ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO FRENTE AO TRATAMENTO HUMANIZADO EM CRIANÇAS SUBMETIDAS À QUIMIOTERAPIA Cristiane Dutra Andrade Silva 1 Samira Santos de Azevedo Ferreira 2 Ediane Rodrigues da Fonseca3 Waldete Alves de Oliveira 4 Tatiana Heidi Oliveira 5 RESUMO O câncer infantil tem apresentado um aumento nos seus índices de cura e sobrevida, mas a preocupação com a qualidade da assistência nos diversos momentos e contextos da mesma permanece. Trata-se de uma revisão bibliográfica com o objetivo de descrever a atuação humanizada do enfermeiro frente à criança submetida à quimioterapia. Através desta descrição buscou-se analisar a importância da humanização no tratamento quimioterápico, descrever a relevância da sistematização da assistência de enfermagem e identificar as ações do enfermeiro que suavizem os efeitos diversos da quimioterapia à criança. Para a realização do estudo utilizou-se a revisão bibliográfica referente ao período entre 1997 e 2010, optando trabalhar com o banco de dados virtual da Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Biblioteca Regional de Medicina (BIREME), sites do Ministério da Saúde, livros, revistas e artigos com abordagem em oncologia. A revisão demonstrou, após análise cuidadosa das referências citadas, a contribuição positiva do enfermeiro e de sua assistência desde que aplicadas todas as fases do processo de enfermagem e também uma melhoria na qualidade dessa assistência através das inovadoras técnicas terapêuticas e atrativas. Palavras-chave: Câncer Infantil. Quimioterapia. Enfermeiro. Humanização. 1 Acadêmica do curso Bacharelado em Enfermagem da Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE. Email: [email protected] 2 Acadêmica do curso Bacharelado em Enfermagem da Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE. Email: [email protected] 3 Acadêmica do curso Bacharelado em Enfermagem da Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE. Email: [email protected] 4 Acadêmica do curso Bacharelado em Enfermagem da Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE. Email: [email protected] 5 Orientadora Professora Especialista do Curso de Enfermagem da Universidade Vale do Rio Doce UNIVALE. Email: [email protected] 2 1 INTRODUÇÃO Complementa (BRASIL, De acordo dados mais recentes, que o câncer infantojuvenil, Nacional do Câncer (INCA) (BRASIL, considerando a faixa etária até os 18 2010), câncer é o nome dado a um anos, é raro quando comparado com conjunto de mais de cem doenças que os tumores que afetam os adultos, têm crescimento correspondendo entre 1% e 3% de desordenado (maligno) das células que todos os tumores malignos na maioria invadem os tecidos e órgãos, podendo das populações. Em geral, a incidência espalhar-se para outras partes do total de tumores malignos na infância é corpo. maior no sexo masculino. comum o 2009), com INCA Instituto em com ainda o Dividindo-se rapidamente, essas Perante a relevância dos dados células tendem a ser muito agressivas apresentados, e sendo a quimioterapia e o um dos principais meios de tratamento acúmulo de células cancerosas ou do câncer infantil, “uma vez que a neoplasias malignas (BRASIL, 2010). maioria das incontroláveis, Os vários existentes tem determinando tipos sido de câncer responsáveis, infância doenças são (BONASSA; malignas sensíveis a SANTANA, da ela” 2005), segundo o INCA, pelo aumento da desenvolveu-se este artigo a partir do porcentagem das mortes ocorridas no questionamento Brasil e no mundo (BRASIL, 2009). humanização As estatísticas sobre a incidência de pode como a melhorar a condição de vida das crianças que são do câncer pediátrico no Brasil indicam submetidas ao que anualmente 12 a 13 mil crianças quimioterápico. tratamento menores de 14 anos são acometidas De acordo com Smeltzer e Bare por algum tipo de câncer, e destas, (2005), a enfermagem tem um papel cerca de 70% podem ser consideradas importante na avaliação e controle de curadas, dependendo da precocidade muitos problemas experimentados pelo do diagnóstico (LEMOS et al., 2004). paciente que se submete ao tratamento Ainda conforme o autor, o índice de quimioterápico. Por isso, a partir de mortalidade por revisão bibliográfica, a temática tem o câncer infantil no Brasil, apresenta-se como a terceira intuito causa de morte na população abaixo suscitem uma atitude para a busca de de 14 anos. de instigar reflexões que 3 alternativas, amenizando assim todo o de casa, recebem tratamento realizado processo de tratamento. por adultos que não são os seus pais Segundo Nascimento et al. (2005), a criança enfrenta problemas como longos períodos hospitalização, (COLLET; ROCHA, 2004). Na instituição caberá aos de profissionais de saúde, em particular ao reinternações profissional enfermeiro como cuidador, frequentes, terapêutica agressiva com adotar ações humanizadas. sérios efeitos indesejáveis advindos do Este estudo trata-se de uma próprio tratamento, dificuldades pela busca de revisão bibliográfica pelo separação dos membros da família método durante as internações, interrupção das qualitativa/descritiva, atividades básica, diárias, limitações na de onde abordagem de toda vez natureza que tiver compreensão do diagnóstico, angústia, citações diretas ou indiretas, o autor dor, sofrimento e o medo constante da será citado conforme a referência possibilidade de morte. bibliográfica. Acredita-se que a humanização pode ser usada como uma das O levantamento bibliográfico, propriamente dito, foi pesquisado em ferramentas para suavizar o sofrimento fontes da criança em tratamento oncológico. periódicos especializados, artigos do Segundo Scientific Mohallem e Rodrigues adotadas como: eletronic library livros, online (2007), humanizar a assistência de (SCIELO), Literatura latino-americana e enfermagem a pacientes oncológicos do Caribe em ciências envolve (LILACS), compreensão, respeito ao da saúde Biblioteca Regional de (BIREME), Ministério da próximo, às suas limitações, à dor e ao Medicina sofrimento humano, à perseverança, à Saúde, INCA e o acervo da biblioteca vida e à morte. da Universidade do Vale do Rio Doce A hospitalização na visão da (UNIVALE), usando como palavras- criança pode significar medo, dor e chave: câncer infantil, quimioterapia, separação dos enfermeiro e humanização. pais, pois ao ser hospitalizada é retirada de seu meio Este foco surgiu após ter sido familiar e lançada em uma instituição delineada a importância com normas e rotinas diferentes da sua humanização e que devem ser seguidas. Nessa enfermeiro com intuito de melhorar a experiência, além de permanecer longe qualidade da assistência à criança do da profissional 4 oncológica durante o processo quimioterápico. Após o levantamento bibliográfico, teve início à organização, classificação do material, mais de 9000 novos casos no país, de acordo com o INCA (BRASIL, 2009). Em 2004, o Brasil registrou 141 sendo mil óbitos por câncer. A explicação selecionados 37 (trinta e sete) artigos e desse percentual tão alto de óbitos por desses 8 (oito) foram utilizados. câncer está diretamente relacionada à O objetivo foi descrever a atuação maior exposição dos indivíduos a humanizada do enfermeiro frente à fatores criança submetida atuais padrões de vida adotados em à quimioterapia. de risco cancerígenos. Os Esta meta foi alcançada através do relação desenvolvimento de temas que são: consumo analisar a importância da humanização indivíduos a fatores ambientais mais no agressivos, relacionados tratamento descrever a sistematização quimioterápico, relevância da assistência ao trabalho, em nutrição geral da químicos, físicos de resultantes de expõem os a agentes e um e biológicos processo de enfermagem e identificar as ações do industrialização cada vez mais evoluído enfermeiro que suavizem os efeitos (BRASIL, 2008). diversos da quimioterapia à criança. Diante desses fatos, justifica-se este trabalho pela adequação do importância da conceito de 2.1 CONCEITUANDO O CÂNCER Peixoto (1998) descreve o câncer humanização à prática executada pelo como profissional enfermeiro, a partir do anárquica levantamento anormais, a partir de determinados de referências na uma e do multiplicação rápida, invasora células organismo. de tentativa de ressaltar métodos que tecidos O tumor amenizem o sofrimento da criança. cancerígeno ou tumor maligno invade progressivamente o órgão em que 2 ASPECTOS GERAIS DO CÂNCER apareceu e depois ataca os órgãos vizinhos, generalizando-se finalmente, Atualmente, o câncer constitui a segunda causa de morte por doença no Brasil e no mundo, sendo o câncer caso não seja aplicado o tratamento adequado em sua fase inicial. O câncer é um processo infantil representado por 0,5% a 3% de patológico que começa quando uma todas célula anormal é transformada pela as neoplasias, estimando-se 5 mutação genética do DNA celular. A atendimento que se dava às crianças célula anormal forma um clone e com câncer. começa a proliferar-se ignorando as sinalizações e Lopes (2000), o câncer infantil, apesar de todo crescimento no ambiente circunvizinho avanço da ciência, ainda permanece a com invasivas, controle Camargo do célula, de Segundo adquirindo infiltram-se características maioria de suas causas tecidos desconhecidas, o que o difere dos circunvizinhos e acessam os vasos tumores em adultos, que atualmente sanguíneos e linfáticos, os quais as tem um número bastante expressivo de transportam até outras regiões do fatores de risco relacionados. Ainda corpo, sendo chamado este fenômeno conforme o autor, o câncer do adulto de difere quanto aos tipos histológicos, metástase nos a (SMELTZER; BARE, 2005). comportamento biológico, evolução clínica e respostas terapêuticas. 2.1.1 Câncer Pediátrico De acordo com INCA (BRASIL, 2009) o câncer infantil, muitas vezes, Há 50 anos, o diagnóstico de apresenta sinais e sintomas que podem câncer nas crianças era encarado ser quase como uma sentença de morte, patologias pediátricas, o que pode, em pouco se sabia sobre a doença e sua muitos casos, obscurecer a visão do evolução na infância (BIANCHI, 2003). pediatra, O autor ainda ressalta que as crianças diagnóstico precoce, recebiam o mesmo tratamento que os importância adultos, embora suas características Clinicamente, os tumores pediátricos biológicas possuem e orgânicas fossem confundidos com retardando um vital diversas assim o o que é para período a de de cura. latência diferentes, e não se levava em conta menor, apresentando um crescimento que eram seres em crescimento e rápido, porém com melhor resposta ao respondiam mal ao tratamento. tratamento do que os tumores de Sendo assim, só a partir da segunda metade da década de 1960, indivíduos adultos. No câncer pediátrico, observa-se início dos anos 1970, que os pediatras uma predominância dos casos brasileiros interessados em trabalhar leucemia, que pode chegar a 45% de na todos os casos de tumores infantis, área começaram da a oncologia infantil revolucionar o de seguido de linfomas, com 25%. Em se 6 tratando dos tumores considerados sólidos, os tumores do Sistema De acordo com Smeltzer e Bare (2005), os objetivos do tratamento Nervoso Central são os mais incidentes visam e podem atingir a taxa de 22% de todas contenção do crescimento das células as neoplasias da infância, acometendo cancerosas e o alívio dos sintomas principalmente a faixa etária entre 4 e 9 associados. As autoras enfatizam ser anos de idade (BRASIL, 2009). imperativo que a equipe de saúde, o Na criança existem poucos fatores de risco conhecidos associados a tumores. Em alguns tipos, há uma à erradicação completa, a paciente e a sua família tenham clareza na compreensão das opções de tratamento e objetivos. associação com infecções por vírus, O tratamento do câncer pode ser outros podem estar ligados a uma feito através de cirurgia, radioterapia, predisposição algumas quimioterapia ou transplante de medula crianças podem nascer com a doença. óssea. Em muitos casos, é necessário A exposição a agentes externos como combinar essas modalidades (BRASIL, alimentação 2010). familiar e e outros, também aparecem neste grupo de fatores de risco (CASTRO JR, 2010). Dentre os procedimentos adotados no tratamento do câncer Ainda conforme o autor, não se pediátrico, a quimioterapia é o principal, fala em prevenção do câncer infantil e pois é uma das formas mais eficazes sim em diagnóstico precoce para que o no tratamento seja iniciado o mais breve (VALLE,1997). combate dessa doença possível. 2.2 TRATANDO O CÂNCER A questão do 2.2.1 Quimioterapia tratamento do À medida que o tumor cresce câncer na infância remete a uma ocorre reflexão em relação à questão do células cancerosas e as normais em desenvolvimento infantil, busca de nutrientes, oxigênio e espaço tratamento do câncer já que envolve o um uma competição entre as (BONASSA; SANTANA, 2005). conjunto de fatores que exercerão Ainda conforme os autores, a influências na vida da criança (FREIRE, quimioterapia consiste no emprego de 2004). substâncias químicas, isoladas ou em 7 combinação, com o objetivo de tratar neurológicas, renais, gastrintestinais, as neoplasias. São drogas que atuam dermatológicas e hepáticas. Sob a em nível celular, interferindo no seu perspectiva de proporcionar à criança processo de crescimento e divisão. uma melhor qualidade de vida durante Smeltzer e Bare (2005), o tratamento, ressalta-se diferenciam a quimioterapia dos demais necessidade tratamentos terapêutico humanizado. ao afirmarem que ao de um a processo contrário da cirurgia e da radioterapia que têm efeito local, a quimioterapia 2.3 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM age em todo o corpo, visando evitar a volta do tumor e o aparecimento em outros órgãos. A Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) vem permitindo A maioria dos quimioterápicos aos enfermeiros um cuidar científico e antineoplásicos atua de forma não humanizado específica, células assistência qualitativamente adequada, malignas quanto benignas. Como as que assume dimensão especial para o diferenças entre as duas populações paciente celulares são mais quantitativas que estabelecimento ético das prioridades, qualitativas, uma linha muito tênue onde separa o sucesso terapêutico de uma individualidade, singularidade, estilo de toxicidade inaceitável. Os fármacos vida, agem interferindo em outras funções (GARGIULO et al., 2007). lesando bioquímicas tanto celulares a oncológico se deve crenças e no considerar valores uma a culturais por De acordo com INCA (BRASIL, atuarem indistintamente no tumor e 2009), o enfermeiro é o profissional tecidos normais de proliferação rápida, mais como o sistema hematopoiético e as apoiar, orientar o paciente e a família mucosas, o que obriga a interrupção na vivência do processo de doença, periódica tratamento do recuperação vitais, destinado tratamento do paciente para a (BRASIL, 2009). habilitado e e disponível reabilitação, para afetando definitivamente a qualidade de vida futura. Ainda conforme o autor, os efeitos As ações de enfermagem colaterais do tratamento quimioterápico abrangem planejamento, supervisão, são toxidades: execução e avaliação de todas as hematológicas, cardíacas, pulmonares, atividades no setor quimioterápico. A responsáveis por 8 assistência de enfermagem deve ser qualidade prestada de forma sistematizada e GREENBERG, 2005). individualizada. Nesse sentido, o A e respeito Política (BOWDEN; Nacional de processo de enfermagem serve de Humanização, HumanizaSUS (BRASIL, estrutura o 2004), descreve a humanização como informações, a valorização dos diferentes sujeitos sistemática enfermeiro busca responde a na indicações qual clínicas, implicados no processo de produção de identificações e respostas a questões saúde: que afetam a saúde do paciente. gestores. Fundamentado nesses trabalhadores e o Freire et al. (2007) por sua vez, cuidado de enfermagem terá maior descreve que humanizar a assistência qualidade prestada à criança com câncer é de preceitos, usuários, resolubilidade atendimento ao no paciente (GUIMARÃES; ROSA, 2008). é recomendável enquanto biopsicossocial, Portanto, de acordo com Leite (2002), compreendê-la que o um respeitando ser sua individualidade e seu direito de ser criança. enfermeiro tenha ciência, valendo-se de sua percepção e da percepção dos 2.4.1 pacientes Quimioterapia e das expectativas cuidado para reconhecer as do Ações Humanizadas na a de reais necessidades e planejar a assistência com a participação efetiva do paciente. Humanizar enfermagem, assistência especialmente a de pacientes oncológicos, vai além da 2.4 CONCEITO DE HUMANIZAÇÃO competência técnica ou científica. O cuidado com o ser humano deve se Segundo (2004), manifestar em atitudes que valorizem e humanizar significa tornar humano, dignifiquem a vida humana, o respeito afável, ao próximo, estando este presente, dar Ferreira condições de homem, civilizar. ausente, consciente ou inconsciente O tornar humano na saúde é algo que abrange muito mais que doença, é ver o indivíduo como um (MOHALLEM; RODRIGUES, 2007). Segundo Bowden e Greenberg todo (2005), a unidade de internação é um oferecendo-lhe uma assistência com ambiente ocupado e barulhento, cheio de eventos imprevistos e geralmente 9 sem prazer para a criança e seus pais. biológico, Ansiedade, medo, dor, desconforto, subjetividade. É fundamental também surpresa, separação, perda, fadiga, oferecer frustração, desconfiança e raiva são diferente do adulto, voltado para suas experiências comuns para a criança e a necessidades infantis. família durante o episódio da doença. Ainda conforme o autor, mas à criança também um sua tratamento Uma importante ferramenta para o redução do trauma infantil é a utilização profissional bem treinado pode fazer do brincar terapêutico na instituição avaliações e elaborar intervenções com hospitalar. Conforme retrata Cabral objetivo de reduzir o trauma associado (2006), às internações. relevantes da vida de uma criança é a um dos aspectos mais Uma forma inicial ou primeiro brincadeira que pode torna-se ainda passo fundamental para humanizar a mais importante para a mesma que assistência de enfermagem é trabalhar está hospitalizada. com a expectativa do cliente e com a Ainda segundo o autor, o brincar percepção do que ele espera do nosso terapêutico traz várias funções, dentre cuidado, da nossa assistência. Para elas: que isso ocorra, é importante que a) reduzir o estresse e as tensões, estejamos receptivos para ouvir mais pois permite à criança a liberdade de do que falar e preocupados com as expressão para aliviar seus medos, necessidades daquele que carece de preocupações e ansiedades; um cuidado individualizado. Não se b) proporcionar uma fonte de deve perder o foco de uma abordagem entretenimento, aliviando a ansiedade holística, da separação familiar; permitindo sempre o envolvimento daqueles que dão apoio c) permitir que a criança tenha emocional e afetivo, suporte econômico uma sensação de segurança, porque e social, sejam estes membros da enquanto brinca mantém longe a ideia família, vizinhos, parceiros, amigos ou de algum procedimento doloroso; cuidadores (MOHALLEM; RODRIGUES, 2007). desenvolvimento normal da criança; De acordo com Freire (2004), as crianças em necessitam tratamento de um d) estimular o crescimento e o oncológico cuidado mais humano, que vise não só seu corpo e) incentivar a criança a realizar suas próprias escolhas, dando-lhe uma sensação de controle da situação no ato do brincar. 10 Para as crianças a criança libera tensões, reorganiza seu brincadeira é o mecanismo através do meio interno, encontra novas formas de qual elas enfrentam, aprendem, testam lidar com seus problemas, desenvolve- novas se, ideias doentes, e capacidades psicomotoras recentemente adquiridas (BOWDEN; GREENBERG, 2005). Ainda conforme enfermeiro ao o reconquista sua autonomia. Desta forma, o autor salienta que autor, ensinar, comunica-se, o necessita o brinquedo dá à criança condições de aperfeiçoamento de habilidades atentar para as informações verbais e psicomotoras e sociais. As habilidades não verbais que a criança expressa lúdicas são liberadoras de tensões, com intuito de estabelecer suas ações. trazem prazer e são um dos mais A arte de examinar em pediatria é completos processos educativos, com uma tarefa difícil, que requer habilidade influência no intelecto, emocional e técnica e sensibilidade por parte do físico da criança. examinador. Além de muitas vezes, ele ter que lidar crianças um quadro de oncologia pediátrica é extremamente irritadas pelo tratamento uma peça chave no processo de e pela própria patologia, o enfermeiro humanização, também Mohallem e Rodrigues (2007, p. 188): precisa com O profissional enfermeiro perante lidar com pais como descreve ansiosos, que se encontram diante de O enfermeiro é o membro da equipe de saúde que usualmente permanece lado a lado com os pacientes durante todo o processo de saúde/doença, o que o torna elemento primordial para o sucesso do tratamento. Figura também como facilitador e minimizador dos desconfortos trazidos por todo o processo da doença oncológica durante a internação do paciente, principalmente no que diz respeito aos possíveis tratamentos a serem empregados. Nesse contexto, é fundamental que pacientes oncológicos recebam por direito uma assistência humanizada. um filho com um tumor e que, muitas vezes, buscam respostas e responsáveis pela tragédia familiar que estão vivendo. Nesse momento, o enfermeiro e sua equipe precisam ser pacientes, compreensivos, utilizar uma linguagem acessível e acolhedora (BRASIL, 2009). Schmitz (2000) converge com a citação anterior quanto à brinquedoterapia ao afirmar que o brincar deverá receber a importância que as terapêuticas, pois através mesma A falta de humanização nos medidas hospitais faz com que o cidadão perca dele a sua identidade, sendo identificado por a 11 um número, por uma letra ou até O objetivo básico é melhorar a mesmo por uma hipótese-diagnóstica. qualidade de vida desta criança e não São apenas alterados os seus hábitos a resposta ao meses de tratamento repouso e sono (FONTENELE et al., benefício no tempo de sobrevida. Foi possível identificar que as A humanização no atendimento exige alguns tumor alimentares, seus hábitos higiênicos, 2000). ou do dos profissionais ações humanizadas são essenciais de saúde, para amenizar o medo, a dor, a essencialmente, compartilhar com o superação do enfrentamento vivido e seu paciente experiências e vivências. principalmente, respostas satisfatórias Neste contexto, humanizar o cuidado é a todo o tratamento em que a criança é dar qualidade à relação profissional da submetida. saúde/paciente. É acolher as angústias O resultado apontou do ser humano diante da fragilidade de necessidade corpo, mente e espírito (PESSINI; enfermeiro que respeite o próximo e as BERTACHINI, 2004). suas de um limitações; que para a profissional pratique um cuidado integrador, mas que não vise 3 CONCLUSÃO apenas o quadro clínico do paciente e sim seu anseio por apoio e carinho No decorrer desta pesquisa, a atuação vulnerabilidade. humanizada do enfermeiro durante o Conclui-se observou-se tratamento que que uma assistência humanizada vai além do fundamental importância, uma vez que simples ato mecânico de cuidar, é ter a doença é vista como perda dos contato direto com o paciente, mostrar prazeres gerando que o profissional enfermeiro tem um criança papel importante no seu prognóstico e temporariamente de uma vida normal e principalmente adotar condutas que sadia. Portanto, é primordial o papel do são condizentes com esta ideia. da infância, retirando é então, de limitações, quimioterápico durante o seu momento de aflição e a enfermeiro no sentido de contribuir Sendo assim, após a realização para a melhoria da qualidade de vida, desse estudo, foi possível elaborar um promovendo a compreensão da criança protocolo e durante melhor aceitação a terapêutica, mesmo sob situações adversas. que a visa pré, a trans assistência e pós- quimioterapia, com o intuito de relatar 12 como pode ser realizado um tratamento planejamento das ações e um pouco humanizado de dedicação de todos os envolvidos na vida de crianças oncológicas quando se tem um bom (APÊNDICE 1). THE NURSE ACTUATION OVER THE HUMANE TREATMENT IN CHILDREN’S CHEMICAL THERAPY TREATMENT ABSTRACT The children’s cancer has been showing an increase in its cure and surlife rates, but the concern over the assistance quality in the diverse moments and contexts still keeps. It’s about a bibliographic review with the purpose of describing the nurse humane actuation over the child in a chemical therapy treatment. By this description, it has being analyzed the humane importance in the chemical therapy treatment, to describe and identify the nurse actuation that makes softer the diverse effects in the child chemical therapy treatment. For this study, it was used a bibliographic review between 1997 and 2010, choosing to work with virtual database of The Scientific Electronic Library Online, Latin American and Caribbean Literature in Health Science (LILACS), Regional Medicine Library (BIREME), The Health Ministry sites, books, magazines and articles about oncology. The review showed, after been carefully analyzed the references mentioned, the nurse positive contribution and its assistance since it makes part in all the nursery process phases, improving a better quality assistance through the new and attractive therapy techniques. Key Words: Cancer Child. Chemical Therapy Treatment. Nurse. Humane. REFERÊNCIAS BIANCHI, A. Câncer nas crianças. 2003. Disponível em: <http://www.drauziovarella.com.br/Exib irConteudo/666/cancer-nas-criancas>. Acesso em: 01 mar. 2010. BONASSA, E. M. A.; SANTANA, T. R. Enfermagem em terapêutica oncológica. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2005. BOWDEN, V. R.; GREENBERG, C. S. Procedimentos de enfermagem pediátrica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. BRASIL. Política Nacional de Humanização. Brasília, 2004. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/arqui vos/pdf/doc_base.pdf>. Acesso em: 02 mar. 2010. BRASIL. Instituto Nacional do Câncer. Ações de enfermagem para o controle do câncer: uma proposta 13 de integração ensino-serviço. 3. ed. Rio de Janeiro: INCA, 2008. ______. Instituto Nacional do Câncer. Incidência do Câncer Infantil. Rio de Janeiro, 2009. Disponível em: <http://www.inca.gov.br/conteudo_view .asp?id=343>. Acesso em: 19 out. 2009. ______. Instituto Nacional do Câncer. O que é câncer. Rio de Janeiro, 2010. Disponível em: http://www1.inca.gov.br/conteudo_view .asp?id=322. Acesso em: 19 out. 2009. ______. Instituto Nacional do Câncer. Estimativa de 2010 - Incidência de Câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2010. CABRAL, I. E. Enfermagem pediátrica. Incrivelmente fácil. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. CAMARGO, B.; LOPES, L. F. Pediatria oncológica: noções fundamentais para o pediatra. São Paulo: Marina, 2000. CASTRO JR, C. G. O que é câncer. In: Instituto do Câncer Infantil do RS. Disponível em: <http://www.icirs.org.br/sobre-a-doenca> Acesso em: 20 fev. 2010. COLLET, N.; ROCHA, S. M. M. Criança hospitalizada: mãe e enfermagem compartilhando o cuidado. Revista Latino Americana em Enfermagem, São Paulo, v. 12, n. 2, p. 191-197, 2004. FERREIRA, A. B. H. Dicionário Aurélio da língua portuguesa. 3. ed. Curitiba: Positivo, 2004. FONTENELE, M. F. S. P. et al. A biblioterapia no tratamento do câncer infantil. In Proceedings XIX Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação 1, Centro de eventos da PUCRS, 2000. FREIRE, M. C. B. O Instituto de Oncologia Pediátrica/GRAACC/ Unifesp a partir da visão das mães de pacientes. 2004. Tese [Dissertação de Mestrado] - Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, 2004. Disponível em: <http://www.cibersaude.com.br>. Acesso em: 01 mai. 2010. FREIRE, M. C. B. et al. Humanização em oncologia pediátrica: novas perspectivas na assistência ao tratamento do câncer infantil. 2007. Disponível em: <http://bases.bireme.br/cgibin/wxislind >Acesso em: 03 mar. 2010. GARGIULO, C. A. et al. Vivenciando o cotidiano do cuidado na percepção de enfermeiras oncológicas. 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/tce/v16n4/a1 4v16n4.pdf>. Acesso em: 10 set. 2009. GUIMARÃES, J. L. M.; ROSA, D. D. Rotinas em oncologia. São Paulo: Art Méd., 2008. LEITE, R. C. B. O. Assistência de enfermagem peri-operatória na 14 visão do enfermeiro e do paciente cirúrgico idoso. Tese (Doutorado). Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, 2002. LEMOS, F. A. et al. Assistência à criança e ao adolescente com câncer: a fase da quimioterapia intratecal. Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 12, n. 3, maio/jun. 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br>. Acesso em: 08 fev. 2010. MOHALLEM, A. G. C.; RODRIGUES, A. B. Enfermagem oncológica. Barueri: Manole, 2007. NASCIMENTO, L. G. et al. Crianças com câncer e suas famílias. São Paulo julho. 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br>. Acesso em: 22 nov. 2009. PEIXOTO, P. M. Grande compêndio de enfermagem. São Paulo: Sivadi editorial, 1998. PESSINI, L; BERTACHINI, L. Humanização e cuidados paliativos. São Paulo: Loyola, 2004. SCHMITZ, E. M. R. A enfermagem em pediatria e puericultura. São Paulo: Atheneu, 2000. SMELTZER, S. C. O.; BARE, B. G. Brunner & Suddarth: tratado de enfermagem médico-cirúrgica. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. VALLE, Elizabeth Ranier Martins do. Câncer Infantil – Compreender e Agir. Campinas: Psy, 1997. APÊNDICE 1 PROTOCOLO DE ASSISTÊNCIA HUMANIZADA À CRIANÇA SUBMETIDA AO TRATAMENTO QUIMIOTERÁPICO 1 PRÉ-QUIMIOTERAPIA • Usar uma abordagem calma e segura; • Receber a criança de forma acolhedora, respeitando seus sentimentos; • Explicar à criança de forma simples o procedimento quimioterápico, os exames diagnósticos e a finalidade de cada um deles; • Verificar sinais vitais de acordo com a rotina da instituição; 15 • Avaliar exames laboratoriais e juntamente com a equipe, estipular meios para que haja a melhora dos resultados; • Educar o cuidador (familiares) quanto ao cuidado prestado à criança e o porquê do uso do mesmo, gerando assim o aumento da confiança dos mesmos; • Explicar a importância de uma dieta altamente nutritiva, oferecendo-lhe alimentos e suplementos ricos em calorias e proteínas, de acordo com a tolerância da criança; • Preparar a criança e a família quanto às possíveis transformações na imagem corporal (alopécia e emagrecimento) alguns meios para amenizá-las explicando que as mesmas desaparecem após o tratamento; • Proporcionar meios para conversar com a criança sobre suas experiências através de brincadeiras com bonecos (de médico, enfermeiro, criança e pais) ou contar histórias; • Administrar medicamentos prescritos avaliando sua eficácia e possíveis efeitos; • Orientar a equipe a evitar questionamentos desnecessários (curiosidades) aos familiares. 2 TRANS QUIMIOTERAPIA • Posicionar a criança confortavelmente; • Verificar sinais vitais de acordo com a rotina da instituição; • Observar e avaliar o melhor acesso venoso para a infusão como dispositivo e o calibre adequado com o vaso; • Avaliar sinais flogísticos do acesso venoso; • Disponibilizar para a criança métodos de brinquedoterapia e musicoterapia para diminuir o medo e a ansiedade; 16 • Limitar o estímulo ambiental (iluminação e ruído excessivo) para facilitar o relaxamento; • Ser verdadeiro quanto às indagações da criança em relação ao processo doloroso do tratamento; • Manter dieta nutritiva conforme orientação nutricional de acordo com a tolerância da criança. • Incluir a família nos cuidados, proporcionando assim à criança uma maior sensação de segurança; • Proporcionar meios para conversar com a criança sobre suas experiências através de brincadeiras com bonecos (de médico, enfermeiro, criança e pais) ou contar histórias. 3 PÓS-QUIMIOTERAPIA • Verificar sinais vitais de acordo com a rotina da instituição; • Explicar aos pais a importância de lavar as mãos antes e após cada atividade de cuidado à criança; • Manter a família ou cuidador orientados quanto à contaminação das secreções (urina, fezes, sangue, vômitos) até as 48 horas após a última dose de quimioterapia administrada; • Orientar os pais a oferecerem os medicamentos conforme a prescrição médica; • Reforçar os cuidados ensinados e encorajar os pais na realização dos mesmos; • Certificar que a família tenha assimilado os cuidados ensinados e realize-os nas técnicas corretas; • Proporcionar meios para conversar com a criança sobre suas experiências através de brincadeiras com bonecos (de médico, enfermeiro, criança e pais) ou contar histórias; 17 • Incentivar a criança a expressar seus sentimentos acerca da sua imagem corporal; • Sugerir alternativas para amenizar ou melhorar as alterações corporais; • Ressaltar a importância de uma dieta altamente nutritiva, oferecendo-lhe alimentos e suplementos ricos em calorias e proteínas, de acordo com a tolerância da criança; • Incentivar os pais a ajudar a criança na hora das refeições; • Permitir que a criança se sociabilize comendo em grupo na mesa, se assim o seu estado permitir; • Orientar ao cuidador sobre a realização da higiene oral de forma cuidadosa quando houver mucosite e/ou gengivorragia, através do uso de escovas com cerdas macias; se houver dor ou sangramento bucal realizar a higienização dos dentes com algodão umedecido em água; • Manter os lábios hidratados com lubrificante labial para evitar ressecamento e rachadura dos mesmos; • Discutir com pais e criança a possibilidade de visitar a sala de aula e explicar sobre o câncer e efeitos colaterais da quimioterapia, para facilitar o retorno à escola; • Encaminhar ao serviço de odontologia para avaliação da cavidade oral; • Orientar criança e familiar sobre as possíveis complicações e a importância de relatá-las à equipe de saúde; • Orientar a criança/familiar a evitar alimentos quentes, temperados ou ácidos; • Ensinar a criança/familiar a pentear suavemente o cabelo e a dormir em travesseiro de seda para minimizar a perda de cabelo. 18