espaços e formas comerciais modernas em periferias urbanas

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ESPAÇOS E FORMAS COMERCIAIS MODERNAS EM PERIFERIAS
URBANAS: UMA ANÁLISE A PARTIR DAS AÇÕES DE EMPRESAS
MULTINACIONAIS EM CAMPINA GRANDE/PB
Autor: Lincoln da Silva Diniz
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGEO/UFPE)
[email protected]
Co-autor: Crisólogo Vieira de Souza
Graduando do Curso de Licenciatura Plena em Geografia (UEPB)
[email protected]
INTRODUÇÃO
O presente trabalho constitui parte de um estudo que vem sendo desenvolvido pelos
autores no Curso de Geografia da Universidade Estadual da Paraíba. Este estudo objetiva,
em parte, analisar as transformações espaciais promovidas pela instalação recente de grandes
e modernos espaços comerciais (redes do comércio atacadista e varejista pertencentes aos
grupos Carrefour, Wal-Mart e Macro) em áreas periféricas da cidade de Campina
Grande/PB.
A partir da ideia das horizontalidades e verticalidades discutida por Milton Santos,
podem-se compreender também os processos, tendências e formas espaciais da atividade
comercial no espaço urbano, uma vez que, as atividades comerciárias se configuram em duas
forças que agem de forma contraditória e desigual no espaço, embora façam parte de uma
mesma totalidade. Na análise geográfica do comércio, entende-se por verticalidades as novas
formas comerciais, a exemplo das redes de supermercados e hipermercados, shopping
centers, espaços comerciais modernos diversos e especializados. Quanto às horizontalidades
do setor comercial, estas compreendem as atividades tradicionais e pequenas, dispersas e
concentradas em diferentes partes da cidade, especialmente entre as populações de menor
poder de compra, como os pequenos comércios de bairro (mercearias, mercadinhos etc.) e
os camelôs e ambulantes localizados em áreas centrais da cidade.
Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3
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As diversas inovações mercadológicas implantadas, a ampliação do consumo, bem
como a intensificação das práticas concorrenciais “desleais” (competitividade) entre os
estabelecimentos comerciais, especialmente entre os comércios tradicionais de bairro
(mercadinhos, mercearias, farmácias etc.) compõem parte da nossa análise que, se propõe
ainda a discutir sobre a dinâmica dos pequenos comerciantes neste novo contexto de
desenvolvimento, cada vez mais competitivo e desigual, verificado também em cidades de
porte médio no interior da região Nordeste do Brasil. Sendo um importante centro urbano e
comercial no interior desta extensa e complexa região brasileira, Campina Grande absorve
novas tendências mercadológicas no seu espaço a partir da entrada de novos capitais,
resultando no processo de descentralização do capital comercial com o aparecimento de
vários e modernos núcleos de atividades dispersos e concentrados.
A disseminação de novas formas do comércio, a exemplo da implantação de grandes
e modernas unidades/lojas pertencentes a redes comerciais internacionais e nacionais do setor
varejista e atacadistas, em áreas que antes não possuíam funções comerciais deste porte,
especialmente em áreas periféricas distantes da área comercial central, mas bem interligadas
por importantes vias (rodovias e avenidas centrais), revelam, sobretudo, um aspecto das
novas tendências verticais da atividade comercial nesta cidade que, cada vez mais, privilegia
espaços onde se concentra, ao mesmo tempo, populações de diversos níveis de renda, além
da grande disponibilidade de terrenos para implantação de amplas estruturas comerciais e de
estacionamentos.
ASPECTOS E TENDÊNCIAS DO ESPAÇO COMERCIAL DA ATUALIDADE
As transformações recentes no campo das ciências e das tecnologias, nas últimas
décadas, tem acelerado a velocidade das mudanças no tempo e no espaço, reduzindo as
distâncias entre os diferentes lugares do mundo. A expansão da economia capitalista, através
do aumento e diversificação da produção, circulação e consumo, afetou, ao mesmo tempo, os
processos de comercialização, diminuindo os custos e aumentando o lucro das grandes
empresas, sobretudo, das multinacionais do setor comercial que atuam em diferentes lugares
por meio de redes.
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Observa Castells (2008, p.136) que as empresas não estão motivadas apenas pela
produtividade, mas, sobretudo, “pela lucratividade e pelo aumento do valor de suas ações”,
uma vez que, hoje, a tecnologia organizacional e de gerenciamento é o principal fator que
induz a uma maior produtividade. Então, para os agentes econômicos, a produtividade não é
o objetivo em si, mas as ações competitivas do mercado. Deste modo, avalia Castells que “A
lucratividade e a competitividade são os verdadeiros determinantes da inovação tecnológica e
do crescimento da produtividade” no contexto econômico e espacial capitalista atual
(CASTELLS, 2008, p.136).
Na opinião de Harvey (2006, p.140), as intensas mudanças estruturais de produção,
localização, distribuição e consumo ocorridas no capitalismo nas últimas décadas, se
confrontam com os modelos rígidos de produção fordista, mas, por sua vez, reproduz a
mesma lógica socioespacial excludente, marca histórica do capitalismo. Segundo ainda o
referido autor, a chamada acumulação flexível que se apóia na flexibilidade dos processos
de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo, envolve,
sobretudo, “rápidas mudanças dos padrões do desenvolvimento desigual, tanto entre setores
como entre regiões” (HARVEY, 2006, p.140). No caso da distribuição espacial e
organização estrutural das atividades do setor comercial na atualidade, constata-se tendências
similares.
A forte tendência de centralização da atividade comercial num único espaço
(supermercado, hipermercado, shopping center etc.), bem como a sua dispersão espacial
sobre novos espaços da cidade, inclusive naqueles habitados por populações de baixa renda
(periferias urbanas pobres), reforça os interesses dos grupos empresariais, que avançam
intensamente sobre o espaço comercial das cidades, garantindo maior acessibilidade à
clientela, ao possibilitar o encontro de uma grande diversidade de produtos no mesmo local,
além de outras facilidades na sua comercialização.
Assim sendo, para Pintaudi (1999, p.157): “[...] os espaços comerciais cada vez mais
são o produto de uma alta racionalidade na gestão do grande capital [...]”. Dispondo de
melhores recursos, estes novos empreendimentos se sobressaem no circuito comercial,
constituindo-se em objetos novos, carregados de uma intencionalidade altamente capitalista,
de uma racionalidade hegemônica, conquistando, portanto, a preferência de uma grande
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massa da população consumidora, de diversos níveis socioeconômicos, através,
especialmente, do uso da publicidade.
No setor comercial urbano, portanto, a presença de inovações verticais gera a
formação de novas formas comerciais as quais, por sua vez, além de acompanharem o
crescimento das cidades, condicionam profundas transformações espaciais nestas. Nesse
sentido, afirma Santos (1997, p.78) que: “Os conjuntos formados por objetos novos e ações
novas tendem a ser mais produtivos e constituem num dado lugar, situações hegemônicas”.
ASPECTOS E TENDÊNCIAS DO ESPAÇO COMERCIAL EM PERIFERIAS
URBANAS DE CAMPINA GRANDE/PB
Nos últimos cinquenta anos, os espaços comerciais das cidades brasileiras sofreram
profundas modificações em termos de conteúdo e formas. Novas tecnologias e modalidades
de consumo foram incorporadas, de modo muito seletivo, em diversos setores econômicos,
gerando consigo novas formas de produção e distribuição das mercadorias, o que, por sua
vez, intervém nas relações sociais, pois práticas tradicionais são substituídas por relações
diferentes de aquisição de produtos, especialmente, a partir da criação e instalação de
modernas estruturas comerciais nas cidades, como supermercados, modernos centros
comerciais, redes varejistas e atacadistas etc. (PINTAUDI, 2008, p.124).
A cidade de Campina Grande/PB, localizada na Mesorregião do Agreste Paraibano e
com uma população estimada em aproximadamente 400.000 habitantes (IBGE, 2009),
constitui um dos maiores centros urbanos e comerciais do interior da Região Nordeste do
Brasil. A criação e instalação de novas formas do comércio capitalista nesta cidade – tais
como os supermercados, os hipermercados, as grandes redes de lojas atacadistas e
varejistas, os shopping centers entre outras formas comerciais modernas – revelam,
sobretudo, as novas tendências do comércio em localidades urbanas interioranas na
atualidade, como os centros urbanos regionais mais importantes.
Além do intenso dinamismo dos espaços comerciais dos bairros residenciais da
cidade de Campina Grande, bem como de sua área central, observam-se outras tendências
espaciais do comércio local a partir da instalação de grandes e modernas estruturas de lojas
varejistas e, sobretudo, do ramo atacadista em espaços periféricos da cidade, em torno de
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importantes vias de acesso, como, por exemplo, a implantação do mercado do ramo
atacadista e varejista Macro, nas margens da BR 230, próximo ainda à BR 104 (zona sul),
bem como da construção das novas instalações do Atacadão Farias (empreendimento de um
grupo local) na mesma via (BR 230), nas proximidades do Distrito de Santa Terezinha. A
recente implantação da loja Atacadão do Grupo Carrefour (multinacional francesa) em outro
extremo da cidade (zona norte), próximo à Avenida Manuel Tavares e BR 104, constitui
outra face da nova dinâmica comercial da cidade (Foto 1). Como também a instalação de
uma nova e ampla unidade comercial varejista do Grupo Wal-Mart (multinacional americana)
em uma das áreas mais povoadas e populares da cidade (zona oeste) constitui ainda outra
tendência espacial da atividade comercial em Campina Grande que vem “privilegiando” áreas
antes tradicionalmente ocupadas por pequenas unidades comerciais, como as inúmeras
mercearias e mercadinhos.
Foto 1: Instalações da Loja Atacadão do Grupo Carrefour em uma periferia de Campina Grande
Foto: Lincoln Diniz, nov./2009
Diante do exposto, de forma ainda preliminar, percebe-se que o processo de
reprodução do espaço comercial em Campina Grande, semelhante, aliás, ao que ocorrem nos
demais centros urbanos de porte médio do Brasil, continua reproduzindo uma estrutura
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espacial profundamente complexa e desigual, uma vez que, “privilegia”, por razões
mercadológicas, alguns pontos da cidade em detrimento de outros, gerando, de maneira geral,
novas configurações espaciais no setor comercial local.
Essa nova modalidade/estrutura espacial do setor comercial, recentemente implantada
em alguns pontos dos espaços periféricos da cidade pesquisada, reproduz, portanto, os
mesmos intentos concentradores e seletivos dos vetores da modernização capitalista no lugar
que, “[...] não obstante os seus propósitos homogeneizadores – ligados às verticalidades – a
fim de garantirem a acumulação de capitais, não deixam muito espaço para o
desabrochamento dos interesses ligados às horizontalidades do lugar” (DINIZ; CASTILHO,
2009, p.57).
Palavras-chave: Novas formas comerciais, tendências espaciais, periferia urbana.
REFERÊNCIAS
CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. A era da informação: economia, sociedade e
cultura. V. 1. 11ªed. São Paulo: Paz e Terra, 2008. 698p.
DINIZ, Lincoln da Silva; CASTILHO, Cláudio Jorge Moura de. Faces atuais do espaço
comercial em Campina Grande/PB: Algumas considerações sobre a coexistência de formas
modernas e tradicionais do comércio na “nova” dinâmica sócio-espacial. In: Revista de
Geografia. Recife: Programa de Pós-Graduação em Geografia / Universidade Federal de
Pernambuco – PPGEO/UFPE, 2009. p.40-60.
HARVEY, David. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança
cultural. 15ªed. São Paulo: Loyola, 2006. 349p.
PINTAUDI, Silvana Maria. A cidade e as formas do comércio. In: CARLOS, Ana Fani
Alessandri (org.) Novos Caminhos da Geografia. São Paulo: Contexto, 1999. p.143-159.
_______. O consumo do espaço de consumo. In: OLIVEIRA, Márcio Piñon de; COELHO,
Maria Célia Nunes; CORRÊA, Aureanice de Mello (orgs.). O Brasil, a América Latina e
o Mundo: espacialidades contemporâneas (II). Rio de Janeiro: Lamparina / FAPERJ /
ANPEGE, 2008. p.121-127.
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SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. 2ª ed.
São Paulo: Hucitec, 1997. 308p.
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