imaginação, os estudantes constroem imagens que podem ser teatralizadas. Essas imagens permitem a continuidade do jogo e estabelecem as situações que são os acontecimentos que surgem como desenvolvimento do problema por meio da ação, para sua posterior estruturação. O contexto sobre o qual a situação se coloca, busca retirar do meio as informações para que estas sejam verdadeiras para os estudantes familiarizar-se com o fazer teatral como parte do exercício, da repetição, da estruturação, que não pode ser mecanicista. É dar vida para algo, que se busca pela repetição melhorada, necessita inicialmente a construção e desenvolvimento de um canal para sensibilização do estudante, que se faz pelo jogo e a improvisação, um exercício de liberdade que apresenta em si os limites e propósitos a serem explorados ou esteticamente estruturados após o momento inicial da livre expressão. Levar os resultados estéticos estruturados em forma de espetáculo teatral à público, cumpre um papel de descentralizar a arte e a cultura ecológica desenvolvida pelos estudantes em comunidade escolar. Assim, a comunicação direta com a platéia, seja ela formal ou composta de colegas de classe é uma conseqüência do desenvolvimento e do envolvimento dos mesmos com o fortemente enfatizado coletivo. Na busca de um mecanismo capaz de aliar o teatro à educação e contribuir para os processos de desenvolvimento do humano e suas capacidades de socializar e melhorar-se a partir do próximo e das relações e situações vivenciadas expandidas para seu meio como reflexos desta sensibilização, ou mudança. Para Boal (1996), apresentar possibilidades para uma mudança social ou mudar um pequeno recorte de uma estagnada realidade, parte de princípios de uma educação não formal. Segundo o autor, para essa finalidade é preciso sensibilizar para poder enxergar, colocar o homem (no nosso caso estudantes e assistidos por uma ONG) em experiências onde lhe seja permitido escolher um ponto de vista para tomar partido. Politizar-se, evoluir intelectualmente é intervir em si e expandir os reflexos deste processo transformador e dialético da realidade. Por tanto, é preciso conhecer para poder escolher, intervir para melhorar, e isso é possível se partir do exercício da expressão, da individualidade e da coletividade humana. Apresentar a realidade contextualizada, mergulhar nela e expandir os resultados na busca de uma maior compreensão das possibilidades geradoras de mudanças, que por menores que sejam, devam existir. Dentro de uma visão politizada, de resistência e enfrentamento de uma problemática social, próxima ao teatro do oprimido1, que busca um esclarecimento do homem para que este não seja um objeto de exploração, o meio ambiente, seria o grande oprimido, e os 5 homens os opressores. Inverter essa lógica parte de um processo que, por meio da experiência e do posterior debate os estudantes possam contribuir para a construção de alternativas geradoras de mudanças ambientais. Partindo da mudança de pequenas atitudes dos homens, diferenciar o olhar sobre o mundo, ampliá-lo, cada vez mais é um processo sensível, que segundo Boal (1996), o homem deve resistir e lutar contra comportamentos mecanicistas, fortemente presentes em uma sociedade de consumo, como em especial as dos países subdesenvolvidos. A sociedade contemporânea, consumista e, portanto, responsável pela produção de toneladas de embalagens plásticas que diariamente são depositadas no ambiente, se isenta das responsabilidades, e, grande parte deste lixo, desemboca nas águas de rios e córregos de nossa cidade e geram inúmeros problemas ambientais e de saúde pública, além da conhecida poluição. Sensibilizar e desenvolver o engajamento dos estudantes é uma tentativa de aproximação das práticas do teatro – educação com os fundamentos da educação ambiental, especialmente das correntes práxica e crítica. Observam-se também interfaces com a corrente humanista e conservacionista recursista. Conforme Sauvé (2005), a corrente práxica de educação ambiental prioriza a ênfase da aprendizagem na ação, pela ação e para a melhora desta, pois, a práxis consiste essencialmente em integrar a reflexão e a ação, que, assim, se alimentam mutuamente. A dinâmica na corrente práxica visa à mudança real da realidade e das pessoas que são os verdadeiros atores e assumem papéis efetivos na transformação socioambiental e educacional. A corrente práxica é muitas vezes associada à da crítica social. Esta corrente insiste na análise das dinâmicas sociais que se encontram nas bases das problemáticas e realidades ambientais, define como as relações de poder são identificadas e denunciadas. A dinâmica crítica apresenta componentes políticos que apontam para um maior esclarecimento da alienação característica aos países em desenvolvimento econômico, trata-se de uma postura corajosa que faz com que o homem vigie e se auto critique na busca de coerências e incoerências no seu discurso e respectiva ação. Por sua vez, a corrente humanista, trabalha com o cognitivo, e busca construir um processo educacional que passa pelo sensorial, pela sensibilidade afetiva e a criatividade. Nesta corrente, a porta de entrada para conhecer o meio ambiente, é a paisagem, e dela que analisamos a atividade humana, ela nos informa como o homem estrutura-se em sociedade e como nela interage. Portanto, conhecer o meio ambiente permite um melhor relacionamento com o mesmo. Optou-se também pela corrente conservacionista recursista, por ser uma das correntes que apresenta como solução das problemáticas ambientais a reutilização do lixo e conscientização da utilização dos recursos naturais, com enfoque central na construção de uma sensibilidade e apresenta também como recorte possível, a educação próxima à arte. A dinâmica desta corrente caracteriza-se por apresentar uma preocupação em educar para o consumo e para a conservação racional dos recursos naturais, ou, busca um melhor esclarecimento à cerca do conceito de ecoconsumo, nos moldes da gestão ambiental. 3 METODOLOGIA Para os propósitos deste trabalho foram realizados estudos bibliográficos, direcionados à análise de documentos da ONU, referentes aos ODMs, com o olhar das propostas de teatro – educação e correntes de educação ambiental, especialmente no que se refere aos objetivos de número dois e sete. Parte da proposta estruturou-se em criar uma Oficina de teatro – educação, com encontros semanais com duração de quatro horas/aula, no período de maio a novembro de 2008.e 2009 com um grupo de trinta e seis estudantes, participantes da oficina de teatro – educação de ambos os sexos, com idade entre 10 e 17 anos, que frequentam do quinto ao oitavo ano do ensino fundamental da Escola Municipal Tenente João Pedro Menna Barreto, 6 e em 2010 estendeu-se o projeto a ONG Royale, por julgar que tais reflexões devem extrapolar os muros escolares e serem apropriados por toda a sociedade civil. A transformação é resultado da reflexão e sensibilização de todos. As atividades foram realizadas em horários extraclasse e compreendeu a aplicação de um conjunto de técnicas teatrais, como o jogo dramático; a improvisação; a observação da realidade ambiental,a coleta de materiais recicláveis, especialmente sacolas plásticas; elaboração de textos, como a dramaturgia construída pelos estudantes e reflexão à cerca das imagens que o meio nos lança. As atividades realizadas na oficina foram analisadas a partir dos ODMs dois e sete, já citados na revisão da literatura em duas categorias distintas para uma maior compreensão do trabalho, na busca de colaborar com o desenvolvimento de tal processo, fundamental a construção de uma nova sociedade para todos. 4 RESULTADOS Em relação ao ODM de número dois, o de uma educação básica de qualidade e universal, o teatro pode contribuir no que tange para o tempo de permanência dos educandos na escola, bem como se mostrou um atrativo para que os adolescentes não evadam da escola, alem é claro de contribuir para harmonizar o conflitante ambiente escolar. Acredita-se, assim, como descreve Boer (2007) que a educação é um processo que depende da sensibilização, e neste sentido, sensibilizar os educandos para sua permanência na escola, é uma tarefa que diariamente em sua dinâmica se constrói e o teatro pode ser considerado um excelente recurso metodológico capaz de auxiliar na mudança de opinião e perspectivas dos educandos em relação à conclusão de uma educação básica, fundamental à nova postura de homem que se almeja. Dentro destes princípios Boal (1996) apresenta a poética do teatro do oprimido, aliada aos pressupostos de Spolin (1987) com as técnicas para o teatro – educação, ambos direcionados a libertar os indivíduos (educandos) dos comportamentos mecânicos e massificados, característicos a atualidade. Resulta-se desta maneira em uma revolução no âmbito escolar, e se faz necessária a construção de uma instituição educação capaz de ser atrativa aos educandos do terceiro milênio, com necessidades e anseios que apenas o quadro ou os conteúdos curriculares podem oportunizar. A escola clama por ação, e em sua gênese o teatro é ação. Com base na reflexão do ODM número sete, a análise que se faz é a partir da tríade harmonicamente construída pelo teatro do oprimido exposto por Boal (1996), teatro educação de Spolin (1987), correntes de educação ambiental de Suavé (2005). Este tripé permite trabalhar a educação ambiental, na perceptiva da sustentabilidade, em uma dinâmica onde o meio ambiente é o grande oprimido, os educandos são os opressores e também os curingas, ou seja, responsáveis por intervir na ação e apresentar sínteses para uma possível mudança que, por menor que possa parecer, deva existir e representar uma cooperação com as demandas voltadas à melhoria do ambiente e dos homens (BOAL, 1996). Portanto, as atividades propostas pelas oficinas de teatro-educação caminham para a adesão da possibilidade de levar o teatro para o cenário das escolas e colocar os educandos, ou, atores – sociais, em contato com a problemática socioambiental da atualidade. Além dos inúmeros ganhos no campo da sociabilidade dos educandos participantes da oficina, aponta-se uma possível metodologia centrada nos pressupostos do teatro – educação e do teatro do oprimido como capazes de construir um canal aberto as sensibilizações, fundamental aos ODMs. 7 5 CONCLUSÃO Colocar as escolas e a sociedade civil como um todo, organisticamente focada na construção de uma nova ordem mundial, proposto pela ONU, passa por uma educação crítica e reflexiva, capaz de mudar a maneira turva em que insistimos ao olhar para o mundo que nos circunda. A ênfase dada nessa reflexão é de que o homem sempre se colocou numa posição de domínio e superioridade em relação às demais espécies e à natureza. Essa visão antropocêntrica é apontada como uma das causas da degradação ambiental. Acredita-se que, desta maneira, arte e educação unidas, mostram-se ferramentas fundamentais para ascensão deste novo tempo. Assim, é de se esperar que homens sensibilizados e preocupados com pequenas mudanças tenham comportamentos e ações como à de separar o lixo do quintal antes de jogá-lo no ambiente. O contato direto com o fazer teatral, aliado a um fim específico, a educação ambiental, possibilitou aos estudantes e assistidos pela ONG, construírem e desenvolverem um canal natural de expressão, essencial em um processo de sensibilização. Portanto, faz-se necessária a aproximação da escola com a arte, seja o teatro ou outra manifestação estética humana. A arte permite construir laços de uma trama sólida que auxilia as pessoas, desde cedo, estarem atentas às responsabilidades com o meio ambiente, buscando sempre possibilidades de ação para reverter o triste quadro que dia-adia ajudamos a construir. Acredita-se que desta maneira, o teatro na educação escolar e na educação não formal, contribui de forma direta e rápida para o desenvolvimento de cidadãos responsáveis e éticos com a vida e sensíveis às proposições das oito maneiras de mudar o mundo propostas pela ONU, para este novo milênio. REFERÊNCIAS SPOLIN, Viola. Improvisação para o teatro. São Paulo: Perspectiva, 1987. BOAL, Augusto. O arco-íris do desejo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996. SUAVÉ, Lucie. Uma cartografia das correntes em educação ambiental. In: SATO, Michele;CARVALHO, Isabel Cristina de Moura (Orgs.). Educação ambiental: pesquisa e desafios. Porto Alegre: Artmed, 2005. p. 17- 44. BORBA FILHO, Hermilo. Meditações sobre João Redondo. Mamulengo. Guanabara, RJ. n. 2. 1974. p. 20 – 23. (Publicação da Associação Brasileira de Teatro de Bonecos). ALMEIDA, Fernando. Os desafios da sustentabilidade: uma ruptura urgente. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. BOER, Noemi. Educação ambiental e visões de mundo: uma análise pedagógica e epistemológica. 2007.Tese (Doutorado em Educação Científica e Tecnológica). Centro de Ciências Físicas e Matemática; Centro de Ciências da Educação; Centro de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. Sites consultados http://www.onu-brasil.org.br/levantese.php. Acesso em 17 out. 2010 http://www.portalodm.com.br/obra-sobre-a-economia-do-rs-contempla-os-objetivos-domilenio--n--460.html. Acesso em 16 nov. 2010. 8 http://www.minec.gov.mz/index.php?option=com_content&task=view&id=381&Itemid=1. Acesso em 16 nov. 2010. 9