NAVEGANDO PELAS ÁGUAS DO VELHO CHICO: O PORTO DE PENEDO/AL – ASCENSÃO E DECLÍNIO Esme raldo Victor Cavalcante Guimarãe s ¹ ; Orie ntadora: Ânge la Maria Araújo Le ite ² 1 – Graduado em Geografia; Pesquisador Associado ao Núcleo de Estudos Interdisciplinares Sociedade e Educação NEISE, da Universidade Estadual de Alagoas- UNEAL. E-mail: [email protected] 2 –Professora da UNEAL - M estre em Geografia e Coordenadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares Sociedade e Educação - NEISE. E- maill: [email protected] CONSIDERAÇÕES INICIAIS O presente texto integra o Trabalho de Conclusão de Curso - TCC, do curso de Geografia da Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL, Campus I, e tem como objetivo apontar o declínio da importância econômica da cidade de Penedo – AL, a partir da extinção do seu porto. Para tanto, buscou-se, através de leituras históricas, análise de documentos e entrevistas, traçar uma linha de análise que permitisse compreender os fatos que marcaram a ascensão e o declínio do seu porto. Penedo é uma cidade considerada Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural do Brasil, grande pólo econômico de Alagoas, mas que gradativamente perde sua potencialidade econômica. Situada ao Sul de Alagoas, com uma população estimada em 2009, superior aos 60 mil habitantes, Penedo, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE é a sede da Micro-Região homônima que compreende também os municípios de Piaçabuçu, Igreja Nova, Feliz Deserto e Porto Real de Colégio. Conta com um PIB per capita de 4.240 reais (IBGE 2007). 1.- A FORMAÇÃO DO NÚCLEO URBANO PENEDENSE E AS PRIMEIRAS TRANSAÇÕES COMERCIAIS. Em relação à cidade de Penedo, há controvérsias quanto à data de sua fundação. Os registros históricos apenas apontam para o fato de Duarte Coelho Pereira, donatário da Capitania de Pernambuco, ter vencido a barra do rio São Francisco no dia 10 de outubro de 1535. Um pouco mais à frente, sete léguas acima da foz deixou os fundamentos da futura Vila Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 1 de São Francisco. Este Título foi reconhecido em 12 de abril de 1636, mas em finais daquele mesmo século já se denominava Penedo. Construindo o futuro na solidez da história, a cidade está marcada pelo casario colonial, símbolo do barroco nativo, que lhe conferiu o título do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural do Brasil. Conciliando a estética arquitetônica do homem e a generosidade do patrimônio natural, é uma pátria pequena de grandes sentimentos. 1.1.- Penedo: a origem do nome. Após adentrarem o Rio São Francisco cerca de cinco quilômetros, avistaram um grande paredão natural que oferecia uma boa vista do rio. Além de servir como fortaleza, a rocha enorme despertou o interesse dos europeus que decidiram ali mesmo fincar bandeira dando início ao forte e ao primeiro núcleo de povoamento do São Francisco. A tal rocha tinha o nome de “Penedo”, que significa rocha forte, em Tupi-Guarani, daí também surgiria o nome da cidade. Situada as margens do Rio São Francisco, tem como principal atividade econômica a cultura da cana-de-açúcar. Entretanto; no que tange ao inicio da povoação, difere da dinâmica das demais povoações alagoanas; não tendo a cana-de-açúcar como a principal atividade, sendo o porto, através do escoamento de todas as especiarias extraídas, o principal fator de desenvolvimento econômico da cidade à época. 1.2 - Da colonização do Brasil à elevação a Vila. Após o início da colonização do Brasil, a partir de 1530, a área que compreende o atual território político administrativo de Alagoas passa a ser desbravada pelos portugueses, durante suas conquistas de terra, com o intuito de explorar os produtos provenientes do solo e da flora nativos. O estabelecimento de população no território favorece o surgimento efetivo de grupos populacionais atrelados diretamente à colonização portuguesa. De acordo com Oliveira Filho (2005,p.16): A longa história da formação desses grupos populacionais se confundiria com o desenvolvimento econômico do estado, pois os primeiros povoados foram fundados, além de outros objetivos, onde havia condições de implantação dos referidos engenhos, e a possibilidade de extração de riquezas da terra. Assim, os povoados, vilas e cidades foram se formando, primeiro no litoral depois por todo o interior de Alagoas. Os primeiros foram Porto Calvo, ao norte, Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul, ao centro; e Penedo, ao sul. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 2 Ao enfatizar a temática sobre os “núcleos de povoamento” do estado alagoano, Lima (1965, p. 203-204), com o intuito de abordar a formação territorial dessa unidade da federação destaca: As cidades alagoanas dependem de uma série de fatores históricos, geográficos e econômicos – sociais. A escolha do lugar para a fundação da cidade nem sempre ocorre de modo premeditado, porque as necessidades dos grupos humanos passam a considerar determinados núcleos urbanos, sempre na utilização espontânea dos que instalaram engenhos ou fazendas de gado, e até mesmo aldeias catequéticas e ponto de pousada. Uma classificação pode ser feita em relação às zonas onde se encontram as principais urbanizações alagoanas. Dentro deste critério podemos apresentar outros mais como sejam: cidades desenvolvidas às margens dos rios, nos pés de serra, nas manchas úmidas e isoladas no sertão, nas áreas de mais desenvolvidas agriculturas, na de indústria açucareira ou tecidos e pecuária, e cidades surgidas por necessidades estratégicas. Pode-se perceber, de acordo com o autor, que a origem dos núcleos urbanos partia de uma prática espacial que busca escolher os diversos projetos daqueles responsáveis pelo processo histórico que figuram na narrativa da cidade. No caso de Penedo a povoação se deu, sobretudo pela localização estratégica e pela facilidade em escoar e receber via porto, qualquer tipo de especiaria ou produto, no rio São Francisco. Segundo Jair Barbosa em seu livro a história de Alagoas dos Caetés dos Marajás (1994, p.48). A história de Alagoas é caracterizada por fatos que marcaram o homem e o espaço são dois itens essenciais para que se possa começar o novo para se dar continuidade ao que já foi começado e que por algum motivo parou. Desde o início de sua colonização as riquezas de Penedo serviam apenas para atender os interesses dos desbravadores. Por mais que se pretendesse fazer da Penedo um local próspero e economicamente desenvolvido, a forma de distribuição de renda, totalmente desigual, e os interesses políticos mesquinhos não propiciaram a cidade uma continuidade em sua projeção econômica. As marcas do período colonial, as relações sócio-espaciais, se perpetuariam de forma a dar a cidade algumas características peculiares que dão à sensação de estagnação. Milton Santos (SANTOS,1994,p.48/49) fala do espaço como um ser vivo e com a capacidade de determinar a vida: Explicitar a noção de espaço é considerá-lo como algo dinâmico e unitário onde se reúne materialidade e ação humana. Seria o espaço o conjunto Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 3 indissociável de sistema de objetos materiais ou fabricado e de sistemas de ação deliberadora ou não à cada época. É através do espaço em especial, que a expansão urbana de Penedo toma forma, através da chegada dos Portugueses e, posteriormente, Holandeses. Assim, iniciam a formação de núcleos populacionais as margens do rio. Como afirma Moreno Brandão(Ed. Sergasa 1999, p. 10-11). A história de Alagoas é a história de posse de terra. Quando o primeiro donatário da capitania de Pernambuco Duarte Coelho Pereira, fez sua primeira expedição para o sul da capitania, atravessou todo o litoral e chegou à margem do rio São Francisco, decidindo margeá-lo até se cansar. Ao chegar a Penedo resolveu dar inicio a uma povoação constituindo uma fronteira. Penedo tornou-se a primeira povoação de Alagoas. Sendo assim, oficialmente Penedo é elevada a categoria de Vila, pertencendo e sendo reconhecido pela Capitania Hereditária de Pernambuco. Percebe-se que a povoação de Penedo, e diferentemente das demais povoações, não tem a cana-de-açúcar como a principal atividade, sendo o porto, através do escoamento de todas as especiarias extraídas, o principal canal de desenvolvimento econômico da cidade. Mesmo assim o desenvolvimento de outras atividades, inclusive o comércio rudimentar de gêneros alimentícios entre as classes exploradas, faz crescer a povoação, que dá inicio à formação de um centro urbano e passa a exercer forte influência na região. Ainda na concepção do mesmo autor, a construção do porto de Penedo tornou-se o ponto de ligação do povoado com outras localidades, pois o desenvolvimento da navegação através do rio permitiu que toda produção fosse embarcada em navios vindo do exterior. Entre os produtos de exportação estava o pau-brasil madeira que era extraída pelos índios com o objetivo de ser trocada por presentes portugueses, tais como: espelhos, miçangas, etc. 1.3. O porto de Penedo: As primeiras transações econômicas e sociais. Aportados em Penedo, os desbravadores perceberam a abundância de recursos naturais bem como a fartura para o pescado. O lugar reunia totais condições para que todos pudessem se estabelecer e produzir. Logo a noticia da fartura se espalhou e outros desbravadores foram atraídos para o lugar. Ernani Mero em seu livro o Perfil do Penedo (1994, pág.47) relata que: Nessa época os corsários franceses subiram o Rio São Francisco e alojaram – se naquela penedia,estimulados pelo comércio do “pau-brasil”. A exploração Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 4 do “pau-brasil” era monopólio da Coroa Portuguesa, no entanto os corsários e piratas franceses iniciaram os saques na costa brasileira, sob a alegação de existir liberdade nos mares. Eles chegaram ao litoral alagoano e fugindo das expedições Guarda-Costa, subiram o Rio São Francisco , procuraram conquistar os nativos e no “penedo” instalaram um “entre-posto” para a pirataria do “pau-brasil”. A princípio, apenas como ponto de remanejamento, o entreposto se torna porto, atrai as atenções e gera uma enorme concentração de fluxo econômico. Por causa da sua posição geográfica e da navegabilidade do rio São Francisco o porto de Penedo se torna o mais eficaz canal de escoamento dos produtos extraídos das matas nativas, sobretudo o pau-brasil. Forma-se assim, baseada na intensa atividade mercantil, a vila do Penedo. As mais tradicionais famílias portuguesas agora enxergam a nova terra como um paraíso para potencializar suas riquezas e partem para desbravar a recém criada vila. Surgem botecos, feitorias, escolas, igrejas, teatros, sociedades de diversas ordens, a fim de dinamizarem a nova terra e tracejar nela a cultura de seus colonizadores. Penedo cresce e se dinamiza tornando-se assim referencia em cultura e economia na região nordeste. 2.- O DECLÍNIO DA IMPORTÂNCIA ECONÔMICA DO PORTO DE PENEDO E A NAVEGABILIDADE DO RIO SÃO FRANCISCO. Milton Santos aborda o espaço como a totalidade social, composta tanto pelo substrato físico, como pelas relações sociais (econômicas, ideológicas, culturais, políticas, religiosas): O espaço geográfico é um produto histórico-social. Para produzir sua existência a sociedade utiliza a natureza e aproveita os seus recursos. Nessa medida, estão também produzindo espaço geográfico. Uma lavoura que substitui uma mata, por exemplo, integra o espaço do grupo que semeou. Enfim produzir a existência é produzir espaço. SANTOS (1999 p.23) Sob essa óptica, o espaço em Penedo passa por uma reformulação que demanda do enfraquecimento das atividades mercantis e da degradação do Rio São Francisco. Como sede da Micro-Região Homônima Penedo se apresenta como um considerável pólo regional que se firmou graças à navegabilidade do São Francisco e escoamento da produção. Porém, com a Construção da Ponte que liga os estados de Alagoas e Sergipe; a altura dos municípios de Porto Real do Colégio – AL, e Propriá – SE; atrelado também a falta de navegabilidade no baixo São Francisco, decorrente da construção de Usinas Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 5 Hidroelétricas e do latente assoreamento, o fluxo econômico que circulava via Penedo agora, toma outro rumo; via BR101, através da ponte. O que fica em Penedo são as marcas de um passado próspero. Hoje, Penedo perde espaço para cidades com menos tempo de povoamento, mas com grande capacidade de desenvolvimento e agregação de renda: é o caso do município de Arapiraca. O espaço geográfico é uma totalidade dinâmica em permanente mutação, determinado pelas interações entre sociedade e natureza, medidas pelo trabalho social. Partindo deste princípio Penedo se apresenta como lugar em que essa dinâmica não funciona como deveria. A Penedo atual é marcada ainda pelo bucolismo do século XVII, é uma cidade onde o os sobrados e as igrejas escondem o pique e o novo , onde os velhos costumes tentam sobreviver face a avassaladora brutalidade do capital. Tida como Capital do Baixo São Francisco, Penedo enfraqueceu economicamente à medida que o Rio São Francisco perdeu sua potencialidade econômica. Já sem navegabilidade de grandes embarcações e com nível de águas baixo, toda a rede de serviços que se instalou em Penedo em virtude do rio, perde sua força. As colônias de Pescadores passam a viver em boa parte do ano, só com o Seguro Desemprego, pois além da inviabilidade de navegação, o São Francisco apresenta escassez de pescado e espécies. Mesmo enfraquecido economicamente, Penedo ainda é tido como referência na região do Baixo São Francisco, pois mesmo fragilizado ainda apresenta a melhor infra-estrutura da região, em relação às cidades vizinhas. CONSIDERAÇÕES FINAIS A glamorosa Penedo vai aos poucos perdendo força para a Penedo do trabalho, da miséria e do descaso. Os grandes e majestosos sobrados, casas das grandes e tradicionais famílias vão dando espaço as construções de qualquer jeito, aos aglomerados periféricos e o tradicionalismo e suntuosidade vai sendo posta em cheque. No rio não mais se pode navegar, a pesca não traz resultados e Penedo tem que buscar viver apenas das transferências governamentais e do setor sucroalcoleiro. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 6 Todo o status que havia no cenário econômico de Alagoas, foi perdendo significado, passando a representar apenas mais um ponto estratégico para o setor canavieiro e, se nada for feito, a representar apenas um signo de um tempo áureo. Dessa forma, a economia penedense está atrelada a existência de programas sociais e a permanência da exploração da indústria sucroalcooleira, perdendo espaço em alternativas de ocupação, a exemplo das atividades pesqueira e de navegação, em função da lenta morte do velho Chico. Igualmente, observa-se o descaso com o patrimônio histórico nacional e o declínio da valorização histórica local. Finalmente, Penedo encontra-se dependente de programas sociais, com um comércio que apresenta pouco desenvolvimento econômico, possuindo uma população que cresce numericamente e sem condições dignas de sobrevivência. Assim, urge que os dirigentes políticos arranquem as cercas do coronelismo sucroalcooleiro para acreditar na força da juventude e em novas idéias que aproveitem de forma eficaz as belezas e potencialidades de uma cidade que já conheceu a força histórica, econômica e cultural. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, Manuel Correia de. Espaço, polarização e de se nvolvime nto: uma introdução è e conomia re gional. 5. Ed. São Paulo: Atlas, 1987. CARLOS, Ana Fani Alessandri. O Espaço Urbano: Novos e scritos sobre a cidade de São Paulo. Nova Labur edições, 2007. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Divisão Te rritorial do Brasil, 1997. _____________________ Ce nso De mográfico, 2000. _____________________ Ce nso De mográfico 2000 e Pe squisa de Orçame ntos Familiare s - POF 2002/2003. LIMA, Ivan Fernandes. Ge ografia de Alagoas. São Paulo: Do Brasil, 1965. SANTOS, Milton. Té cnica, Espaço, Te mpo: globalização e me io té cnico-cie ntífico informacional. 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