1 A SOCIOLOGIA NO ENSINO MÉDIO: O percurso histórico no Brasil e em Alagoas. Maria Amélia de Lemos Florêncio. Orientadora: Profª Drª Alice Anabuki Plancherel Resumo: Esta comunicação faz parte do trabalho de conclusão de curso, onde o objetivo é compreender o processo histórico da sociologia no contexto das reformas educacionais no Brasil e em Alagoas, buscando entender as razões que fundamentaram as opções pela inclusão e exclusão desta como disciplina obrigatória das grades curriculares. E partir dessa problematização foi possível identificar que a história da sociologia no ensino secundário brasileiro está dividida em três períodos: Período de Institucionalização (18911941); Período de Ausência (1941-1981) e Período de Reinserção (1981 – dias atuais). Do nosso ponto de vista, a luta pela inclusão e reconhecimento desta disciplina está ainda hoje calcada de grandes dificuldades, contudo, as conquistas adquiridas podem ser tidas como relevantes para o desenvolvimento da mesma. Palavras-chave: Sociologia, Ensino médio, Reformas Educacionais Introdução: A sociologia nasceu no seio de uma crise gerada pela Revolução Industrial (1760) no campo econômico, pela Revolução Francesa (1789) no campo político e no campo social pela nova visão de mundo implementada pelo capitalismo. Neste sentido, podemos considerá-la como uma ciência relativamente nova, visto que seu desenvolvimento e institucionalização datam os acontecimentos sociais, econômicos e culturais das sociedades modernas. O termo sociologia foi utilizado pela primeira vez por Augusto Comte 1, por volta de 1830, embalada pela preocupação de estudar a sociedade e os problemas da época a partir de critérios científicos. Portanto, sua tarefa naquele momento foi de elaborar respostas condizentes e criteriosas para as inquietações e incertezas que desenhavam o novo formato das relações sociais. (TOMAZINI; GUIMARÃES, 2004) 1 Augusto Comte (1798-1857) – Filósofo francês, fundador do positivismo. Suas teorias repousam sobre dois pressupostos: uma classificação do desenvolvimento humano e uma nova classificação das ciências. Foi o primeiro a buscar compreender a sociedade a partir de critérios científicos. SILVA, J. C. de. Utopia Disponível em: positivista e instrução pública no Brasil. http://www.histedler.fal.unicamp.br/art2_16pdf. 2 No Brasil a sociologia institucionalizou-se primeiramente no ensino médio, ao final do século XIX com a Proclamação da República, diferenciando-se de outros países da América Latina, onde esta se consolidou inicialmente nos cursos de Direito. Neste sentido, foi construindo seu espaço inicialmente na área da educação destinada principalmente a formação de professores. Neste contexto, o ensino da sociologia no país é marcado por um longo processo irregular de inclusão e exclusão da disciplina das grades curriculares do ensino médio. Onde este processo deve-se principalmente ao contexto histórico-social vivenciado pelo país, assim como também aos ideais de luta daqueles que acreditavam no papel importante que a disciplina desempenhava no ensino secundário do Brasil. Em Alagoas, diferentemente de outros estados brasileiros, que deste a Proclamação da República até os dias atuais lutam pela obrigatoriedade do ensino da sociologia na escola secundária, nosso estado esteve longe de toda essa luta. Enfrentávamos diversas crises sócio-econômicas e falta de uma política educacional estruturada dificultou ainda mais a regulamentação do ensino desta disciplina no nível médio. A sociologia reingressa nos cursos secundários em nosso estado a partir de 2001, como resultado das novas normas de seleção para o ingresso nos cursos de graduação da Universidade Federal de Alagoas. Neste sentido, o presente artigo tem como objetivo resgatar o processo de implementação e desenvolvimento da sociologia no ensino médio brasileiro, enfocando também sua trajetória no cenário alagoano. Para sua elaboração, foram pesquisados dados empíricos e bibliográficos, tais como leitura de autores clássicos e contemporâneos das Ciências Sociais e da Educação; leitura de artigos publicados nas bases de dados (<espaçoacademico.com.br>; <sociólogos.org.br>; Scielo) e relatórios da disciplina Estágio Supervisionado de Licenciatura ofertado no de Ciências Sociais. Também se utilizou a pesquisa de campo, realizada nas escolas da rede pública estadual e privada no Município de Maceió/ AL no primeiro semestre de 2005. Através da técnica de amostragem2, de um total de 91escolas de ensino médio no município, 50 foram pesquisadas e distribuídas da seguinte maneira: 24 escolas da rede privada (aproximadamente 50%) e 26 da rede pública estadual (50%). 2 Técnica que consiste no tratamento de dados que visam obter um elemento ou conjunto de elementos, que possam ser representantes de toda a população ou universo. Admitindo dessa forma que seja feita uma análise sobre determinado universo a partir de um conjunto amostral obtido. É, portanto, uma parte da população, selecionada de acordo com uma regra, ou plano. (RUDIO, 2007) 3 A contribuição deste trabalho reside na busca de identificar as possibilidades e o sentido que a disciplina de sociologia pode ter no ensino médio brasileiro, a partir de seu desenvolvimento no sistema educacional brasileiro e dos debates empreendidos pelos próprios cientistas sociais em cada momento histórico. Portanto, espera-se que esse esforço integre-se ao trabalho que, há muito vem sendo desenvolvido, com o objetivo de conhecermos a história das ciências sociais no Brasil, e assim refletir sobre a importância da sociologia no nível médio e a necessidade de sua reestruturação. I - Os Aspectos Históricos do Processo de Institucionalização da Sociologia no Brasil. A história da sociologia no ensino médio merece destaque, sobretudo, ao que diz respeito à reflexão de sua trajetória ao final do século XX, onde sua inserção constituiu-se de forma irregular e inconsistente durante todo esse período. Tal fato deve-se, principalmente aos processos histórico-sociais vivenciados pelo Brasil onde o tratamento dispensado a disciplina confunde-se com a organização do sistema educacional brasileiro. A sociologia foi introduzida no Brasil após a Proclamação da República (1889) com a reforma educacional protagonizada por Benjamin Constant3 em 1891 que colocava em excussão pela primeira vez no país um esquema educacional completo, elaborando um ensino secundário segundo as séries hierárquicas das ciências abstratas de Augusto Comte, que apresentava um cunho enciclopédico. Com essa reforma foi extinto o curso preparatório e se fez do Ginásio Nacional, (nome dado ao Colégio Pedro II) o padrão do ensino médio no país. A sociologia foi introduzida como disciplina obrigatória nos cursos superiores, médio e militar. Surgem as primeiras preocupações com o ensino da sociologia no Brasil, onde este era entendido como uma “[...] questão de moral do cidadão” e de cumprimento de direitos e deveres constitucionais pelos indivíduos para a construção do Estado-Nação [...]” (RÊSES, 2004, p. 7). Com o afastamento de Benjamim Constant do Ministério e sua morte logo em seguida, sua reforma foi aos poucos sendo mutilada, ao invés de ser redimensionada à proporção exigida pelo país naquele momento 3 Benjamim Constant de Magalhães Botelho (1836-1891) – Militar e político brasileiro, foi um dos principais divulgadores do positivismo de Comte no Brasil. Militante republicano, articulou o movimento que instaurou o novo regime no país. No governo provisório ocupou as pastas da Guerra e da Instrução Pública, quando reformulou o sistema de ensino. LEMOS, R.L.N. Disponível em: http://www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/210.pdf. 4 (NUNES,1999). Diante disso, a sociologia saiu das grades curriculares em 1901, com a promulgação da Reforma Epitácio Pessoa (1901), sem que ao menos tivesse sido ofertada. Em abril de 1925, com a reforma Rocha Vaz no governo de Artur Bernardes, a sociologia volta a fazer parte do ensino médio brasileiro, sendo inserida no currículo da 6ª série ginasial, ofertada para aqueles que possuíam interesse em obter um diploma de Bacharel em Ciências e Letras (MEUCCI, 2000). É importante destacar que as reformas educacionais ocorridas na década de 20 sofriam fortes influências das idéias positivistas vindas principalmente de Benjamin Constant e das correntes filosóficas, culturais e políticas que estavam surgindo no mundo inteiro. Esta reforma tinha por objetivo fornecer ao aluno uma visão geral sobre os diversos tipos de conhecimentos, preparando-os assim para qualquer profissão que escolhesse, uma vez que o ensino secundário era visto como um momento de formação de adolescentes. A Reforma Rocha Vaz foi compreendida como sendo uma tentativa de ajustamento do ensino médio às transformações pelas quais estavam passando o país naquele momento4. Por isso, sofreu diversas modificações em função da forte oposição de setores da elite ao fim dos exames parcelados e a instituição do regime seriado, contudo, tais modificações não trouxeram maiores conseqüências curriculares. Em 1928, a sociologia torna-se obrigatória nos cursos de magistério nos Estados do Rio de Janeiro e Pernambuco. Ainda neste período, muitas foram às transformações ocasionadas pela Revolução de 305, que deram origem a novos órgãos administrativos, entre eles o Ministério da Educação. Criado pelo decreto nº 19.850, de 14 de novembro de 1930, teve este Ministério como primeiro ocupante o ministro Francisco Campos que traçou novos rumos para a educação brasileira (NUNES, 1999). Em 1931, com a Reforma Francisco Campos a sociologia volta a fazer parte dos quadros gerais de matérias para os cursos complementares dedicados ao preparo dos alunos para o ingresso nos cursos superiores, o que deixa claro o predomínio do ensino científico 4 Nos anos compreendidos entre 1920 e 1930, o Brasil sofre sensíveis alterações estruturais; ocorre um aumento populacional, desenvolvem-se as cidades, há uma tomada de consciência por parte da população acerca da realidade e dos problemas sociais, a Semana de Arte Moderna (1922) marca um momento na evolução literária e artística do país, os ideais nacionalistas começam a surgir e os desajustes entre a estrutura do país e o aparelho estatal dá inicio as primeiras tentativas de levantes que marcam este período na história do Brasil. (NUNES, 1999). 5 Revolta brasileira de caráter nacional que realizou profundas modificações na estrutura política do país, encerrando o período denominado República Velha. Cf. FAUSTO, Boris. A Revolução de 1930 Historiografia e história. 16ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. 5 sobre o clássico; “[...] O caráter enciclopédico de seus programas [...]” (NUNES,1999,p.99) modificava a educação para uma elite, pois naquela ocasião da vida brasileira não era permitido a todos o privilégio de levar cinco anos para se formar. Esta Reforma buscou retomar antigas preocupações incluídas em reformas anteriores – Reforma Benjamin Constant e Reforma Rocha Vaz – e relacionadas às questões da identidade do ensino médio. Conforme Romanelli6 a organização do ensino estabelecia que: I- Os estudos seriados para todo o país; II- Freqüência obrigatória; III- Normas para admissão do corpo docente; IV- Um sistema de inspeção; V- A divisão do ensino secundário em um ciclo fundamental de cinco anos com o objetivo de oferecer formação básica geral aos adolescentes e um ciclo complementar dividido em três opções destinados à preparação do aluno para o ingresso nas Faculdades de Direito, Ciências Médicas, Engenharia e Arquitetura. Ainda na década de 30 dá-se início a um novo movimento pedagógico. Neste período inicia-se a era Vargas e com ele uma forte crise no modelo agroexportador e o delineamento do modelo nacional-desenvolvimentista com base na industrialização, exigindo assim, uma melhor escolarização, principalmente nos núcleos urbanos (AZEVEDO, 2001). Diante deste contexto histórico alguns pensadores como Fernando de Azevedo, Gilberto Freire, Carneiro Leão e Delgado de Carvalho, buscavam compreender a realidade brasileira para então explicar os motivos do fracasso da República. Tais críticas acerca desses fatos fizeram surgir o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova de 1932. Este movimento tratava a educação como um problema social; como conseqüência deveria ser abordada cientificamente por meio da sociologia conforme destaca Romanelli (1987). Desencadeia assim, uma nova concepção de educação, onde o educando é que deve ser considerado o centro da ação pedagógica: O manifesto trata a educação como um problema social, o que é um avanço para a época, principalmente se lembrarmos de que a sociologia aplicada à educação era uma ciência nova [...]. Ao proclamar a educação como um problema social o manifesto não só estava traçando uma 6 Apud SANTOS, 2004. 6 tomada de consciência, por parte dos educadores, até então praticamente inexistente. (ROMANELLI, 1987, p. 150). Nos anos seguintes, o Brasil assistiu a um crescimento econômico sob o qual se multiplicaram as indústrias, desenvolveram-se os centros urbanos, ocasionando um crescimento na renda per capita do país (NUNES, 1999). Tal processo levou a uma maior demanda pelo ensino secundário. No entanto, a reforma Francisco Campos não conseguia atender a esse novo momento da história, pois com (...) “um aspecto cultural geral sem flexibilidade entre os diversos ramos do ensino médio, não satisfazia à mobilidade social que se processava no país” (NUNES, 1999, p.100). Contudo, a reforma Francisco Campos permanece até 1942. Durante os anos de 1925 a 1942, a sociologia apresenta-se de forma consolidada em nosso campo social e educacional, segundo Meksenas (1995, p. 68): [...] o período que se estende de 1925 a 1942, representa os anos dourados no ensino da sociologia. Seu prestígio sai do mundo acadêmico e atinge o cotidiano das classes médias [...]. Termos sociológicos se popularizam. Sua divulgação ocorre por meio da imprensa escrita e do rádio, que cada vez mais passam a utilizar o jargão sociológico em sua linguagem. O uso de termos como classes sociais, capital, alienação, feminismo, desenvolvimento social, crise moral e proletariado [...] ilustram a popularização desta ciência [...]. Neste sentido, o objetivo de incluir a sociologia nas reformas compreendidas entre os anos de 1920 a 1930, estava calcado na construção de um novo ambiente intelectual, longe daqueles marcados pelo bacharelismo e pelo pensamento formal. A sociologia surgiu como um instrumento capaz de discutir os mais variados fenômenos sociais, tal como esclarece SANTOS (2002, p.31): Trata-se, portanto de um projeto de constituição de uma nova elite dirigente [...] no qual a sociologia teria um papel fundamental [...]. A presença dessa disciplina nos cursos complementares e no curso normal [...] constituíam uma etapa obrigatória para aqueles que almejavam ser advogados, médicos e arquitetos, engenheiros, professores [...]. Logo, o florescimento dos primeiros cursos acadêmicos de Ciências Sociais, juntamente com a criação da Escola de Sociologia e Política de São Paulo e a Criação do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, possuía o mesmo fim prático, ou seja, contribuir com a formação de uma nova elite capaz de liderar as esferas políticas, econômicas e sociais. Alarmados pelas tensões econômicas políticas e sociais provocadas pelo ritmo de desenvolvimento desigual de São Paulo e das demais regiões do 7 país, alguns lideres mais perspicazes das camadas conservadoras perceberam que as ciências poderiam preencher funções sociais construtivas na transformação da sociedade brasileira. Fundaram aquelas escolas e tentaram aparelhá-las de modo que pudessem cumprir seus fins práticos. Primeiro, em termos de formação de elites, ou seja, de uma nova concepção da educação das camadas dirigentes; segundo, em termos de utilidade prática previsível dos conhecimentos que os cientistas sociais poderiam descobrir pelo estudo objetivo da sociedade brasileira e das fontes de tensão que operam dentro dela. (FERNANDES, 1980,p.85) Deste modo, a sociologia passou a ser entendida como um novo rumo na vida intelectual do país. Um novo modelo intelectual foi desenvolvido com base no pensamento científico, que era indispensável para a compreensão dos homens e de seu comportamento de forma objetiva. Portanto agora, não bastava apenas conhecer livros, leis gerais de evolução da sociedade, para só assim compreender o desenvolvimento da sociedade; o que de fato tornar-se necessário a partir de então, era reconhecer as periferias, o modo de vida operário, as manifestações culturais e a organização familiar brasileira. (MEUCCI, 2000). Com o decreto do Estado Novo em 1937, o caráter ditatorial e conservador do governo produz mudanças em todo o contexto do pensamento e da educação do país. E em 9 de abril de 1942, entra em vigor a Lei nº. 4.244, a então denominada Reforma Capanema, que por iniciativa do então Ministro da Educação Gustavo Capanema, implanta novas reformas no ensino, novos regulamentos e diversos decretos denominados de “Leis Orgânicas do Ensino”, assinados entre o período de 1942 a 1946. E dentre os muitos decretos assinados, um deles retira a obrigatoriedade da disciplina de sociologia nos cursos secundários. (TOMAZINI; GUIMARÃES, 2004, p. 205) Os objetivos destes novos mecanismos pedagógicos estavam direcionados a fortalecer o espírito patriota e cívico dos indivíduos, garantindo assim uma unidade nacional maior e o culto da obediência às leis. Neste período, o papel da ciência na formação dos jovens brasileiros tem por finalidade possibilitar o domínio de técnicas que melhore o processo de trabalho e não desenvolver as capacidades investigativas dos indivíduos, impossibilitando assim um questionamento a respeito da realidade social brasileira vivenciada naquele momento. Dessa maneira a sociologia passa a figurar por um lado oposto ao compreendido entre os “anos dourados” 7 e sob essa inversão passa a ser compreendida como incremento a subversão. Este ideário produzido pelo Estado Novo vê nas discussões sobre greve, movimento social e o papel da mulher na sociedade de classes, um meio de divulgação de atos subversivos, ou seja, acreditava-se neste período que a 7 Termo utilizado para indicar o período de institucionalização da sociologia como disciplina obrigatória, compreendido entre os anos de 1925 a 1942. 8 sociologia estava associada aos princípios socialistas e, portanto, com o intuito de controlálos acabaram por excluir a disciplina do ensino médio brasileiro. [...] “Infelizmente, essa reforma, longe de corresponder às exigências do instante em que vivíamos, foi, na evolução da educação brasileira, um retrocesso” [...] (NUNES, 1999, p.101). Assim, o período ditatorial torna inviável o ensino da sociologia, deixando-a ausente dos currículos escolares. No início da década de 60 é elaborada a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB, contudo as mudanças não modificam muita a estrutura antiga do ensino, permanecendo a mesma divisão do nível médio em ginasial e colegial. Quanto à sociologia, nada foi mencionado sobre a sua reinserção nos quadros do ensino secundário. No entanto, a LDB abriu certa autonomia aos estados para a indicação de disciplinas obrigatórias e optativas no currículo do ensino médio, cabendo ao Conselho Federal a indicação apenas das disciplinas obrigatórias, quanto às optativas ficariam por conta dos Conselhos Estaduais que, todavia, mantinham apenas as disciplinas obrigatórias e complementares. A justificativa para esta medida consistia na falta de verbas para a inclusão, visto que a maioria dos estados não conseguiria arcar com as despesas de contratação de profissionais para lecionarem as disciplinas optativas, mantendo-se assim apenas as de caráter obrigatório. Daí, a inclusão da sociologia ter-se tornado mais uma possibilidade do que uma realidade. (SANTOS, 2002). Em pleno auge do autoritarismo militar, por volta de 1971, é publicada uma nova reforma educacional. Desta vez modifica-se toda a estrutura educacional já estabelecida desde a Reforma Capanema. Conhecida como Reforma Jarbas Passarinho (1971), seus objetivos estavam pautados na profissionalização do nível médio, qualificando os indivíduos para um crescente processo de industrialização que cada vez mais exigia técnicas diversificadas de produção. Acreditava-se que com essa reforma os alunos que concluíssem o nível médio não teriam motivos para buscar uma profissão em nível superior, pois, já contariam com um curso profissionalizante. A reforma contou ainda com a inclusão da disciplina de Organização Social e Política do Brasil (OSPB) no currículo obrigatório, que juntamente como as disciplinas de Educação Moral e Cívica e a Educação Religiosa formavam um conjunto de disciplinas responsáveis pela contenção dos movimentos estudantis. O conjunto dessas disciplinas objetivava medidas de contenção do movimento estudantil, referenciadas nos princípios da ideologia da segurança nacional. [...] dentre os objetivos da educação moral e cívica 9 constava o fortalecimento da unidade nacional e do culto à obediência à lei. O eixo dessa disciplina, como foi também na Reforma Capanema, era “Deus, Pátria e Família”, criado pelo movimento integralista, o fascismo brasileiro da década de 30. (RÊSES, 2004, p.06). Acostumamo-nos a atribuir a exclusão da sociologia do universo do ensino médio à Ditadura Militar instaurada em 1964; contudo, esquecemos que foi durante a vigência do Estado Novo em 1942, que a disciplina iniciou seu afastamento dos currículos escolares. A Ditadura Militar foi responsável, sim, pelo impedimento das discussões relativas ao retorno da sociologia ao nível médio tal como analisa Adriano Giglio: O que se pode atribuir à ditadura militar de 64 é uma outra espécie de culpa quanto ao tema da sociologia no ensino secundário, pois, se não foi esse segundo regime autoritário que excluiu dos currículos escolares, foi ele o responsável pela fenda que impediu o desenvolvimento dos debates, reflexões e mesmo experiências em torno da inclusão dessa área do conhecimento como disciplina. (1999, p.04)8 O contexto histórico vivenciado pelo regime ditatorial no Brasil não permitia a inclusão ou sequer a discussão de questões ligadas à sociologia, acentuando assim o seu esquecimento num possível retorno às grades curriculares do ensino médio. A sociologia neste período foi considerada como um “[...] sinônimo de comunismo e o seu ensino servia de „aliciamento político‟, portanto, perturbava o regime e a sua presença era um indicador de periculosidade para as elites”. (RÊSES, 2004). A década de 80 marca no Brasil um longo processo de redemocratização da sociedade, e neste momento histórico a sociologia ganha espaço como um importante instrumento de cidadania, sendo reinserida nos currículos escolares de algumas escolas dos Estados brasileiros: São Paulo, Pará, Distrito Federal, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. No início da década de 90, tem inicio no Congresso Nacional a tramitação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB. Sua promulgação acontece em 20 de dezembro de 1996, estabelecendo a Lei nº 9393/96, na qual apresenta em seu artigo 36, § 1º, inciso III, o estabelecimento do domínio dos conhecimentos de Filosofia e Sociologia aos alunos no término do ensino médio, como um instrumento necessário ao exercício da cidadania. No entanto, no projeto original aprovado pela câmara, a disciplina era explicita e expressamente obrigatória não existindo brechas para duplas interpretações. Porém, na lei 8 GIGLIO, Adriano. A sociologia na Escola Secundária: uma questão das Ciências Sociais no Brasil - Anos 40 e 50. Apud RÊSES, 2004. 10 sancionada pelo senado, em seu artigo 36, falta clareza, possibilitando uma dúbia interpretação. Segundo Mato Grosso (2004), para nós cientistas sociais a determinação do artigo torna-se compreensível, porém, para os demais se abre um leque de interpretações. E assim, entre os anos de 1985 a 2002, muitos foram os governos que estiveram à frente das principais reformas educacionais ocorridas no Brasil neste período. Surgiram novos conceitos, novos caminhos, novas palavras com a intenção de dar um novo caráter à educação. Destaca-se, por exemplo, palavras como a “transversalidade”, cuja origem encontra-se no desenvolvimento da globalização pelo qual o mundo vem passando. Mas que para nossa educação veio para criar áreas de conhecimento, deixando para trás as denominações de disciplinas e/ou matérias. Tais mudanças podem ser muito bem compreendidas, segundo Carvalho (2004): [...] É a desregulamentação chegando ao ensino. Nega-se as disciplinas, como se nega a ciência e o saber dele decorrente. Para eles, ter conhecimento de sociologia não significa introduzir a disciplina nos currículos dos cursos. Bastaria, [...], um professor de matemática discutir com seus alunos um artigo de jornal que trate do desemprego em São Paulo [...] (p.23). No período compreendido entre os anos de 1997 a 2001, uma nova proposta de inclusão obrigatória da sociologia tramitou na comissão de Educação e na de Constituição e Justiça, sendo aprovada em todas estas instancias e encaminhada a Câmera dos Deputados e para o Senado Federal, onde o projeto de Lei foi aprovado em 18 de setembro de 2001. Entretanto, no último dia do prazo regimental para a aprovação ou veto, o então sociólogo e presidente da República Fernando Henrique Cardoso o vetou em 8 de outubro do mesmo ano. Como justificativa de sua decisão, utilizou-se de inconsistentes argumentos, destacando a falta de profissionais e o alto custo desta medida. A inclusão da Filosofia e da Sociologia no currículo do ensino médio implicará na constituição de ônus para os Estados e o Distrito Federal, pressupondo a criação de cargos para a contratação de professores de tais disciplinas, com o agravante de que não há no País formação suficiente de tais profissionais para atender a demanda que advirá caso fosse sancionado o projeto.9 Finalmente, em 10 de julho de 2006 um novo parecer do Conselho Nacional de Educação torna obrigatória a inclusão das disciplinas de filosofia e sociologia na grade curricular do ensino médio brasileiro em todas as escolas públicas e privadas. 9 Diário Oficial da União de 09 de outubro de 2001 apud RÊSES, Erlando da Silva. ....E COM A PALAVRA: OS ALUNOS. Estudo das Representações sociais dos alunos da Rede Pública do Distrito Federal sobre a Sociologia no Ensino Médio. Dissertação de Mestrado, Brasília, 2004. p. 21. 11 E neste sentido, devemos pensar que a inclusão da sociologia e da filosofia no ensino médio é tão necessária quanto a sua legitimação por parte da sociedade. Sua docência vem para contribuir, de forma peculiar e de modo específico junto com as demais disciplinas à construção de uma sociedade mais reflexiva, compreensiva e investigativa, capaz de problematizar sua própria realidade; seu intuito, porém, não para formar futuros sociólogos. Acredita-se, sim, na possibilidade de seus conceitos e métodos contribuir aos educandos de alguma forma na construção de um olhar mais crítico perante a sociedade, na percepção das desigualdades, das contradições e da realidade em sua volta, bem como contribuir de alguma forma com a cidadania, a coesão e o desenvolvimento social. (BRAGANÇA, 2001) II - A sociologia no ensino médio em Alagoas. Em Alagoas, diferentemente de outros estados da federação, que deste a Proclamação da República até os dias atuais lutam pela obrigatoriedade do ensino da sociologia na escola secundária, nosso estado esteve longe de toda essa luta, principalmente nos primeiros anos do período republicano. Enfrentávamos diversas crises sócio-econômicas desde os primeiros anos da colonização, não tínhamos uma política educacional estruturada, existia apenas em todo o estado uma única escola pública voltada para o ensino secundário. Durante os anos de maior ascensão da sociologia no Brasil (1925 a 1942), este crescimento esteve diretamente ligado às principais reformas educacionais que favoreceram a organização do ensino e à inclusão desta disciplina como obrigatórias para os cursos secundários. Em Alagoas, portanto, estas reformas não tiveram muito êxito, pois, as instabilidades políticas e o sistema educacional voltado para uma elite bastante restrita, não deixava espaço para o desenvolvimento das sucessivas reformas educacionais desencadeadas no país ao longo deste período. Cabe lembrar que estas reformas necessitavam de recursos financeiros para a sua instalação e manutenção, dificultando dessa maneira que estados mais pobres acompanhassem as transformações dos estados mais abastados. Víamos, portanto; [...] a educação e a cultura tomando impulso em determinadas regiões do sudeste do Brasil, sobretudo em São Paulo, e o restante dos Estados seguindo, „sem transformações profundas, as linhas do seu 12 desenvolvimento tradicional, predeterminadas na vida colonial e no regime do Império.‟ (ROMANELLI, 1996, p. 43). Diante deste quadro, as poucas aulas de sociologia que existiam em nosso estado eram ministradas principalmente por bacharéis em direito e medicina. Estes profissionais eram em sua grande maioria formados pelas Faculdades de Olinda e Salvador, e após concluírem os cursos regressavam a Alagoas e passavam a colaborar com o sistema educacional. Devido à grande falta de material necessário para identificação dessa disciplina no nível médio em nosso estado, não foi possível obter muitas informações a seu respeito nesse período. Contudo, mediante um breve levantamento realizado na Biblioteca Pública de Alagoas, identificamos a prática de ensino da sociologia no ano de 1928. Até os primeiros anos da década de 40, Alagoas enfrentou uma política educacional muito arcaica, com um número muito restrito de escolas e voltadas para a educação de poucos, ou seja, para a elite local. Durante os anos seguintes novas reformas surgiram; o contexto político-social do país vivia uma nova fase de desenvolvimento, determinando assim, novas reformas no setor educacional. Víamos a sociologia perder aos poucos seu caráter obrigatório e deixar os quadros educacionais do ensino secundário (1942 a 1981), sob uma política sem muita expressividade. Alagoas também foi paulatinamente aderindo as sucessivas reformas educacionais propostas pelo novo sistema social, político e econômico do país nesta época. Ingressamos na década de 80 assistindo a um grande colapso econômico, gerado principalmente pela crise no setor açucareiro que perdia espaço para outros estados brasileiros bem mais desenvolvidos e adequados às novas mudanças produtivas. Esta crise era visivelmente sentida nos diversos setores de nossa sociedade; no entanto a educação era que mais sofria sem investimentos. Em 1982 tem início o processo de reinserção da sociologia nas grades curriculares do ensino médio no Brasil, Alagoas mais uma vez esteve afastada destes acontecimentos; por um lado, temos a justificativa da falta de uma política educacional capaz de favorecer a inclusão da disciplina no ensino secundário, por outro, temos a institucionalização tardia do Curso de Ciências Sociais que só ocorreu em 1994. Os debates em torno da inclusão da sociologia nas grades curriculares do ensino médio têm início a partir de 1999, mas a concretização desse processo só ocorreu em 2001, 13 após várias discussões que resultou em novas normas de seleção ao ingresso nos cursos de graduação da Universidade Federal de Alagoas - UFAL. Na rede particular de ensino a sociologia passou a fazer parte das grades curriculares de forma irregular, iniciando-se em algumas escolas a partir de 2001. Estas inclusões ocorriam, em sua grande maioria, face à necessidade de preparar os alunos para as provas do vestibular, determinadas pela resolução nº 20/99, na qual estão definidas as normas para o ingresso nos cursos de graduação da UFAL, e para cumprir com as novas determinações das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM). Procedimento semelhante ocorreu nas escolas da rede pública, a partir de reuniões nas próprias escolas, onde os diretores, coordenadores e professores optaram pela inclusão de apenas uma das disciplinas; dessa forma, em algumas escolas havia a disciplina de sociologia e em outras, filosofia, não sendo exigida pelo governo estadual a presença das duas disciplinas nas escolas estaduais. Em boa parte das escolas que possuem a disciplina de sociologia, o educador pertence a outro campo de conhecimento, sendo professores de história, pedagogos, psicólogos, geógrafos, ou seja, na grande maioria, são profissionais que possuem uma carga horária reduzida e que para aumentá-la acabam lecionando a disciplina de sociologia. De acordo com a Secretaria Estadual de Educação de Alagoas, é constante a falta de profissionais especializados para lecionar a disciplina de sociologia no Estado. Com esta periodização a respeito do processo de inclusão e exclusão da sociologia no ensino médio é possível identificar as dificuldades enfrentadas pela disciplina para se manter nas grades curriculares das escolas e assim contribuir para a formação humanista de novos cidadãos. Tomando como ponto de partida tais informações, nos foi despertado o interesse em identificar a presença da sociologia nas escolas secundárias deste estado da federação. Escolhemos sua capital Maceió, como foco principal de nossa pesquisa. Segundos dados fornecidos pelo censo do IBGE até 2003 Maceió possuía, aproximadamente 91 escolas secundárias, distribuídas em 51 escolas da rede pública estadual de ensino, 39 escolas da rede privada e 1 da rede pública federal. Posteriormente seguimos para o trabalho de campo, onde realizamos visitas às instituições de ensino, seguidas da aplicação de fichas de identificação, a fim de levantar a situação da sociologia nas escolas de Maceió. Utilizamos também alguns relatórios de 14 Estágio supervisionado de Licenciatura em Ciências Sociais pertencente ao quadro de disciplinas de licenciatura do curso de Ciências Sociais. A partir da análise e interpretação dos dados colhidos ao longo do trabalho de campo junto às escolas de Maceió, das 24 escolas da rede privada de ensino, apenas uma não possui a sociologia em suas grades curriculares. Contudo, nas demais escolas a inclusão da sociologia foi motivada pelo fato dessa disciplina encontrar-se presente nos exames de seleção para o ingresso nos cursos de graduação da Universidade Federal de Alagoas. Ademais, nas 24 escolas visitadas no primeiro semestre de 2005, constatamos que quatro delas ofertam a disciplina em apenas um das séries do ensino médio; 08 oferecem em duas séries, 11 em todo o ensino médio e apenas uma escola não disponibiliza a disciplina. Constatamos também que em todas elas a carga horária é de apenas uma hora semanal. A variação da presença da disciplina nas três séries fica a critério de cada escola, que através de reuniões com professores, coordenadores e diretores organizam a distribuição da disciplina. As grades curriculares são organizadas para comportar uma carga horária de 25horas/aulas semanais, distribuindo-se as disciplinas conforme lhes sejam mais conveniente. As prioridades são para as disciplinas de português e matemática, seguidas por física e química, cujos professores não aceitam a diminuição do seu número de aulas que são em torno de 04 ou 05 aulas semanais. Em relação às escolas públicas da rede estadual de ensino, a sociologia passou a fazer parte das grades curriculares também em função de sua presença no processo seletivo da Universidade Federal de Alagoas. Porém, fica a critério dos diretores e coordenadores sua inclusão ou não no currículo escolar, bem como sua distribuição nas séries do ensino médio. Das 26 escolas pesquisadas, todas possuíam a disciplina em sua grade curricular. Identificamos, portanto, sete escolas que oferecerem a sociologia em uma das séries do ensino médio, outras 07 em duas séries e em 12 escolas a disciplina consta em todo o ensino médio. Porém, se em algumas dessas escolas a disciplina fazia parte da grade curricular, em 05 delas não era lecionada pela falta de profissionais. A distribuição das disciplinas é feita tal qual nas escolas privadas: através de discussões e reuniões entre professores, diretores e coordenadores. As outras disciplinas como história, geografia e biologia possuem, em média, três aulas semanais. Dessa forma, a sociologia depende da prioridade, ou não, que as escolas lhes derem. A questão da carga horária constitui um grande problema entre os professores, uma vez que apenas uma hora/aula semanal não é suficiente para a elaboração de um trabalho pedagógico, tornando impossível apresentar 15 todo o conteúdo proposto pelo programa do vestibular. Daí necessidade de possuirmos uma carga horária definida e distribuída de forma adequada entre as disciplinas do currículo básico e diversificado, proporcionando à sociologia um equilíbrio entre os conteúdos ministrados, sem, contudo, qualquer demérito em relação às demais disciplinas. É, sem dúvida, necessário que as disciplinas das ciências humanas venham contribuir com a capacidade reflexiva do aluno acerca do mundo que rodeia, cabendo, portanto, à sociologia parte substantiva em tal tarefa; daí a necessidade de uma carga horária melhor distribuída para um melhor aprendizado da disciplina. As questões salariais também são alvo de reclamações, já que o professor recebe de acordo com a quantidade de horas trabalhadas. Esses fatores acabam de alguma forma, influenciando na deficiência da formação sociológica do aluno. Outro problema diz respeito à formação dos profissionais que lecionam a disciplina. Em sua grande maioria esses não possuem formação acadêmica integral e específica em Ciências Sociais; são, normalmente, profissionais originários de outras áreas de conhecimento, principalmente da filosofia e pedagogia. Através desta pesquisa, identificamos também, a existência de uma grande necessidade de inserção dos licenciados em ciências sociais na prática de ensino da sociologia no ensino médio. Existe uma porcentagem muito grande de profissionais de outras áreas atuando na sociologia diminuindo conseqüentemente as chances da disciplina alcançar os objetivos propostos tanto pela LDB como pelos PCNs. Tanto nas escolas particulares como nas escolas públicas a contratação de profissionais não habilitados na área de Ciências Sociais é bastante comum. Das 24 escolas pesquisadas na rede privada, apenas 12,5% dos professores possuem formação em Ciências Sociais, enquanto o restante distribuiu-se entre as mais diversas áreas de conhecimento. É difícil para um profissional de outra área trabalhar os conceitos e metodologias pertencentes especificamente à sociologia, daí a necessidade de possuirmos professores qualificados que dominem os referencias teóricos e metodológicos indispensáveis a análise da nossa realidade. Diante do conjunto de precariedades que delineia a situação da sociologia no Ensino Médio de Maceió, marcada principalmente por um reduzido número de aulas semanais, pela falta de material didático e por um quadro de professores na qual a maioria não tem habilitação específica para lecionar a disciplina, pode-se considerar que o domínio dos conhecimentos de sociologia está longe dos objetivos propostos pela LDB e pelos PCNs: de contribuir no processo investigativo e de compreensão da realidade. 16 É importante também destacar a influência do conteúdo programático utilizado no processo seletivo da Universidade Federal de Alagoas. Este por sua vez acaba fazendo com que o professor eleve sua exigência quanto aos assuntos ministrados. Em grande parte das escolas este programa praticamente não é ministrado, como justificativa os professores destacam que apenas com uma hora/aula, ou seja, 50 minutos de aula por semana, não é tempo suficientes para ministrar todo o conteúdo proposto pelo programa. Contudo, através de nossas pesquisas, observamos que o objetivo desta disciplina no currículo do ensino médio é o de contribuir com a introdução das primeiras questões conceituais e metodológicas das ciências sociais, tendo por finalidade formar jovens mais cidadãos e com uma capacidade investigativa maior, acerca da realidade. Verificamos também, que as inúmeras dificuldades que envolvem a disciplina no ensino médio, tanto em nível de Brasil, quanto a nível local (em Maceió, especificamente), impedem que estes objetivos sejam alcançados e concretizados. Este quadro nos revela a necessidade de uma atenção maior por parte dos nossos dirigentes políticos, ao setor educacional com o intuito de proporcionar melhores condições para atender as necessidades e exigências dessa nossa sociedade em constante processo de mutação. III - Considerações Finais Os caminhos históricos percorrido pela sociologia nas grades curriculares do ensino médio estiveram diretamente relacionados com as diversas reformas educacionais ocorridas no Brasil ao longo desses anos. Estas reformas refletiam sempre as condições sócio-econômicas de cada época, assim como seus limites e interesses; os interesses políticos e ideológicos dos que faziam parte dos grupos intelectuais de poder no Estado. E talvez, estes tenham sido alguns dos motivos, a contribuírem, de uma ou de outra forma, ao fracasso de algumas dessas reformas educacionais ocorridas no país. Temos nas primeiras reformas ocorridas na década de 20 o objetivo de proporcionar uma identidade para o ensino médio brasileiro. No entanto, seu conteúdo estava direcionado para uma pequena parcela da sociedade, composta pelos filhos da elite, que via no ensino secundário um meio mais rápido de se chegar ao ensino superior. Já as reformas instauradas entre os anos de 1931 a 1942, refletiam bem as disputas ideológicas entre os grupos intelectuais; daí termos tido a Reforma Francisco Campos, baseada nos 17 princípios escolanovistas e a Reforma Capanema voltada para um pensamento católico conservador. Dessa forma, podemos perceber que para cada momento histórico tivemos uma reforma educacional correspondente a interesses político-ideológicos. (SANTOS, 2004). É importante salientar, ainda segundo Santos (2004), que dentre as reformas, as quais, a sociologia foi introduzida nos currículos escolares - a Reforma Rocha Vaz (1925) e a Reforma Francisco Campos (1931) - estas foram de grande relevância no desenvolvimento do ensino sociológico, pois o contexto histórico dessas reformas permeava as questões de natureza sociológica além de contar com a presença e atuação marcante dos cientistas sociais que viam na sociologia uma ciência capaz de compreender e encaminhar soluções para os problemas sociais. Compreendemos que a sociologia enquanto disciplina no ensino secundário, possui seu lugar definido. Contudo, muitos são os desafios a serem superados mesmo após a regulamentação de sua obrigatoriedade nas grades curriculares do médio. Encerra-se um debate e tem início outro ainda maior e mais complexo, na medida em passamos a discutir e refletir sobre o papel desta disciplina na formação do aluno e os seus objetivos, ou seja, não pensar apenas em um debate sobre programas de cursos, mas ir além, nas políticas educacionais. Visto que, a realidade educacional vivenciada na atualidade pelo país encontra-se em caráter de urgência e neste sentido podemos pensar que a sociologia e a filosofia muito têm a contribuir na luta por uma escola de qualidade. Nesse contexto, podemos dizer que a inclusão da sociologia como disciplina obrigatória nos currículos escolares do ensino médio, bem como a valorização dos profissionais da área, representa o reconhecimento das ciências sociais como um parâmetro fundamental na formação do jovem, enquanto indivíduo crítico e consciente, capazes de questionar e compreender a realidade social que os envolve. 18 Referência Bibliográfica: ACIOLI, Adenize Costa. 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