Norma, variação e ensino: a concordância verbal

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Cadernos de Letras da UFF – Dossiê: Literatura, língua e identidade, no 34, p. 31-41, 2008
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NORMA, VARIAÇÃO E ENSINO:
A CONCORDÂNCIA VERBAL
Edila Vianna da Silva (UFF)
RESUMO
Este artigo apresenta os resultados da pesquisa sobre
o emprego das normas de concordância verbal em
redações escolares. Com base nesses resultados, propõe, outrossim, reflexões sobre o papel da escola no
desenvolvimento da competência dos alunos na produção de textos.
PALAVRAS-CHAVE: Concordância verbal; variação; ensino.
Introdução
É
significativo o número de estudos que focalizam a natureza do
ensino de Língua Portuguesa oferecido nas escolas, principalmen
te em relação ao tratamento das questões gramaticais. O problema
situa-se não só no conteúdo desse ensino, mas também no modo de transmiti-lo, tendo em vista que a sistematização deve passar pela reflexão.
A escola deve valorizar as peculiaridades lingüístico-culturais de seus
alunos, e qualquer atuação baseada em preconceito lingüístico deve ser
desqualificada. Por outro lado, tem a obrigação de garantir aos estudantes o
acesso às variantes de prestígio, “em nome do respeito à qualidade cidadã do
indivíduo que se senta nos bancos escolares.”1
Na avaliação dos professores, no entanto, os estudantes, mesmo depois de longos anos na escola, não empregam as estruturas gramaticais da
1
NEVES, Maria Helena de M. Que gramática estudar na escola? São Paulo: Contexto, 2003.
p. 17.
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Silva, Edila Vianna da. Norma, variação e ensino: a concordância verbal
norma de prestígio, adequadas aos registros formais da interação social e
não conseguem produzir textos que cumpram suas funções comunicativas.
Ora, se essas estruturas não integram a competência dos alunos, apesar do esforço da escola para o seu ensino, estariam elas afastadas do uso
normal dos falantes e os textos refletiriam tal tendência ou a causa do fato
se situaria na ineficácia dos métodos de ensino empregados?
Identificar as causas desse conflito constitui uma etapa importante
na direção de um ensino da língua em seu propósito de assegurar ao estudante o desenvolvimento da competência em leitura e produção textual.
Este o motivo pelo qual se iniciou uma investigação, na busca de elementos que permitissem reflexão sobre o tema. Organizou-se, então, um estudo piloto em redações de escolares, com a finalidade de avaliar a competência de alunos de uma escola pública em relação ao emprego de estruturas preconizadas pela gramática no que se refere à concordância verbal, bem como a relação entre essa competência e a de produção textual.
O fato gramatical a ser analisado – concordância verbal – foi escolhido por tratar-se de tema bastante valorizado nas salas de aula – principalmente no que se refere à avaliação da produção textual dos alunos – em
função de sua forte caracterização sociolingüística: o não-uso da marca
explícita de concordância representa um traço de diferenciação social, de
modo geral estigmatizante.
Os estudos sociolingüísticos
As gramáticas normativas preceituam, como regra geral, em relação
à solidariedade entre o verbo e o sujeito, “a variabilidade do verbo para
conformar-se ao número e à pessoa do sujeito”.2
Por outro lado, inúmeros trabalhos com foco na língua oral demonstram a expressiva variabilidade que envolve a concordância verbal.
Entre eles, os estudos sociolingüísticos revelam que a concordância verbal constitui um fato variável, isto é, a concordância pode ser formalmente marcada ou não em função de fatores de natureza lingüística ou de
caráter sociocultural.
2
CUNHA, C.; CINTRA, L. Nova gramática do português contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1985. p. 485.
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No que respeita aos falares do Estado do Rio de Janeiro, os resultados de alguns desses estudos da modalidade oral comprovam a produtividade da não-concordância nas chamadas variedades populares do Estado e a alta produtividade da concordância na fala de locutores com
alto grau de escolaridade.3
Tanto em relação às variantes populares, quanto no que concerne
aos dados produzidos por falantes escolarizados, os referidos estudos informam que são os fatores lingüísticos os mais influentes no condicionamento das ocorrências. O cancelamento das marcas de concordância é
basicamente condicionado pela posição do sujeito em relação ao verbo,
pela saliência fônica e pelo paralelismo nos níveis oracional e discursivo.
No que se refere à realização da regra, de acordo com Graciosa4, a concordância é bastante produtiva e acentuadamente favorecida no contexto
em que o sujeito está anteposto e próximo ao verbo e o verbo se encontra
em uma seqüência discursiva.
Considerando-se, então, as informações dos estudos citados, conclui-se que a concordância verbal está solidamente ligada ao conceito da
variedade lingüística que está em exame e que, em termos gerais, diz
respeito à adaptação de ordem morfológica da forma verbal com o número e a pessoa do sujeito.
A pesquisa em redações escolares
Retornando ao questionamento desencadeador desta pesquisa, estariam os estudantes realizando essa norma geral e/ou as especiais dela decorrentes em seus textos?
Para responder à indagação, constituiu-se, então, um corpus formado de 20 textos narrativos de alunos de séries de finais de ciclos, a saber,
da oitava série – atual nono ano – (quando se procedeu à recolha do
corpus, série era a denominação usada na divisão do ciclo de estudos fundamentais) e da segunda série do ensino médio, uma vez que o estudan3
4
VIEIRA, Sílvia R. Concordância verbal. In: VIEIRA, S.; BRANDÃO, S. (Org.) Ensino
de gramática: descrição e uso. São Paulo: Contexto, 2007. p. 87.
GRACIOSA, D. Concordância verbal na fala culta carioca. 1991. Dissertação (Mestrado em
Língua Portuguesa)_Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1991.
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te, nessas fases, já adequou sua gramática às normas convencionais da
escrita. Saliente-se que a pesquisa ainda não terminou. É pretensão da
autora continuar a investigação com dados de 10 redações de quarta
série (quinto ano), que acabaram de ser integradas ao corpus.
Procedimentos metodológicos
A escolha de textos da modalidade escrita para a constituição do
corpus deveu-se à crença de que “a influência da escola na aquisição da
língua não deve ser procurada no dialeto vernáculo dos falantes – em seu
estilo mais coloquial –, mas sim em seus estilos formais monitorados.”5
Pretendeu-se, dessa forma, não só observar o grau de assimilação das
estruturas da norma de prestígio nos textos dos estudantes, mas também
verificar uma possível progressão na sua competência lingüística no que
concerne à concordância, razão para se analisarem redações de alunos que
estavam em ciclos de estudos progressivos.
A opção pela elaboração de textos narrativos foi ditada por ser este
o modo discursivo que, em geral, a escola privilegia e por ser forma acessível a todos os níveis de escolaridade. O tema da narrativa, história com
elementos que criam suspense, é recorrente na experiência dos jovens
modernos e foi proposto às turmas depois de uma discussão prévia.
Como a pesquisa se baseia no uso normal da língua, procedeu-se à
recolha do corpus em uma escola pública tradicional de Niterói, localizada
em bairro de classe média, na área urbana e central do município, mas que
atende a alunos de diversos bairros da cidade e municípios adjacentes, como
São Gonçalo e Itaboraí. Conseqüentemente, o nível socioeconômico dos
informantes apresenta certa heterogeneidade, cujos traços foram identificados por meio de uma ficha, distribuída para cada aluno no ato da produção
do texto. Nesse documento, os alunos, além da idade e do sexo, prestavam
outras informações, como o local de residência, os tipos de texto com que
mais freqüentemente entravam em contato, as preferências no que se refere
aos meios de informação, as formas de lazer preferenciais, a freqüência à
biblioteca, o uso – ou não – da Internet.
5
BORTONI-RICARDO, S. M. Nós cheguemu na escola, e agora?: sociolingüística & educação.
São Paulo: Parábola, 2005. p. 130.
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Procurou-se, desse modo: a) identificar os contextos de solidariedade entre verbo e sujeito mais freqüentemente empregados nos textos dos
alunos; b) determinar quantitativamente a realização de concordância x
não-concordância e c) detectar, com o auxílio dos estudos sociolingüísticos,
possíveis fatores intervenientes na realização dessa regra variável.
Para a realização da análise, procedeu-se à recolha, nas redações, das
formas verbais de terceira pessoa do plural, o que indicou o emprego dos
seguintes contextos exteriorizadores da relação de concordância verbo-sujeito nas redações em exame: sujeito formado de um ou mais núcleos (simples,
no plural, ou composto); sujeito anteposto ou posposto em relação ao verbo;
o verbo na voz passiva pronominal com sujeito no plural; verbos impessoais;
verbos com o pronome relativo como sujeito com antecedente plural; verbo
ser, com sujeito e/ou predicativo no plural.
Análise dos resultados
Oitava série
Os resultados da análise de aspectos da concordância verbal referentes à oitava série estão representados na tabela a seguir. Foram recolhidas
235 estruturas distribuídas pelos contextos assinalados na tabela.
Contexto /Ocorrências
A–1
Seguem o padrão
0%
Não seguem o padrão
100 % ( 1 ocorrência)
B – 207
97% (201 ocorrências) 3% (6 ocorrências)
C–1
100% (1 ocorrência)
0
D–1
100% (1 ocorrência)
0
E–7
100% (7 ocorrências)
0
F – 11
100% (11 ocorrências)
0
G– 5
100% (5 ocorrências)
0
H– 2
100% (2 ocorrências)
0
Tabela 1 – Concordância em alunos da 8ª série
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Para melhor compreensão dos fatos, A e B referem-se a sujeito
simples, respectivamente, posposto e anteposto ao verbo; C, sujeito
composto anteposto ao verbo; D refere-se à concordância entre o verbo na passiva pronominal e o sujeito; E, ao uso dos verbos impessoais;
F diz respeito à concordância com o relativo; G e H referem-se à concordância do verbo ser com o sujeito ou predicativo, como em “o tesouro não eram os brinquedos”.
O exame da tabela indica que, em verdade, os alunos não apresentam dificuldades em relação ao uso das formas da variante padrão. De
modo geral, empregam as marcas da concordância verbal preconizadas
pelas gramáticas nos textos que produzem.
A tabela informa-nos, porém, que o repertório de estruturas
oracionais empregadas nos textos é bastante restrito; em 235 orações,
houve 207 ocorrências de B (sujeito simples anteposto ao verbo), o que
significa 89% do corpus analisado. Isso significa que os estudantes empregam basicamente na escrita o contexto sujeito anteposto e próximo ao verbo e
que a concordância é a sua opção preferida. Em apenas 3% desse contexto
(6 ocorrências em 207), as formas usadas não seguiram o padrão formal,
como, por exemplo, em “um deles não foram”, estrutura repetida três vezes na mesma redação, em que o adjunto plural e não o núcleo do sujeito
foi o elemento chave da concordância; “o avô levou os meninos para ver o
baú” , caso em que não houve a flexão do infinitivo; e outra vez “um de
seus colegas acharam”.
Em apenas uma redação, ocorreu o emprego de verbo na passiva
pronominal e de acordo com a norma preconizada nas gramáticas (concordância do verbo com o sujeito passivo): “encontraram-se as dicas
debaixo do pote”. Nessa mesma narrativa, aparece a única ocorrência
de A no corpus (sujeito simples posposto ao verbo) e sem a marca de plural:
“Existia várias lendas”. De acordo com os estudos variacionistas já citados, a posposição do sujeito ao verbo é fator condicionante da nãorealização da regra de concordância verbal no discurso coloquial. Comprova-se, nesse caso, a interferência da modalidade oral no discurso escrito, fato previsível principalmente nessa fase escolar.
Interessante notar que, no emprego dos verbos impessoais (haver, para expressar existência, e fazer, em expressões de tempo), em que se poderia
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prever a influência da oralidade na modalidade escrita, não houve fuga
à norma gramatical: “fazia dois dias que os jovens...”; “havia muitas coisas no baú...”
Em relação ao contexto com haver (impessoal), observa-se, na maioria das narrativas, a substituição pelo verbo ter, fato quase categórico na
modalidade oral, em todos os estilos, monitorados ou não. Exemplificam
o fato as frases: “no baú tinha outra dica”; “terá uma punição para quem
não seguir...”; “lá tinha um baú”.
No que se refere à concordância do verbo com sujeito representado
por pronome relativo (F), as onze ocorrências manifestam o uso
normativo, como em: “as crianças que sumiram”; “as coisas que estavam
na caixa” etc. Por outro lado, conclui-se que o emprego do pronome e,
por conseqüência, das orações relativas, no corpus, é muito restrito, pois
foram registradas somente onze ocorrências nas redações examinadas.
Os resultados relativos à concordância verbal demonstram, então,
obediência quase total às normas do chamado padrão formal e não, como
se previa, de acordo com os estudos variacionistas, uma alta produtividade do cancelamento da marca de número nos textos pesquisados.
Apesar dessa conformidade ao padrão na concordância verbal, grande
parte dos textos analisados apresenta dificuldades para a leitura, pois manifestam uso precário dos sinais de pontuação e demonstram pouco conhecimento dos elementos de coesão lexical da parte de seus autores.
Os períodos elaborados são predominantemente coordenados ou simples, uma vez que os elos de subordinação são pouco empregados. As palavras e estruturas sintáticas são repetidas à exaustão, muitos vocábulos são
empregados com o sentido inadequado. Conseqüentemente, pode-se inferir
que o repertório vocabular dos alunos é bastante restrito.
Além disso, poucos textos podem ser considerados criativos, apesar
de o tema escolhido, uma história de suspense, ser uma experiência constante no universo adolescente.
As primeiras análises do corpus da oitava série levam a crer que esses
alunos não têm prática de atividades de escrita e, em muitos casos, da
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leitura. Fica a impressão de que o ensino das normas gramaticais é realizado à parte do trabalho com o texto. É o tipo de trabalho fadado ao
insucesso, no que concerne à finalidade do ensino de português, por não
levar ao desenvolvimento da capacidade de expressão dos alunos.
As fichas de caracterização sociocultural corroboram essa conclusão, pois nenhum aluno de oitava série indicou leitura freqüente de qualquer gênero de texto e a ida à biblioteca para eles acontece apenas se o
professor o exige. A escrita se resume a diários, no caso das alunas, ou de
troca de mensagens pela Internet.
Ensino médio
Observe-se a tabela a seguir com os resultados da análise dos textos
do EM:
Contexto/(ocorrências)
Seguem o padrão
Não seguem o padrão
A – 10
70% (7 ocorrências)
30% (3 ocorrências)
B – 152
95% (144 ocorrências)
5% (8 ocorrências)
C–1
100% ( 1 ocorrência)
0
D -3
100% (3 ocorrências)
0
E-7
71% (5 ocorrências)
29% (2 ocorrências)
F – 12
92% (11 ocorrências)
8% (1 ocorrência)
G – 16
94% (15 ocorrências)
6% (1 ocorrência)
H – 17
100% (17 ocorrências)
0
Tabela 2 – Concordância em alunos do Ensino Médio
Verifica-se, de pronto que, embora os resultados não sejam muito
diferentes, há maior variedade de estruturas frasais empregadas, o que se
previa pelo fato de os alunos estarem, há mais tempo, envolvidos em
atividades de aprendizagem da língua portuguesa.
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Continua a haver uma concentração de orações com a estrutura (B)
sujeito simples anteposto ao verbo, com quase 100% de ocorrências com as marcas de concordância. Deve-se observar, no entanto, que os textos mostram 10 ocorrências de sujeito simples posposto ao verbo (A), e como era
de se esperar diminui o percentual de estruturas preconizadas pela disciplina gramatical: 70 %, conforme os exemplos: “começou a acontecer várias
coisas”; “disse seus netos”.
O uso da passiva pronominal (D) também teve um aumento; passou
de uma ocorrência na oitava série a três no EM e todas de acordo com a
norma, o que demonstra o papel efetivo da escola na assimilação da regra
que, em geral, não é realizada na linguagem coloquial: “não se encontravam tesouros escondidos”, “acharam-se os dois jovens”.
No caso dos verbos impessoais (E), houve uma mudança tênue entre
os textos de 8.ª série e os de EM. Naqueles, como se demonstrou, todas as
estruturas estavam de acordo com o padrão; nestes, o percentual baixou
para 71% do universo considerado: “haviam muitas coisas no baú”, que indica pessoalização no uso do verbo haver, freqüente na linguagem coloquial.
O uso do relativo (F) continua praticamente no mesmo nível, com
ligeira diminuição de percentual: passou de 100 % de estruturas de acordo
com o padrão, na oitava série, para 92% no EM.
Interessante notar que não ocorrem estruturas com sujeito composto posposto em nenhum dos textos; a posposição não parece ser uma
ordem preferida pelos alunos em suas composições.
Constatou-se, por meio das fichas de avaliação, que os alunos do
EM, em sua maioria, integram a classe média (com suas divisões) e têm
acesso a livros, jornais, revistas e internet. Ainda que o aceso a esses recursos seja relativamente fácil, a rede é o meio principal não só para a comunicação interpessoal, mas também para a obtenção de informações. Observa-se que, em muitos casos, é a única fonte de conhecimento e de prática de leitura com que contam esses jovens. Apenas alguns afirmaram ler
livros, jornais e revistas e, assim mesmo, eventualmente.
Essa carência de boa leitura reflete-se nos textos dos estudantes. Além
de a paragrafação dos textos produzidos ser confusa, pelo excesso ou pela
escassez, utilizam-se poucos elementos coesivos, especialmente, de natu-
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reza lexical, como sinônimos, hipônimos etc., bem como advérbios e conjunções.
Nota-se, nos textos, a ausência quase absoluta de períodos compostos
por subordinação, que mais claramente estabelecem as relações lógico-semânticas do texto. Soma-se a isso, também em relação às redações do EM, a pobreza de vocabulário e o uso repetitivo de palavras para a designação dos seres
e das coisas.
Pôde-se observar, igualmente, em relação ao mecanismo em análise,
que não há diferença significativa entre o desempenho lingüístico dos alunos das duas séries examinadas.
Considerações finais
Retomando o questionamento inicial, a análise dos textos mostrou que o percentual de variantes de concordância na norma padrão é
muito alto e que, nesse particular, a escola está cumprindo seu dever.
Ninguém pode dizer que “assegurar um lugar para tratamento da norma-padrão na escola constitua manifestação de preconceito e
autoritarismo.”6 Mas não tem sido o bastante para ampliar a competência lingüística dos alunos, no sentido da percepção das possibilidades
que a língua põe à disposição do usuário e muito menos no que se refere
à produção de textos eficazes do ponto de vista da comunicação.
É obviamente importante o trabalho da escola na transmissão das
lições gramaticais, mas não é a memorização de regras o meio que propiciará ao estudante melhor desempenho na produção de textos. As
atividades em sala de aula devem ser, primordialmente, voltadas para a
leitura, compreensão e produção de textos, ocasiões adequadas para o
trabalho não só com as estruturas de concordância verbal, mas com os
demais recursos gramaticais e expressivos para a construção do sentido
global do texto.
6
NEVES, op. cit. p. 157.
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41
Abstract
This paper presents the results of a study on verbal
agreement based in written texts produced by
students of a public school. We discuss, moreover,
the role of school teaching on the development of
students competence in textual production.
Keywords: Verbal agreement; linguistic variation;
Portuguese teaching.
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