jovens de comunidade carente de brasília produzem música de

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Brasília DF
JOVENS DE
COMUNIDADE
CARENTE DE BRASÍLIA
S
ou Rejane Pacheco, brasiliense,
O Instituto Reciclando Sons é uma
casada, mãe de dois meninos
entidade de educação musical e apoio
lindos, formada em Música
social, sem fins lucrativos, que, há 11
e terminando o curso de Pedagogia.
anos, atua na comunidade carente da
Sempre acreditei que a música é
Cidade Estrutural em Brasília (DF),
uma linguagem universal e o acesso
atendendo crianças, adolescentes e
a ela deveria ser universalizado para
jovens em situação de vulnerabilidade
todas as camadas sociais. A chamada
social. Seu objetivo é promover a
elitização da música clássica sempre me
educação e profissionalização musical,
pareceu uma desculpa preconceituosa
através da popularização da música
da burguesia vaidosa, que mantém o
erudita e democratização do acesso à
TRANSCENDE AS
academicismo como justificativa de seu
cultura. Os alunos recebem aulas de
CLASSES SOCIAIS.
poderio e desculpa para um sistema de
teoria musical, canto e instrumento,
educação fragmentado, deficitário e,
de acordo com sua aptidão. Violino e
Rejane Pacheco
especialmente, excludente. Afinal, para
violoncelo são alguns dos instrumentos
estudar um instrumento clássico são
que o Instituto Reciclando Sons
necessárias muitas horas de dedicação,
ensina. Os alunos frequentemente se
além do alto custo do instrumento,
apresentam em teatros e locais públicos.
o que torna difícil o acesso a essa
Algumas apresentações de nossos
atividade para as camadas socialmente
alunos podem ser vistas em vídeos no
vulneráveis. Nestas, os adolescentes
YouTube, como uma comprovação de
normalmente têm mais disponibilidade
que a sensibilidade artística transcende
de tempo, devido à ociosidade que
as classes sociais.
PRODUZEM MÚSICA
DE QUALIDADE,
MOSTRANDO QUE
A SENSIBILIDADE
ARTÍSTICA
impera em sua rotina diária. Os jovens,
porém, além de estudar precisam
trabalhar para sobreviver.
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IDEIAS EM GESTÃO | NO 11 | MAR/2013
“
A MÚSICA É
UMA LINGUAGEM
UNIVERSAL E O
ACESSO A ELA
DEVERIA SER
Com as atividades musicais
Foi quando um maestro amigo meu,
POSSIBILITADO
desenvolvidas, o Instituto ressocializa
utilizado como instrumento divino,
A TODAS AS
jovens, tirando-os da ociosidade e
sugeriu que eu assistisse ao filme
mesmo da criminalidade, das drogas e
“Música do Coração”, de 1999, com
CAMADAS SOCIAIS.
das ruas, além de oferecer oportunidade
Meryl Streep, que relatava um fato
A ELITIZAÇÃO DA
para o surgimento de talentos. O
verídico de um projeto de educação
acompanhamento dos alunos mostra
musical desenvolvido numa comunidade
MÚSICA CLÁSSICA
que as atividades musicais desenvolvidas
americana de pessoas socialmente
ME PARECE UM
no Instituto melhoram o seu rendimento
vulneráveis, cujas vidas foram
escolar, nas diferentes áreas do
reestruturadas através da música.
PRECONCEITO DA
conhecimento, além de motivar aqueles
Chorei o filme todo e, ao final, decidi que
BURGUESIA VAIDOSA,
que, despertados para a música, se
iria mudar a minha história e a de outras
desenvolvem profissionalmente na área.
pessoas. Escrevi, então, um projeto e
QUE MANTÉM O
apresentei a uma ONG em que minha
ACADEMICISMO
Uma nova história
mãe era voluntária, na comunidade
da Cidade Estrutural, o antigo lixão de
COMO JUSTIFICATIVA
Brasília.
PARA UM SISTEMA
Apoios
EDUCACIONAL
cobranças que a construção da minha
Atendemos atualmente 120 alunos na
EXCLUDENTE.
carreira como violinista exercia
nossa sede e mais 55 em uma entidade
sobre mim. A atividade musical que
parceira. O nosso trabalho é muito
eu desenvolvia era uma escravidão,
valorizado e admirado por pessoas que,
desprovida de criatividade e prazer, só
como nós, buscam um novo modelo
focada na técnica instrumental. Decidi
de sociedade mais justa. Temos o
me afastar durante um ano para tentar
patrocínio do Instituto Bancorbrás,
“respirar” um pouco.
que apoia diretamente 50 crianças e
A ideia de criar o Instituto surgiu quando
eu estava vivenciando problemas
familiares e passando por um processo
depressivo. Já não suportava as
”
jovens no projeto educacional Notas &
Nesse período, vivendo uma tristeza
Canções do Instituto. As contribuições
inconsolável, busquei ajuda de uma
do Comitê SOS Cidadania do Banco
psicóloga e de amigos a fim de me
do Brasil Brasília e do Comitê da Ação
reencontrar.
e da Cidadania dos Servidores da
Câmara dos Deputados atendem nossas
necessidades estruturais.
FACULDADE AIEC
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A empresa Memora Processos
remunerar melhor o nosso quadro de
Inovadores apadrinha dois alunos
pessoal; contratar profissionais que
formados que atuam diretamente na
fortaleçam a nossa gestão; melhorar
gestão do Instituto, com curso superior
nossa estrutura física, alugando um
em Administração e Pedagogia.
espaço maior, com um mobiliário mais
adequado; adquirir mais instrumentos;
Contamos também com a solidariedade
e oferecer bolsas de estudo para os
de professores voluntários, de comitê de
alunos destaques, a fim de incentivá-los a
funcionários de empresas que realizam
continuar os estudos.
campanhas para nos ajudar, de empresas
“
O RECICLANDO
SONS É UMA
INSTITUIÇÃO
SOCIOEDUCACIONAL
que nos patrocinam ou colaboram
É possível perceber, atualmente,
conosco em momentos específicos, e de
devido às políticas de incentivo fiscal,
QUE ATUA COMO
clubes de pessoas socialmente engajadas.
um interesse crescente, por parte das
Só não temos apoio do governo. A
empresas, de investimento no setor
UM BRAÇO
eventual preocupação da administração
social. Os grandes financiadores inclusive
SOCIAL ONDE
local e de políticos com o Instituto se
criaram seus próprios institutos, que
deve apenas ao interesse de usar o nosso
oferecem recursos através de editais
O ESTADO NÃO
trabalho em benefício de suas carreiras
em que são especificadas as regras
CHEGA. APESAR
políticas.
a serem seguidas para pleitear o
DE ESTARMOS, DE
Desafios
Nosso desejo é ampliar, para outras
comunidades vulneráveis do entorno
do Distrito Federal, o modelo de
educação musical que criamos ao longo
destes 11 anos, tendo como inspiração
a “Pedagogia do Oprimido” de Paulo
Freire. Para isso, precisamos de recursos
financeiros, hoje insuficientes até mesmo
para as demandas atuais, que são muitas:
financiamento. Porém, para cumprir as
exigências burocráticas dos editais, é
ALGUMA FORMA,
necessário que o projeto seja elaborado
ALIVIANDO O
por um especialista, o que inviabiliza
a participação da uma ONG como a
GOVERNO DE SUAS
nossa, sem recursos para contratar tal
RESPONSABILIDADES,
profissional. Acredito que os grandes
financiadores deveriam ter uma
NÃO TEMOS
política diferenciada, com regras mais
VISTO QUALQUER
simplificadas, para o acolhimento de
solicitação de ajuda por parte das ONGs
INTERESSE PÚBLICO
de pequeno porte.
DE FOMENTAR E
APOIAR NOSSAS
AÇÕES.
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IDEIAS EM GESTÃO | NO 11 | MAR/2013
”
“
MINHA
Quanto aos pequenos investidores,
As redes que se criam com objetivo
suas ações ocorrem baseadas em
social, porém, devem ter suas ações
indicações recebidas de pessoas
articuladas com as políticas públicas
de seu relacionamento. Apesar dos
e com os interesses de grupos sociais
avanços, falta, ainda, uma atuação mais
organizados. Como exemplo, posso
SOCIAL MOSTRA
objetiva das empresas na área social, o
citar as experiências de economia
QUE SERIA
que seria facilitado com a criação, em
solidária que se desenvolvem graças ao
sua estrutura organizacional, de um
protagonismo social e econômico de
IMPOSSÍVEL
departamento para projetos sociais.
pequenas cooperativas.
UMA SOCIEDADE
Confiança e solidariedade
Minha experiência como
MAIS JUSTA SEM
empreendedora social mostra que seria
O APOIO DA
O Reciclando Sons é uma instituição
socioeducacional que atua como
um braço social onde o Estado não
chega. Apesar de estarmos, de alguma
forma, aliviando o governo de suas
responsabilidades, não temos visto
qualquer interesse público de fomentar
e apoiar nossas ações.
Mas, apesar das dificuldades e
desafios, vejo de forma positiva o
empreendedorismo social praticado
hoje no Brasil, especialmente por
romper com o paternalismo social
exercido ao longo de décadas neste país.
impossível o desenvolvimento de uma
EXPERIÊNCIA COMO
EMPREENDEDORA
sociedade mais justa sem o apoio da
SOCIEDADE CIVIL
sociedade civil e do setor privado, com
E DO SETOR
quem temos um relacionamento de
confiança e solidariedade. As instâncias
PRIVADO, COM
governamentais, por sua vez, além
QUEM TEMOS UM
de se desobrigarem de suas funções
educacionais na comunidade, nos
RELACIONAMENTO
massacram com exigências burocráticas
DE CONFIANÇA E
que dificultam o nosso acesso ao
investimento público.
Finalizo este artigo com o nosso lema
SOLIDARIEDADE.
”
inspirador: “Há quem faça sua parte, há
quem resgate, há quem doe, há quem
sofra, e há quem tire de sua boca para
ver as deles sorrirem.”
Rejane Pacheco
Fundadora, Gerente Executiva e
Coordenadora Pedagógica do Instituto
Reciclando Sons na Cidade Estrutural
– Brasília (DF). Formada em música
com especialização em canto, violino e
regência.
FACULDADE AIEC
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