tcc lorena e patricia - Associação dos Geógrafos Brasileiros

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ANÁLISES DO CONCEITO DE RELEVO EM LIVROS DIDÁTICOS DE GEOGRAFIA
DO ENSINO FUNDAMENTAL II
Lorena Raniely Ferreira
Centro Universitário de Belo Horizonte – UNI-BH
[email protected]
Patrícia Ferreira Matosinhos
Centro Universitário de Belo Horizonte – UNI-BH
[email protected]
Valeria de Oliveira Roque Ascenção
Centro Universitário de Belo Horizonte – UNI-BH
[email protected]
INTRODUÇÃO
O Ensino de Geografia na atualidade nos coloca a tarefa de formar sujeitos capazes de
compreenderem a realidade em que estão inseridos, entenderem e refletirem o seu papel diante
delas na organização dos espaços. Para tanto, cabe ao professor, procurar meios que facilitem e
permitam a construção do conhecimento junto aos alunos.
O Livro Didático (LD) é um instrumento importante nos processos de aprendizagem, atuando como
complemento e por vezes, facilitador das atividades pedagógicas. Há que se considerar o fato de
que, muitas vezes, o LD é o único material de pesquisa do aluno e talvez única fonte de leitura. Além
disso, em alguns casos, servem como fonte para atualização de conhecimento do educador. De
acordo com Neto e Fracalanza (2003, v. 9, p. 148), “os professores salientam que o livro didático
é utilizado como fonte bibliográfica, tanto para complementar seus próprios conhecimentos, quanto
para a aprendizagem dos alunos.” Entretanto, admiti-se que esse instrumento didático possa
apresentar limitações à cognição dos alunos, em virtude de abordagens que pouco dialoguem com o
imediato vivido, apresentando conteúdos e conceitos de modo meramente informativo.
Neste sentido analisaremos a concepção do conceito de relevo presente em livros didáticos de
Geografia destinados ao Ensino Fundamental II, aprovados pelo Ministério da Educação (MEC)
através do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) 2008. Tal análise será balizada por
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trabalhos desenvolvidos no campo da Geomorfologia, e pelas orientações pedagógicas postas ao
ensino de Geografia nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Geografia – PCN, MEC 1998.
Reconhece-se que, as recentes orientações postas pelo PCN (1998) ao ensino de Geografia,
valorizam a dimensão física do espaço para o trabalho escolar dessa disciplina, destacando a
importância, desse estudo, do diálogo entre os componentes físicos e os componentes humanos,
sociais, econômicos e culturais.
O referido diálogo objetiva desenvolver conhecimentos geográficos que venham favorecer aos
educandos instrumentos para interpretação do real. Nesse sentido, considera-se que o estudo do
relevo pode contribuir para que sujeitos sociais redimensionem ações de uso e ocupação do espaço
em que vive, refletindo sobre questões referentes à moradia, deslocamento, desvegetação. Esses
conhecimentos podem permitir ao sujeito, entender a dinâmica do local, inibindo ações que
comprometam as dimensões socioambientais.
As reflexões aqui desenvolvidas pautaram-se em contribuições de autores do campo da
Geomorfologia e da área do Ensino de Geografia. Através de sorteio, foram selecionadas obras
didáticas destinadas nas quais se buscou identificar a adequação científica do conceito de relevo,
bem como, a adequação da abordagem desse conteúdo ao nível de ensino anteriormente citado.
Para a elaboração deste artigo, as pesquisas centraram-se no Ensino Fundamental visto que é nesta
fase escolar que se busca favorecer aos alunos a construção de um conjunto de conhecimentos
conceituais, procedimentais e atitudinais referentes à Geografia (PCN, 1998). Além disso, nos anos
finais do ensino fundamental é que tem um trabalho de maior verticalização conceitual, o que ocorre
com o conteúdo relevo. Esses dois aspectos justificam a seleção da referida fase educativa, para as
análises contidas neste trabalho.
Inicialmente, procedeu-se um levantamento bibliográfico em produções na área do ensino de
Geografia e ao campo da Geomorfologia, seguido da seleção de referenciais teóricos que
respaldassem a investigação pretendida.
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O processo de seleção dos livros didáticos apoiou-se nas avaliações realizadas pelo Programa
Nacional do Livro Didático (2008). Esse é um programa oficial, mantido pelo Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE), cujo objetivo é fornecer livros didáticos de qualidade para
as escolas públicas brasileiras. Com base na listagem divulgada pelo referido programa, partiu-se
para a definição dos livros didáticos, destinados às análises do conceito de relevo.
A seleção desse material pautou-se em dois critérios: I – admitiu-se como relevante a análise do
livro “Projeto Araribá”, visto ser esse o mais vendido no PNLD 2008 (ABRELIVROS, 2010); II –
realizou-se um sorteio a fim de definir os demais livros analisados.
O processo de sorteio
considerou somente os livros voltados ao 6º ano do Ensino Fundamental. Tal definição teve por
base uma leitura prévia dos livros selecionados no PNLD (2008), que permitiu identificar esses
volumes como aqueles em que se aborda o conteúdo relevo. Em virtude do tempo para
desenvolvimento da pesquisa e em coerência com as demandas postas às análises qualitativas
optou-se pela análise de 03 (três) livros didáticos.
Correlacionando as indicações sobre a abordagem do relevo postas pelo PCN (1998) e pelos
referenciais teóricos, construiu-se uma ficha avaliativa objetivando orientar e sistematizar as análises
do conceito de relevo nos livros didáticos. A organização dessa ficha buscou contemplar a forma
como o conceito aparece no texto – se diluído ou demarcado; a clareza e adequação ao nível
cognitivo de destino do material didático; a aproximação à realidade do aluno e a adequação às
concepções científicas sobre o relevo.
Por ultimo realizou-se a interpretação dos resultados encontrados, dialogando-se com os conceitos
geomorfológicos e com as orientações recentes para a construção de raciocínios espaciais junto aos
alunos.
O RELEVO E O LIVRO DIDÁTICO NO ENSINO DE GEOGRAFIA
As orientações recentes postas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN, 1998) ao ensino de
Geografia indicam que o trabalho nessa disciplina do conhecimento deverá voltar-se para a
formação de cidadãos críticos e participativos, capazes de entender o lugar que estão inseridos e as
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relações entre os elementos constituintes, de modo a contribuir para reflexões e busca de
alternativas.
Desse modo, fica atribuído ao ensino de Geografia o desenvolvimento de trabalhos que permitam
aos educandos a compreensão do real através da interação entre os componentes espaciais e que
destaque a dinâmica e a complexidade do espaço geográfico. Cabe ao ensino de Geografia, auxiliar
os educandos na construção de referências conceituais que atuarão como “chave” para a leitura da
espacialidade dos fenômenos. Para tanto, como afirma Roque Ascenção (2009), “é essencial que
as aulas de Geografia trabalhem de modo a associar as dimensões teóricas constituintes da ciência,
aos referenciais cotidianos dos alunos.” Assim,
[...] a análise da paisagem deve focar as dinâmicas de suas transformações e
não simplesmente a descrição e o estudo de um mundo aparentemente
estático. Isso requer a compreensão da dinâmica entre os processos sociais,
físicos e biológicos inseridos em contextos particulares ou gerais (PCN, 1998,
p.26).
É papel do ensino de Geografia, tornar claros os conceitos de diversos elementos espaciais, entre
eles o relevo, destacando a relação e a atuação dos constituintes na modelagem do Espaço
Geográfico. E esta prática deve-se considerar os conhecimentos que os alunos já trazem do espaço
vivido. Como afirma Roque Ascenção:
A essa questão, o PCN (1998) e os textos acadêmicos pós-meados da década
de 1990 acrescentam que o aluno apresenta conhecimentos espaciais, os
quais devem ser tomados como relevantes e, a partir deles, chegar a leituras
mais elaboradas e sistematizadas da espacialização de dado fenômeno
(ROQUE ASCENÇÃO, 2009, p.13).
O relevo é um dos elementos constituintes do Espaço Geográfico, devendo portanto ser abordado
pelos professores de maneira que os alunos o percebam em sua realidade imediata. Como afirma
Bertolini e Valadão (2009, p.34), “estudar o relevo significa falar das características naturais e
físicas do espaço e de como essas características estão relacionadas à vida do homem”.
Quanto à abordagem dos aspectos físicos do espaço, o PCN (1998) propõe que os textos voltados
ao ensino de Geografia, devem permitir aos alunos a compreensão da espacialidade e da
temporalidade dos fenômenos geográficos; distinguirem as unidades da paisagem e suas dinâmicas e
reconhecerem os aspectos físicos do espaço, como o relevo, na paisagem em que estão inseridos.
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Portanto os conceitos não devem tratar os fenômenos de forma meramente descritiva e
fragmentada, é importante permitir que os alunos construam o conhecimento na medida em que
utilizam o LD, elaborando assim conceitos significativos.
O relevo é um elemento da paisagem o qual deve ser tratado em sua espacialidade, considerando
que o relevo pode ser visto de diferentes maneiras e dimensões, de acordo com as características
do local em que está. Podemos citar como exemplo, deslizamento de terra em um morro em área
sem ocupação humana e um deslizamento dentro da cidade com adensamento populacional, nestes
dois casos o fenômeno foi o mesmo, entretanto a forma como o meio recebeu este acontecimento
foi diferente, o que aconteceu devido às realidades distintas do espaço. É importante que o livro
didático, como instrumento de trabalho do professor, participa e facilita este entendimento da
espacialidade dos fenômenos. Acreditamos ser relevante elaborar análises desta importante relação
entre os conceitos e as formas que eles aparecem nos livros didáticos, pois o aluno precisa
reconhecer e entender para propor soluções para situações do cotidiano a partir do conhecimento
geográfico.
O livro didático como um dos instrumentos mais utilizados nas práticas pedagógicas, trazem
informações do que acontecem em nossa época e também do que passou, contribuindo para o
desenvolvimento cultural. Diante disso é fundamental que seu texto aclare ao aluno e favoreça o
trabalho do professor. Os livros juntos com a atuação docente se completam para terem como
resultado, uma boa aprendizagem, conforme Bertolini e Valadão (2009):
A linguagem escrita é um importante mediador entre o aluno, a construção do
conhecimento e o professor. É por meio dela, na maioria das vezes utilizada
através do livro didático, que se dá a formação de conceitos e a desejada
articulação destes com a vida cotidiana por parte do aluno (BERTOLINI;
VALADÃO, 2009, p.34).
A Geografia nas universidades possui uma linguagem diferente da aplicada nos livros didáticos,
sendo a primeira técnica, científica, mais complexa e a linguagem dos LDs mais simples, buscando
explicar a partir do que os alunos já sabem, colocando-os como protagonistas do processo de
aprendizagem, conforme proposto ao ensino de Geografia na atualidade.
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Entre os autores do campo da Geomorfologia e do Ensino de Geografia, o conceito de relevo pode
variar. Para Ross, o relevo é apenas um componente da litosfera e suas formas estão ligadas com a
litologia, o clima e o solo (ROSS, 1998), onde relevo é somente o esboço, uma forma, o importante
é como se dão estas formas. Suas diferentes formas dependem de quais condições esta área está
condicionada e devido à inconstância dessas condições, as formas de relevo estão sempre em
transformação.
As formas diferenciadas de relevo decorrem, portanto, da atuação simultânea,
porém, desigual das atividades climáticas, de um lado, e da estrutura da
litosfera do outro, bem como a clareza de que tanto o clima quanto a estrutura
não se comportam sempre iguais, ou seja, ao longo do tempo e no espaço
ambos se modificam continuamente. O relevo como os demais componentes
da natureza, são dinâmicos e portanto, em constante estado de evolução
(ROSS, 1998, p. 355).
Diferentemente de Ross, Casseti conceitua o relevo através de sua idade e pelo tipo de forças que
alteram sua formação. De modo geral, “o relevo resulta da ação processual ao longo do tempo, a
qual pode ser reconstituída através de evidências ligadas a paleoformas, como depósitos
correlativos” (CASSETI, 1994, p. 39). Ou seja, a formação do relevo não é nada recente, tendo
em sua formação fatores endógenos e exógenos, o que nos mostra que o relevo está em constante
alteração. Tais alterações trazem características ao relevo quanto á superfície que são de forma
geral, horizontalizadas ou tabulares, convexidas e aguçadas, e podem aparecer em áreas restritas ou
grande extensão (CASSETI, 1994).
No intuito de encontrar o conceito de relevo, buscou-se no dicionário de Geografia, encontrando-se
que relevo “é o termo geral que descreve a geografia física de uma área (incluindo diferenças de
altitude, forma e dimensões de vales, forma e inclinação das vertentes)” (SMALL; WITHERICK,
1992, P. 223). No dicionário de geologia e geomorfologia, encontrou-se que relevo é “a
diversidade de aspectos da superfície da crosta terrestre, ou seja, o conjunto dos desnivelamentos
da superfície do globo: microrrelevo, mesorrelevo e macrorrelevo” (GUERRA, 2009, p. 526).
Embora sua formação tenha forte influencia dos agentes condicionadores, o relevo é o reflexo da
superfície da crosta terrestre. O relevo resulta da atuação de forças endógenas como falhas, dobras,
vulcões e terremotos, e de forças exógenas que provocam desgastes e acumulações (Guerra,
2009), o que já foi verificado anteriormente através de Casseti.
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OS CONCEITOS DE RELEVO NOS LIVROS DIDÁTICOS
No livro do Projeto Araribá, o mais vendido no PNLD 2008 (ABRELIVROS, 2010), as
discussões referentes ao relevo aparecem apenas na Unidade 4 – Relevo e hidrografia -, demarcado
em um trecho no início do capítulo. Ao longo do texto o autor propõe algumas perguntas aos alunos
instigando o interesse pelo assunto, tais como: Em qual foto o relevo é mais acidentado? A
navegação seria mais fácil em qual rio? Qual rio está correndo sobre um planalto? Identifique o
nome do rio que está modificando mais o relevo. A análise indicou que o texto instiga, mas não
apresenta posteriormente uma reflexão que subsidie as respostas às questões postas aos alunos. O
conceito não é construído aos poucos, ele aparece pronto, definido, conforme Editora Moderna
(2006, p. 104), “relevo é o conjunto das diferentes formas existentes na crosta terrestre”. Tal
procedimento diverge das orientações postas nos PCNs, como também presentes em Cavalcanti
(2006, p.67), “por meio da visão socioconstrutivista, considera-se o ensino a construção de
conhecimentos pelo aluno (...) o aluno é o sujeito ativo de seu processo de formação e
desenvolvimento.”
Identificou-se no LD em questão, uma apresentação do conceito de relevo de modo que este não
dialoga com a realidade vivida dos educandos, pouco favorecendo o entendimento do real à luz do
conceito fornecido. Tal situação fica visível quando o autor apresenta, para o conceito de planície,
uma área localizada em Nebraska nos Estados Unidos. Nesse momento, a noção de planície fica
restringida à referida área, sem que haja estímulo para que o aluno estabeleça relações de
associação, identificação de semelhanças ou diferenças frente ao seu espaço vivido. Com base nas
recentes orientações ao ensino de Geografia, considera-se que explicações baseadas em situações
próximos à realidade imediata dos alunos, podem facilitar o entendimento e, talvez, favorecer a
compreensão da espacialidade dos fenômenos, no caso deste trabalho, a espacialidade do elemento
relevo, possibilitando uma aprendizagem significativa.
A forma como a linguagem apresenta-se nos LDs é outra questão importante a ser discutida.
Embora seja importante e necessário à escolarização dos conhecimentos geográficos, o uso de uma
linguagem simples, há que se ter o cuidado de que esta não seja simplista, desprezando alguns
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elementos necessários para o entendimento do conceito. Contudo, espera-se que os textos dos
livros didáticos apresentem uma linguagem elaborada, contribuindo inclusive para aumentar o
vocabulário dos alunos. De modo geral, a linguagem do LD analisado, apresenta-se adequada ao
nível cognitivo ao qual se destina, favorecendo a clareza e bom entendimento do conceito oferecido.
O autor busca transmitir o conteúdo de maneira objetiva, com ilustrações explicativas entre elas
encontram-se imagens, mapas e perfis.
Embora o autor estabeleça uma relação entre o relevo e a água nas imagens das pgs. 104 e 105, o
que pode permitir uma interpretação da água como agente, na definição do conceito o texto
remete-se apenas a forma sem mencionar os processos. Essa abordagem pode limitar a
compreensão dos educandos do relevo como forma, deixando de fora a noção de que formas de
relevo decorrem de determinados processos. Conforme o autor (2006, p.106), “a crosta terrestre é
irregular, sendo constituída por diferentes formas, ora planas, ora elevadas. O conjunto dessas
formas constitui o relevo, importante elemento para a existência das diferentes paisagens.”
No segundo livro analisado, Geografias do Mundo, o conceito de relevo apresenta-se diluído entre
os capítulos, sendo construído o conceito junto ao sujeito, de forma a tratar num primeiro momento,
a idéia de lugar, depois paisagem, até chegar à formação do relevo. O autor buscou trabalhar com o
sujeito desde a formação do planeta, sua origem, passando pela formação da litosfera e a
movimentação das placas tectônicas, acarretando a formação de grandes cadeias montanhosas, eras
geológicas e glaciações, até a atualidade com os agentes atuantes na modelagem do relevo, sendo
os principais a água e o vento, além do homem, podendo intensificar tais alterações.
O autor busca a todo momento, manter um diálogo junto ao aluno de maneira a prender sua
atenção, utilizando de uma linguagem elaborada, na qual sistematiza o conceito em sua construção,
mas sem se tornar simplista, de maneira clara e atraente ao aluno. Buscou-se ainda, trabalhar os
temas sempre que possível, junto à realidade dos educandos, de forma a tornar o assunto menos
abstrato, como quando ele trabalha a idéia de mudança do relevo pelas ações humanas, citando
exemplos de construção de cidades, grandes plantações e extrações de minérios (CARVALHO;
PEREIRA, 2006).
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Apesar de o autor aprofundar mais no conceito de relevo abordando de maneira mais ampla
juntamente com o agente água, de maneira a observar as alterações quanto à dinâmica da água
condicionada pelo relevo, quanto à remodelagem do relevo devido o agente água (CARVALHO;
PEREIRA, 2006), o conceito e principalmente suas formas são tratadas superficialmente, como
quando o autor apresenta a água como um dos grandes modeladores do relevo, quando diz:
Como a água é um dos grandes modeladores da crosta terrestre, toda essa dinâmica
que citamos acarreta uma série de conseqüências para a superfície terrestre: a água
esculpe montanhas, cava vales, carrega sedimentos, tirando-os de um lugar e
depositando em outro. Sem dúvida, é uma das principais responsáveis pela formação
das paisagens (CARVALHO; PEREIRA, 2006, p. 100).
No terceiro livro analisado, Geografia Crítica, o conceito de relevo começa a ser construído em
etapas. Primeiramente, os autores trabalharam as placas tectônicas, depois rochas e solos,
sucessivamente, mas é no capítulo 10 - Litosfera: as formas do relevo – que as discussões sobre o
conceito de relevo são apresentadas. Os autores iniciam o capítulo remetendo à realidade imediata
do aluno, como quando os mesmos observam a paisagem do bairro e da cidade e percebem
diferenças entre elas, áreas elevadas, inclinadas e planas que constituem o relevo. Neste momento, o
autor informa o conceito de relevo, assim “relevo pode ser definido como o conjunto das várias
formas da litosfera, ou da superfície terrestre” (VISSENTINI; VLACH, 2008, p.126). Mas apesar
dos autores terem apenas informado o conceito, eles retomam as discussões sobre a formação do
relevo paulatinamente, na medida em que apresentam suas formas, de maneira a construir o conceito
mais amplo para o relevo. O LD trabalha ainda a importância de se conhecer o relevo e toda a
dinâmica que envolve a formação do relevo e sua modelagem.
O LD, busca dialogar com o aluno fazendo comparações e analogias que são comuns a todos como
quando remete a “litosfera não como a casca de ovo intacta, mas sim toda trincada” (VISSENTINI;
VLACH, 2008, p.101), usando uma linguagem atraente, de forma a conduzi-lo à resposta ao que
foi indagado, o LD se torna acessível e adequado ao nível cognitivo do aluno, conseqüentemente,
um melhor aproveitamento por parte do aluno quanto ao que foi estudado. No sentido de aproximar
o texto do LD à realidade do aluno, os autores dão ênfase à importância do relevo, trabalhando
sobre o foco das atividades humanas exercidas sobre ele, dando exemplos próximos ao aluno como
na área da agricultura ou na construção estradas e casas (IDEM, 2008, p. 128).
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Os conceitos apresentados no LD estão de acordo com as concepções teóricas levantadas
anteriormente, embora os autores terem conceituado o relevo como as formas da litosfera,
trabalharam em seguida com a dinâmica envolvida na formação e transformação do relevo, dando
nome a essas forças atuantes de “forças internas e forças externas” (VISSENTINI; VLACH, 2008,
p.130), o que para GUERRA (2003) são chamadas de forças endógenas e exógenas. O LD
descreve de maneira clara cada um dos conceitos envolvidos citando diferentes exemplos de
maneira a facilitar o entendimento do aluno, como quando diferencia as forças atuantes na formação
do relevo:
As forças internas são aquelas que se originam no interior da litosfera (os
dobramentos que dão origem a montanhas, os abalos sísmico, os vulcões, etc.)...As
forças externas são aquelas que se originam na própria superfície terrestre, como o
clima, as águas (chuvas, rios, mares, lagos) e mesmo os seres vivos (animais e
vegetais), que, de uma forma ou de outra, desgastam ou modificam o relevo
(VISSENTINI; VLACH, 2008, p.130).
Embora, não aprofunde os conceitos, os autores trabalham de maneira objetiva a facilitar o
aprendizado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As análises nos permitiram identificar que os livros trabalham o conceito relevo de maneiras
diferentes, alguns de forma meramente informativa e centralizada em um único capítulo ou unidade
onde o conceito apresenta-se pronto, sem favorecer a construção do mesmo pelo aluno. Outros
autores permitiram a construção do conceito junto ao educando, diluindo todo o conteúdo em
vários capítulos ou unidades, de forma a interligar os assuntos, amarrando os conceitos, fazendo
com que o aluno construa um conhecimento significativo.
Quanto à clareza e adequação da linguagem apresentada nos LDs, observamos os dois extremos,
livros com linguagem simples e objetiva, e livros com uma linguagem elaborada, mas de fácil
entendimento pelo aluno, de forma a prender sua atenção, instigando seu interesse ao assunto
discutido. Contudo, em todos os casos consideramos a linguagem adequada ao nível cognitivo a
qual os LDs se destinam. Verificamos que em alguns textos o autor tenta aproximar os elementos do
espaço à realidade do aluno, porém ainda não conseguiram fazê-lo de maneira a tornar o ensino
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menos abstrato. Talvez essa discussão ainda precise ser mais elaborada a fim de tornar os ensino
mais próximo ao aluno.
Notou-se que na maior parte dos livros abordam o relevo associado à hidrografia, buscando falar
dos agentes que modelagem a superfície, contudo em alguns casos o conceito remete-se apenas a
forma, sem considerar os processos, entre eles naturais e antrópicos. Tal prática, como enfatizamos
anteriormente, podem limitar o aprendizado dos alunos, com pouco aprofundamento nos conceitos
e concepções, distanciando das orientações postas pelo PCN e por alguns autores do campo da
Geomorfologia.
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