Publicação do Curso de Relações Internacionais da Faculdade Santa Marcelina / Ano 15 – Nº 41 / 1º Semestre 2015 Relatório: Os planos do governo equatoriano: incentivo ao retorno da população migrante38 Karina Magalhães, Kenny Afolabi, Milena Ignácio, Tai Afolabi, Verônica Santos e Wellington Souza 39 Inter-Relações / Ano 15 - Nº 41 / 1º semestre 2015 / p. 85-89 Introdução No início da década de 1990, os países da América Latina sofreram uma intensa crise econômica, como um reflexo das dificuldades enfrentadas no decorrer da década de 1980. O Equador foi uma das nações mais afetadas. Os bancos fecharam e as poupanças – que eram o principal meio de sobrevivência de mais da metade da população – foram congeladas. Houve um panorama composto, dentre outros elementos, por restrições de investimentos, demissões em larga escala e saída significativa de profissionais extremamente importantes para a dinâmica econômica do país. Sem perspectiva de um futuro melhor, uma parte relevante da população se lançou rumo ao desafio de encontrar um trabalho no exterior. Essas atividades profissionais normalmente caracterizam-se por jornadas de trabalho extenuantes e salários baixos (se comparados aos trabalhadores que não são migrantes), vinculados a atividades que a população local evitava desempenhar. O Cônsul Geral do Equador em São Paulo, Luis Wladimir Vargas Anda, em palestra realizada no Simpósio “Migrações e Políticas Públicas na América Latina”, na Faculdade Santa Marcelina, afirmou que nesse período a má gestão governamental fez com que os ganhos relacionados ao principal produto de exportação, o petróleo, não pudessem ser revertidos em ganhos para a economia do país. Diante deste cenário, o Cônsul destacou que as remessas dos profissionais que saíram do país foram de extrema importância para a economia do país. Parte da população migrante, inclusive, conseguiu levar as poupanças não congeladas para o exterior, investiu e ainda 38 Este relatório foi produzido a partir do trabalho final para a disciplina Teoria das Relações Internacionais, lecionada pelo Prof. Tadeu Morato Maciel. As informações contidas no relatório estão relacionadas com a apresentação do Cônsul Geral do Equador em São Paulo, Luis Wladimir Vargas Anda, em palestra realizada no Simpósio “Migrações e Políticas Públicas na América Latina”, na Faculdade Santa Marcelina. 39 Estudantes do 3º período do Curso de Relações Internacionais da FASM. P á g i n a | 85 Publicação do Curso de Relações Internacionais da Faculdade Santa Marcelina / Ano 15 – Nº 41 / 1º Semestre 2015 conseguiu enviar de volta parte dos lucros obtidos, tornando essas remessas essenciais para a sustentação do país. A partir do ano 2000 essa situação foi considerada de forma mais efetiva como um problema, fazendo com que o governo passasse a pensar em alternativas que evitassem a saída dos profissionais do país. Em 2007, com a ascensão do governo de Rafael Correa, um plano governamental foi criado para recuperar e fazer crescer a economia; porém, alguns temas muito importantes não foram previstos na lei, gerando a necessidade de emendas constitucionais para torná-lo funcional. O ponto essencial das novas reflexões e ações do governo equatoriano era o entendimento de que uma constituição não deveria ser feita “de cima para baixo” (como ocorreu anteriormente, em decorrência de intervenções militares), mas que ela deve considerar a opinião do povo. Em consequência, em 2008, pela primeira vez em muitos anos, o povo foi consultado para a criação de uma nova constituição, o que resultou na reformulação da concepção de desenvolvimento nacional (mais voltado ao bem-estar social) e no estabelecimento ou adequação das instituições estatais para a consecução deste objetivo. A partir deste contexto, o Ministério das Relações Exteriores do Equador foi incumbido do objetivo de trazer de volta esses imigrantes espalhados pelo mundo e, para isso, em conjunto com os demais ministérios, criou uma Secretaria Nacional de Imigrantes e planos que estimularam o retorno dessa parcela da população. O Plano de Retorno Para o Cônsul Luis Wladimir Vargas Anda, a principal mudança que deveria ser instaurada versava sobre a potencialização da economia equatoriana. Com a dinamização econômica do país, os profissionais teriam o estímulo e o interesse de, voluntariamente, retornar ao país de origem. Destacam-se as seguintes ações em relação a esse processo: 1. Mudanças no serviço nacional de alfândega – Servicio Nacional de Aduana del Ecuador Foi estabelecido o plano Servicio Nacional de Aduana del Ecuador, por meio do qual passou a existir maior facilidade no transporte de equipamentos e máquinas dos cidadãos no exterior, sem P á g i n a | 86 Publicação do Curso de Relações Internacionais da Faculdade Santa Marcelina / Ano 15 – Nº 41 / 1º Semestre 2015 nenhum imposto na entrada ao país. Anteriormente, por conta de altas taxas alfandegárias, muitos equatorianos não tinham interesse em retornar com seus bens adquiridos no exterior. 2. Planos do Ministério da Saúde – Ecuador saludable, vuelvo por ti O maior número dos profissionais que migraram eram médicos, que buscaram países onde podiam trabalhar em sua área de atuação – por exemplo, o Chile. Aqueles que foram para países nos quais não podiam exercer a medicina acabaram tendo que desempenhar outros serviços. Por isso, o Ministério de Saúde fez um plano que garante vagas nos postos de saúde, nos hospitais e em todo o sistema público de saúde, para que, ao retornar, esses médicos possam trabalhar. Essa mudança foi possível porque o governo realizou a construção de 17 hospitais, sendo que há mais cinco em construção, com previsão de término até o final de 2015. O Ministério da Saúde também trouxe alguns médicos de Cuba para que pudessem treinar os profissionais equatorianos que não estavam trabalhando na área por muito tempo. O mesmo plano também estimula a volta dos cidadãos que tiverem filhos com enfermidades graves em geral. Para isso, foram oferecidos diversos incentivos, tais como bolsas de estudo, habitações e empregos para as famílias. Dentro desta iniciativa também constava a elaboração do plano de ingresso de pessoas com deficiências no mercado de trabalho. Enquanto no ano de 2007 existiam apenas 50 pessoas com deficiências trabalhando no país inteiro. Com a realização deste plano, mais de 45 mil pessoas já estão no mercado de trabalho, com carteiras profissionais assinadas, resultando no maior índice de toda a América Latina. Segundo o Cônsul Luis Wladimir Vargas Anda, a realização deste plano apenas foi possível por causa da atuação do ex-vicepresidente (que é portador de deficiência física), o qual foi convidado pela ONU, após o seu mandato, para elaborar um projeto de inclusão das pessoas com deficiências em nível global. 3. Plano do Ministério da Agricultura – Plan Terra y otros servicios O Ministério da Agricultura elaborou o Plan Terra y otros servicios, como forma de facilitar a produção agrícola do país. Os incentivos do governo equatoriano vão desde o oferecimento de terras e equipamentos de trabalho até a capacitação das pessoas com interesse em se dedicar à P á g i n a | 87 Publicação do Curso de Relações Internacionais da Faculdade Santa Marcelina / Ano 15 – Nº 41 / 1º Semestre 2015 atividade agrícola. Também houve a formalização de um grupo de agroprodutores, com objetivo de exportar os produtos excedentes. 4. Ministério da Educação, Ciência, Tecnologia e Inovação – Plano de Estudos no Exterior e Retorno de Professores O governo atual no Equador considera que o seu principal foco é a educação. Segundo o Cônsul Luis Wladimir Vargas Anda, o governo atual entende que mesmo que surja um cenário no qual haja situações de dificuldades em qualquer setor da economia, o foco na educação e os investimentos nessa área não serão interrompidos. Por conta disso, o governo elaborou alguns planos para priorizá-la. O governo ampliou as formas de acesso e financiamentos para que os estudantes possam frequentar faculdades no exterior. Os primeiros colocados na prova de acesso possuem melhores possibilidades no processo de escolha do local de destino e do curso a ser realizado. Grande parte dos estudantes conta com bolsas completas de transporte, acomodação e habitação. Ao final do período de estudos, esses estudantes devem retornar ao país, para colaboraram com conhecimento e oferecerem serviços na construção e crescimento do país. Na América latina, o Equador tem o maior índice de estudantes nas melhores universidades do mundo. A primeira turma que se formou no exterior retornou ao país em 2014 e todos esses alunos já estão integrados no mercado de trabalho. O segundo plano do mesmo Ministério é relacionado ao retorno dos professores para o Equador. Um dos elementos essenciais deste processo foi a construção de quatro universidades federais. Anteriormente, não existia o ingresso de todos os alunos de colégio nas universidades do governo. Atualmente, existe a garantia de que todos que completarem o nível secundário poderão ingressar em um ensino superior de qualidade. Em nome da garantia de um ensino de extrema qualidade foram fechadas 18 universidades chamadas "faculdades de garagem" – por conta da facilidade de se obter um diploma mediante pagamento. Deve-se destacar que está previsto na lei que outras oportunidades fossem oferecidas aos estudantes destas faculdades. Também é preciso destacar que os professores são a categoria mais bem paga em todo Equador. Em meio ao chamado plano de retorno dos professores, o governo P á g i n a | 88 Publicação do Curso de Relações Internacionais da Faculdade Santa Marcelina / Ano 15 – Nº 41 / 1º Semestre 2015 realizou a construção de uma universidade de docentes, com objetivo de capacitar tanto os profissionais que haviam deixado o país quanto aqueles que querem iniciar sua capacitação para ingressarem nessa profissão. Considerações Finais Para o Cônsul Luis Wladimir Vargas Anda, a criação dos planos mencionados acima pode ser vista como um meio encontrado pelo governo para pagar a “divida moral” com os três milhões de equatorianos que se viram obrigados a sair do país em busca de melhores condições de vida. Somente uma pequena parte desta população ainda não voltou ao país, os quais não precisam remeter recursos para a manutenção de suas famílias no Equador. Por conta da crise na Europa, além dos equatorianos que retornaram ao país, destaca-se o grande número de europeus que chegaram ao país latino-americano em busca de emprego. O Cônsul também ressaltou que o Brasil não foi o destino (de imigração) dos equatorianos. No Brasil inteiro não existem mais do que quatro mil equatorianos. Em São Paulo, especificamente, não há mais do que mil equatorianos, com a maioria sendo indígenas (60% dos que moram no estado são músicos e grande parte do restante são artesãos). Conclui-se que o investimento maciço em infraestrutura, educação, saúde, etc. resultou na diminuição drástica do êxodo da população equatoriana. Segundo o Cônsul, o governo continua trabalhando na criação de novos planos e na melhoria dos já existentes, para trazer cada vez mais os equatorianos de volta à pátria. P á g i n a | 89