A cadeia produtiva de rochas ornamentais em santo

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XXIII Encontro Nac. de Eng. de Produção - Ouro Preto, MG, Brasil, 21 a 24 de out de 2003
A cadeia produtiva de rochas ornamentais em Santo Antônio de Pádua
Heloisa Vasconcellos de Medina (Pesquisadora CETEM/MCT) [email protected]
Carlos Cesar Peiter (Coordenador de CPME/ CETEM/MCT) [email protected]
Leandro Andrei Beser de Deus (Mestrando IME e colaborador CETEM/MCT) [email protected]
Resumo :
Este artigo apresenta os resultados de um estudo de caso realizado no âmbito do Programa
de Plataforma Tecnológica de Rochas Ornamentais do Noroeste do Estado do Rio de
Janeiro, com apoio financeiro da FAPERJ e MCT e coordenado pela CPME - Coordenação
de Apoio à Pequena e Média Empresa do CETEM. O chamado Projeto Plataforma vem
sendo desenvolvido em conjunto com o SEBRAE dentro do Projeto de Associativismo, do qual
o CETEM vem participando de reuniões analisando as demandas tecnológicas dos
empresários e propondo soluções. O estudo objeto desse artigo faz parte assim dessa ação
conjunta na região e incluiu sondagens junto ao empresariado local visando um melhor
conhecimento do setor e a elaboração do Roteiro de Enquadramento dessa atividade nos
Arranjos Produtivos Locais proposto pelo MCT. As informações obtidas permitiram associar
os problemas e as soluções possíveis de serem articuladas nos programas estaduais e
federais existentes. O artigo está dividido em 6 seções. Na introdução caracteriza-se o
município estudado. Em seguida são descritos a cadeia produtiva de rochas ornamentais, os
processos de produção e seus aspectos tecnológicos e organizacionais. Para enfim apontar
oportunidades de agregação de valor a essa cadeia e destacar os principais resultados e
recomendações do projeto.
Palavras chave: Plataforma Tecnológica, Cadeia Produtiva , Rochas Ornamentais
1. Introdução: Caracterização do Município de Santo Antonio de Pádua
Santo Antônio de Pádua fica à 260km da capital do Estado do Rio de Janeiro, na região
noroeste, limite com o Estado de Minas Gerais. O município faz fronteira ao norte com
Miracema, ao Sul com Cantagalo, à Leste com Cambuci, Aperibé e Itaocara e à Oeste com
Minas Gerais. Os acessos viários são as rodovias estaduais RJ-186 (Pirapetinga-Pádua), RJ116 (Niterói-Miracema) e RJ-196 (Pádua-Monte Alegre). A figura 1 mostra o município em
detalhe.
Figura 1 – Localização da Área Estudada: Santo Antônio de Pádua
Fonte: Governo do Estado do Rio de Janeiro, 2002.
A atividade mais característica do município hoje é a produção de rochas ornamentais. “O
declínio das atividades agrícola-pastoril levou à mudança de atividade no fim da década de
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80. Hoje em dia este é o maior pólo de exploração mineral (excetuando-se o petróleo) gerando
ao redor de 6000 postos (diretos e indiretos) de trabalho” (Dayan 2002). Segundo dados do
Censo Demográfico do IBGE em 2000 o total de pessoal ocupado em unidades produtivas
locais era de 5717, e o número total de empresas com CNPJ era de 924, sendo que 842 (91%)
empregavam até 19 pessoas, PMEs – pequenas e médias empresas - pelos critérios do IBGE.
Pode-se assim dizer que as PMEs são as maiores responsáveis pelo emprego do município.
Na indústria extrativa esse perfil acentua-se, pois a totalidade das pessoas ocupadas nessa
atividade estão em PMEs.
Atualmente existem mais de 200 pedreiras e mais de 50 serrarias em operação (a maioria em
situação irregular) distribuídas de forma contínua por duas falhas geológicas ao longo dos
municípios de Santo Antônio de Pádua, Miracema e Itaperuna, as quais seguem um plano
pouco ordenado, carente de tecnologia adequada e, em sua quase totalidade, sem
planejamento ambiental (Dayan, 2002). A produção anual de rochas ornamentais no
município está estimada em 3,6 milhões m2/ano (CAMPOS et. al., 1999). O tipo de rocha
existente na região é um granulito milonitizado, sendo as variedades locais conhecidas como:
“pedra olho de pombo”- a mais comum e comercializada, “granito pinta rosa”, “granito fino”
na cor cinza,” e “pedra madeira”. Elas recebem a denominação comum de “pedra miracema”
e mais recentemente de “pedra paduana”. Em todos os casos a extração dos blocos é com
maior freqüência realizada em locais íngremes, onde são encontradas as maiores incidências
de fraturas na rocha.
A exploração de rochas ornamentais em Santo Antônio de Pádua tem crescido bastante nos
últimos anos. Contudo, as técnicas de extração ainda são rudimentares, o que compromete a
produtividade local e a competitividade nacional e internacional do segmento, além de
acentuar o desgaste ambiental e os problemas de saúde na região.
2. A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais em Santo Antônio de Pádua
A cadeia de rochas ornamentais compõe-se de dois segmentos produtivos: as pedreiras que
fazem a extração mineral, e as serrarias que fazem o beneficiamento do minério extraído.
Segundo Dayan (2002), “pedreiras ou lavras, são frentes de exploração, a céu aberto, que
promovem o desmonte de rochas através de bancadas. Em contrapartida, define-se por
serraria a instalação que contenha uma ou mais máquinas de disco diamantado, para
transformar o produto extraído na pedreira, em blocos os quais são clivados de modo a formar
as ditas “lajinhas” de revestimento.”
A cadeia produtiva tem início na extração das rochas realizada pelas pedreiras, passa pelo
beneficiamento feito nas serrarias e se encerra na comercialização de produtos e subprodutos
acabados. As infra-estruturas viária, educacional e tecnológica além da regulamentação do
trabalho e do meio ambiente e da assistência técnica e comercial são de responsabilidade de
órgãos públicos e associações de produtores. Diversos atores atuam nessa cadeia na região,
direta ou indireta ligados às fases de produção e/ou comercialização, como:
ABIROCHAS- Associação Brasileira das Indústrias de Rochas Ornamentais;
CETEM, Centro de Tecnologia Mineral;
DER/RJ, - Departamento Estadual de Estradas de Rodagem;
DRM/RJ- Departamento de Recurso Minerais;
FAPERJ, Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro;
FEEMA, Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente;
FINEP Financiadora de Estudos e Projetos;
FIRJAN, Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro;
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MCT, Ministério da Ciência e da Tecnologia (através do fundo mineral);
MT – Ministério do Trabalho;
PMP- Prefeitura Municipal de Santo Antônio de Pádua;
RETECMIN- Rede de Tecnologia Mineral – coordenada pelo CETEM;
SEBRAE, Serviço de Apoio a Pequena e Média Empresa;
SECT, Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia;
SEMA, Secretaria Estadual do Meio Ambiente;
Sindicato de Extração e Aparelhamento de Gnaisse da Região Noroeste do Estado do Rio
de Janeiro;
A produção final depende assim desta rede de atores além das empresas que realizam o
processo
produtivo como: os mineradores de lavras, os fornecedores de máquinas,
equipamentos e insumos e os produtores (pedreiras e serrarias). No final da cadeia está a rede
de comercialização dos produtos e dos subprodutos, onde se situam as atividades comerciais e
de serviços.
3. Processo de Produção de Rochas Ornamentais e seus Principais Produtos
O processo de produção divide-se em duas fases: extração e beneficiamento. A escolha de
uma nova jazida, e a exploração das lavras são realizadas na maioria dos casos sem
planejamento técnico-econômico por parte dos mineradores, o que resulta em baixa
produtividade com perdas em torno de 50% em algumas pedreiras. As explorações de lavras
são feitas em bancadas pouco mecanizadas com abertura de canais ou trincheiras à base de
explosivos, levando à quebra da rocha e à ampliação de fraturas ocasionando perdas
excessivas. Este processo é bem rudimentar, manual e não tem registrado evolução
significativa, na região estudada, quanto aos métodos, técnicas e equipamentos utilizados o
que confere à produção uma grade defasagem tecnológica em relação ao padrão mundial.
Nesse sentido Campos et al. (1999) registram que apenas a partir de 1995 ocorreram
mudanças do tipo utilização flame Jet, (um maçarico para cortar a rocha) comprado em
conjunto por alguns mineradores. Esse instrumento, em substituição aos explosivos, tem
contribuído para a redução de acidentes de trabalho e para a diminuição de perdas na lavra.
Na fase de beneficiamento, realizada nas serrarias, os blocos extraídos são transformados em
blocos fragmentados formando “lajinhas” de revestimento, a partir da utilização de máquinas
de disco diamantado com mais de 1 m de diâmetro (Dayan 2000).
Villaschi Filho e Pinto (2000) resumem como se segue os principais equipamentos utilizados
tanto para a extração quanto para o beneficiamento:
-
Serras, a maior parte das máquinas em operação no negócio 61 % são de fabricação local
(Tenedini, Irmãos Frauches e Rei das Máquinas), as demais são de Santa Catarina
(Guarani);
Compressores, pá, carregadeira, maçarico, guincho (100% de fabricação nacional);
Disco diamantado (100% nacional, Maxicut, SP), e explosivos (100% nacional, Imbel,
SP, Nitrobril, SP e IBQ, PR).
As rochas extraídas e beneficiadas são comercializadas nas mais variadas formas destacandose: revestimento de muros, paredes, pilastras e colunas; paralelepípedos; pisos de varandas,
garagens, jardins, currais, além de diferentes classes de brita como subprodutos de 2 a
categoria (Dayan, 2000). Praticamente toda a comercialização é feita por atacado entre
empresas produtoras e consumidoras. As vendas são realizadas nas serrarias e os produtos
transportadas por caminhões até os compradores. Assim as empresas produtoras (pedreiras e
serrarias) estão envolvidas diretamente na comercialização, sem qualquer tipo de
intermediação formal.
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Contudo Villaschi Filho e Pinto (2000) observaram que nesse esquema a distribuição das lajes
de pedra madeira ocorre, em um primeiro momento, para as empresas locais de grande porte
para depois serem redistribuídas. Mencionam ainda, esses autores, que o raio de influência
dessa rede de comercialização atinge diretamente os mercados dos dois grandes centros
econômicos do país, Rio de Janeiro e São Paulo além de, em menor escala, Minas Gerais e
Espírito Santo. É portanto uma produção eminentemente voltada para o mercado interno, mas
há casos de exportação, em pequena escala, para Estados Unidos e Alemanha. Atualmente,
através do SEBRAE RJ estão sendo formados consórcios para exportação e alguns
carregamentos já foram contratados.
4. Tecnologia, Organização da Produção e Sustentabilidade
Sobre as questões que envolvem a tecnologia, a forma de organização da produção e a
sustentabilidade da atividade mineral no Noroeste Fluminense, Peiter (2001) resume a
situação no Quadro 1, cujas características são igualmente válidas para a produção de rochas
ornamentais em Santo Antônio de Pádua. O termo sustentabilidade é como um conjunto de
características e/ou perspectivas relativas as dimensões do desenvolvimento sustentável, que
no caso apresentado são a social, a econômica e a ambiental, da produção mineral em Santo
Antônio de Pádua.
Cada fator de produção pode ser neutro (0), positivo ou negativo, em relação a essas
dimensões da sustentabilidade (social, econômica ou ambiental). A avaliação média dos
atores participantes sobre a interferência dos fatores é registrada na terceira coluna variando
entre –2 e +2, conforme a intensidade do “dano” (notas negativas), a “indiferença” (0), ou o
benefício (notas positivas). O somatório das linhas de cada fator indicam o peso do mesmo
para uma avaliação comparativa com os demais fatores, permitindo uma visualização rápida e
a priorização de ações corretivas, se for o caso. Por sua vez, os somatórios das notas nas
colunas fornecem uma avaliação comparativa sobre a situação dos elementos da
sustentabilidade, permitindo verificar qual o mais comprometido e qual o mais favorecido no
desenvolvimento da atividade produtiva em questão.
Fator de Produção
Sustentabilidade
Contribuição do
Social
Econômica
Ambiental
Fator
Matéria Prima
(+) Grande
(+) Material
(-) Grande
1+
disponibilidade
Exclusivo
desperdício
Padrão Tecnológico
(++) intensivo (+) alto custo
(--) causa do
1em m-de-obra
e baixo preço
desperdício
Nível Técnico
(-) pouco
(0) pode aumentar
(0) não é
1treinamento
a produção
determinante
Padrão Empresarial
(+) melhor
(--) sem técnicas
(-) baixa cons2salário da região adequadas
ciência ambiental
Apoio e Assistência
(-) pouco e
(--) crescente (+) atuação constante
1+
repressivo
SEBRAE e Firjan
FEEMA e DRM
Assistência Financeira (0)
(-) crédito difícil
(0)
1p/ pequena emp.
Resultado/Viabilidade 2+
233Quadro 1
As análises realizadas quanto à contribuição dos fatores de produção (coluna 1) estão
indicados pelo somatório das notas registradas na horizontal (coluna 3) e apontaram que:
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o padrão empresarial, entendido como as formas de gestão e organização da produção, é o
componente que mais compromete a sustentabilidade como um todo (-2 pontos);
-
a matéria prima é o fator que mais contribui (+1 ponto), dada a sua qualidade, boa
aceitação no mercado e abundância;
-
o atendimento das instituições financeira (crédito) e o modelo tecnológico em prática são
fatores que pouco tem contribuído (-1 ponto) para dar sustentação à atividade mineral.
Quanto a análise de cada componente de sustentabilidade individualmente e do resultado final
(-3) que é a soma das pontuações registradas na coluna 3, direção vertical, indicam que:
-
a atividade mineral alcançou elevado nível de viabilidade social, especialmente quando
vista através do número de postos de trabalho e empregos gerados, além da melhoria da
qualidade de vida em função de melhores remunerações
-
a viabilidade econômica está ameaçada pela deficiência gerencial, pela falta de créditos ao
produtor, pela aparente saturação do mercado, pela pouca diversificação dos produtos e
pela tendência de queda dos preços;
-
a viabilidade ambiental é a mais comprometida, embora não se possa atribuir somente às
pedreiras e serrarias o estado crítico do meio ambiente na região noroeste fluminense.
No mesmo sentido, apontam as conclusões de Villaschi Filho e Pinto (2000), que consideram
a falta de organização, os baixos níveis de qualificação gerencial e técnica, o baixo nível
tecnológico, a pouca agregação de valor na cadeia e a falta de regularização fatores que
reduzem o valor dos produtos e afetam a competitividade, e mesmo a sobrevivência, de várias
empresas.
Por outro lado, um estudo anterior realizado pelo CETEM (PEITER et. al., 2001). verificou
que o mercado de rochas ornamentais tem grande importância econômica, com a produção
brasileira de rochas totalizando 5,2 milhões de toneladas. Os estados do Espírito Santo, Minas
Gerais e Bahia respondem por 80% dessa produção, sendo o Espírito Santo o principal
produtor com 47%, e Minas, o segundo maior produtor, é o que responde pela maior
diversidade de rochas extraídas.”
Assim, diante da importância do setor para a região em termos de renda e emprego, da falta de
planejamento dessa atividade e do grande impacto ambiental, o CETEM resolveu atuar de
forma mais ampla e sistemática na gestão dessa atividade. Para tal constituiu uma rede local
de apoio a essa cadeia produtiva denominada RETECMIN-RJ (Rede Cooperativa de Pesquisa
e Uso de Bens Minerais destinados à Construção Civil), visando a melhoria dos
conhecimentos técnicos e científicos e a difusão de novas tecnologias para auxiliar a gestão
sustentável desses recursos.
5. Oportunidades para agregação de valor na cadeia produtiva
A rede de empresas que forma a cadeia produtiva de rochas ornamentais é suis generis na
medida em que do lado da produção predominam as PMEs locais, diferentemente da maior
parte da extração mineral do país, e, do lado do mercado, não sofre pressões à montante que
caracterizam a construção civil, importante setor consumidor, e nem à jusante como indústrias
de montagem.
O mercado é pulverizado sendo mais de 80% das vendas destinadas ao mercado interno, com
utilização quase que exclusiva na construção civil também faz com que essa cadeia tome
emprestado do setor de construção algumas características de produção e mercado. Nesse
contexto a tendência mundial é no sentido da simplificação da construção civil em geral e de
edificações em especial, com ênfase dominante na qualidade, durabilidade, facilidade de
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manutenção, integração de fases desde o projeto da edificação, irradiando-se por todo o
sistema dos construtores aos fornecedores de materiais. Iniciou-se assim, nos anos 90, uma
estratégia de gestão integrada do projeto e da organização do processo construtivo, voltada
para o controle de materiais e processos em todas as fases para a garantir a qualidade do
produto final: a edificação.
Questões como desperdício ou perdas de materiais e componentes tem suas principais causas
ligadas a materiais inadequados, aos sistemas onde são utilizados, à falta, ou o não
atendimento, de normas técnicas. Estudos sobre o tema apontam como maiores problemas: a
falta de absorção e difusão de inovações tecnológicas em processos construtivos: o baixo
investimento das empresas de construção civil em P&D; a dificuldade de transferência de
resultados das pesquisas para os produtores de materiais; a falta ou insuficiência de normas
técnicas.
No setor de rochas ornamentais os problemas não são diferentes como afirmou Roberto Amá
diretor da ASBEA (Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura) em entrevista à
revista Rochas de Qualidade (2001). “O que falta no setor de rochas é uma normalização
técnica e a nomenclatura oficial dos materiais, contendo informações básicas como o nome
do produto a origem do minerador. Muitas vezes nem o especificador tem conhecimento
técnico sobre a rocha e sua aplicabilidade.” Esta demanda está sendo atendida pelos
catálogos de rochas ornamentais em circulação no país, dentre estes, o mais completo e
recente foi lançado pelo CETEM.
Desde o início dos anos 90, verificou-se um salto qualitativo no setor de rochas representado
pela absorção de novas tecnologias, o que levou o setor colocar seus produtos na pauta de
exportações de minerais brasileiros. Contudo essa evolução ainda tem um longo caminho a
trilhar no sentido da diversificação e da agregação de valor à produção. Nesse sentido na
mesma entrevista Amá destaca o que considera um avanço necessário em pedras de
revestimento: “Na minha opinião, ... estamos há muitos anos com o mesmo sistema e a
mesma espessura de pedra. No exterior isso já existe, pedras de grandes dimensões que são
estruturadas com telas metálicas por trás, painéis de pedra composta com uma espessura
muito fina. Esse é um avanço tecnológico muito grande e que precisamos fazer chegar ao
Brasil.”
As rochas de Santo Antônio de Pádua são exatamente do tipo para revestimento,
principalmente exterior, mas na sua maioria recebem pouco ou nenhum beneficiamento
enquanto que no mercado internacional cerca de 70% da produção é transformada em chapas
e ladrilhos para revestimentos, que são produtos de maior valor agregado na cadeia produtiva.
Há portanto muito a se fazer para agregação de valor e diversificação no mix de produtos para
construção civil, quer no país, quer no exterior. Um estudo sobre Rochas Ornamentais no
Brasil concluído pelo CETEM em 2000 (RT 30/05, 2000, pp. 03) revela que a situação do
Brasil no cenário mundial é frágil exatamente devido a sua fraca participação no grupo de
exportadores de produtos beneficiados.
Como oportunidade o estudo destaca a busca de diversificação da gama de produtos a serem
oferecidos ao mercado internacional, dentre os quais: ladrilho de pedra natural ; mármore
talhado /serrado; granito talhado ou serrado ; outras pedras de cantaria; ardósia natural
trabalhada; obras de pedras. Alguns desses produtos já vêm sendo transacionados no mercado
mundial com bastante intensidade, como o granito e a ardósia, ou apresentam alto valor
unitário, como os mármores e pedras de cantaria e ladrilhos, sendo as obras de pedras o
produto mais valorizado dentre todos com boas oportunidades para pequenas e médias
empresas.
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6. Conclusões e Recomendações Finais do estudo
A principal contribuição desse estudo, e dos demais já realizados pelo CETEM sobre a
produção de Rochas Ornamentais no Brasil e em Santo Antônio de Pádua foi o conhecimento
e análise da cadeia produtiva do setor, desde os processos de extração e beneficiamento até a
infra-estrutura de apoio à produção e comercialização, a evolução tecnológica e econômica
dos mercados nacional e internacional. Cabe destacar, que já se tem hoje uma visão bastante
abrangente dos impactos ambientais e das ações necessárias para minorá-los graças a
RETECMIN Rede de Tecnologia Mineral, coordenada pelo CETEM desde 1999, e que já
desenvolveu e implantou
-
um sistema de tratamento de efluentes e de recuperação de finos de serrarias
melhorias das técnicas de lavras e beneficiamento de rocha;
melhorias na segurança do trabalho decorrente de novas técnicas e equipamentos;
assistência à legalização e educação ambiental, etc.
Entretanto a própria RETECMIN reconhece que os investimentos em preservação ambiental,
inovações tecnológicas e qualificação da mão-de-obra ainda são vistos pelos empresários do
setor como custos sem retorno, necessitando de novas ações que ampliem a rede de parcerias
que vem se estabelecendo. Nesse sentido são necessários estudos técnicos, econômicos e de
mercado que possibilitem identificar novas linhas de produtos oferecidos nacional e
internacionalmente, e mesmo possibilitem a expansão sustentável e competitiva desta
atividade. Dentre os próprios agentes já atuantes no cenário local e estadual encontram-se
instituições capazes de realizar esses estudos, como o CETEM no plano técnico dos
levantamentos geológicos e a FIRJAN na produção de informações estatísticas, e indicadores
econômicos e sociais em escalas regional e municipal no nível da região e do município que
possam ser comparadas com os indicadores industriais estaduais. Por fim essas e outras
recomendações fazem parte das soluções identificadas pelo presente estudo para os principais
problemas como mostra o Quadro 2
PROBLEMA
SOLUÇÃO
Problema 1 –Necessidade de modernização
tecnológica das máquinas e equipamentos.
•
Projeto Máquina de desplacamento das lajinhas;
Projeto Máquina Serra-Ponte
Problema 2 –Lavra nas pedreiras conduzida sem
técnicas adequadas e procedimentos de segurança
•
Projeto Demonstração de Lavra
Modelo;Treinamento na Pedreira Escola.
Problema 3 – Falta de conhecimento das técnicas
adequada de prospeção e exploração mineral.
•
Apresentação de Técnicas Adequadas; Projeto de
Exploração e Cubagem de Demonstração.
Problema 4 – Elevado nível de perda de Matéria
prima em torno de 33%.
Associar esta solução à Lavra modelo (caso de
Pedreira) ou Pedreira Escola.
Problema 5 – Produto Final pouco diversificado
Projeto de Análise Técnica-Econômica p/ implantação
de Serraria-Âncora com produtos diversificados.
Problema 6 – Resíduo gerado nas Unidades de
Tratamento de Efluentes de Serrarias (lama).
Utilização do resíduo em uma fábrica de Argamassa –
Unidade Industrial
Problema 7 – Falta de informações sócioeconômicas sobre a atividade na região.
levantamento de dados disponíveis sobre o setor e
identificação das informações complementares
Quadro 2 : Matriz Problema X Solução
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