guia de estudos vii modep

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[GUIA DE ESTUDOS
VII MODEP]
Congresso de Berlim (1948)
A Situação Geopolítica na Península Balcânica
Elaborado por:
Miguel Motta de Melo
Bernardo Aguinaga
Bernardo Pessoa
Carlos Eduardo Jaccoud
Edição por:
Bernardo Portilho
Mariana Mariani
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Sumário
1.
Carta aos Delegados .................................................................................................. 4
2.
Nacionalismo nos Bálcãs .......................................................................................... 5
2.1. O que é uma nação? ............................................................................................... 5
2.2. As mudanças no Império Turco-Otomano e as insurgências separatistas ............. 6
3. Histórico do Conflito .................................................................................................. 12
3.1. O Século XIX nos Bálcãs .................................................................................... 12
3.2. Escalada de Tensões ............................................................................................ 17
3.3. A Guerra Russo-Turca ......................................................................................... 20
3.4. O Tratado de São Estevão .................................................................................... 25
4. A Geopolítica Européia .............................................................................................. 27
6. Anexos: ....................................................................................................................... 29
7. Bibliografia: ................................................................................................................ 30
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1. Carta aos Delegados
Caros delegados,
É com enorme satisfação que os recebemos no Congresso de Berlim do VII MODEP,
que acontecerá do dia 30 de abril ao dia 4 de maio. Nesse, os senhores estarão
representando os delegados das principais nações européias e terão que discutir o
delicado
tema
da
Guerra
Russo-Turca
e
seus
desdobramentos.
Para um bom domínio do tema, é essencial que os senhores leiam o guia de estudos e
vão além, aprofundando seus conhecimentos.
Vale lembrar que o comitê se passa em 1878. Assim, é imprescindível que os delegados
possam se inserir no contexto do século XIX para representar com sucesso seus países,
compreendendo a divisão de poderes da época e a forma como a diplomacia era feita no
período.
O comitê transcorrerá com moderação grega, visando respeitar as diferenças temporais e
os cargos ocupados pelos senhores delegados. Ademais, tecnologias que não existiam
em 1878 (celular, notebook, tablet, entre outros) não serão aceitas dentro do comitê.
Ainda respeitando os fatos históricos, o comitê de imprensa terá autorização para
interagir com os delegados, podendo vir a alterar tendências do comitê. Por isso,
estejam sempre atentos.
Preparem-se para representar seus países da melhor forma possível e alcançar os
objetivos de suas nações.
Estamos a disposição para tirar quaisquer dúvidas que couberem. Bons estudos e muito
obrigado por escolher o Congresso de Berlim.
Atenciosamente,
Seus diretores Bernardo Pessoa, Bernardo Aguinaga, Carlos Edardo Jaccoud e Miguel
Motta.
P.S.: o posicionamento dos países será entregue a cada representação por e-mail.
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2. Nacionalismo nos Bálcãs
2.1. O que é uma nação?
Para a compreensão dos movimentos nacionalistas na península balcânica no século
XIX, é de suma importância os conceitos de nação e de nacionalismo na visão de um
homem da era do liberalismo clássico.
O Dicionário da Real Academia espanhola de 1884 definiu nação como “um Estado ou
corpo político que reconhece um centro supremo de governo comum e o território
constituído por esse Estado e seus habitantes considerados como um todo”, ou seja, a
nação é constituída de um estado soberano sobre um território e daqueles que o habitam.
O que falta nessa definição é a ligação histórica, linguística e étnica que faz cada
indivíduo pertencer a tal povo, viver em tal território e acreditar em tal Estado.
Acrescentando essa identificação cultural entre os indivíduos, parece – e somente parece
– que resolvemos o problema de definir o que é uma nação.
No Entanto, quando observamos, por exemplo, o Reino Unido, percebemos que essa
incontestável e tradicional nação é composta por vários povos diferentes com suas
línguas próprias. Podemos afirmar que um Estado macronacional, onde um povo maior
(o inglês) acolhe e absorve povos menores (o escocês ou o Irlandês) é totalmente
normal, uma vez que esses povos sozinhos não seriam capazes de estabelecer uma
nação própria viável e só teriam a ganhar se juntando a uma nação maior. Além disso,
em alguns pontos da Europa, povos distintos estão tão misturados que parece impossível
separá-los em diferentes territórios nacionais.
Na declaração Francesa de direitos de 1795 consta que ‘‘Cada povo é independente e
soberano, qualquer que seja o numero de indivíduos que o compõe e a extensão do
território que ocupa. Essa soberania é inalienável’’. Entretanto, podemos perceber que
tal declaração, de certa forma, não tem fundamento real se pensarmos no quesito da
viabilidade de um Estado soberano com número demasiadamente reduzido de
indivíduos, ou com seu território infinitamente fragmentado. O que faz uma nação ser
viável? Para que um povo seja finalmente classificado como pertencente a uma nação,
tem de haver, na pratica, alguns critérios.
O primeiro deles é ter uma língua oficial usada em toda a extensão do território, mesmo
que essa língua não seja amplamente utilizada no dia a dia do cidadão, como já foi o
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caso da Itália. Isso mantém a comunicação possível entre todos aqueles de mesma
nacionalidade, e por muitas vezes cria um forte sentimento de identificação.
O segundo critério é a ligação histórica da população com um Estado comum que tenha
durado por muito tempo ou que ainda seja existente. Ninguém contesta, por exemplo, as
nacionalidades francesa ou russa, pois essas estão consagradas num povo que está há
muitos anos sob a mesma bandeira.
O terceiro é que haja uma identificação étnica muito evidente entre toda a população, ou
que as diferentes etnias coexistentes não tenham atritos históricos que possam causar
conflitos de grande magnitude. Seria irreal pensar que uma nação pudesse permanecer
estável se fosse formada por grupos étnicos conflitantes.
O quarto e ultimo critério é que o povo comprove sua capacidade de conquista. Mesmo
que através da força, se representantes de um povo chegarem ao poder de seu governo,
as outras nações acabariam inevitavelmente por reconhecer esse povo como nação
independente. Tal critério se torna claro nas lutas de independências nas Américas, em
que há a criação de um Estado a partir do fim da relção existente entre a colônia e a
metrópole.
A partir do conceito de nação estabelecido, o entendimento do nacionalismo vem de
forma natural, sendo este a ligação que o indivíduo tem com sua nação e sua vontade de
participar dela.
2.2. As mudanças no Império Turco-Otomano e as insurgências separatistas
No fim do século XVIII e início do XIX, um grupo de reformistas que defendiam a
restauração de antigas tradições e formas de governar ascendeu ao poder do Império
Otomano. Esses reformistas acreditavam que o declínio do Império poderia ser parado
se as instituições e ações do governo voltassem a ser como eram no auge da dominação
otomana no século XVI. Portanto, não foram feitas mudanças significativas no que diz
respeito ao sistema de millets ou províncias1, uma vez que existia uma relação de
interdependencia entre o mesmo e tais instituições. Esse é considerado um dos maiores
erros desse grupo, que, na tentativa de reviver os velhos costumes, se esqueceu
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O Sistema de Millets ou províncias foi a forma de divisão administrativa do Império Otomano durante
séculos. Essa divisão tinha seu foco nas populações governadas, utilizando-se de certos critérios, como
religião e etnia, para determinar de qual província cada indivíduo pertencia.
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totalmente da questão do nacionalismo, que, embora não existisse durante o apogeu do
império, era um fator crescente no fim do século XVIII e início do XIX .
O antigo sistema de províncias tinha uma série de problemas no que diz respeito à
divisão de áreas administrativas. Esta era feita, em alguns casos, por etnias, não levando
em consideração religião e costumes como aconteceu no caso da Armênia. Em outras
ocasiões, o único critério era a religião, deixando de lado as diferenças étnicas e
linguísticas, como ocorreu na grande província de Rum, que englobava todos os povos
cristãos ortodoxos da região.
No entanto, esse sistema de millets também tinha algumas vantagens em relação à
autonomia dos povos não muçulmanos. Cada província tinha o direito de exercer suas
próprias leis, de modo que estas se adaptavam mais ao povo governado do que às leis
turcas do centro do império. Outro fator que garantia certa independência era a
arrecadação e a utilização dos impostos, também feita de forma individual pelos
diferentes governos.
Algo que não deve ser esquecido é que essa divisão era feita de forma a deixar os
turcos-muçulmanos em posição de superioridade, sendo o Sultão a entidade de poder
máximo em toda a extensão do Império Otomano. O líder do millet de Rum, por
exemplo, respondia diretamente ao Sultão, assim como todos os líderes regionais,
demonstrando o domínio muçulmano sobre os demais povos de diferentes religiões nos
territórios do império.
No fim do século XVIII ocorreram a Primeira e a Segunda Guerra Russo-Turca, ambas
marcadas por algumas das piores derrotas da história do Império Turco Otomano. Além
da significativa perda de territórios para os Ursos do Norte2, os tratados assinados ao
fim das guerras fizeram com que a Russia fosse nomeada protetora dos povos ortodoxos
no Império Otomano. O impacto que isso trouxe foi o início do desmantelamento do
sistema de províncias, concedendo aos povos habitantes do millet de Rum maior
liberdade do domínio muçulmano. Como consequência dessa liberdade, os movimentos
nacionalistas nos Bálcãs ganharam força. Foi então que, em 1804, começaram as
revoltas sérvias que aliavam milícias locais a administradores enviados de istanbul em
busca de garantias de autogoverno. Na tentativa de ganhar forças, os revoltosos
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Ursos do Norte é uma maneira de se referir ao povo russo
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chegaram a tentar alianças com o imperador austriaco, mas falharam. Foi da Russia que
veio o real apoio ao movimento, que chegou a enviar tropas para a região e a declará-la
um protetorado. No entanto, as tropas logo retornaram à Rússia quando, no inverno de
1815, Napoleão avançava sobre seu território.
Em 1821, a população grega se revoltou contra o Império Turco, mas as forças estatais
conseguiram conter o movimento separatista. O mais difícil de ser contido não foram os
revoltosos em si, mas a pressão internacional, proveniente principalmente da Rússia,
para que o povo grego tivesse seus direitos garantidos.
Os protetores dos cristãos ortodoxos chegaram a considerar uma intervenção, ideia que
acabou sendo abandonada pelo governo do Czar Alexandre I, pressionado a não
desrespeitar o equilíbrio de poderes estabelecido no Congresso de Viena (1815). Além
disso, os helênicos que lideravam a revolta planejavam proclamar a independência de
sua nação sobre um território mais abrangente, que incluía a Rumélia, local de maioria
não grega, o que tirava parte da legitimidade do movimento.
No entanto, as áreas de ocupação grega firmaram resistência contra as tropas do Sultão.
Simultaneamente, pressionado pelos governos de países europeus, Mahmud II3 resolveu
aumentar a repressão armada aos revoltosos, chegando ao ponto de se aliar ao Egito em
uma intervenção externa em seu território. As tropas de Mehemed Ali, Quediva egípcio,
esmagaram os grupos de resistência grega na região do Peloponésio e tomaram Atenas
de volta para o domínio muçulmano. Por mais que os grandes impérios quisessem
manter o status quo na peninsula balcânica, a opinião pública criticava a passividade de
seus governos perante a opressão sofrida pelos cristãos helênicos.
Formaram-se, então, vários grupos de apoio à causa grega, principalmente na França e
na Grã Bretanha, que mandavam dinheiro, armamentos e voluntários para os revoltosos.
Mediante tal pressão da opinião pública, e principalmente temendo a expansão da força
imperial egípcia (que já controlava o Mar Egeu), as potencias europeias lideradas pela
Russia e Grã Bretanha resolveram agir. A ação veio na forma de uma intervenção
internacional conjunta, reunindo as forças tecnologicamente mais desenvolvidas do
ocidente: as marinhas da Rússia, da França e principalmente do Reino Unido.
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Sultão do Império Otomano durante o período de 1808 a 1839
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A função inicial da frota era de exercer um bloqueio naval à circulação das tropas do
Quediva, forçando assim uma futura retirada. O que ocorreu, entretanto, foi um pouco
diferente, porem ainda dentro do previsto: uma batalha sanguinária na Baía de Navarino
foi travada, em 1827, entre as tropas muçulmanas e aquelas que clamavam pela defesa
dos cristãos. O resultado foi uma vitória esmagadora das forças europeias, que retiraram
os egípcios da ocupação das zonas helênicas em 1828. Emergiu, então, outra questão: o
que fazer com a recem ocupada ‘‘Grécia’’?
Devemos ressaltar que, nesse mesmo ano, deu-se início a mais uma Guerra Russo-Turca
(1828-1829), sendo a vitória, mais uma vez, das tropas do Czar. Nesse contexto, foi
assinado o Tratado de Adrianópla, que concedia formalmente à Rússia a conquista de
alguns territórios, a condição de protetora de outros e a promessa do Sultão de permitir
maior autonomia nas áreas eslavas de seu império.
As potências europeias que relutavam em conceder independência ao povo grego por
conta do princípio da não alteração no equilíbrio de poderes na Europa perceberam que
o Tratado de Adrianópla abria precedente para que a Russia proclamasse a área de
ocupação helênica como seu protetorado. Isso possibilitaria a grande mãe dos povos
eslavos expandir e intensificar suas rotas de comerio no mediterrâneo, trazendo um real
desequilíbrio de poderes.
Dessa forma, a ideia de obedecer a opinião pública e dar ao povo grego seu estado que
lhe era de direio pareceu muito menos nociva à ordem internacional do que a
possibilidade de uma Russia ainda mais forte. Logo, em 1830 foi acertado um consenso
entre os países europeus e o Sultão sobre a formação do Estado Nacional Grego.
Diferente da republica aos moldes americanos, que os revoltosos originais clamavam,
foi instalada uma monarquia absolutista cujo jovem bávaro Otão, de 16 anos, era o rei.
Junto consigo, Otão trouxe um grupo de administradores que passaram todo o período
regencial tentando estabelecer o país durante a difícil transição da dominação
estrangeira para a total independência.
É evidente que, mesmo com a retirada de suas tropas em 1832, Grã Bretanha, França e
Russia continuaram a exercer grande influencia na política da recém-formada nação
balcânica. Mais tarde, em 1862, a impopularidade de Otão I era incontestável, e o jovem
bávaro foi então afastado por um golpe militar, no entanto, as grandes potências não
atenderam ao pedido da população nacionalista e um novo monarca foi posto no poder.
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O dinamarquês Jorge I se tornou rei do povo helênico, em 1863. Apesar de ter tentado
ser aceito por seu povo, Jorge I nunca deixou de ser visto como um estrangeiro.
As reformas tradicionalistas continuaram a ser implementadas até que outro grupo de
políticos com uma visão diferente para o futuro de sua nação começou a ganhar poder
durante o sultanato de Mahmud II. Desde o início desse reinado, marcado pela tentativa
de ocidentalização do império, começou uma era chamada de Tanzimat, na qual foram
feitas reformas nos sistemas militar, social e político em uma escala nunca antes vista
no Império Otomano.
A principal característica dessas mudanças foi sua influência do pensamento ocidental,
garantindo a todos habitantes direitos e obrigações civis iguais, sejam eles muçulmanos
ou não. Esse processo foi marcado pela Guerra da Criméia, considerada a maior vitória
otomana sobre a Rússia no século XIX. A explicação da vitória é simples: Grã Bretanha
e França entraram oficialmente na guerra do lado Otomano. A presença das tropas
ocidentais e a grande ajuda que as mesmas trouxeram, fez com que a influência do
pensamento europeu e a pressão internacional se intensificassem sobre a política local.
Os anos que seguiram à guerra ficaram conhecidos como o auge da Era Tanzimat, por
conta principalmente do Édito Imperial de Reforma, escrito em 1856. Este documento
formalizava a ocidentalização do Império Turco, criando tribunais mistos de diferentes
religiões e millets, publicando o código de leis também nas línguas das minorias, e
permitindo que qualquer cidadão exercesse cargo publico, além de muitas outras
mudanças de igual importância.
Algumas dessas mudanças não agradaram nem um pouco as populações não
muçulmanas, que consideravam uma humilhação o fato de líderes religiosos terem de
fazer um juramento de devoção ao Estado. Além disso, a obrigatoriedade do serviço
militar e a revisão dos privilégios religiosos que algumas províncias tinham sobre as
outras, com a finalidade de que todos tivessem direitos iguais, não mexeu apenas com
as representações politicas dos não muçulmanos, mas também com seu cotidiano.
Como consequencia do édito e da Revolução Grega4, os movimentos nacionalistas nas
províncias adjacentes, como na região dos povos búlgaros e romenos, ganharam corpo.
No principado da Bulgária, mais proximo ao centro do império, a primeira grande
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Quando escrito Revolução Grega, entende-se o processo de libertação da dominação Otomana que o
povo helênico passou durante as primeiras décadas do século XIX.
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revolta só veio no ano de 1875, mesmo que tratados como o de Adrianópla tenham
concedido maior autonomia, e que o declínio da força estatal fosse evidente. Já nos
principados da Moldavia e da Valaquia, uma revolução com ajuda russa começou logo
após a independencia do povo helenico. Os exercitos do czar Nicolau I ocuparam a
região por diversas vezes de 1829 até meados de 1856, quando a retirada foi definitiva.
Durante a metade do século XIX, uma jovem elite de novos políticos romenos passou a
defender a não interevnção russa e a unificação de seus territórios em uma grande
Romênia. Mesmo com a última retirada das tropas russas em 1856, por conta da Guerra
da Crimeia, a política dos dois pricipados, que almejavam virar um, continuou a receber
grande influência do Império Czarista. Os monarcas eram escolhidos por
Constantinópla em conjunto com São Petesburgo. Essa influência russa, no entanto,
teve fim quando veio a unificação em 1859.
Alguns anos depois, a impopularidade dos administradores do principado (vindos da
Rússia) chegou a tal ponto que, em 1866, foi efetuado um golpe militar, derrubando o
governo e colocando no poder o principe Carlos Hohenzollern-Singmaringen. Por mais
que a política “nacional” fosse de negar qualquer tipo de intervenção vinda da Rússia,
durante a Guerra Russo-Turca (1877-1878) não foi possivel resistir ao pan-eslavismo e
deixar de apoiar as ações de Alexandre II. Não foi apenas o povo romeno que se aliou à
invasão; todos os movimentos nacionalistas de povos slavos e cristãos resolveram
aproveitar o momento de fraqueza do Estado muçulmano. Na Sérvia, em Montenegro,
na Bósnia e, como já dissemos anteriormente, na Bulgária, os povos balcânicos como
um todo urgem por independência e clamam por suas próprias nações.
Um dos principais tópicos a ser discutidos no Congresso de Berlim será a questão de
como conciliar o equilíbrio de poder entre as grandes potências e decidir como lidar
com povos que declaram sua nacionalidade independente. Ao mesmo tempo em que o
princípio liberal de que cada povo é soberano sobre si, sendo fortemente levado em
consideração pela opinião publica, também é nescessário manter a força que representa
o Império Turco-Otomano na ordem internacional.
A perspectiva do desmantelamento total do grande império muçulmano na Europa e da
criação de uma série de pequenos Estados-Nações, facilmente influenciáveis pela cada
vez mais forte Russia, é de certa forma assustadora para países como a França e a
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recém-unificada Alemanha. Entretanto, a incapacidade dos turcos de administrar seu
império multiétnico é evidente, e a revolução grega é apenas uma prova.
É inegável que os movimentos nacionalistas nos Bálcãs ganharam muita força e
destaque ao longo do século XIX, e caberá aos membros do Congresso decidir o que
acontecerá com o decadente Império Otomano e seus habitantes.
3. Histórico do Conflito
3.1. O Século XIX nos Bálcãs
Uma série de conflitos marcou a vida de todos os habitantes da península balcânica ao
longo do século XIX. Dentre estes, podemos destacar as Guerras Russo-Turcas de
1806-1812 e de 1828-1829, bem como a Guerra da Criméia, que, por mais que não
tenha tido os Bálcãs como principal cenário, foi a que mais influenciou a vida da
população local. Os enfrentamentos bélicos anteriormente citados foram motivados
principalmente pelo imperialismo Russo, que via o Império Otomano como, nas
palavras do Tzar Nicolau I, “O homem doente da Europa’’. As grandes mudanças que
tais guerras geraram nos âmbitos geopolítico e social da região em questão podem ser
compreendidas se analisarmos as causas e resoluções das mesmas.
Começando pelo dia 02 de dezembro de 1805, a Europa havia se tornado o palco das
Guerras Napoleônicas. Em Austerlitz, Áustria, o exercito comandado pelo brilhante
imperador francês havia derrotado uma coalizão de tropas russas e austríacas. Mais
tarde nesse mesmo mês, foi assinado o Tratado de Pressburg que decretava a saída do
Império Austríaco da Guerra. A Rússia perdeu sucessivamente uma importante batalha
e um de seus maiores aliados na guerra contra Napoleão. Tentando se aproveitar do
momento de fraqueza de seu histórico rival militar, o Império Otomano destituiu nos
meses seguintes os líderes pró-Rússia dos principados da Valáquia e da Moldávia.
Nesse mesmo período, Napoleão ameaçou invadir as áreas de influência russa nas
margens do Rio Danúbio. Diante de tais fatos, o Tsar Alexandre I enviou um
contingente militar de cerca de 40.000 homens para a fronteira da área ameaçada pelos
dois impérios, a fim de salvaguardar a integridade territorial de seu país.
Além disso, o sultão Otomano Selim III foi persuadido pelo embaixador francês,
Horace Batien Sábastiani, a declarar guerra à Rússia por conta de uma possível invasão
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na Moldávia. Desde o início, a Guerra foi muito equilibrada: batalhas foram travadas e
os vencedores se alternavam, mesmo que o exercito russo também lutasse em outro
front diretamente com a França. Chegou o momento, no entanto, em que uma série de
vitórias russas expressivas, conquistadas com o menor contingente das tropas do Czar,
levaram o Império Otomano a ceder.
Em 1812, foi firmado o Tratado de Bucareste, que teve intermédio do Reino Unido,
aliado do o Império Russo durante a Guerra. Esse documento concedia à Rússia uma
área a leste da Romênia, chamada Bessarábia. No entanto, a maior parte dos territórios
dos principados da Valáquia e da Moldávia continuaram como parte do Império
Otomano. Alem disso, o tratado concedia à Rússia uma expansão de seus direitos
comerciais no Danubio.
Passaram-se alguns anos até que outro conflito protagonizado pelas mesmas duas
nações estourasse. Os turcos diziam que a real causa do ataque russo fora a sede
imperialista dessa nação, que via a oportunidade de invadir as terras do Sultão por conta
das desavenças diplomáticas entre os Estados cristãos da Europa e o grande Império
muçulmano. Por isso, em 1827, foi travada a Batalha de Navarino, na qual a marinha
turca no mediterrâneo foi praticamente dizimada por uma aliança entre Rússia, Reino
Unido e França, que tinha o intuito de proteger a população grega durante a dura
repressão exercida pelos turcos por conta das insurgências nacionalistas. Essa
intervenção foi totalmente repudiada pelo governo Otomano que, por sua vez, negou o
reconhecimento de qualquer tipo de legitimidade na ação tomada pelas grandes nações
da Europa, considerando uma ofensa ter sua soberania quebrada por nações estrangeiras
em decorrência de uma revolta em seu próprio território.
Para o governo Otomano, os movimentos nacionalistas na Grécia eram tratados como
uma questão interna, portanto todas as tentativas de negociação logo após o ataque
foram negadas. Da mesma forma, a proposta feita pelo Império Otomano, que visava
restaurar os antigos direitos da população grega e conceder mais autonomia a tal
província foi igualmente rejeitada pelas nações cristãs. As relações diplomáticas entre
os impérios da aliança com o Império Turco-Otomano ficaram extremamente
fragilizadas, principalmente por parte da Rússia, que removeu de Constantinopla seu
embaixador. Os representantes do Governo turco acusaram essas nações de quebrar as
relações amigáveis, o que de fato ocorreu. Com o passar do tempo, o Império Russo,
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que já tinha uma grande quantidade de tropas na região da Bessarbia, intensificou a
pressão diplomática para que seus termos a cerca da questão helênica fossem aceitos,
chegando ao ponto de ameaçar a invasão das províncias otomanas do Danúbio. Tais
ameaças tiveram resposta em igual escala pelo Governo turco, que enviou uma carta ao
embaixador russo dizendo que todos os homens de fé lutariam contra o inimigo que
representava uma ameaça à própria religião islâmica.
O resultado não poderia ter sido diferente: em abril de 1828, o Império russo declarou
guerra. O paneslavismo era usado como justificativa para que a mãe Rússia tivesse o
direito de proteger, a qualquer custo, os cristãos ortodoxos que habitavam os Bálcãs. O
governo Otomano negava que tal motivação fosse verdadeira e acusava o Império russo
de se aproveitar da situação para saciar sua interminável fome por territórios. Durante os
dois anos nos quais a Guerra se estendeu, o domínio foi majoritariamente da Rússia, que
terminou o conflito ocupando territórios que não conseguia desde o século X. Diante de
tal situação, foi elaborado e assinado o Tratado de Adrianopla, que favorecia
obviamente a Rússia. Eram concedidos à mesma o direito de ocupar as províncias da
Moldávia e Valáquia até que fosse paga uma indenização por parte da Turquia, alem de
reconhecer oficialmente a posse por parte da Rússia do território da Geórgia e liberar o
trafego de navios mercantis russos nos estreitos do Bósforo e Dardanelos. O objetivo
primário da Guerra também foi contemplado no tratado: o Sultão foi obrigado a
prometer autonomia para a Sérvia e reconhecer oficialmente a independência da Grécia.
Os termos do Tratado chocaram as grandes potências do ocidente, inclusive o Reino
Unido e a França, que apoiaram as ações do Czar Nicolau I ao declarar guerra em
defesa do povo Cristão. Iniciou-se, então, um movimento de pressão diplomática vinda
dos impérios do ocidente para que o Tratado de Adrianópolis fosse revisto e o tão
precioso equilíbrio de poderes fosse mantido. O Imperialismo russo começara a
preocupar a todos. Atendendo as demandas de seus aliados, a Rússia, juntamente com o
Império Otomano, assinou outro tratado em 1833 que diminuía os ganhos do Czar,
principalmente no que diz respeito ao direito de ocupar os principados da Valáquia e
Moldávia. O novo tratado, entretanto, não foi o suficiente para acabar com o mal estar
entre a Rússia e os outros Impérios, que continuavam a ver com apreensão a política
expansionista do Czar.
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A discordância entre as nações acerca do que fazer com o decadente Império Otomano
passou a ser uma das questões de maior importância para a manutenção da paz. Ao
longo dos anos que sucederam o ultimo conflito, a Rússia foi a que apresentou o projeto
mais extremista e imediato, que tinha como motivação libertar através da força os povos
cristãos ortodoxos da dominação muçulmana. Em 1853, emergiu uma nova guerra, só
que desta vez as proporções do conflito foram totalmente diferentes de tudo o que fora
visto anteriormente. A Guerra da Criméia é considerada, por muitos, a primeira guerra
moderna, na qual a indústria e a comunicação desempenharam papéis extremamente
importantes. O conflito envolveu Reino Unido, França, Sardenha e Império TurcoOtomano de um lado, e Rússia do outro.
Foram vários os fatores que levaram à declaração de Guerra por parte dos países da
aliança. Pode-se dizer que o conflito teve motivações principalmente econômicas,
religiosas e políticas. A religião está no centro do conflito, primeiramente, porque é em
nome da luta pelo direito dos Ortodoxos que a Rússia lança suas primeiras ofensivas no
Danúbio. Alem disso, a disputa entre Católicos e Ortodoxos pelo direito à Terra Sagrada
acabava por envolver nações dos dois lados da Guerra: a Rússia e a França. O
Imperador francês buscava o apoio da direita católica e da igreja, e para isso adotou essa
disputa como prioridade, aliando-se então aos turcos na luta contra a Rússia.
O acesso ao mar mediterrâneo sempre foi um sonho do Império russo. Do ponto de vista
econômico, essa possibilidade elevaria a Rússia ao nível de concorrente do Reino
Unido. A expansão das rotas comerciais era essencial para a maior dinamização da
crescente indústria que nascia na Rússia. Obviamente, não era interessante para os
grandes exportadores de mercadorias que o Império russo se tornasse um concorrente,
portanto países como o Reino Unido estavam dispostos a tomar sérios riscos para que
isso não acontecesse.
No início de 1853, o Czar Nicolau I enviou seu exercito para os principados Otomanos
do Danúbio, onde os avanços não foram muito expressivos inicialmente. Mais de
80.000 russos marchavam em direção à Guerra. As posições anteriormente seguras
pelos muçulmanos começaram a cair e a comunidade internacional estava prestes a agir.
No entanto, o Czar se apoiava na sua condição de protetor dos cristãos para justificar
sua ação, o que durante certo tempo evitou que outras nações tomassem parte no
conflito. Tudo mudou, no entanto, quando, em 30 de novembro de 1853, navios de
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guerra russos destruíram quase que totalmente a frota otomana no porto de Sinop,
quebrando uma série de tratados internacionais marítimos da região. Tal agressão
concedeu à França e ao Reino Unido o casus belli que tanto queriam. Portanto, em 28
de abril de 1854, após a recusa de um ultimato anglo-francês, foi feita a declaração
formal de guerra por parte dessas duas nações.
Os russos continuaram a fazer avanços até 1854, quando foram impedidas por forças
Austríacas. Posteriormente, ofensivas francesas fizeram com que as tropas russas
recuassem até seu próprio território, processo que terminou em julho de 1854. Com a
retirada total do exercito do Czar, a razão da guerra parecia ter acabado. Entretanto, no
intuito de salvaguardar o Império Otomano, e tomados pela impulsividade da guerra, a
aliança anglo-francesa decidiu atacar os mais importantes portos russos no Mar Negro.
O mais importante deles, Sebastopol, ficava na região da Criméia e era historicamente
usado para apoiar as tropas em campanhas contra o Império Otomano. As batalhas
travadas na Criméia foram marcadas por ineficiência tática e negligência no tratamento
médico de ambos os lados. Calcula-se que cerca de 85% das mortes tenham sido
causadas por doenças. O alto numero de fatalidade ligadas ao fator médico ocasionou
uma revolução nos hospitais de campanha; uma mulher chamada Florence Nightingale,
que comandava os postos médicos ingleses, é até hoje lembrada por seu esforço heroico.
Pela primeira vez na história, uma guerra foi coberta em tempo real pela imprensa; um
cabo de telégrafo foi estendido até as proximidades dos principais campos de batalha,
possibilitando que todas as informações coletadas pelo jornalista William Russell do
The Times chegassem às ruas de Londres em menos de 4 horas. O resultado de uma
proximidade tão grande do povo com os horrores vividos na Guerra fez com que uma
parte da opinião pública inglesa quisesse o seu término. A Batalha da Balaclava ficou
especialmente marcada nesse aspecto pelo poema de Lord Tennyson, ‘‘The Charge of
the Light Brigade’’ onde o autor narra a saga de uma divisão do exército britânico em
direção à sua morte.
Após três anos de guerra, o Cerco a Sebastopol finalmente acabou e os vencedores
foram os aliados. A Rússia perdeu o seu mais importante porto no mar negro, além de
grandes extensões territoriais. No entanto, a aliança sofreu muito com um enorme
contingente perdido e a opinião pública, principalmente a do Reino Unido, questionava
a forma com que era conduzida a Guerra. Portanto, com a dominação da aliança sobre
16
os portos russos e a retomada de seus territórios por parte do Império Otomano, foi
assinado o Tratado de Paris em 30 de março de 1856. O tratado visava cessar totalmente
as hostilidade e assegurar que novas agressões russas não fossem possíveis. Para tal,
novas leis de tráfego marítimo foram estabelecidas, reduzindo enormemente a pressão
militar exercida pela Rússia ao Império Turco. O recém nomeado Czar Alexandre II
teve de lidar com perdas tremendas, tais como a abdicação do território da bessarbia e
da condição de protetor dos cristãos na Terra Santa. A economia russa também entrou
em declínio, pois a liberdade de comercio do Império foi cerceada pelo tratado. Tais
fatores levaram o governo a sofrer duras criticas e passar por um grande período de
instabilidade.
3.2. Escalada de Tensões
Com o fim da Guerra da Criméia e com a pressão da França e do Reino Unido, o sultão
Abd-ul-Medjid I emitiu, em 18 de fevereiro de 1856, o Edital de Reforma Otomana de
1856. Esse documento prometia direitos civis iguais a cidadãos de todas as religiões do
Império, possibilitando que cristãos e não muçulmanos em geral tivessem direitos
referentes à educação, justiça, segurança e credo iguais aos islâmicos.
Em março do mesmo ano, foi assinado o Tratado de Paris de 1856, que obrigava o
Império Turco-Otomano a ceder direitos iguais a cristãos e a muçulmanos, reforçando o
Edital de Reforma Otomana, e a desmilitarizar o Mar Negro e sua costa. Mesmo com
essa pressão por direitos iguais, os não muçulmanos continuaram com desvantagens
legais, que os faziam sofrer diversos tipos de abusos por parte dos muçulmanos.
O Império Russo saiu do Congresso de Paris de 1856, onde foi feito o tratado, como o
grande perdedor da guerra. Após ir ao Congresso buscando manter sua soberania e seu
enorme poder frente às outras potências, os russos viram-se fragilizados e com a
necessidade de vingança.
Nos anos seguintes, mesmo tendo saído como vitoriosa da Guerra da Criméia, o Império
Turco-Otomano perdeu poder e prestígio. Crises financeiras e a intervenção do Reino
Unido e da França para conter insurreições no território Otomano fizeram com que os
turcos fossem vistos como fragilizados, enquanto a Rússia crescia e se mostrava forte.
17
Na Europa como um todo, foi estabelecido um novo equilíbrio de forças em 1856, mas
esse não duraria muito, graças às insurgências nacionais da Itália e da Alemanha. Logo
em 1859, houve o primeiro abalo a esse equilibro.
A primeira Guerra de Independência da Itália foi um evento marcante. Em 1848,
revoltas começaram por toda a Itália. Cidades em território austro-húngaro, como Milão
e Veneza, entraram em ebulição e o movimento se expandiu. Devido ao momento de
fragilidade austríaca, o Reino da Sardenha declarou guerra à Áustria, dando início à 1ª
Guerra de Independência Italiana. Inicialmente, a Sardenha conseguiu fazer avanços,
mas em poucos meses a situação se reverteu e a Áustria conseguiu a vitória.
Temendo o desequilíbrio de poderes na Europa, a França de Napoleão III havia
acordado com o Reino da Sardenha que, caso esse fosse atacado pelo Império
Austríaco, interviria em uma guerra ao lado dos sardenhos. Foi assim que, no dia 26 de
abril de 1859, após provocações do Reino da Sardenha, a Áustria declarou guerra. Os
exércitos franco-piemonteses avançaram e, com o fim da guerra, o Reino da Sardenha
se expandiu e a unidade italiana tornou-se mais próxima. Com isso, o Império Austríaco
perdeu força, a França ganhou e o equilíbrio foi ameaçado.
Entretanto, o golpe fatal para a queda do concerto europeu de 1856 foi a unificação da
Alemanha. Quando o Reino da Prússia, liderado pelo chanceler Otto Von Bismarck,
derrotou a Áustria e a França e formalizou a unidade alemã em 1871, quebrou a antiga
ordem de poderes e deu à Alemanha o caráter de grande potência da Europa Central.
Com isso, o Império Austro-Húngaro (deixou de ser Império Austríaco em 1967, com o
Compromisso Austro-Húngaro, graças ao enfraquecimento da Áustria na Itália) viu-se
mais uma vez enfraquecido perante às outras potências. Ainda assim, visando protegerse de mais guerras, o recém-fundado Reich Alemão ligou-se a esse império e ao Império
Russo em 1873 para criar a Liga dos Três Imperadores, criando uma aliança que
buscava concentrar os poderes na Europa e isolar a França.
Entretanto, em 1875, as três grandes potências não se mostravam tão unidas e Bismarck,
ao perceber a rápida reconstrução militar da França após a guerra pela independência da
Alemanha, temeu uma aliança franco-russa em uma investida contra o seu território.
Com isso, o chanceler germânico passou a considerar um ataque preventivo aos seus
vizinhos a Oeste, possibilidade que inquietou todas as grandes potências europeias por
18
pôr uma nova guerra em um horizonte próximo, fazendo com que o Reino Unido e a
Rússia pressionassem o Reich a manter-se em paz. Ainda assim, o temor da ameaça
francesa mantinha Bismarck sob alerta.
Marginal a esses movimentos, o Império Turco-Otomano continuava se enfraquecendo
financeira e politicamente. Constantinopla perdia poder sobre as províncias, onde os
direitos aos não muçulmanos não se confirmaram e os sentimentos paneslavistas e
nacionalistas floresciam, aumentando a tensão nos Bálcãs, que sonhavam com a
independência.
A Sérvia, por sua vez, independente desde 1867, vinha almejando expandir seu
território e obter uma saída para o Mar Adriático. Todos esses desejos dos Bálcãs
criavam uma instabilidade na região que complicava a situação da diplomacia de todos
os envolvidos, direta ou indiretamente.
A Rússia e a Áustria-Hungria também tinham interesses na região. Enquanto que a
segunda temia que movimentos nacionalistas em território Turco-Otomano se
estendessem ao seu território e fizessem com que os não germânicos, principalmente
eslavos, se rebelassem, o Império Russo, por sua vez, tinha intenções diferentes.
Movidos pelo crescente paneslavismo e pela ambição de controlar os Estreitos Turcos,
que ligam o mar Mediterrâneo ao mar de Mármara, os russos previam um alinhamento
com os Bálcãs, podendo levar a um colapso do Império Turco-Otomano. Sabendo da
instabilidade na região e temendo uma guerra mais ampla, a Rússia e a Áustria-Hungria,
em janeiro de 1876, assinaram o Acordo de Reichstadt, que garantia que, no caso de
uma guerra entre Rússia e Império Turco-Otomano, a Áustria-Hungría não interviria.
Em julho de 1875, uma insurreição nacionalista contra o domínio Otomano eclodiu na
Herzegovina, rapidamente se espalhando para a Bósnia. A revolta crescia e a busca por
independência cresceu na região, levando, em maio de 1876, a rebelião à Bulgária. O
exército Otomano estava mobilizado na região da Bósnia, contendo a revolta inicial,
levando a uma dificuldade inicial de conter o movimento na Bulgária, que crescia
rapidamente. Em junho, os Sérvios juntaram-se ao conflito contra os turcos e no mês
seguinte os montenegrinos entraram na batalha.
Mesmo com os esforços balcânicos, os turcos, quando comparados aos revoltosos,
estavam bem armados e equipados. Com isso, os Sérvios já haviam sido derrotados em
19
setembro e viraram-se ao seu principal aliado eslavo, o Império Russo, por ajuda. Esses,
por sua vez, consultaram a Alemanha por apoio e foram negados. Porém,
unilateralmente, em 31 de outubro, os russos enviaram um ultimato que forçava os
turcos a reduzirem suas ofensivas aos sérvios.
Com a continuidade dos conflitos entre os otomanos e os bálcãs, a Rússia declarou, em
24 de abril de 1877, guerra ao Império Turco-Otomano.
3.3. A Guerra Russo-Turca
Com a permissão dos rebeldes romenos de passar por seu território, os russos
avançavam em território otomano com uma missão extremamente árdua.
Ainda que o império turco estivesse em péssimas condições gerais, esse não estava em
uma posição tão aquém da Rússia nessa guerra, pois tinha duas grandes vantagens. Em
primeiro lugar, havia a questão da logística. Os russos, para chegar a Istambul, deveriam
cruzar cerca de 725 quilômetros, passando pelo Baixo Danúbio e pela Cordilheira dos
Bálcãs (WILLIAMSON, M, 2013). O transporte de tropas, armamentos e suprimentos
tinha de ser feito por terra, com ferrovias apenas na Bulgária e na Romênia, sendo que
essas ferrovias não estavam interligadas e apresentavam características diferentes das
ferrovias russas, impedindo a ligação direta entre essas. O exército russo teria que,
assim, agir a até 720 quilômetros de suas águas ou ferrovias, tendo que levar todo seu
equipamento por essa distância. Comparando com a Guerra de Secessão Americana, o
exército da União não passava de 80 quilômetros dessas bases de transporte.
Os turcos, por sua vez, não possuíam ferrovias modernas que levassem aos Bálcãs ou às
suas proximidades, entretanto, tinham um sistema de depósitos estabelecido pelos
Bálcãs e uma rede ferroviária, que, ainda que com tecnologia primitiva, ligava Istambul
ao front, resultando em uma grande vantagem logística ao Império Turco-Otomano.
A segunda vantagem foi a questão dos armamentos. Ambas as nações tinham um
histórico de buscar uma indústria armamentista interna forte, produzindo suas próprias
tecnologias, o que as botava em uma condição pior do que os grandes produtores em um
campo de batalha. Porém, na década de 1870, o Império Otomano desistiu dos esforços
mal sucedidos que vinham fazendo em sua Indústria Bélica e aceitou a dependência a
20
fontes externas, mais especificamente do Reino Unido e dos Estados Unidos da
América, de quem, até o começo do conflito, já havia comprado trezentos mil rifles
Peabody-Martini e importado mais duzentos mil desses rifles durante a guerra
(WILLIAMSON, M, 2013).
Já a Rússia mantinha os investimentos na indústria interna de armamentos, possuindo,
em 1877, um arsenal três vezes maior do que o turco, mas tecnologicamente aquém do
otomano, o que dava uma vantagem aos invadidos. Com o andar da guerra, a Rússia
penetrava o território turco graças à sua grande vantagem numérica e econômica,
entretanto, graças aos dois trunfos turcos citados e a recorrentes falhas do exército do
Czar, esse avanço tinha um custo enorme.
Na noite entre 26 e 27 de junho de 1877, com 10 semanas de combates, os russos
deixaram a Romênia ao chegar à Bulgária, cruzando o Rio Danúbio na cidade de
Svishtov. Nesse momento caracterizou-se um momento crítico da guerra5. A coluna
ocidental do front russo, que se localizava nas margens búlgaras do Danúbio e em
Pleven, encontrou-se com a principal divisão do front otomano, que contava com 60 mil
homens, e foi facilmente derrotada (WILLIAMSON, M, 2013). Após essa vitória, o
comandante turco Osman Nuri Paşa tinha a opção de perseguir os russos derrotados e
chegar à Cabeça de Ponte6 russa, desestabilizando toda a ofensiva inimiga e pondo suas
tropas em um local extremamente beneficiado. Entretanto, Paşa preferiu manter sua
posição, entrincheirado, para que suas tropas se organizassem. Nos meses seguintes, os
Russos fizeram mais dois ataques e foram facilmente derrotados com grandes perdas.
Após esses fracassos, os russos decidiram cercar e sitiar os turcos em Pleven. No dia 10
de dezembro de 1877, após meses de resistência, Paşa liderou um ataque ao bloqueio
russo, a leste de Pleven, a frente de 25 mil soldados turcos e 9 mil feridos ou doentes. A
essa altura dos acontecimentos, o exército russo no cerco contava com 100 mil
soldados. Após tomar a primeira linha de trincheiras, Paşa avançou sobre os russos que
se espalhavam por cerca de 3,2 quilômetros de largura e, após uma rápida vantagem, viu
os russos se reforçarem e vencerem a batalha. (Heritage History, 2008)
5
Ver Figura 1, no Anexo.
Cabeça de Ponte é um termo militar que se refere a uma base estratégica provisória de um exército
montada próxima a um rio ou a um mar.
6
21
Os turcos estavam comprometidos e, após voltarem a Pleven, renderam-se antes do
anoitecer. Essa batalha ficou conhecida como a Batalha de Pleven e foi um grande
marco, pois foi o grande divisor de águas dos conflitos.
Dois dias após essa derrota, vendo-se em situação de extremo perigo, os otomanos
movimentaram-se por mediação internacional para impedir uma tragédia maior: o fim
de seu império. Isso era também um temor para as grandes potências europeias, que
viam a Rússia agigantar-se e tornar-se uma força despárea às outras no continente
europeu. Essas, entretanto, não se mostravam verdadeiramente ativas diplomaticamente,
à exceção do Reino Unido.
Os comandados da Rainha Vitória tinham como primeiro objetivo transformar os
estreitos de Bósforo e Dardanelos, que ligam, respectivamente, o Mar Negro ao Mar de
Mármara e o Mar de Mármara ao Mar Egeu, em áreas neutras de livre navegação,
devido à possibilidade de o Império Russo tomar tais pontos estratégicos economica e
militarmente. Com essa política, ainda que atento aos acontecimentos, o Reino Unido
aparentemente mantinha-se imparcial na guerra, o que o fez dele o mediador da
proposta turca. Entretanto, a Rússia negou essa mediação e prosseguiu seus avanços,
rumo a Constantinopla.
Com a possibilidade de uma mediação externa descartada, os otomanos decidiram
negociar diretamente com seus inimigos, propondo, no dia 9 de janeiro, um armistício,
negado no primeiro momento.
No começo de janeiro, mudanças na posição britânica ficaram evidentes. A contestação
começou por parte de diversos jornais russos, liderados pelo estatal “Anunciante
Imperial” (traduzido livremente do inglês “Imperial Advertiser”), que publicaram
documentos achados em território otomano que comprometiam seriamente a
neutralidade britânica. Esses explicitavam contatos e negociações entre Londres e
Constantinopla. O mês se seguiu e a nova posição britânica foi esclarecida: impedir o
fim do Império Otomano e manter o status quo da região no que diz respeito aos seus
negócios e colônias da região.
Temendo os fortes avanços russos, o Reino Unido deslocou uma frota marinha para a
Península de Dardanelos e, ao saber dessa movimentação, os russos aceitaram o
armistício, interrompendo os conflitos, no dia 31 de janeiro. O armistício, impedindo
22
quaisquer beligerâncias, estava em rigor, mas não foi praticado pelo exército do Czar,
que continuou a avançar e levou as grandes potências europeias a mobilizarem-se pela
situação, propondo uma conferência entre os envolvidos e as principais potências, o que
não era visto com bons olhos pelos russos.
A discussão quanto à conferência prosseguia, porém, no dia 13 de fevereiro um colapso
se aproximava.
As frotas britânicas esperavam autorização para atravessar o Estreito de Dardanelos,
adentrando assim o Mar de Mármara.
Tropas russas localizavam-se em Rodosto, beirando o Mar de Mármara. Essas
ameaçavam o Império Turco-Otomano de atacar Constantinopla caso o Estreito de
Dardanelos fosse aberto.
O Sultão estava preparado para, no caso de invasão russa, fugir para Bursa, ao sul do
Mar de Mármara.
A Alemanha propunha uma solução diplomática, com a Áustria-Hungria como
mediadora das negociações.
O Império Áustro-Húngaro preparava-se para adentrar à guerra, conjuntamente ao
Reino Unido, caso a Rússia tomasse o Estreito de Bósforo. Suas tropas já se
direcionavam à fronteira com a Romênia.
A França sugeria que o momento para intervir já tivesse passado. As tensões militares
teriam de ser deixadas de lado e a situação seria resolvida pelo viés diplomático.
Com esse contexto todo armado, as frotas britânicas atravessaram o Estreito de
Dardanelos sem a permissão turca e dirigem-se a Princess Islands, a aproximadamente 5
quilômetros do Estreito de Bósforo, sob protestos formais turcos. No dia seguinte, os
russos se encontravam a poucas horas marchando de Galipoli, dois encouraçados
britânicos protegiam Istambul e, ainda assim, um acordo entre os dois lados beligerantes
tornou-se mais próximo.
A eminência de ver seu império em ruínas e a crescente possibilidade de intervenção
externa fizeram com que o Sultão e o Czar aproximassem-se do fim dos conflitos. Com
23
isso, a possibilidade da Rússia ocupar Constantinopla praticamente se extinguiu e a
Áustria-Hungria propôs que, no lugar de uma conferência, um congresso fosse feito
para debater a questão.
Nesse momento, a Liga dos Três Imperadores voltava às discussões. O Império AustroHúngaro reforçava sua ligação com os dois companheiros, amenizando a delicada
situação com a Rússia após as ameaças de intervir na guerra. Já Bismarck frizava a
importância de manter o equilíbrio entre as duas outras forças, além de eximir a
Alemanha de grandes responsabilidades quanto à guerra em andamento e seus
desencadeamentos.
As negociações entre o Kremlin e a Porta Otomana avançavam. Entretanto, no dia 21 de
fevereiro, as conversas desandaram graças a hesitações otomanas a aceitar as condições
de paz russas, que incluíam que a Armênia fosse cedida e que a frota turca se rendesse.
Com isso, as ameaças de invasão à Constantinopla voltaram à tona, fazendo com que
em poucos dias tudo fosse acertado.
No dia 25 de fevereiro, a frota turca havia se rendido e os termos para o acordo de paz, a
ser assinado na cidade de São Estevão, estavam acordados. No dia 3 de março, as partes
assinaram o acordo paz. A guerra foi marcada por muitos erros e um custo humano alto.
Não há dados precisos quanto à quantidade de mortos, mas estima-se que cada uma das
principais partes teve cerca de 150 mil mortes militares.
Outra característica da guerra foi de muitas atrocidades por todas as partes, com
centenas de milhares de cristãos mortos na Bulgária e mais de 250 mil muçulmanos
mortos, com mais meio milhão fugindo para Constantinopla. Aproximadamente 30 mil
armênios foram mortos por curdos, que o fizeram sob estímulo otomano
(WILLIAMSON, M, 2013).
Nesse grande combate, além de duas grandes potências guerreando, há de se destacar os
movimentos de independência que surgiram em praticamente todos os povos Bálcãs,
com principal força em Romênia, Bulgária, Bósnia e Montenegro.
24
3.4. O Tratado de São Estevão
Assinado pela Rússia e pelo Império Turco-Otomano no fim da Guerra Russo-Turca de
1878, o Tratado de São Estevão 7 previu a modificação de diversas fronteiras da região,
após o território ter sido dominado pelo Império Turco-Otomano por quase meio século.
Esse tratado, descrito como uma base preliminar para a paz, compreendeu um armistício
e uma concessão de autonomia a uma série de comarcas, na tentativa de equilibrar a
geopolítica dos Bálcãs.
“Sua Majestade o Imperador da Rússia e Sua Majestade o Imperador dos
Otomanos, inspirados com o desejo de restaurar e assegurar às bênçãos de paz
para os seus países e pessoas, bem como de evitar qualquer nova complicação
que poderia pôr em perigo a mesma, se reúnem com vista a elaborar, concluir e
assinar os Preliminares da Paz.”
(TREATY OF SAN STEFAN. Tradução Livre. Istanbul, 1878. Apud
HOLLAND, T. The European Concert is the Eastern Question: a
Collection of Treaties and Other Public Acts. Londres: Oxford Universty
Press,1885.)
Apesar de ter sido assinado de “boa-fé” pelo Império Turco-Otomano, o tratado impôs a
esse Estado graves perdas, por conta da campanha mal sucedida que o Império fez na
Guerra Russo-Turca de 1878.
Dentre as suas principais provisões, o tratado previu: (i). O reconhecimento do
Principado de Montenegro; (ii). A criação do Principado da Bulgária; (iii). O
reconhecimento da independência da Sérvia; (vi). O reconhecimento da independência
da România e o aumento de suas fronteiras; (v). O pagamento de grande indenização –
aproximadamente um trilhão de rúpias da época (Art. 19, TRATADO DE SÃO
ESTEVÃO, 1878) - ao Império Russo por parte do Império Turco-Otomano; (vi). A
autonomia da Bósnia e Herzegovina; (vii). Anistia geral e irrestrita a todos os
participantes da Guerra; (viii). Cessar fogo imediato por ambas as partes, e desistência
russa dos territórios que compreendem o Império Turco-Otomano; (ix). Concessão ao
Império Russo de territórios do Cáucaso que hoje compreendem parte da Geórgia e da
Armênia.
7
Texto integral do tratado, em inglês: <http://pages.uoregon.edu/kimball/1878mr17.SanStef.trt.htm>
25
No tratado, a todos os novos Principados e países criados ou reconhecidos, foi dado o
direito de terem fronteiras tributárias autônomas e uma força de Milícia,
correspondendo aos já firmados conceitos de Estado8 e Soberania9, estabelecidos
primordialmente na Paz de Westphalia10.
O Império Russo se viu grande beneficiário desse tratado, o que fez com que as reações
das outras superpotências de então não fossem boas. Aos olhos do restante do mundo,
ao invés de apaziguar os conflitos e equilibrar as forças nos Bálcãs, o acordo fez com
que o poderio de São Petersburgo crescesse ainda mais. Esse aumento de forças não só
mudava a dinâmica do Leste Europeu, mas desequilibrava a geopolítica mundial como
um todo.
O Reino Unido foi o maior opositor. Assim que recebeu cópia do tratado, se opôs ao
artigo fortemente, argumentando que, além de terem sido tomadas providências
equivocadas, as provisões do documento deveriam ter sido decididas após a discussão
em congresso europeu, e não bilateralmente. Lord Salisbury, secretário para assuntos
exteriores do país, fez rapidamente uma declaração onde dizia “se opor a todos os
pontos do tratado”. O Primeiro-ministro Britânico, Disraeli, por sua vez, chegou até a
cogitar a mobilização e movimentação de exércitos da Rainha na região de Cyprius e
Alexandretta.
Além disso, o Principado da Bulgária foi estabelecido com grandes dimensões
territoriais11, o que gerou profundas reclamações por parte do Império Austro-Húngaro.
O novo Principado compreendia ampla região banhada pelo Danúbio, o que, de acordo
com as autoridades austro-húngaras, confrontava o Tratado de Budapeste, que proibia o
estabelecimento de um novo Estado muito extenso na Península Balcânica.
8
Ente jurídico, dotado de personalidade internacional, formado de uma reunião de indivíduos
estabelecidos de maneira permanente em um território determinado, sob a autoridade de um governo
independente e com a finalidade precípua de zelar pelo bem comum daqueles que o habitam.
Um governo, um povo, um território. (MAZZUOLI, V. 2006).
9
A soberania de um Estado é uma condição inerente para que ele tenha personalidade jurídica. Um
Estado soberano é identificado quando o seu governo não é subordinado a qualquer autoridade, não
reconhece nenhum poder maior de que dependam a definição e o exercício de suas competências e só se
põe de acordo com seus homólogos na construção da ordem internacional a partir da premissa de que aí
vai um esforço horizontal e igualitário de coordenação no interesse coletivo (MARIANI, M. 2012)
10
Texto integral do tratado, em inglês: <http://avalon.law.yale.edu/17th_century/westphal.asp>
11
Mapa do território compreendido pelo Principado da Bulgária de acordo com o Tratado de São Estevão:
< http://bit.ly/OjFXum>
26
Os gregos e sérvios também se opuseram ao tratado, pois tiveram seus interesses
desapreciados e, apesar de não terem perdido muito, certamente não ganharam nada. Se
sentindo, portanto, extremamente menosprezados em vista dos benefícios territoriais e
políticos concedidos à Bulgária.
Por conseguinte, logo após sua promulgação, o Tratado já estava sendo contestado e as
atividades diplomáticas estavam a toda força pelo mundo. O Reino Unido da GrãBretanha e Irlanda liderava as negociações para uma revisão do documento, e, tanto eles
quanto o Império Russo, tentavam conquistar o apoio do Império Austro-húngaro.
Por fim, a Prússia tomou as rédeas da negociação e todos os interessados concordaram
em se reunir em congresso na capital, Berlim, reunião convocada por Otto Von
Bismarck. O Congresso de Berlim terá início neste 13 de junho e será presidido pelo
Chanceler.
4. A Geopolítica Européia
Em 1878, o mundo estava à beira de uma guerra entre as grandes potencias europeias.
Para tentar evitar tal fato, o chanceler alemão Otto Von Bismarck convocou as cinco
grandes potências europeias, mais a Turquia e os países dos Bálcãs, para um congresso
em Berlim. No entanto, o mundo estava se aproximando dessa situação a muito tempo.
Em 1853, quando o czar Nicolau I mandou as tropas invadirem Danúbio (até então parte
do Império Turco-Otomano), começou uma guerra entre os russos e os otomanos que
mais tarde veio a ser conhecida como Guerra da Criméia. Quando o Império Russo saiu
vitorioso da batalha naval, o Reino Unido, temendo uma possível queda da
Constantinopla, e assim tirando o controle estratégico dos estreitos de Bósforo e
Dardanelos, interrompendo por fim a comunicação com a Índia, e a França, Napoleão
III viu uma oportunidade de tentar se firmar como legítimo sucessor de seu tio. Por isso,
declararam guerra ao Reino Unido e se aliaram aos otomanos e, logo em seguida, ao
Reino da Sardenha também.
Em 1854, a guerra teve, de fato, seu inicio. Não tardou até que os otomanos, junto aos
seus aliados, conseguissem mudar o rumo da guerra e, em agosto, conseguissem
expulsar os soldados do czar dos Bálcãs. Para por um fim definitivo na guerra, em
setembro, o Império Turco-Otomano, junto à França, Reino Unido e Reino da Sardenha,
27
iniciou um bloqueio naval em conjunto com um cerco terrestre à sede naval russa no
mar Negro, a cidade fortificada de Sebastopol.
Contudo, a guerra só teve fim quando o novo czar Alexandre II assinou o Tratado de
Paris de 1856. Pelos termos do tratado, os russos deveriam devolver o sul
da Bessarábia e a embocadura do rio Danúbio para o Império Otomano e para
a Moldávia, renunciar a qualquer pretensão sobre os Bálcãs e ficar proibido de manter
bases ou forças navais no mar Negro.
Após o fim da guerra da Criméia, a Europa estava passando por grandes mudanças. A
Prússia vinha tentando unificar as cidades-estados germânicas utilizando qualquer meio
para criar um espírito nacionalista comum a todos, inclusive invadindo e anexando a
Alsácia Lorena. Além disso, a invasão a parte da França eclodiu na guerra francoprussiana, na qual a Prússia e seus aliados não só vencem como também capturam o
então imperador francês Napoleão III, fazendo o exercito francês de prisioneiro. No
entanto, com a França em confusão por conta do acontecido, os opositores a Napoleão
derrubam-no do poder e proclamaram a 3ª república.
Após os alemães descobrirem o ocorrido, os mesmos decidiram continuar com as
ofensivas, chegando até Paris, onde começaram um cerco que só teria fim em janeiro.
Em 1871, os militares de alto escalão proclamaram Guilherme como imperador alemão
na Galeria dos Espelhos no Palácio de Versalhes. Após esse acontecimento, em 10 de
maio do mesmo ano, em Frankfurt, se assinou um tratado entre ambas as partes. No
tratado de Frankfurt, os franceses foram obrigados a pagar uma indenização e a
devolver a Alsacia, exceto Belfort e parte da Lorena.
Com isso, a Europa vê surgir uma possível potência, o Império Alemão, que poderia se
tornar uma ameaça às duas maiores potências da época, a França e o Reino Unido,
ambas reconhecidas como as maiores potências desde a guerra dos 9 anos em 1689.
Com o surgimento do Império Alemão, que humilhou a França e se equiparou ao Reino
Unido em questão de modernização, intensificou ainda mais o clima de hostilidade que
vinha crescendo dentro da Europa, sobre tudo entre as tradicionais potencias.
28
6. Anexos:
29
7. Bibliografia:
YAVUZ, M. Hakan; PETER, Sluglett. “War and diplomacy: The Russo-Turkish War of
1877-1878 and the Treaty of Berlin”. Salt Lake City: The University Of Utah Press,
2011.
AVERY, R., “The First Italian War of Independence (1848-49)-- a Military History”,
2004,
disponível
em
<http://www.victorianweb.org/history/risorgimento/2.html>
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