AS Chuvas de Janeiro de 2010 em Maringá Paraná e a Dinâmica dos sistemas atmosféricos Victor da Assunção Borsato Geógrafo, Prof. Adjunto, Depto. Geografia, FECILCAM, Campo Mourão - PR, e Coordenador do Curso de Geografia da FAFIJAN, Jandaia do Sul. [email protected]. INTRODUÇÃO O janeiro de 2010 foi marcado pelo grande volume de chuva recebido em algumas localidades do Centro Sul do Brasil. A região norte do Paraná e nela a cidade de Maringá foi inserida na faixa que recebeu chuva acima do esperado para o mês. Maringá é uma cidade localizada na região noroeste do Paraná e é cortado pelo trópico de Capricórnio. Localizado na faixa de transição entre o clima tropical típico ao norte dessa linha e o temperado ao sul. O Planalto Meridional contribui com as características climáticas, principalmente com o fator altitude que ameniza os rigores da temperatura. A circulação Sinótica mostra que a região de Maringá tem o tempo atmosférico influenciado por quatro sistemas; a massa de ar Equatorial continental (mEc), a Tropical atlântica (mTa) a Tropical continental (mTc) e a Polar atlântica (mPa). No mês de janeiro predomina nessa região a atuação dos sistemas de baixa pressão. Na primavera e no outono há uma alternância entre os sistemas de alta e de baixa pressão (BORSATO 2006a). Mesmo com o predomínio do sistema de baixa pressão a mPa, sistema anticiclonal avança pelo Sul do Brasil e antes de atingir Maringá devia-se para o interior do Atlântico Sul. O deslocamento desse sistema dá origem aos sistemas frontais que ao avançar pelo Sul do Brasil causa os episódios de as chuvas frontais. Os estudos já executados em Maringá mostraram que mesmo no mês de janeiro que é o mais quente a porcentagem das chuvas frontais com relação à precipitação total pode ser superior a 50% em alguns anos (BORSATO 2006) O janeiro de 2010 foi considerado pela mídia como atípico, considerando o volume de chuva. Esse trabalho tem como objetivo principal quantificar os sistemas atmosféricos e a gêneses da chuva através do estudados das massas de ar e da análise rítmica. Também Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 1 comparar com a série histórica para verificar se realmente foi atípico e se há explicações na dinâmica dos sistemas que atuaram durante o mês. MATERIAL E MÉTODO O tempo atmosférico são as condições atmosféricas determinadas pela circulação geral e pelos fatores geográficos locais em um dado momento e susceptíveis de mudanças bruscas. É possível eleger um grande número de tipos de tempo de acordo com os sistemas atuantes e com a intensidade do mesmo. Nesse trabalho, as condições do tempo não tiveram importância, o relevante foi qual o sistema atmosférico, ou quais foram os responsáveis pela gênese das chuvas. Para tanto, foi necessário a identificação dos sistemas atmosférico através das características dos elementos do tempo, específicos das massas de ar ou das massas que atuaram em cada dia. Neste trabalho foram considerados aqueles que atuaram no Centro-Sul do Brasil, ou seja: Sistema Frontal (SF), massa Tropical continental (mTc), massa Tropical atlântica (mTa), massa Polar atlântica (mPa), Massa Equatorial Continental (mEc). (VIANELLO: 2000; VAREJÃO - SILVA: 2000; FERREIRA: 1989). Para identificar a atuação de cada um deles, fez-se estudo da dinâmica das massas de ar de PÉDELABORDE (1970). Utilizou-se uma tabela com linhas para os dias e colunas para os sistemas atmosféricos atuantes e para a pluviosidade. Os sistemas atmosféricos foram identificados pela análise das cartas sinóticas da Marinha do Brasil (2010) e pelas imagens de satélite no canal infravermelho do CPTEC-INPE (2010) e pelos elementos do tempo. Para o dia em que um único sistema atuou em Maringá atribui-se 24, número que corresponde as horas do dia e 12 para cada sistema nos dias em que Maringá se encontrava nas confluências entre dois sistemas e 8 para três. No final do mês foram somados os valores de cada coluna e calculado a participação de todos os sistemas. Há situações do tempo em que a simples análise da carta sinótica e da imagem de satélite não da conta de explicar os tipos de tempo, nessas condições a análise integrada dos principais elementos do tempo é um importante subsídio na identificação do tipo de tempo e do sistema atuante. Com auxilio do programa computacional RitmoAnalise 2008. (BORSATO e BOSATO, 2008), elaborou-se o gráfico com a pressão atmosférica, Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 2 temperatura máxima, média e mínima, umidade relativa, precipitação e ventos para o período estudado. Os dados dos elementos do tempo especializado no gráfico auxiliaram a identificação do sistema atuante no período. Para a gênese da chuva, utilizaram-se três colunas da tabela, sendo lançado na primeira toda a precipitação registrada no mês, na segunda e terceira as convectivas e frontais. Toda a precipitação verificada no dia em que atuava o SF ou mPa foi considerada frontal, e as registradas nos dias em que atuaram os demais sistemas convectivas. No final do mês foram somadas as duas categorias e calculada a porcentagem. Para a melhor visualização dos resultados, eles foram sintetizados em gráficos. RESULTADOS E DISCUSSÃO O Sistema Meteorológico do Paraná (SIMEPAR) divulgou uma tabela e um mapa com a chuva acumulada em Janeiro em 29 cidades do Paraná e desse total 10 registraram chuva abaixo da média histórica e as demais acima. Verifica-se que a grande maioria dos postos com média abaixo se encontra no oeste e sul do estado. Dessa forma constata-se que o maior volume de chuva foi verificado no norte e leste do Paraná (SIMEPAR 2010). Os meios de comunicação, principalmente os televisionados em seus informativos diários sobre as previsões do tempo, reforçam que a chuva está prevista para o período da tarde devido ao forte calor. Essa informação reforça a crença popular de que no verão as chuvas são exclusivamente convectivas. Ao se analisar as cartas sinóticas constatam-se que as chuvas, mesmo concentrando-se durante o período da tarde é em muitos episódios de caráter frontal. Daí a necessidade da análise da dinâmica das massas de ar ou da análise rítmica para se verificar a sua gênese. A análise rítmica para MONTEIRO (1971), consiste na interpretação da seqüência sobreposta dos elementos fundamentais do tempo, como: temperatura, pressão atmosférica, nebulosidade ou insolação, vento e precipitação de um local determinado e da circulação atmosférica observadas nas cartas sinóticas. A circulação regional foi obtida por meio da leitura e interpretação das cartas sinóticas (Marinha do Brasil, arquivo eletrônico). A evolução dos sistemas ciclonais e anticiclonais, representados pelas massas de ar, forneceram os tipos de tempos em sua sucessão habitual. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 3 O mês de Janeiro é o mais úmido do ano, considerando o volume de água precipitado. Em 2010 as chuvas registradas no mês de janeiro em Maringá foi 216,6 mm, (INMET 2010) e o maior período sem registro foi de apenas 4 dias. Os sistemas atmosféricos que dominaram o tempo foram o de baixa pressão e com destaque para a mEc que atuou em 43,6% do tempo cronológico, seguido pela mTc com 27,4%. Os dois sistemas somaram 71,0% e foram responsáveis por 73,5% das chuvas, classificadas como convectivas (Figura 1). Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 4 Figura 01 - Distribuição e duração dos sistemas atmosféricos que atuaram em Maringá no mês de janeiro de 2010. m Os sistemas frontais, a mPa e a mTa, atuaram em 29,0% e foram responsáveis pela gêneses das chuvas frontais (26,5%). A Figura 01 mostrou a participação dos sistemas atmosféricos no mês. A Tabela 1 e a Figura 2 mostram a distribuição pluviométrica para o mês de Janeiro e a dinâmica dos sistemas atmosféricos. Tabela 01 – Sistemas atmosféricos atuantes em Maringá no mês de janeiro de 2010 e distribuição diária da chuva total, convectivas e frontais. Frontal Data Press SF mPa mTa mTc mEc Sistemas Convectiva ão 1/jan 1010 24 mEc 0 0,2 2/jan 1012 24 mEc 0 0 3/jan 1012 24 mEc 0 6,1 4/jan 1012 24 mEc 0 0 5/jan 1012 12 12 mTa/mEc 0 0 6/jan 1008 12 12 mTc/mEc 0 2,4 7/jan 1008 12 12 SF/mEc 0,6 0 8/jan 1012 24 mEc 0 0 9/jan 1010 24 mEc 0 1,2 10/jan 1010 12 12 mTc/mEc 0 18,4 11/jan 1008 12 12 SF/mTc 12 0 12/jan 1010 12 12 SF/mTc 0 0 13/jan 1010 24 SF 11,8 0 14/jan 1012 12 12 SF/mPa 9,5 0 15/jan 1016 24 SF/mPa 2,6 0 16/jan 1016 12 12 mPa/mEc 0 3,8 17/jan 1015 24 mEc 0 22,6 18/jan 1012 12 12 SF/mEc 19,1 0 19/jan 1010 12 12 mTc/mEc 0 34 20/jan 1012 24 SF 0 0 21/jan 1012 12 12 SF/mPa 1,7 0 22/jan 1014 24 mPa 0 0 23/jan 1012 24 mTc 0 0 24/jan 1012 24 mTc 0 0 25/jan 1012 24 mTc 0 0 26/jan 1012 24 mTc 0 26,3 27/jan 1008 24 mEc 0 0 28/jan 1010 12 12 mTc/mEc 0 3,6 29/jan 1008 24 mTc 0 1,4 30/jan 1012 12 12 mTc/mEc 0 3,6 Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 5 31/jan Total % 1008 24 mEc 0 35,7 120,0 84,0 12,0 204,0 324,0 57,3 159,3 16,1 11,3 1,6 27,4 43,5 26,5 73,5 Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 6 Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 7 Figura 2 - Dados diários da pressão atmosférica, temperatura (média e mínima), umidade relativa, precipitação, direção do vento e os sistemas atmosféricos atuantes em Maringá PR em janeiro de 2010. Mesmo sob o domínio de baixa pressão, os episódios mais significativos ocorreram nas ocasiões de atuação do SF. Por essa razão a participação das chuvas frontais foi acima da convectivas com apenas 26,5% contra 73,5% para as frontais. BORSATO (2006) estudou a participação das chuvas frontais e convectivas no mês de janeiro na série 1980 2003 e verificou que o volume das frontais também foi superior as convectivas naquele ano. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os volumes de chuvas frontais e convectivas mostraram que a região se caracteriza como sendo área de transição climática, devido ao equilíbrio na participação dos sistemas atmosféricos e na gênese das chuvas. Mesmo em pleno verão, a participação das chuvas frontais foi superior as convectivas. (BORSATO 2006b) estudou a Dinâmica Climática em Porto Rico Paraná na série 1980 – 2003 e verificou que nos meses de verão e nos anos em que o volume de chuva na região for maior do que o esperado a participação das frontais é maior. Contrariando o conhecimento popular de que janeiro é o mês das chuvas convectivas a metodologia aplicada apresentou um resultado interessante principalmente quando a gênese das chuvas para Maringá, onde a frontais superaram as convectivas. Com relação a dinâmica dos sistemas atmosféricos a baixa participação da mPa é explicado pelo ritmo que os sistemas atmosféricos apresentam ao longo do ano, o forte aquecimento do continente favorece a ampliação dos sistemas de baixa pressão e o deslocamento da mPa para o Atlântico. Os sistemas frontais continuam ativos e às vezes em frontólise ou estacionário sobre a região de Maringá favorecendo as chuvas frontais. REFERÊNCIAS BORSATO, V. A., O ritmo climático e episódios pluviométricos na bacia do rio Paraná no ano de 1980. Tese (parcial), (Doutorado) Nupélia, Universidade Estadual de Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 8 Maringá. Maringá, 2006a. BORSATO, V. A., A Gênese das chuvas de Janeiro em Maringá Paraná. IN: IV Seminário Latinoamericano de Geografia Física: Novos Paradigmas e Políticas Ambientais. Universidade Estadual de Maringá. Centro de Ciências Humans, Letras e Artes, Programa de Pós-Graduação UEM Departamento de Geografia. Maringá Paraná, Outubro 2006, eixo Hidro – Climatologia. CD-ROM BORSATO, V. A., A Participação dos sistemas atmosféricos atuantes na bacia do rio Paraná no período de 1980 a 2003. Tese (parcial), (Doutorado) Nupélia, Universidade Estadual de Maringá. Maringá, 2006b. BORSATO, V. A. BORSATO F. H e SOUSA E. E., Análise Rítmica e a Variabilidade Têmpora – Espacial. In: VI Simpósio Brasileiro de Climatologia Geográfica. Teoria e Metodologia em Climatologia. Universidade Federal de Sergipe, Núcleo de pós Graduação Geográfica, Aracajú – SE. Outubro 2004. Eixo 3, tema 3 – CD-ROM. BORSATO, V. A. BORSATO F. H, A dinâmica atmosférica e a influência da tropicalidade no inverno de 2007 em Maringá PR – Espacial. In: 8° Simpósio Brasileiro de Climatologia Geográfica. Evolução Tecnológica e Climatológica. Universidade Federal de Uberlândia. Agosto 2008. Eixo 5 – Técnica em Climatologia - CD-ROM BRASIL. Ministério da Marinha. Serviço Meteorológico da Marinha. Cartas sinóticas. On line, http://www.mar.mil.br/dhn/chm/meteo/prev/cartas/cartas.htm, consultado em 01/02/2010. BRASIL. Ministério da Ciência e Tecnologia CPTEC/INPE.– Imagens de Satélite, Cachoeira Paulista, Disponível em: http://www.cptec.inpe.br/satélite. Consultado em 02/02/2010. FERREIRA, C.C. Ciclogêneses e ciclones extratropicais na Região Sul-Sudeste do Brasil e suas influências no tempo, 1989 INPE-4812-TDL/359. INSTITUTO TECNOLÓGICO – SIMEPAR. Sistema Meteorológico do Paraná – Centro Politécnico da UFPR – Curitiba Paraná. Dados da Estação Automática de Maringá – janeiro 2010. ISTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA (INMET), On line 2007 http://www.inmet.gov.br/html/rede_obs.php consultado em 01/02/2010. MONTEIRO, C. A. de F. A análise rítmica em climatologia: problemas da atualidade climática em São Paulo e achegas para um programa de trabalho. São Paulo: USP, 1971 (Série Climatologia, 1 p. 1-21). PÉDELABORDE, P. 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