1 Morfologia de Monsanto (Lisboa) Há 130 milhões de anos, a

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Morfologia de Monsanto (Lisboa)
Há 130 milhões de anos, a Laurásia começou a dividir-se nos continentes norteamericano e euroasiático. Com a abertura do Atlântico Norte, a distensão originou o aparecimento de várias bacias de afundimento, pequenos mares interiores. A figura seguinte apresenta reconstruções paleotectónicas do Atlântico Norte em três momentos da oceanização entre
a sub-placa ibérica e a placa norte-americana:
(A) Pré-oceanização do Atlântico Norte
(B) Ruptura continental a sul da falha da Nazaré - F.N. (há 115 milhões de anos)
(C) Oceanização completa do segmento ibérico do Atlântico Norte (há 110 milhões de anos)
J. C. Kullberg, R. B. Rocha, A. F. Soares, J. Rey, P. Terrinha, P. Callapez, L. Martins (2006) – A Bacia Lusitaniana:
Estratigrafia, Paleogeografia e Tectónica.
In Geologia de Portugal no contexto da Ibéria (R. Dias, A. Araújo, P. Terrinha & J. C. Kullberg, Eds.). Univ. Évora.
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Nas Berlengas, manteve-se uma massa emersa que isolou uma bacia de mar (a Bacia
Lusitaniana - BL) entre essa massa e o bordo do continente, que terminava então na linha
Aveiro – Coimbra – Tomar – Setúbal. A Estremadura, então localizada nessa Bacia Lusitaniana,
estava submersa, e durante milhões de anos foi recebendo os materiais de desmantelamento
dos blocos adjacentes, até à colmatação final da Bacia.
J. C. Kullberg, R. B. Rocha, A. F. Soares, J. Rey, P. Terrinha, P. Callapez, L. Martins (2006) – A Bacia Lusitaniana:
Estratigrafia, Paleogeografia e Tectónica.
In Geologia de Portugal no contexto da Ibéria (R. Dias, A. Araújo, P. Terrinha & J. C. Kullberg, Eds.). Univ. Évora.
A morfologia de Monsanto corresponde a um anticlinal do tipo “domo” edificado a
partir da deformação dos calcários marinhos do início do Cretácico Superior (100 a 89 milhões
de anos). A deformação destes calcários (e respetiva emersão do mar) terá ocorrido com a
instalação do maciço subvulcânico de Sintra, que soergueu toda a zona de Lisboa há cerca de
82 milhões de anos atrás.
Iniciaram-se então, durante 20 milhões de anos, na área ocupada pelo “Complexo Vulcânico de Lisboa”, importantes manifestações vulcânicas que deram origem a uma vasta cobertura de materiais vulcânicos (basaltos, piroclastos, etc.). Os episódios mais importantes
ocorreram na zona de Loures, Montachique, Mafra, Malveira, mas estenderam-se até Runa, a
norte. Ocorreram pelo menos 10 ciclos eruptivos na região de Lisboa, cada um compreenden2
do uma fase explosiva (depósitos de piroclastos) e uma fase efusiva (deposição de
basaltos), com períodos relativamente
longos de acalmia dentro de cada ciclo ou
entre ciclos.
Por sobre estes estratos do Cretácico, depositaram-se depois, ao longo do
Eocénico e Oligocénico (entre há 56 e 23
milhões de anos atrás), materiais essencialmente detríticos (conglomerados, areias
e argilas) de origem continental — o
“Complexo de Benfica”. E, ao longo do
In “A Herança Vulcânica de Monsanto”, Nuno Pereira, em “Guia do
Miocénico (até há 5 milhões de anos
Parque Florestal de Monsanto”, Câmara Municipal de Lisboa,
Lisboa, janeiro de 2011.
atrás), depositaram-se depois areias, areolas, argilas e calcários, em proporções variáveis, ricas em fósseis animais e vegetais. Por fim, já
no Quaternário, foram-se acumulando depósitos aluvionares nas linhas de água (ribeiras secundárias e Rio Tejo).
In “A Herança Vulcânica de Monsanto”, Nuno Pereira, em “Guia do Parque Florestal de Monsanto”, Câmara Municipal de
Lisboa, Lisboa, janeiro de 2011.
Mas os processos erosivos foram retirando da zona mais elevada da serra de Monsanto os materiais mais modernos, pondo a descoberto as formações calcárias anteriores ao
Complexo Vulcânico. Ainda hoje, restos de inúmeras pedreiras em Monsanto testemunham o
fornecimento a Lisboa do duro basalto (negro) para o paralelo de muitas calçadas, e do macio
calcário (branco) para a “calçada portuguesa”, para cantarias e para ornamentação.
Carlos Galrão - 14.dez.2015
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