GT – 08: GEOGRAFIA HISTÓRICA URBANA METODOLOGIA PARA A GEOGRAFIA HISTÓRICA URBANA: DEPOIMENTOS ORAIS [OU TESTEMUNHOS] COMO DOCUMENTOS Everaldo Batista da Costa Universidade de Brasília [email protected] À memória do professor Antônio Carlos Robert de Moraes. Eterna gratidão pelos muitos ensinamentos. RESUMO Parte-se do pressuposto de que o passado é noção que sintetiza fatos memoráveis para todo sujeito situado ou em situação espacial. Esse argumento ganha relevo ante ao objetivo de defender depoimentos orais ou testemunhos como documentos caros à pesquisa em Geografia Histórica Urbana, por subsidiarem pesquisas que não devem perder de vista a referência espacial do passado. A retomada da história, o respeito às categorias e aos princípios do pensamento geográfico, o tratamento das fontes documentais primárias e secundárias são apontadas como balizamento dessa Geografia voltada ao pretérito. Logo, metodologicamente, é feita uma aproximação à recente Geografia Histórica brasileira, são sugeridos depoimentos orais ou testemunhos como documentos nessa Geografia e, por fim, é apresentada uma agenda de pesquisa para uma Geografia Histórica Urbana do Distrito Federal do Brasil, com fundamento nos depoimentos dos operários da construção da cidade e de suas esposas [1956-1960]. Palavras-chave: Geografia Histórica Urbana. Metodologia. História oral. Distrito Federal. 1 1. INTRODUÇÃO A observação direta é um recurso de conhecimento geográfico por excelência. Contudo, os meios de investigação do passado espacial visível ou invisível estão, também, no repertório técnico de outras ciências. Por um lado, se a Geografia é una por seu objeto, por outro, é diversa em suas formas de conhecimento, a utilizar metodologias de abordagem elaboradas com outras finalidades por ciências que concorrem para sua informação global (George, 1986). Nessa lógica, é possível argumentar a favor dos princípios lógicos que carecem de estudo nuançado, ainda hoje, por parte dos epistemólogos e metodólogos da Geografia, uma vez que distância, conexão, extensão, escala, posição, localização, distribuição, dentre outros, é que dão unidade à disciplina. 1 Esse prelúdio serve para dizer que se pretende desvendar, neste ensaio, quais princípios são assumidos pela Geografia História Urbana a caracterizá-la. Para tanto, recorre-se a estudos de Maurício de Almeida Abreu, Pedro de Vasconcelos e Antônio Carlos Robert Moraes, bem como a trabalhos apresentados, nos últimos anos, em mesas relativas a esse recorte. Após o reconhecimento metodológico atinente às pesquisas mais atuais voltadas à área, propõe-se o testemunho ou depoimento oral como mais um tipo de fonte primária muito relevante à pesquisa em Geografia Histórica Urbana. 1 O autor tem em andamento o projeto de um livro sobre os Princípios lógicos e a unidade da Geografia. 2 2. APROXIMAÇÃO METODOLÓGICA HISTÓRICA URBANA BRASILEIRA À RECENTE GEOGRAFIA Tem-se como premissa a necessidade científica de investigação permanente dos novos rumos ou mudanças metodológicas ocorridas nas diferentes áreas da Geografia. No caso deste trabalho, elegeu-se a Geografia Histórica [especificamente com viés na formação territorial urbana] como objeto analítico. Para tanto, adotam-se duas estratégias: a) interpretação do debate assumido por alguns dos principais geógrafos brasileiros debruçados sobre a atual Geografia Histórica; b) análise-síntese dos trabalhos apresentados em mesas relativas à área, no II ENHPG - Encontro Nacional de História do Pensamento Geográfico, ocorrido na Universidade de São Paulo, em 2009 [mesa Geografia Histórica e História Territorial], e no XIII SIMPURB - Simpósio Nacional de Geografia Urbana, realizado na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, em 2013 [mesa Geografia Histórica Urbana].2 Muitos são os autores [geógrafos e não geógrafos] que contribuíram e continuam a contribuir para o caminho de uma consolidação da área tida por Geografia Histórica. No entanto, pelo parco espaço que se tem para este ensaio [que não é de revisão bibliográfica, mas de proposta metodológica], opta-se por dialogar, neste item, com os que são considerados aqui como principais pensadores geógrafos voltados à temática, na atualidade [por mais que não haja consenso sobre tal consideração]: Maurício de Almeida Abreu, Pedro de Almeida Vasconcelos e Antônio Carlos Robert de Moraes. A obra de Maurício de Almeida Abreu é basilar de um percurso da Geografia Histórica brasileira. O autor assumiu o debate da geografia urbana histórica da cidade do Rio de Janeiro e, no entanto, contribui, de maneira mais ampla, para a construção metodológica desta área. Pressupostos metodológicos presentes em algumas de suas obras serão analisados. 2 Justifica-se a escolha destes dois importantes eventos para análise em função da participação do autor nas mesas descritas. 3 Em Construindo uma geografia do passado, Maurício de Abreu reconhece três regras fundamentais para o estudo geográfico do passado. Entende, inicialmente, que as categorias de análise da Geografia são universais, mas as variáveis que as dão corpo não o são, o que exige atenção na adequação destas variáveis ao seu espaço-tempo. A segunda observação é a da importância da contextualização do “presente de então”, ou seja, do passado. “Embora informado pelo presente, o passado não é presente” (Abreu, 2000, p. 18), o que exige pesquisa indireta (fontes secundárias) e pesquisas diretas (arquivos de memórias documentais). Por fim, o autor argumenta que as geografias do passado não trabalham com o passado propriamente dito, mas com fragmentos deixados por ele. “Por isso, é preciso sempre desconfiar dos vestígios que encontramos, pois os documentos não são neutros, isto é, incorporam estruturas de poder” (Abreu, 2000, p. 18). Para esse geógrafo, deve-se buscar dar conta também daquilo que não deixou vestígios, mas que se desconfia da ocorrência. Essas ponderações iniciais apontam, especialmente, para a coerência do tratamento categorial em Geografia Histórica. Por exemplo, concepções mais atuais de espaço, território e paisagem fazem-se pela evidência do mundo técnico mais presente, a demandar adequação aos princípios sociais (ou da relação sociedade-natureza) e morais relativos ao espaço-tempo pretérito da análise, o que requer o máximo cuidado histórico do geógrafo. Isso quer dizer que a Geografia Histórica tem nas categorias do campo do saber geográfico instrumental potencial necessário para o resgate não somente morfológico ou de objetos geográficos que existiram ou que permanecem, mas dos processos de relações socioespaciais do passado, ou seja, das feições expressivorepresentativas da política, da economia e da cultura pretéritas. Pode-se argumentar, a partir disso, que o pesquisador que tenta enquadrar seu estudo em Geografia Histórica deve conhecer, a contento, a epistemologia da Geografia, para não incorrer no equívoco do mal uso ou da interpretação rasteira da categoria espaço ou dos conceitos território, paisagem, lugar e região. Outra questão relevante posta por Maurício de Abreu no trabalho supracitado condiz com a ideia de algumas escolas e pensadores de que a Geografia é uma “ciência 4 do presente” ou de que ela deveria se ocupar de estudar fatos e fenômenos atuais, tendo o passado como subsídio de entendimento do presente, perfazendo-se, assim, uma ditadura do presente. Contudo, pode-se levantar a questão: não seria o presente um quadro espaço-temporal em metamorfose e decorrido de processos sucessivosimultâneos do passado? Sendo o espaço geográfico a sociedade, reconhecer ou potencializar o enquadramento socioespacial do passado em seu decurso não seria importante na dialetização socio-temporal da própria categoria espaço geográfico? Como anunciado em estudo anterior, a dialética do espaço geográfico exige esmiuçamento epistemológico da tríade espaço-tempo-sociedade, bem como a abordagem do universal-particular-singular que atravessam os fenômenos, para a sua compreensão e a do mundo, em seu passado-presente-futuro, ou seja, no seu devir histórico (Costa, 2011). É certo dizer que os trabalhos de Maurício de Abreu trazem como mote a história da formação social e territorial [notoriamente, do Rio de Janeiro], fundado em pesquisa de base, isto é, diretamente em fontes primárias, mas também em estudos já realizados referentes aos fatos e fenômenos já estudados. Importante exemplo desse seu esforço, que demarca uma Geografia Histórica preocupada com a formação social e territorial fluminense, refere-se a Um quebra-cabeça (quase) resolvido: os engenhos da capitania do Rio de Janeiro – séculos XVI e XVII. Nesse estudo, o autor reconhece a ausência de trabalhos geográficos na temática, o que se agrava pelo incêndio que atingiu o arquivo municipal carioca em 1790; porém, o autor identifica e localiza os engenhos fluminenses dos séculos XVI e XVII, através de “quadros agregadores de informações”, onde cada quadro corresponde a um engenho identificado em documentos distintos. Assim, por exemplo, uma informação sobre a venda, em 1664, de um partido de canas situado nas terras de um engenho não identificado, mas que estava localizado em Irajá, foi inicialmente considerada como um dado independente e deu origem a um quadro que intitulamos, provisoriamente, de ‘Engenho em Irajá, 1664’. Da mesma forma, a arrematação em praça pública, em 1683, de um engenho sem localização declarada, mas que soubemos ser ‘de invocação Nossa Senhora do Rosário’, constituiu nova informação isolada e deu origem a outro quadro intitulado ‘Engenho Nossa Senhora do Rosário, 1683’. Aos poucos, entretanto, 5 foi sendo possível detectar, por indícios os mais diversos, que muitas dessas informações ‘independentes’ referiam-se, na realidade, à mesma moenda, o que possibilitou que todas as informações referentes a ela fossem reagrupadas num quadro único. Foi o que aconteceu, por exemplo, com o engenho citado acima. O remembramento permitiu que descobríssemos que o engenho de Nossa Senhora do Rosário, localizado em Irajá, já estava erguido em 1664, quando pertencia a fulano de tal, e continuava a existir em 1683, ano em que foi arrematado em praça pública por beltrano de tal. Esse agrupamento de informações num quadro único possibilitou, por outro lado, que introduzíssemos a diacronia na análise e resgatássemos a trajetória da moenda no tempo. (Abreu, 2006, p. 06). Essa abordagem revela uma metodologia que trata da história social do espaço, de forma que a constituição da localização do fato engenho [enquanto uma variável datada] operou-se pela descoberta processual de evidências em distintos documentos. “Aos dados fornecidos pelos livros cartoriais, agregamos, a seguir, informações obtidas em inventários, verbas testamentárias, livros de tombo das ordens religiosas, autos de medição de terras, autos de demandas judiciais, etc., muitas das quais faziam referência à existência de moendas ou partidos de canas” (Abreu, 2006, p. 06). Tal metodologia sugere, em seu trabalho, princípios que não se restringem à Geografia Histórica, mas denotam a fundamentação da Geografia como campo do conhecimento, a saber, princípios de localização, distribuição e conexão. Um terceiro trabalho de Maurício de Abreu que interessa destacar é Sobre a memória das cidades, vastamente citado, especialmente por aqueles dedicados aos estudos do urbano e da cidade (distintamente) em sua dimensão memorial, patrimonial e documental históricas. Abreu (1998) versa sobre a importância de se preservar a “memória urbana” e o lugar da Geografia nessa abordagem. Interessa aqui entender com o autor que a histórica de uma determinada cidade não dispensa a análise da dimensão única, ideográfica, do lugar, a sugerir que, para tratar da memória de um lugar há que se trabalhar na recuperação simultânea da história no e do lugar. Essa proposição se deve ao posicionamento de se escapar do que parece um erro crasso: a produção de trabalhos históricos que analisam muito bem os processos sociais ocorridos num determinado lugar, mas que pouco ou nada falam desse lugar. De forma particular, na Geografia Histórica, Abreu (1998) argumenta que os trabalhos dedicados às cidades tem 6 se limitado, em sua maioria, à reconstituição de antigas morfologias, minuciosamente acompanhadas no tempo, a valorizar o resgate das pregressas paisagens da cidade; o autor assinala a importância de se contextualizar as formas morfológicas pretéritas produzidas pela sociedade com as normas e com os processos sociais que lhes deram origem. Essa questão será retomada adiante. Em suma, é vasta e referencial a obra de Maurício de Abreu, coroada com sua Geografia Histórica do Rio de Janeiro. Arrisca-se sintetizar sua perspectiva metodológica assumida em Geografia Histórica pelo respeito dado às fontes de pesquisa direta, ou seja, nos arquivos históricos e de memória, sem negligenciar as fontes literárias. Acima de tudo, o respeito às categorias geográficas com sua “maleabilidade” ou “adequabilidade” às variáveis do passado, onde a morfologia territorial pouco significa à Geografia, se apartada das normas e processos sociais históricos que a confabulam em um singular espaço-tempo ou lugar. Outro importante geógrafo brasileiro debruçado sobre a Geografia Histórica [com viés na formação territorial urbana], com relevância nacional nacional, é Pedro de Almeida Vasconcelos, cuja contribuição perpassa, também e não restritamente, a constituição socio-territorial de Salvador. Por uma escolha analítica intencional de sua obra, parte-se de seu artigo Como estudar a cidade na longa duração (a noção de tempo em Geografia). Neste trabalho, o autor valoriza os princípios teóricos e metodológicos relativos ao espaço-tempo, postos por referenciais autores geógrafos, desde Richard Hartshorne até Milton Santos, passando por Olivier Dolfuss e Brian Goodall. Pedro de Vasconcelos é categórico quanto ao estudo geográfico histórico, reconhece como principal enfoque o espaço, sendo a questão temporal um enquadramento complementar. “Se o nosso objetivo é o de estudar uma cidade na longa duração, é necessário para estabelecer uma periodização, não partir necessariamente dos eventos históricos, mas inverter a questão, partir das principais mudanças espaciais, que ocorreram no tempo” (Vasconcelos, 1999, p. 87). Essa consideração do autor revela uma dicotomia espaço/tempo que deve ser problematizada oportunamente. Importa 7 agora sintetizar que o autor contribui ao indicar que o estudo da cidade no tempo pode ocorrer com a escolha de alguma abordagem; exemplifica com a prioridade às mudanças tecnológicas nos transportes como um dos indicadores principais das transformações urbanas (outras possibilidades anunciadas são o exame de outras tecnologias, dos tipos de ocupação do solo, ou do papel do Estado, dos agentes econômicos, etc). A periodização de longa duração para o caso das mudanças tecnológicas nos transportes é feita pelo autor da seguinte forma: a) a cidade do pedestre (pré-industrial), onde os habitantes viviam em um espaço que se atravessava a pé (séculos XVI ao XIX); b) a cidade dos transportes coletivos, com a implantação das primeiras linhas coletivas (veículos conduzidos por animais; bondes de tração animal; primeiros trens urbanos, de meados do XIX, no Brasil); c) a cidade dos transportes coletivos modernos, dos bondes elétricos e ônibus (final do século XIX e início do XX), em que a cidade segue o crescimento das linhas e pontos dos bondes; cidades ainda mononucleares; d) cidade do automóvel, que é a da produção automobilística de meados do século XX, seguida pelo desenvolvimento das infraestruturas urbanas. Para Pedro de Vasconcelos, uma periodização como esta aplicada ao caso de Salvador deverá esclarecer: mudanças espaciais em diferentes escalas; principais mudanças sociais; registrar permanências espaciais e sociais; explicar a cidade e a sociedade urbana atual. Fica claro que a periodização, em respeito à longa duração anunciada por Pedro de Vasconcelos [subsidiado em Fernand Braudel] e aplicada ao caso de Salvador, revela uma preocupação com os dados espaciais históricos [não fica claro no trabalho se as transformações ou evoluções técnicas são apreendidas em uma dimensão de simultaneidade espaço-temporal ou de uma sucessão histórica; advoga-se aqui pela primeira]. Explica-se a transformação morfológica urbana pela metamorfose técnica, sem perder de vista o caráter mutante dos processos sociais engendrados no e pelo espaço. É um trabalho de encaminhamento teórico-metodológico para a Geografia Histórica, que sugere fontes secundárias. Tema que aparece com frequência na obra de Pedro de Vasconcelos refere-se à questão racial no Brasil urbano, o que induziu à análise de Complexidade histórica e 8 questões raciais em Salvador, Bahia. No cerne do compromisso com a formação social brasileira, notoriamente com a singularidade social da Bahia, o autor revela capacidade singular com o tratamento das fontes, a caracterizar sua Geografia Histórica. O artigo adota como estratégia metodológica o entrecruzamento das ideias de referenciais historiadores [Ignácio Accioli, Charles Boxer, Robert Smith, etc.], das convicções de consagrados antropólogos [Darcy Ribeiro, Manuela Carneiro Cunha, etc.], das informações dadas por importantes viajantes europeus no Brasil Colônia [Johann Spix e Carl Martius, Louis Tollenare, Robert Avé-Lallemant, etc.] e, sobretudo, dados de pesquisa direta ou de arquivos [Arquivo de Marinha do Ultramar, Arquivo Público do Estado da Bahia, Atas da Câmara da Prefeitura Municipal de Salvador, etc.]. Pedro de Vasconcelos propõe apresentar uma contribuição à Geografia Histórica Urbana, via esmiuçamento da situação dos escravos e dos libertos nas cidades; enfatiza a situação histórica dos negros, dos pardos (mestiços), dos brancos e dos pobres, no país que teve a escravidão mais longa da América e que atingiu todo o território nacional, apesar das enormes diferenças regionais. Observa-se, desde o início do trabalho, a referência a uma formação social casada com as particularidades econômicas e espaciais brasileiras. Embora o estudo pareça dar ênfase a dados reveladores da situação dos negros, pardos e mulatos de Salvador [crescente e decrescente demográficos, quantitativo patrimonial, grau de mestiçagem, propriedades ou bens das igrejas e irmandades, etc.], faz muito relevante alusão a dimensões geográficas qualificadoras da vida urbana histórica dos cativos e libertos, o que assinala para uma análise de espacialidades urbanas, tais como locais de moradia dos negros e sua situação na divisão social e territorial do trabalho. De acordo com Vasconcelos (2007, p. 05, 08), De fato, os libertos negros moravam tanto em áreas centrais como nas periféricas: a descrição do vigário da freguesia de Santo Antônio, em 1757, informa que “até o rio ... Camarugipe, cujo logar é ... cituado de varias rossas, a maior parte dellas de homens pretos libertos ...”. Mas os libertos também residiam em freguesias urbanas: dos 92 pais de família pretos registrados na freguesia de São Pedro em 1775, 31 eram artesãos (um barbeiro tinha sete escravos), 26 trabalhavam no comércio (sendo 21 “ganhadeiras”), quatro eram domésticas, três viviam de seus bens e 11 eram pobres. Dos 77 agregados 9 pretos, 29 não tinham profissão e 16 eram pobres. Do total dessas famílias, 28 por cento possuíam escravos... Quanto à concentração espacial dos pardos, em 1939 Pierson indicou os seguintes bairros com predominância de mestiços (mixed-bloods) em bairros em torno da área central de Salvador: Santo Antonio, Barbalho, Barris, Tororó e Itapagipe. Já foi comentada a pesquisa publicada em 1953, por Thales de Azevedo, que encontrou importantes diferenças entre a situação dos negros e pardos na mesma cidade... Havia também posturas que tentavam separar as atividades no espaço urbano: a de 1775, sobre arruamentos, determinou a localização dos estabelecimentos dos negociantes (nas ruas principais), assim como a dos artesãos, por categorias (em ruas secundárias) em Salvador. Essas passagens ilustram o enfoque ou a contribuição ao pensamento geográfico urbano histórico que não deve perder de vista a referência espacial do passado. Este trabalho - brevemente comentado - retrata a recorrente preocupação do autor com a fidedignidade dos dados ou informações espaciais históricas, para além das fontes secundárias. Por último, será comentado um ensaio que se julga aqui de extrema relevância, por se referir ao debate metodológico em Geografia Histórica. Cabe dizer da raridade de artigos deste teor, nessa área, como se atestou na pesquisa das fontes bibliográficas. Em Questões metodológicas na geografia urbana histórica, Pedro de Vasconcelos sugere os conceitos de “períodos densos” e de “hiatos temporais”, para o tratamento da periodização na análise histórica das cidades. “Períodos densos” são reconhecidos como de “longa duração” [embora possam ser de curta duração]; relacionam longos períodos, com predomínio de questões do cotidiano, e períodos que saem da rotina, com ocorrência de eventos mais significativos capazes de modificarem a sociedade urbana, assim como funções, estruturas e formas espaciais. Exemplificam “períodos densos” os intercursos de guerras e invasões estrangeiras. “Hiatos temporais” são dados pela perda ou inexistência de documentação histórica, que leve a uma continuidade temporal, perfazendo longos intervalos sem 10 informação espacial (Vasconcelos, 2009). Sua análise concorda, mas em dimensão geográfica, com Fernand Braudel, em Histoire et sciences sociales. La longue durée.3 Em síntese, a proposta de Pedro de Vasconcelos é que, metodologicamente, se articule a pesquisa na Geografia Histórica Urbana pelas seguintes bases: a) periodização de longas durações, vendo continuidades e grandes rupturas, conforme os eventos históricos de maior relevância para a cidade examinada; b) averiguação do contexto de cada período em análise, extraindo de fontes primárias e secundárias os eventos mais notórios em distintas escalas (da internacional à local), enaltecendo questões de ordem ideológica, política, econômica, cultural ou espacial singulares na história da cidade; c) identificação dos agentes mais importantes, externos e locais, que contribuíram para modelar a cidade, como o Estado, a Igreja, os Agentes Econômicos, os diferentes estratos da população, a respeitar papeis e pesos diferenciados conforme o período em exame; d) exame do desenvolvimento espacial da cidade em cada período, tomando como referência principal a cartografia original [e iconografia], completada por informações escritas [inclusive estatísticas], de preferência de fontes primárias. Outro importante e atual geógrafo brasileiro dedicado à Geografia Histórica é Antônio Carlos Robert Moraes. Distintamente dos outros dois professores elencados, este assume uma postura de abordagem que é, sobretudo, metodológica sedimentada na perspectiva histórico-dialética, que aponta para o entendimento da Geografia “como uma modalidade de abordagem histórica, dedicada à análise dos processos sociais de formação dos territórios. Isto é, a visão da geografia humana como uma história territorial” (Moraes, 2000, p. 11). O posicionamento é assumido já em seu doutorado referente às Bases da formação territorial do Brasil. No referido estudo, A. C. Robert Moraes busca uma interpretação da formação socioespacial do Brasil. O recurso à História aparece como “imposição do método adotado”, pois suas orientações genéricas advém da teoria social de Karl Marx. O 3 Pedro de Vasconcelos reconhece que Braudel avalia a dialética da duração entre o instante e o tempo lento. Aponta sua trilogia: (1) tempos curtos (do indivíduo, do cotidiano), quando os eventos apresentam caráter jornalístico; (2) conjunturas, tempos menos curtos, quando destaca as conjunturas econômicas e sociais; e (3) a longa duração, com tempos muito longos, e destaca os obstáculos geográficos, algumas realidades biológicas, certos limites de produtividade e obstáculos espirituais. 11 conhecimento da obra de A. C. Robert Moraes revela sua convicção de uma Geografia Humana como ciência social dedicada ao processo universal de apropriação do espaço natural e de construção de um espaço social pelas diferentes sociedades no decurso da história, ou seja, fenômenos e situações devem ser avaliadas a partir dos movimentos da história e mediados pelo trabalho, por ser “ato teleológico de incorporação e criação de valor, acata-se que a formulação categorial mais precisa e genérica para expressá-lo deva ser a da valorização do espaço” (Moraes, 2000, p. 15). É inegável que seu trabalho assume duas dimensões filosóficas incorporadas ao seu pensamento geográfico, a saber, a ontológica e a epistemológica,4 como se verifica na seguinte passagem: Valorização do espaço e formação territorial, dois níveis de abordagem de um mesmo processo. De um lado, as determinações genéricas, fornecendo os macroindicadores que delimitam grandes períodos e iluminando suas lógicas estruturais de funcionamento. De outro, a malha fina do desenrolar das conjunturas, permitindo identificar vontades e atitudes individualizadas, interesses específicos, enfim, movimentos singulares. Tem-se, assim, dois planos de análise e reflexão, em cuja união se desenha o projeto de uma Geografia interpretativa, social e histórica. (Moraes, 2000, p. 18) Entende-se como a riqueza deste trabalho específico a capacidade de articulação ou entrecruzamento de distintos espaços-tempos, cuja singularidade se faz na formação do território brasileiro. A “economia mundo capitalista” tem na particularidade da “expansão ultramarina e na economia européia” a singular “produção do espaço iberoamericano”. Avalia-se a história da formação territorial brasileira, em resumo, pela 4 Os campos da investigação filosófica são três: 1º o do conhecimento da realidade última de todos os seres, ou da essência de toda a realidade. Como, em grego, ser se diz on e os seres se diz ta onta, este campo é chamado de ontologia. 2º. o do conhecimento das ações humanas ou dos valores e das finalidades da ação humana: das ações que têm em si mesmas sua finalidade, a ética e a política, ou a vida moral (valores morais) e a vida política (valores políticos); e das ações que têm sua finalidade num produto ou numa obra: as técnicas e as artes e seus valores (utilidade, beleza, etc.). 3º. O do conhecimento da capacidade humana de conhecer, isto é, o conhecimento do próprio pensamento em exercício. Aqui, distinguem-se: a lógica, que oferece as leis gerais do pensamento; a teoria do conhecimento, que oferece os procedimentos pelos quais conhecemos; as ciências propriamente ditas e o conhecimento do conhecimento científico, isto é, a epistemologia. (Chauí, 2000, p. 50) 12 História Econômica e Geral europeia, cujas fontes estão, notoriamente, nos trabalhos de mesmo perfil, ou seja, históricos secundários. Outro trabalho do autor que se quer dar relevo é Geografia histórica do Brasil, cinco ensaios, uma proposta e uma crítica. Pelo título, poderia se pensar em algo continuador de Bases da formação territorial do Brasil, o qual revela particularidades [e singularidades] da formação social e territorial do país. No entanto, são apresentados subsídios teórico-metodológicos para uma Geografia Histórica, enquanto área da Geografia, fundada em preceitos notórios da História, da Sociologia e da Antropologia. São problematizados, do ponto de vista do método [e da epistemologia e da ontologia] pontos e categorias significativas de abordagens as mais diversas possíveis para a Geografia Histórica. Nacionalidade de domínio estatal de âmbitos espaciais, gênese ou afirmação de identidades nacionais, o território como materialidade [de ocupação prática] e como representação [legitimação simbólica], elementos de uma geopolítica tanto da instalação portuguesa quanto da independência no Brasil são alguns dos muitos aspectos tratados pelo autor. Ainda, define “sua” Geografia Histórica como “caminho de reconstituição (em várias escalas) do processo de formação dos atuais territórios, postura que - inapelavelmente - repõe uma ótica de história nacional (mesmo no âmbito de uma perspectiva crítica)”. Especialmente a partir do enfoque do processo colonizador, A. C. Robert Moraes (2009, p. 62) afirma que “a expansão espacial – em suas motivações estratégias – em si é um primeiro objeto da investigação da Geografia Histórica, sendo a consolidação do domínio territorial seu corolário: a transformação dessas novas terras em áreas descontíguas de soberania estatal de cada metrópole. Em outros termos, em territórios coloniais”. Os dois livros apresentados muito sinteticamente [e outros trabalhos do mesmo autor] asseguram uma abordagem particular da Geografia Histórica não pautada em fontes documentais primárias, mas na articulação de princípios incorporados de outros campos de saberes para a Geografia, como a História [principalmente], a Sociologia e a Antropologia, sendo protagonista no debate o tema dos desígnios passados e presentes da formação territorial do Brasil. O valor de sua obra para a Geografia Histórica revela- 13 se no tratamento argumentativo dos princípios geográficos, problematizados, também, à luz Sociologia, sua segunda formação acadêmica. Pode-se afirmar, em resumo, que há uma correlação metodológica significativa entre o pensamento de Maurício de Abreu, Pedro de Vasconcelos e Antônio Carlos Robert Moraes, com algumas nuanças individuais, notadamente relativas ao último. Abreu e Vasconcelos reconhecem a importância da pesquisa documental direta em arquivos, bem como o tratamento das fontes secundárias, para o conhecimento amplo dos casos empíricos já tratados; cada qual destes dois autores apresentam pesos distintos ou aprofundamentos relativos quanto às categorias geográficas da análise, de forma a se valorizar mais ou menos, em um ou outro trabalho, as categorias do pensamento geográfico, grande importância é dada às fontes colhidas diretamente em arquivos; arrisca-se dizer que Pedro de Vasconcelos traz um caráter epistemológico mais aguçado, frente à dimensão mais ontológica de Maurício de Abreu. Ambos os autores contribuem relativamente a dois muito simbólicos espaços nacionais, respectivamente, Salvador e Rio de Janeiro. No caso de Antônio Carlos Robert Moraes, vigora uma preocupação metodológica, epistemológica e ontológica [em que o método materialista histórico dialético é assumido como referência de pensamento] de caráter mais universal e menos singular da análise, ou seja, seus casos são genéricos e se referem aos movimentos econômicos e políticos que redundam na produção material e representacional espacial da Colônia, do Império e da República. Entende-se que existe entre os três autores uma unidade que baliza a Geografia Histórica brasileira do ponto de vista metodológico, que é o recurso à História e o respeito tanto às categorias e aos princípios do pensamento geográfico quanto aos possíveis vieses de periodização [apesar da dicotomia espaço/tempo que parece escorregar aos três autores; debate a ser retomado em momento futuro]. Para alcançar o objetivo deste item, que é o de realizar uma aproximação metodológica à recente geografia urbana histórica brasileira, será feita, agora, uma análise geral dos estudos apresentados em mesas relativas à área, no II Encontro Nacional de História do Pensamento Geográfico, ocorrido na Universidade de São 14 Paulo, em 2009 [mesa Geografia Histórica e História Territorial], e no XIII Simpósio Nacional de Geografia Urbana, ocorrido na Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 2013 [mesa Geografia Histórica Urbana]. O tema da Geografia Histórica abordado no encontro de São Paulo, em 2009, foi contemplado na mesa dividida em três partes: duas dedicadas à Geografia Histórica e História da Geografia e outra simplesmente Geografia Histórica. A primeira (Parte I – Geografia Histórica e História da Geografia) congregou quatro trabalhos; a segunda (Parte II – Geografia Histórica e História da Geografia) trouxe outros quatro estudos; a terceira (Geografia Histórica) concentrou mais três artigos, cuja análise está sintetizada no Quadro 01. QUADRO 01 – TRABALHOS APRESENTADOS NO II ENHPG – MESA GEOGRAFIA HISTÓRICA Autor Instituição Tema Enfoque Leonardo Civale UFV Ideias evolucionistas e meio geográfico no Brasil no séc. XIX Renato Coimbra UFRJ Crise de abastecimento de água no RJ década 1860 e dinâmica urbana Flora de Lahuerta USP Rio de Janeiro como Capital do Império (1808-1820) Raimundo Assis e José Sampaio UFC Modernização do território no Ceará – ferrovias (1870-1930) Everaldo Costa UnB Carlo E. Nogueira UFMT Mineração e articulação territorial brasileira – rede urbana séc. XVIII Geografia histórica em áreas de fronteiras – GO e MT, séc. XIX Rafael Straforini Unicamp Território e circulação com a mineração do séc. XVIII Samuel Frederico Unesp/RC Formação territorial de Minas Gerais Rildo Duarte USP Fabrício Lima Unesp Telegrafia, integração e identidade nacional na República (1889-1930) O ideário rondoniano na construção da geografia e do território nacional 15 Pensamento Geográfico / Ideia de meio / ideias evolucionistas lamarckistas / sem precisão de categorias geográficas / Sem fontes primárias Geografia Histórica / sem precisão das categorias geográficas, mas na busca de transformações espaciais / Com fontes primárias Geografia Histórica / Precisão da categoria espaço geográfico / Consideração dos viajantes europeus do XIX / Com fontes primárias Geografia Histórica / Precisão do conceito território / Precisão da categoria valor e modernização em Marx / Sem fontes primárias Geografia Histórica / Precisão do conceito território / Subsídio em historiadores / Sem fontes primárias Geografia Histórica / Precisão do conceito território / Subsídio em historiadores / Sem fontes primárias Geografia Histórica / Precisão da categoria espaço e do conceito território / Subsídio em historiadores / Com fontes primárias Geografia Histórica / Precisão do conceito território / Subsídio em economistas / Sem fontes primárias Geografia Histórica / Precisão do conceito território / Subsídio em historiadores / Sem fontes primárias Pensamento Geográfico / Ideia de positivismo / Precisão do conceito território / Sem fontes primárias / Ecletismo de áreas Júlio F. Santos USP Pacto Federativo e território nacional no volver da República Fonte: Elaboração do autor. Trabalhos https://enhpgii.wordpress.com/trabalhos/ na abordagem Geografia Histórica / Anúncio sem precisão do conceito território [raros geógrafos na bibliografia] / Subsídio em historiadores / Sem fontes primárias pesquisados nos Anais do Encontro O apanhado aos trabalhos apresentados na mesa de Geografia Histórica do II Encontro Nacional de História do Pensamento Geográfico indica uma maioria de estudos sem sustentação em fontes documentais primárias, mas pautados, especialmente, na análise de historiadores consagrados ou geógrafos dedicados à Geografia Histórica [apenas 2 dos 11 estudos fundaram-se em fontes primárias]. Neste evento [voltado à História do Pensamento Geográfico], aceitou-se para a mesa aludida trabalhos de História do Pensamento, como se verifica no quadro 1 [o que pode revelar pouco rigor com o tratamento metódico da área]. Identifica-se, ainda, uma falta de precisão no emprego do conceito território ou da categoria espaço geográfico [somente 3 dos 11 trabalhos analisados seguem esse rigor]. Verifica-se, em suma, nesta amostragem, uma tendência a se classificar os estudos como de Geografia Histórica pelo reducionismo de se reconhecer trabalhos de “feição” geográfica [por vezes duvidosos, pela falta de precisão ou clareza conceitual e de princípios disciplinares] realizados em momento recuado do presente. O XIII Simpósio Nacional de Geografia Urbana, ocorrido no Rio de Janeiro, em 2013, trouxe para o seu 8º GT o tema Geografia Histórica Urbana, o qual computou 14 estudos apresentados oralmente. O GT foi subdividido em 3 subtemas, a saber: a) Cidade, História e Formação Territorial; b) Cidade, Discursos e Diálogos; c) Cidade, Paisagem e Memória.5 O Quadro 02 traz alguns aspectos sobre os trabalhos apresentados. 5 Foram coordenadores do GT: Prof. Dr. Pedro de Almeida Vasconcelos [UFBA], Prof.ª Dr.ª Doralice Sátyro Maia [UFPB], Prof.ª Dr.ª Fania Fridmam [IPPUR / UFRJ], Prof. Dr. José Aldemir [UFAM], Prof. Dr. Nelson da Nobrega Fernandes (UFF). 16 QUADRO 02 – TRABALHOS APRESENTADOS NO XIII SIMPURB – MESA GEO. HIST. URBANA Autor Instituição Tema Enfoque Roberto Souza UEAL Parcelamento do solo e morfologias urbanas em Olinda-PE (1931-2006) Vitor Alves UFRJ Apropriação territorial do sertão do oeste fluminense (sec. XVII-XIX) Luciana Gennar IPPUR Estruturação da zona urbana do Rio de Janeiro (1875-1928) Pierre Costa Unicentro Análise geohistórica da Baixada Guanabara (ferrovia e Duque de Caxias) Geografia histórica da distribuição de meios de hospedagem em Salvador (sec. XIX e XX) Luis C. Requião Silva UEBA Joaquim Maloa USP Gênese da urbanização dual em Moçambique – exploração histórica IFET-RJ Espaço e tempo na área central do Rio de Janeiro – leituras do Morro Sto. Antônio Paulo Cesar Barros Joel Outtes UFRS Gênese do urbanismo no Brasil e Argentina (18941945) Maria Clelia Costa UFCE Discurso médico-higienista e ordem urbana Rebeca Nascimento UFPB Privatização da terra urbana na cidade da Parahyba Adriano B. Andrade UFBA A Igreja como agente produtor do espaço no Rec. Baiano setecentista Everaldo Costa e Marília Peluso Rita Andrade e Maria Soares Glauco Rodrigues UnB PucPeru UFF Territórios da memória operária na história da construção de Brasília Geografia histórica da cidade de Coremas Autogestão territorial anarquista na Guerra Civil Espanhola (1936-39) Fonte: Elaboração do autor. http://www.simpurb2013.com.br/anais/ Trabalhos 17 Geografia urbana histórica / Precisão das Leis Urbanísticas / ecletismo de áreas de abordagem / Sem precisão da categoria território e espaço /Sem fontes primárias Geografia urbana histórica / Sem precisão do conceito território / Ecletismo de áreas de abordagem de valor histórico-territorial /Sem fontes primárias Arquitetura e história da habitação / Sem precisão do conceito território e da categoria espaço / Sem fontes primárias Geografia urbana histórica / Sem precisão do conceito território / História local / Com fontes primárias Geografia e paisagem / Sem precisão da categoria espaço e do conceito território / Parcial abordagem de autores de descrição histórica / Sem fontes primárias Geografia urbana histórica / Sem precisão da categoria espaço e do conceito território / Ecletismo de áreas de abordagem de valor histórico-territorial / Sem fontes primárias Geografia urbana histórica / Precisão da categoria espaço e do conceito território / Abordagem de valor históricoarquitetônico / Sem fontes primárias História do urbanismo / Sem precisão da categoria espaço e do conceito território / Abordagem da Arquitetura e da História / Sem fontes primárias História urbana / Sem precisão da categoria espaço e do conceito território / Abordagem da Arquitetura e da História / Sem fontes primárias Geografia urbana histórica / Sem precisão da categoria espaço e do conceito território / Ecletismo de áreas de abordagem de valor histórico urbano / Com fontes primárias Geografia urbana histórica / Precisão na ideia de espaço urbano regional / Abordagem no urbanismo / Com fontes primárias Geografia urbana história / Precisão na ideia de território / Abordagem eclética em história e filosofia / Com fontes primárias [oral] Geografia urbana história / Imprecisão na ideia de espaço e território / Abordagem na história da arquitetura e urbanismo / Com fontes primárias Geografia e história / Precisão na ideia de espacialidade / abordagem histórica do anarquismo / Com fontes primárias pesquisados nos Anais do Simpósio A avaliação dos trabalhos apresentados no XIII Simpurb, na mesa Geografia Histórica Urbana, distintamente do Encontro de São Paulo, sugere um predomínio do uso de fontes primárias [8 dos 14 trabalhos apresentados]. A imprecisão do uso da categoria espaço [mesmo em variações de abordagem] ou do conceito território, em uma dimensão geográfica [10 dos 15 estudos], indica uma carência de conhecimento epistemológico da Geografia, o que pode encaminhar problemas de método e metodológicos na definição da própria Geografia História. Identifica-se, no rol de trabalhos, uma propensão a se classificar os estudos como de Geografia Histórica dada a ênfase na História e na Arquitetura e Urbanismo [ora com clareza da utilização dos conceitos geográficos, ora sem esse compromisso]. Esse apanhado muito sintético sinaliza para o problema: quais são os princípios definidores da Geografia Histórica? Esses princípios advêm da Geografia ou podem ser considerados oriundos de outros campos de saberes [mesmo que sem base geográfica sólida ou de forma difusa, como aparece em boa parte dos trabalhos apresentados nos eventos avaliados]? A seguir as orientações dadas às pesquisas dos principais geógrafos brasileiros voltados à temática, um dos caminhos para a consolidação da Geografia Histórica - como área de conhecimento individualizada na Geografia – parece estar tanto no real conhecimento epistemológico e ontológico geográficos, quanto no amadurecimento do tratamento das fontes primárias e secundárias. Estas que devem ser alinhadas ou interpretadas à luz dos princípios lógicos da disciplina, a saber: distância, conexão, extensão, escala, posição, localização, distribuição, dentre outros, os quais são pensados em correlação às variáveis caracterizadoras de um dado espaço-tempo ou de um momento da história das técnicas. O item seguinte defende o tratamento metodológico de testemunhos como documentos em Geografia Urbana Histórica, a ampliar seu leque instrumental analítico com respeito aos princípios do campo do saber geográfico, quando o sujeito situado e em situação é capaz de legar, pela memória, um conhecimento espacial passível de perecimento, se não registrado. 18 3. DEPOIMENTOS ORAIS [OU TESTEMUNHOS] COMO DOCUMENTOS EM GEOGRAFIA HISTÓRICA URBANA Será necessário tratar, sintética e preliminarmente, a ideia de documento e de oralidade, para então vislumbrar a história oral enquanto recurso metodológico factível à Geografia Histórica Urbana. Questão crucial à discussão historiográfica e geográfica histórica [de interesse neste trabalho] refere-se à validade da prova documental oral. Estimula o questionamento, com o viés no testemunho, Paul Ricoeur (2007, p. 156), ao assegurar que “tudo tem início não nos arquivos, mas com o testemunho, e que, apesar da carência principal de confiabilidade do testemunho, não temos nada melhor que o testemunho (...) para assegurar-nos de que algo aconteceu, a que alguém atesta ter assistido pessoalmente, e que o principal, se não às vezes o único recurso, além de outros tipos de documentação, continua a ser o confronto entre testemunhos”. O testemunho, o relato, faz-se documento histórico antes mesmo de sua constituição nos arquivos, “ressurge no fim do percurso epistemológico no nível da representação do passado por narrativas, artifícios retóricos, colocação em imagens” (Ricoeur, 2007, p. 170). Ao questionar a confiabilidade do testemunho, Ricoeur argumenta que a desconfiança tem início no nível da percepção de uma cena vivida, continua no da retenção da lembrança, para se concentrar na fase declarativa e narrativa da reconstituição dos traços do acontecimento. As distorções só podem ser superadas pelo flagrante dado para uma realidade conhecida por outros meios ou fontes [já escritas ou outros depoimentos] e a própria narrativa em análise, ou seja, importa o cruzamento de informações para a o argumento da mais próxima veracidade do testemunho arrolado. Da mesma forma que um depoimento ou testemunho podem ser distorcidos pelo declarante, uma Ata de Câmara Municipal [também fonte primária, mas escrita e normalmente de período bastante pregresso] também o pode, o que exige do pesquisador atenção no enlaçamento de dados, outras fontes ou outros arquivos. 19 Ricoeur (2007, p. 172-175) sintetiza em seis pontos os componentes essenciais do ato de testemunhar ou por à prova um conhecimento da história por parte do sujeito: a) Duas vertentes são articuladas, a asserção da realidade factual do acontecimento relatado e a certificação ou autenticação da declaração pela experiência de seu autor, o que é denominada confiabilidade presumida [presunção a ser lançada sobre o documento passado, pode-se argumentar]. b) A especificidade do testemunho consiste no fato de que a asserção da realidade é inseparável de seu acoplamento com a autodesignação do sujeito que testemunha, cuja fórmula típica é: ‘eu estava lá’. Atesta-se a realidade da coisa passada e a presença do narrador nos locais da ocorrência. É a testemunha que, de início, declara-se testemunha e nomeia a si mesma [as asserções ligam o testemunho pontual a toda a história de uma vida, onde a história pessoal é ela própria enredada em histórias, de forma que a impressão afetiva de um acontecimento capaz de tocar a testemunha com a força de um golpe não coincide necessariamente com a importância que lhe atribui o receptor do testemunho]. c) A autodesignação da testemunha da história se inscreve numa troca que impõe uma situação dialogal, ela pede que lhe deem crédito. Ela não se limita a dizer: ‘eu estava lá’, ela acrescenta ‘acreditem em mim’ – o que pode fazer do testemunho não apenas autenticado, mas acreditado pelo receptor da informação [é nesse momento que ganha relevo a confiança ou a suspeita – pela boa ou má percepção, boa ou má retenção, boa ou má reconstituição de fatos declarados]. d) A suspeita exige o confrontamento de testemunhos [o próprio relator tende a dizer ‘eu estava lá, acreditem em mim, se não acreditam, perguntem a outra pessoa’, o que exige estratégia de tratamento de variegados depoimentos]. e) Uma dimensão suplementar a qual o pesquisador deve se atentar é na disponibilidade moral do narrador. Para reforçar sua credibilidade e a confiabilidade de seu testemunho, de alguma forma, ela passará a confiança para reiterar seu depoimento, quando a testemunha confiável é aquela que mantém seu testemunho no tempo, quase que como uma promessa. 20 f) A disposição em testemunhar, relatar ou narrar fatos históricos ou acontecimento faz do testemunho um fator de segurança no conjunto das relações constitutivas do vínculo social. O nível médio de segurança de linguagem de uma sociedade depende da confiabilidade, da atestação biográfica de cada testemunha ou narrador histórico. A narrativa, o depoimento ou o testemunho [aqui vistos como congruentes, podendo ser empregado o termo segundo a circunstância da entrevista – objeto de uma pesquisa científica ou relato em um tribunal] constituem argumentos adiantados pelos protagonistas da história ou sujeitos ‘confiáveis’ de histórias cruzadas. Não deve ser desconsiderado que critérios emocionais podem alterar lembranças, que o ato de narrar envolve seleção, exclusão e gradação de capacidade mnemônica do narrador, além de que mal se sabe como funciona, efetivamente, a memória humana. “A memória não é um fenômeno exclusivamente individual, mas resulta de determinações sociais complexas” (Hall, 1992, p. 157). Todavia, essa memória do passado que narra no presente, oralmente ou em forma de depoimento, difere-se da memória que captou o mundo, seus fatos e seus dados, os fenômenos, à sua maneira, no século II ou no século XVIII, registrando-o naquele instante e legando-o para o agora? Há uma tendência a se valorizar, nas ciências do espaço e do tempo, mais o passado pregresso em detrimento ao passado recente? Há uma estratégia preconceituosa [ideológica, política e de manutenção de um poder (ou status quo)] referente às fontes primárias a serem adotadas ou vigora um real desinteresse em aprofundar o conhecimento naquelas pouco utilizadas? São questões para o debate. A função do relato oral ou da história oral não se restringe à metodologia aplicada; também tem função social democrática, relevante e instigante; permite a investigação de fenômenos ou questões e de camadas sociais, normalmente, negligenciadas na documentação oficial escrita dada ao presente. Contudo, atenção deve ser dirigida a alguns problemas relativos aos depoimentos orais, tais como: falha da memória em relação aos acontecimentos específicos e, sobretudo, à sua sequência [lembranças do processo de trabalho dentro de uma fábrica, por exemplo, vão ser quase 21 sempre mais fidedignas do que a memória da cronologia política de uma greve (Hall, 1992, p. 158)]; exageros na importância de acontecimentos, dissimulação de ações e enaltecimento de ressentimentos; transferência de opiniões atuais para o passado; o direcionamento das questões pode induzir a uma ou outra resposta [fontes escritas também podem ser altamente subjetivas, mas no caso de depoimentos de história oral ou ao testemunho o pesquisador é posto diante de problemas especialmente delicados de interpretação (Hall, 1992, p. 159)]; inevitabilidade da sobrevivência dos sujeitos que presenciaram o acontecimento investigado; necessidade de explicitar com precisão a base das amostras da pesquisa; reconhecimento de que linguagem corporal, sotaque, tom de voz, desaparecem do depoimento trabalhado [e também da fonte escrita]; perigo de se buscar, na pesquisa, apenas documentação oral, sem recorrência a outras fontes, o que pode personificar vontades e ações políticas - o estudioso que considera o depoimento oral como uma fonte suficiente em si, corre o risco de não ver muito mais do que seus informantes viram (Hall, 1992, p. 160). Os relatos obtidos de história oral são complementares e não podem suplantar a capacidade do pesquisador em contextualizar os fatos, buscar suas determinações, reconhecer as alterações socioespaciais no transcorrer do tempo, via outras fontes; mas, constituem-se em matéria importante para a reconstituição do passado. A história não teria sido possível sem os traços do passado, sem o seu conhecimento registrado em “suportes da memória coletiva” (Le Goff, 2003). Os vestígios da cultura material [objetos de coleção, tipos de habitação, a paisagem, os fósseis], bem como os documentos-registros que substituem e perpetuam as marcas do passado fazem-se documentos ao mesmo tempo verdadeiros e falsos; argumento que exige entendimento das condições de produção e das dimensões do poder inerentes não apenas aos objetos estudados, mas às próprias fontes (Le Goff, 2003). Essa matéria serve aos documentos tanto escritos como gravados, quando se amplia a noção de documento, por parte da História [e por que não na Geografia Histórica?]. Há quem advogue, de longa data, pela ampliação do sentido da palavra documento, a envolver o escrito, o ilustrado, a imagem, o transmitido pelo som, o gravado [sobre a pedra ou por meio dos mais recentes 22 aparatos técnicos]; o cuidado deve estar no manuseio, interpretação e postura crítica contextual, estrutural e conjuntural sobre as fontes. Caso se conjecture que “são raros os dados geográficos inteiramente visíveis, podendo-se mesmo considerá-los como inexistentes sob certos aspectos, já que a explicação do visível quase sempre deve ser buscada no invisível”, os depoimentos ou testemunhos orais tornam-se rico arsenal para a análise espacial histórica, sabendo que “a especificidade da Geografia desaparece quando se nega o exame do processo de causalidade” (George, 1986, p. 20-21). O geógrafo adota metodologias por ele elaboradas durante a avaliação do visível [o ver em Geografia é parte de seu método], a valorizar outros instrumentos de pesquisa para analisar o invisível e reassumir sua condição de geógrafo na proposição da referência global, particular e singular do espaço, feita do visível e do invisível, no devir histórico. Nesse aspecto, depoimentos ou testemunhos de fatos passados, enquanto constituição parcial da memória espacial, são representações individualizadas para a pesquisa histórica em Geografia, a lembrar que qualquer registro guarda dimensões de poderes, de maneira que dar voz aos poucos ouvidos pode representar, ainda, uma possibilidade de contra-hegemonia da informação face aos poderes instituídos.6 Ainda, pode-se argumentar a favor do testemunho oral [e outras fontes] como recursos à superação da recorrente dicotomia espaço/tempo [presente na Geografia Histórica], a qual urge superação por meio de uma revisão epistemológica, se se considerar espaço geográfico como uma totalidade dinâmica, a própria sociedade em sua história. Como destaca Suzuki (2011) [geógrafo que assume a oralidade como metodologia na Geografia], a história oral possibilita o resgate de modos de vida que, longe de serem cópias miméticas de antigos cotidianos vividos, vêm à tona como mosaicos de fragmentos, onde a memória remete ao passado, o qual ressurge não como o 6 Por ocasião do tombamento de cidades no Brasil do século início do século XX, foram eleitos, notoriamente, os bens referentes à elite branca, burguesa e católica feitos no período colonial. Muitos poderiam ter sido os registros orais coletados de negros ex-escravos que viveram as agruras desse período nebuloso de nossa história, através daqueles que vivenciaram, efetivamente, os espaços-tempos da escravidão. A opção foi pelos registros arquitetônicos, inicialmente. 23 acontecimento de um fenômeno fidedigno ao que foi, mas como reelaboração do acontecido a ressignificar experiências vivenciadas no espaço-tempo presente. A referência seguinte a Pierre George auxilia a entender o lugar da História (e da história) na pesquisa geográfica; possibilita apreender a importância de novas formas de abordagem do passado, como a aqui sugerida via oralidade constituída pelos testemunhos; indica, ainda, preocupação com a distinção entre o estrutural e o histórico, como elementos caros ao fazer geográfico. Com efeito, a explicação dos fatos de observação lança mão de duas séries de dados: os dados estruturais e os dados históricos. Será conveniente incluir entre os dados estruturais tudo que entra na composição de um estudo geográfico, tudo que entra nas combinações cujo conjunto é atingido pela observação, sob forma de paisagem geográfica, física e humana (...) Incompleta é a distinção entre os dados estruturais e os dados históricos, de onde provêm os elementos que permitem o estabelecimento de uma interpretação evolutiva, já que a própria estrutura representa o resultado de uma evolução (...) Do ponto de vista metodológico, impõe-se uma distinção entre o estrutural e o histórico, mas a estrutura representa o resultado final de processos históricos e sobre ela paira a ameaça das contradições de forças que constituem os elementos motores da histórica contemporânea. Ora, se a história pode ser considerada uma só, pelo fato de operar a síntese na curva da evolução geral, num ‘ponto’ situado antes do ‘ponto geográfico’, a análise estrutural, esta, é múltipla. De maneira muito simples, o geógrafo parece destinado a recorrer ao historiador para conhecer os antecedentes globais e particulares da situação diante da qual se encontra, e aos especialistas das diferentes ciências humanas para se munir das imagens estruturais analíticas relativas à sociedade, à economia, à população, à cultura, aos relacionamentos políticos etc. Entretanto, a história manifesta uma propensão a se mostrar mais setorial que global e a se interessar de maneira mais especial pelos setores que apresentam menor número de incidências primaciais sobre o fato geográfico (história política, diplomática, militar). (George, 1986, 30-32; 34-5, grifo do autor) Essas resumidas anotações sobre a ideia de testemunhos orais enquanto documentos históricos merecem aprofundamento futuro; o que se deseja aqui é fazer um prelúdio desse debate metodológico para a Geografia Histórica [notoriamente a urbana], diante da possibilidade de entendimento do passado das cidades também por meio de relatos dos sujeitos efetivos da história cotidiana das cidades; sujeitos partícipes de minúcias de sua construção, conhecedores das desventuras de seu desenvolvimento ou até provas oculares de catástrofes de destruição parcial ou total passadas, dentre outros eventos possíveis atinentes à reprodução das cidades e do urbano. 24 4. AGENDA DE PESQUISA PARA UMA GEOGRAFIA URBANA HISTÓRICA DO DISTRITO FEDERAL BRASILEIRO A avaliação dos trabalhos desenvolvidos, em Geografia Urbana, ao largo de mais de quatro décadas de existência do Departamento de Geografia da Universidade de Brasília revela uma lacuna significativa, que é a de estudos capazes de apreender a formação e o desenvolvimento do Distrito Federal brasileiro através de metodologias atinentes à valorização da história e da memória espaciais, com respeito a fontes primárias. Essa observação leva a uma proposição de ordem prática com função social: reconhecimento da situação histórica e das lutas do trabalhador na construção da nova Capital do Brasil, ocorrida entre os anos de 1956-1960, seguindo, no decorrer dos anos subsequentes à inauguração de Brasília, a formação dos primeiros núcleos populacionais oriundos da batalha de famílias desses construtores operários em prol da permanência ou fixação no Distrito Federal. Cabe lembrar que o desejo e as estratégias do Governo se davam no sentido de que a massa dos trabalhadores da construção, após sua finalização, retornasse aos seus locais de origem [outras regiões do Centro-Oeste, do Nordeste e do Sudeste, especialmente]. Do ponto de vista prático, a proposta aqui aludida poderá, no decorrer de décadas, constituir um arquivo de história oral e de memória dos próprios operários da construção de Brasília, hoje sujeitos ainda vivos que possuem idade média entre 60 e 80 anos.7 Este trabalho teve início em 2012, cuja reflexão teórica introdutória foi apresentada no XIII Simpurb, na cidade do Rio de Janeiro, na mesa Geografia Histórica Urbana, com o artigo Territórios da memória candanga na construção da capital do Brasil (1956-1971). Porém, reconheceu-se, após o evento, a necessidade de uma discussão mais apurada sobre a metodologia da história oral aplicada à Geografia Histórica, o que se busca agora. Há trabalhos com esse viés na Antropologia e na 7 O Arquivo Público do Distrito Federal já guarda depoimentos dos construtores de Brasília, nesse viés metodológico, mas restrito a algumas das antigas cidades-satélites e bem focados nos construtores engenheiros, arquitetos e outros profissionais, faltando ênfase significativa aos operários da construção. 25 Sociologia da Universidade de Brasília, mas não na Geografia [sabe-se que o enfoque que relaciona a vida ativa de trabalho dos sujeitos e o território que se forma distinguese em cada campo do saber, por seus princípios particulares]. Em suma, a ideia é que se realize um arquivamento geográfico histórico da memória operária e do trabalho, por meio da leitura pregressa da construção da cidade e da formação territorial do Distrito Federal, em sua amplitude. Na primeira publicação referente a essa proposta, argumentou-se da seguinte maneira, A análise da formação territorial urbana por meio do resgate da memória social sugere, no âmbito da geografia histórica urbana, um percurso metodológico calcado: em relatos daqueles que vivenciaram e conceberam seu espaço da vida ativa; em fontes documentais; e em iconografias. Nesse sentido, esta pesquisa visa a resgatar e a reforçar, introdutoriamente, a memória candanga sobre a relação entre a construção da nova capital brasileira (Plano Piloto de Brasília) e a formação de seus primeiros núcleos populacionais periféricos decorrentes das chamadas ‘invasões’ originadas do desejo de fixação dos imigrantes construtores. (Costa; Peluso, 2013, p. 01) Qualquer ser humano tem consciência ou noção do passado, o qual se refere ao período correlato e também imediatamente anterior aos eventos registrados na memória de um indivíduo, em virtude de conviver com os mais velhos, que o transmite. “O passado é uma dimensão permanente da consciência humana, um componente inevitável das instituições, valores e outros padrões da sociedade humana. O problema para os historiadores é analisar a natureza desse ‘sentido do passado’ na sociedade e localizar suas mudança e transformações” (Hobsbawm, 2013, p. 25). O período guardado na memória faz-se passado ao servir de suporte àqueles que, pela recente idade, pela negligência ou pelo deslocamento, o desconhecem. Logo, há de se defender o argumento de que as pessoas mais velhas são guardiões de um pretérito e, desta maneira, da memória coletiva. Se em história, na maioria das vezes, lidam-se com sociedades e comunidades para as quais o passado é essencialmente o padrão para o presente, como argumenta Eric Hobsbawm, tratar dos testemunhos vivos de uma formação espacial significa a possibilidade de eleger como leitores informantes protagonistas desse mesmo passado, sujeitos pouco ou mal incorporados naquilo que é 26 definido “oficialmente” como passado. Autora brasileira de relevo nesse debate é Ecléa Bosi;8 a passagem seguinte revela sua importância para a proposta aqui apresentada, Um verdadeiro teste para a hipótese psicossocial da memória encontra-se no estudo das lembranças das pessoas idosas. Nelas é possível verificar uma história social bem desenvolvida: elas já atravessam um determinado tipo de sociedade, com características bem marcadas e conhecidas; elas já viveram quadros de referência familiar e cultural igualmente reconhecíveis: enfim, sua memória atual pode ser desenhada sobre um pano de fundo mais definido do que a memória de uma pessoa jovem, ou mesmo adulta, que, de algum modo, ainda está absorvida nas lutas e contradições de um presente que a solicita muito mais intensamente do que uma pessoa de idade (...) Ao lembrar do passado [o velho] não está descansando, por um instante, das lides cotidianas, não está se entregando fugitivamente às delícias do sonho: ele está se ocupando consciente e atentamente do próprio passado, da substância mesma da sua vida. (Bosi, 1994, p. 60) Por que é preciso aguardar o falecimento dos operários da construção da nova Capital do Brasil para tratar como o seu passado, no futuro, unicamente o discurso oficial registrado em arquivos públicos? Não seria compromisso social das ciências ditas humanas o registro direto das memórias históricas dos homens operários e suas esposas [tidos por pioneiros] que, no caso do Brasil, são ofuscados dos discursos oficiais [desde a Colônia]? O testemunho da história individual signo de memória coletiva [tratadas sistematicamente] não pode oferecer dados relevantes sobre a história espacial? Em que medida uma rejeição à metodologia da oralidade [ou o não reconhecimento ou citação de determinados autores] não significa, por parte do pesquisador, um posicionamento tático hegemônico [no limite, egoísta e contraditório do ponto de vista científico, quando não se reconhece referências] de valorização das fontes escritas, de determinados grupos sociais históricos e de escolas específicas? Outro pressuposto deste trabalho é o de que o espaço-tempo-sociedade não o é apartado dos sujeitos que o constituem em vivências [estando vivos ou mortos], de maneira que a história e a memória individuais-coletivas de velhos são as do próprio espaço experienciado no decurso da vida latente ou pregressa [a memória individual e coletiva 8 Está em curso um apanhado de autores historiadores, filósofos, antropólogos e sociólogos referenciais no estudo de metodologias atinentes à oralidade, como: Jan Vansina, Peter Burke, Pierre Nora, Maurice Halbwachs, dentre outros. A incorporação desses autores se dá em respeito, sobretudo e imprescindivelmente, aos princípios geográficos. 27 de 100 anos guarda feitos e fatos de um século do espaço]; esse registro é crucial, se feito dentro de preceitos metodológicos científicos aceitáveis. Deve-se lembrar que há, portanto, “para o velho, uma espécie singular de obrigação social, que não pesa sobre os homens de outras idades: a obrigação de lembrar, e lembrar bem” (Bosi, 1994, p. 63). Parece que os questionamentos aqui apresentados são recorrentes na literatura da Geografia Histórica. Na introdução ao seu livro O outro lado da baía: gênese de uma rede urbana colonial, Andrade (2013, p. 33) indaga: “Qual o valor da história? O que é real a despeito dos fatos históricos? Qual é o limite entre o acontecido e o contado/escrito?”. Estas são questões que desafiam o autor em sua proposta de história das cidades e do urbano. Os pressupostos de Andrade levam ao pensamento do potencial da oralidade como mais uma dentre outras fontes para apreensão do passado, pois testemunhos podem desmantelar a ideia de uma “lógica cronológica progressiva” como necessária ao estudo do passado espacial. O pressuposto condutor do argumento [que é do autor deste artigo, e não de Andrade] é o de que a “história urbana acontece de forma não linear, como um conjunto de temporalidades múltiplas e assimétricas que coexistem e se sobrepõem (...) rompe-se com a pretensão de conhecer o urbano a partir de uma lógica cronológica progressiva, que toma como verdade vivida apenas uma temporalidade técnica que se apresenta como evento principal do discurso dominante” (Andrade, 2013, p. 38). O contado ou relatado, o testemunho ou depoimento trazem um mundo social rico e diverso não conhecido e que pode ser revelado pela memória dos velhos que, efetivamente, transgrede a lógica cronológica progressiva relativa ao espaço. “Momentos desse mundo perdido podem ser compreendidos por quem não os viveu e até humanizar o presente. A conversa evocativa de um velho é sempre uma experiência profunda: repassada de nostalgia, revolta, resignação pelo desfiguramento das paisagens caras, pela desaparição de entes amados (...) O narrador tira o que narra da própria experiência e a transforma em experiência dos que o escutam” (Bosi, 1994, p. 82, 85). 28 A oralidade é mais uma possibilidade rica e humanizada de valorização do passado espacial, quer seja contada no aqui agora, quer seja registrada em papel (ou novas mídias) para a posteridade; os documentos históricos oficiais possibilitam a categorização de dados, mas nem sempre trazem minúcias, afetos ou mesmo dados da vida cotidiana pregressa que se fazem presentes no discurso do orador velho ou do narrador vivo ou morto [quando registrado]. Não foi por meio da oralidade, mas através de uma estratégia metodológica sui generis que Maurício de Abreu propôs os mapas conjecturais. A falta de documentação cartográfica urbana dos primeiros tempos do Rio de Janeiro [de seu sítio original], fez com que o autor tentasse reconstitui-lo através de fragmentos de documentos antigos, “exigência que transforma a análise em verdadeiro exercício de dedução” (Abreu, 2005, p. 193). Nessa proposta, o autor reconstituiu, minimamente, o Rio de Janeiro quinhentista mesmo com fontes de momentos progressos, algumas até do século XX, com elementos estruturais e paisagísticos posteriores ao período que se quis estudar. Abreu reconheceu a fragilidade da própria metodologia, quando “nada pode garantir que a cidade tenha sido exatamente como ela será apresentada”, de maneira que, “se a cidade não foi exatamente como os mapas a irão apresentar, também não terá sido muito diferente dessa caracterização” (Abreu, 2005, p. 193-194). Registros orais realizados no século XVI [caso existam ou existissem] seriam mais uma referência analítica aos pesquisadores do presente. No caso do Distrito Federal, é possível reconstituir elementos sociais e memoriais do trabalho relativo à construção da nova Capital, através de testemunhos. Caso notório ligado à agenda de pesquisa que se propõe é o de São Sebastião, Região Administrativa estritamente ligada à história da feitura do Plano Piloto, no meados do século XX. Nessa localidade, funcionaram próximo a uma centena de olarias e cerâmicas cuja negligência arquivística pouco relata e não espacializa tais objetos geográficos referenciais da história da construção da Capital. Nesse aspecto, a recorrência ao relato dos pioneiros construtores pode ser fundamental na metodologia de um mapa conjectural que localize e explique a estratégia das olarias para a edificação de Brasília. Essa pesquisa está em curso. Além de fontes documentais do 29 Arquivo Público do Distrito Federal, recorre-se ao antigo morador tido popularmente por fundador de São Sebastião, em fins da década de 1960, o senhor Tião Areia, cuja história e papel são reconhecidos em variadas pesquisas de pós-graduação na Universidade de Brasília. Este antigo morador de São Sebastião (que, inclusive, dá nome ao lugar – Sr. Sebastião de Azevedo Rodrigues, nascido na década de 1940), pessoalmente, indica cada localização de olarias e cerâmicas em São Sebastião, uma vez que foi proprietário de alguns desses empreendimentos e importante mercador local.9 Essa espacialização poderá ser desenvolvida para outros objetos ou ações históricas ligadas à formação territorial do DF. Ainda na defesa dos testemunhos ou depoimentos orais como recursos metodológicos à Geografia Histórica Urbana, quer se estabelecer mais um breve diálogo com Pedro de Vasconcelos. O geógrafo, ao defender algumas bases metodológicas para o estudo urbano histórico, entende que, (...) mais importante para nós, examinar o desenvolvimento espacial da cidade em cada período, tomando como referência principal a cartografia original (e a iconografia existente), mas complementada pelas informações escritas (inclusive as estatísticas), e de preferência de fontes primárias. A partir de um certo nível de crescimento da cidade, as partes da mesma poderão ser examinadas individualmente, segundo os vetores principais de expansão. Mas, a opção pelas transformações espaciais, privilegiando as mudanças das partes e dos eixos da cidade, se por um lado dá um caráter mais geográfico do que histórico ao estudo, e permite descobrir relações espaciais que estavam ocultas, por outro lado, criam uma dificuldade suplementar: como adicionar informações pontuais no tempo, como, por exemplo, os relatos dos viajantes ou dos cronistas que escreveram durante o período, por uma ordem que não seja a cronológica, sobretudo considerando que a maior parte das descrições referese, em sua grande maioria, às áreas centrais da cidade? (Vasconcelos, 2009, p. 155) A preocupação do autor é extremamente relevante e pertinente. Contudo, assegura-se que testemunhos registrados no passado ou depoimentos colhidos no presente sobre o passado urbano referem-se a fontes cruciais para reconstituição de bairros históricos menos antigos das cidades, os quais não foram conhecidos pelos 9 A pesquisa não se atem ao relato deste autor, mas busca referências documentais escritas e orais junto a outros pioneiros. Percorre-se toda a cidade com Tião Areia e, com GPS, é identificada a localização de cada equipamento histórico, a maioria dos quais não existe mais. 30 viajantes do século XIX, muito menos parecem ser objetos diretos de preocupação dos historiadores, no presente. Em tese defendida na Universidade de São Paulo, adotou-se a metodologia dos testemunhos ou depoimentos orais colhidos dos moradores mais velhos dos bairros periféricos de Ouro Preto [antiga Vila Rica] e de Diamantina [antigo Arraial do Tijuco], para o resgate da formação dessas áreas, ao se reconhecer uma “ditadura” do enfoque da chamada cidade colonial pelo seu sítio original, sobretudo. Uma grande lacuna nos estudos que se referem às cidades hoje patrimonializadas e ligadas à história econômica brasileira do açúcar, do ouro e dos diamantes, da pecuária e mesmo do café, diz respeito à formação territorial em sua totalidade urbana, ou seja, desfocada de uma “ditadura do centro histórico patrimonializado” [ver Costa, 2011, que compreende ambas as cidades coloniais enquanto totalidade urbana e busca entender, no viés da geografia urbana, a formação dos bairros além limites da área tombada]. Parece que essa “ditadura”, em que as áreas centrais são privilegiadas pelas pesquisas de diferentes campos reproduz-se para Brasília. A Capital Federal é vastamente reconhecida [em estudos e projetada pela mídia] por sua expressão geopolítica, artística e administrativa, de maneira que a compreensão da formação territorial que se deu concomitantemente à própria construção da Capital [pelas suas bordas e para bem além delas] parece pouco revelada. Quando se refere à história dos construtores de Brasília, os nomes de importantes arquitetos e artistas [Lúcio Costa, Oscar Niemayer, Athos Bulcão e Burle Marx] são enaltecidos. Esta agenda de pesquisa prioriza, ao contrário, os “artistas construtores” que puseram pedra sobre pedra na nova Capital Federal e, pelos desígnios do poder e da hegemonia atinentes à história ou daqueles que a protagonizam no discurso, parecem esquecidos ou, no máximo, pouco lembrados. A tendência na qual operários pioneiros foram jogados à margem da história e do território do Plano Piloto [Brasília] tem sido revertida. Logo, para dar voz a esses “novos” protagonistas de Brasília, propõe-se, em resumo, como agenda de pesquisa: 1. Refinamento da metodologia atinente à história oral aplicada ao estudo geográfico da formação do território [em andamento]. 31 2. Estudo das nuanças da construção da nova Capital Federal Brasília [Plano Piloto], nos vieses das estratégias governamentais, das resultantes socioeconômicas da operação, da dinâmica territorial na escala da metrópole e na escala nacional [primeira aproximação dessa proposta foi realizada em Costa; Steinke, 2014]. 3. Análise da constituição histórica das 31 (trinta e uma) Regiões Administrativas [antigas cidades-satélites] – pautada em fontes documentais [escritas e orais, primárias e secundárias]. Estudo já iniciado conjuntamente com discentes da graduação e da pós-graduação da UnB incorporados nessa proposta maior. A ideia é a da análise de uma cidade ou região por ano [em Costa e Peluso, 2013, foi realizada uma primeira aproximação ao Núcleo Bandeirante, Ceilândia e Taguatinga; a própria crítica ao trabalho exige retomada metodológica para o encaminhamento do projeto, bem como revisão de cada R. A, individual e profundamente]. Essa proposta deverá ser executada ao longo de três ou mais décadas. 4. Constituição de um arquivo geográfico de história oral, fundado no depoimento de testemunhas do passado, pela memória dos operários e seus familiares, todos vinculados diretamente à construção da nova Capital do Brasil [entre 1956-1960]; sujeitos ainda vivos com idade média entre 60 e 80 anos [acervo a ser catalogado no âmbito do Departamento de Geografia da Universidade de Brasília, Laboratório GEOredes, Grupo de Pesquisas Cidades e Patrimonialização, GECIPA, diretório CNPq]. 32 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A geografia material do mundo tem na história fundamento imprescindível de sua explanação. O tratamento histórico do espaço - por si só - parece insuficiente para dar sentido à Geografia Histórica Urbana. Antes de indagar o espaço pela dimensão histórica é necessário inquiri-lo do ponto de vista categorial geográfico. Problematizar o espaço geograficamente significa reconhecer os princípios da própria Geografia em sua história, antes de qualquer encaminhamento de pesquisa [necessidade de reconhecimento epistemológico]. Se as categorias de análise da Geografia são universais, como se aventou no início deste texto, as variáveis que as dão sentido não o são, o que exige situá-las em seu espaço-tempo. Contextualiza-se, por assim dizer, não apenas o objeto, o fato ou o fenômeno da análise, mas a própria categoria ou o conceito empregado, a oferecer sua revisão ou adequação se o objeto assim o exigir, dado o recuo do tempo ou o momento das técnicas que o perfaz. O pensamento geográfico da cidade na história exige, especialmente, o entendimento de que universalidade, particularidade e singularidade fazem-se simultaneidade na produção histórica do lugar. Por isso, o tratamento do passado espacial urbano exige reconhecimento da ideia de totalidade [filosófica e não empírica]. A restrição da análise urbana histórica a suas formas ou morfologia da paisagem parece negar a dimensão essencial da história espacial, que envolve contextualização das próprias formas pretéritas resultantes de normas e processos sociais genéticos. Por último, a Geografia Histórica [especialmente de viés urbano] carece, ainda, de matização epistemológica e metodológica, quando os trabalhos apresentados nos mais recentes congressos da área apresentam um alinhamento difuso e pouco claro com as categorias e os princípios da Geografia Humana enquanto “história do território”, como sugere A. C. Robert Moraes; também merecem questionamento metodológico com respeito às fontes primárias a serem estudadas tendo como pauta os princípios da 33 disciplina, como esboçam os trabalhos de Maurício de Almeida Abreu e de Pedro de Vasconcelos. Longe de os argumentos aqui apresentados pretenderem-se verdades resolutas sobre o temário. Foram apresentadas questões propositivas para um debate que se deseja aberto, honesto e esclarecedor àqueles que advogam por uma Geografia Histórica Urbana fundada em princípios claros da Geografia enquanto disciplina do saber espacial, antes e durante o diálogo com outros importantes e irrefutáveis campos de saberes. 6. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ABREU, Maurício de A. Sobre a memória das cidades. Porto, Revista da Faculdade de Letras – Geografia I série, vol. XIV, p. 77-97, 1998. ABREU, Maurício de A. Construindo uma geografia do passado. Rio de Janeiro – cidade portuária. Geousp, vol. 7, p. 13-25, 2000. ABREU, Maurício de A. Reencontrando a antiga cidade de São Sebastião: mapas conjecturais do Rio de Janeiro do século XVI. Cidades, vol. 2, nº 4, 189-220, 2005. ABREU, Maurício de A. Um quebra cabeça (quase) resolvido: os engenhos da capitania do Rio de Janeiro, séculos XVI e XVII. Scripta Nova. Barcelona, Universidad de Barcelona, vol X, nº 218 (32), 2006, http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-218-32.htm ANDRADE, Adriano B. O outro lado da baía: gênese de uma rede urbana colonial. Salvador: EdUFBA, 2013. BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças dos velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2000. COSTA, Everaldo B. Totalidade urbana e totalidade-mundo: as cidades coloniais barrocas face à patrimonialização global. 445f. Tese (Doutorado em Geografia) FFLCH-USP, São Paulo, 2011. COSTA, Everaldo B; PELUSO, Marília L. Territórios da memória candanga na construção da capital do Brasil (1956-1971). XIII Simpurb – Simpósio Nacional de Geografia Urbana, Rio de Janeiro, UERJ, 2013, p. 1-28. COSTA, Everaldo B; STEINKE, Valdir A. Brasília meta-síntese do poder no controle e articulação do território nacional. Scripta Nova. Universidade de Barcelona, vol. XVIII, nº. 493 (44), 2014. http://www.ub.edu/geocrit//sn/sn-493/493-44.pdf 34 GEORGE, Pierre. Os métodos da Geografia. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1986. HALL, Michael M. História oral: os riscos da inocência. In: O direito à memória: patrimônio histórico e cidadania. São Paulo: Departamento do Patrimônio Histórico / DPH, p. 157-160, 1992. HOBSBAWM, Eric. Sobre história. Trad. Cid Knipel Moreira. São Paulo: Cia das Letras, 2013. LE GOFF, Jacques. História e memória. Trad. Bernardo Leitão. Campinas: Editora da Unicamp, 2003. MORAES, Antônio C. R. Bases da formação territorial do Brasil: o território colonial brasileiro no “longo” século XVI. São Paulo: Editora Hucitec, 2000. MORAES, Antônio C. R. Geografia histórica do Brasil. Cinco ensaios, uma proposta e uma crítica. São Paulo: Editora Hucitec, 2009. RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Trad. Alain Francois. Campinas: EdUNICAMP, 2007. SUZUKI, Júlio C. Histórias orais: relatos de experiências em pesquisas geográficas. Oralidades (USP), v. 10, p. 53-73, 2011. VASCONCELOS, Pedro de A. Como estudar a cidade na longa duração (A noção do tempo na Geografia). Formação, Presidente Prudente, v. 6, p. 75-90, 1999. VASCONCELOS, Pedro de A. Complexidade histórica e questões raciais em Salvador, Brasil. Biblio 3W. Barcelona, Universidad de Barcelona, vol XII, nº 732, 2007. http://www.ub.es/geocrit/b3w-732.htm VASCONCELOS, Pedro de A. Questões metodológicas na geografia urbana histórica. Geotextos, Salvador, v. 5, p. 147-157, 2009. 35