O ENSINO DE GEOGRAFIA, A ESCOLA E A FORMAÇÃO DE

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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
O ENSINO DE GEOGRAFIA, A ESCOLA E A FORMAÇÃO DE
PROFESSORES: REFLEXÕES SOBRE AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
GEOGRAPHY TEACHING, SCHOOL AND TEACHER TRAINING:
THOUGHTS ON PEDAGOGICAL PRACTICES
EVA TEIXEIRA DOS SANTOS1
LARISSA CRISTINA BRANDÃO CARDOSO2
Resumo:
O objetivo do trabalho foi analisar as práticas pedagógicas e as estratégias de ensino utilizadas no
ensino de Geografia em uma escola pública no município de Aquidauana/MS. Foram desenvolvidas
atividades de estudo do meio e trabalho de campo com alunos do ensino fundamental. Tais
atividades proporcionaram a integração dos conteúdos teóricos e o entendimento da prática,
promovendo assim a interação entre os mesmos, facilitando a compreensão e fixação dos conteúdos,
uma vez que envolveram a participação dos acadêmicos do curso de licenciatura em Geografia.
Assim, espera-se que a partir das discussões teóricas e da realização das atividades práticas e de
campo, haja uma reflexão sobre a prática do docente no ensino da geografia escolar (ensinos
fundamental e médio) e do pensar a formação inicial e continuada do professor de geografia.
Palavras-chave: Estudo do meio; Trabalho de campo; Formação docente
Abstract:
This study aimed to analyse pedagogical practices and strategies employed on geography teaching at
public school in Aquidauana/Mato Grosso do Sul State. Environmental studies and fieldwork activities
were developed with both elementary. Such activities have provided coalescence of theoretical
content and practical understanding thus promoting interaction between them also facilitating the
content comprehension and reinforcement, once it has involved the participation of scholars of the
Geography graduation course. Thereby, it is expected that from theoretical discussions as well as field
and practical activities there will be a reflection on the teacher’s practice regarding geography teaching
on both elementary and high school likewise the thought of the initial and ongoing training of
geography teachers.
Key-words: Study of the environment; Fieldwork; Formation of the teacher
1
Docente do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul. E-mail de contato: [email protected]
2
Acadêmica do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul. E-mail de contato: [email protected]
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1 – Introdução
Vários autores, tanto da área de geografia, quanto da educação mencionam a
importância de se “educar para a pesquisa”, uma vez que “ensinar a pesquisar
requer criar situações e condições didáticas que estimulem a curiosidade e a
criatividade. Muitos alunos dos cursos de licenciatura são oriundos de escolas de
ensino básico, pautadas na memorização e na reprodução e conhecimento pouco
crítico em classes com turmas numerosas, nas quais a reflexão e a criatividade são
pouco estimuladas. Neste sentido, a pesquisa pode e deve constituir oportunidade
para o desenvolvimento da capacidade crítica e criativa” (PONTUSCHKA et al.,
2007, p. 98).
Sendo assim, a formação do professor de geografia, na visão de vários
pesquisadores não é uma tarefa fácil e nem simples, exigindo um forte engajamento
por parte dos profissionais envolvidos, bem como das universidades/faculdades, a
fim de possibilitar ao futuro docente bases teórico-conceituais, tanto na área da
educação, como da respectiva ciência.
Nesta perspectiva, Ritcher (2013, p. 108), ressalta que “o processo de ensino
de geografia na educação básica requer do docente a integração de três elementos
fundamentais para a realização do seu trabalho: o conhecimento científico, os
saberes da prática pedagógica e o exercício da pesquisa”.
Demo (1998, p 38) corrobora com isso quando afirma:
É condição fatal da educação pela pesquisa que o professor seja
pesquisador. Mais que isto, seja definido principalmente pela pesquisa. Não
precisa ser um “profissional da pesquisa”, como seria o doutor que apenas
ou, sobretudo produz pesquisa específica. Mas precisa ser como
profissional da educação, um pesquisador. Tratando-se do ambiente
escolar, prevalece a pesquisa como princípio educativo, ou o
questionamento reconstrutivo voltado para a educação do aluno. Todavia,
este reconhecimento não pode frutificar num recuo, como se reconstruir
conhecimento pudesse ser banalizado.
Suertegaray (2002, p. 5) afirma que “pesquisar é o fundamento de nossa
busca, particularmente, neste momento histórico, onde a educação defende a tese
de que apreendemos o tempo todo e educar é ensinar a apreender, ou seja,
pesquisar, ou ainda, no linguajar pampeano, “campear””.
Contribuindo para esta reflexão, Demo (1998), ressalta que o professor deve
se interessar por cada aluno, buscando conhecer suas motivações e contextos
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culturais, estabelecendo com ele um relacionamento de confiança mútua, sempre
aprendendo juntos, instituindo um ambiente participativo, onde a experiência do
aluno seja valorizada, conhecendo a partir do conhecido, sendo que o que se
aprende na escola deve servir para a vida.
Callai (2005, p 228), corrobora com esse pensamento quando afirma que,
Ler o mundo da vida, ler o espaço e compreender que as paisagens que
podemos ver são resultado da vida em sociedade, dos homens na busca da
sua sobrevivência e da satisfação das suas necessidades. Em linhas gerais,
esse é o papel da geografia na escola. Refletir sobre as possibilidades que
representa, no processo de alfabetização, o ensino de geografia, passa a
ser importante para quem quer pensar, entender e propor a geografia como
um componente curricular significativo. Presente em toda a educação
básica, mais do que a definição dos conteúdos com que trabalha, é
fundamental que se tenha clareza do que se pretende com o ensino de
geografia, de quais objetivos lhe cabem (CALLAI, 2005, p 228).
Conforme afirma Cavalcanti (2010) ensinar conteúdos geográficos, requer um
diálogo vivo, verdadeiro, no qual todos, podem se manifestar de forma legítima, com
base no debate de temas relevantes, bem como no confronto de percepções, de
vivências, de análises, buscando um sentido real dos conteúdos estudados para os
alunos.
Callai (2005, p. 236), ressalta que,
Compreender o lugar em que se vive encaminha-nos a conhecer a história
do lugar e, assim, a procurar entender o que ali acontece. Nenhum lugar é
neutro, pelo contrário, os lugares são repletos de história e situam-se
concretamente em um tempo e em um espaço fisicamente delimitado. As
pessoas que vivem em um lugar estão historicamente situadas e
contextualizadas no mundo. Assim, o lugar não pode ser
considerado/entendido isoladamente. O espaço em que vivemos é o
resultado da história de nossas vidas. Ao mesmo tempo em que ele é o
palco onde se sucedem os fenômenos, ele é também ator/autor, uma vez
que oferece condições, põe limites, cria possibilidades (CALLAI, 2005, p.
236).
Já Santos (1988, p.98) apresenta uma leitura sobre lugar, onde menciona
que,
Cada lugar combina variáveis de tempos diferentes. Não existe um lugar
onde tudo seja novo ou onde tudo seja velho. A situação é uma combinação
de elementos com idades diferentes. O arranjo de um lugar, através da
aceitação ou da rejeição do novo, vai depender da ação dos fatores de
organização existentes nesse lugar, quais sejam, o espaço, a política, a
economia, o social, o cultural (SANTOS, 1988, p. 98).
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Sob essa ótica, verificar conteúdos que apresentam mais dificuldades no seu
entendimento, tanto pelos acadêmicos quanto pelos alunos da educação básica são
fundamentais para o processo de ensino de geografia.
Desta forma, o conjunto de escolhas feitas pelo professor ao trabalhar sua
disciplina é importante nesta discussão, uma vez que o uso da pesquisa, bem como
estudo do meio e aulas de campo no ensino de geografia tornam o conteúdo mais
fácil para a percepção dos alunos, além de potencializar outros sentidos para
ambos. Pode-se dessa forma, trabalhar um conteúdo previamente em sala de aula,
e sair da sala de aula para observar em seu cotidiano o que os conteúdos
abordaram é muito interessante.
No que se refere à realização de trabalhos de campo como metodologia de
ensino, Neves (2010, p. 11), salienta que a “vivência de trabalhos de campo nas
aulas de geografia pode ser um importante aliado ao educador ao contribuir para a
construção do olhar geográfico dos estudantes”. Além disso, continua afirmando
que,
A utilização desta metodologia permite e iniciação à investigação científica e
ao manuseio de certos instrumentos como cartas, mapas, croquis, bússolas,
entre outros, que tem papel fundamental no faze geográfico e cujo domínio
contribui para a autonomia do estudante (NEVES, 2010, P. 12).
Assim, este trabalho buscou, então, resgatar a experiência e reflexão sobre
as metodologias em questão, no sentido de contribuir para a discussão teórica e
para a efetivação de outras práticas pedagógicas que tenham em seu cerne a
pesquisa como princípio educativo. Por fim, será apresentado o relato da
experiência esperando-se que possa contribuir para reflexões a respeito dessa
temática, bem como para a realização de outros trabalhos dessa natureza.
2 – Metodologia
Como recorte espacial foi escolhido o município de Aquidauana, localizado a
noroeste da capital sul-mato-grossense e situa-se na fronteira entre a Serra de
Maracaju e a planície pantaneira, com diversas paisagens naturais, além do Rio
Aquidauana que consiste em um limite natural com o município de Anastácio. A
população no município é de 45.614 mil habitantes e a densidade demográfica de
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2,69 habitantes por km². Para tanto, foram desenvolvidas pesquisas bibliográfica e
de campo, sendo que a pesquisa bibliográfica envolveu a discussão sobre a
utilização metodologias de estudo do meio e aulas de campo no ensino de
geografia, bem como análise das bacias hidrográficas onde a escola está inserida. O
estudo do meio foi aplicado aos alunos do sexto ano e teve como proposta
desenvolver estudos a partir da bacia hidrográfica do Córrego Guanandy (figura 1),
com a realização de aulas teóricas envolvendo questões conceituais (conceitos
geográficos) e conteúdos aplicados sobre a temática em questão, além de
levantamento de informações pertinentes aos aspetos físicos, socioeconômicos,
culturais e ambientais das áreas em estudo. Ao final do levantamento teórico, foram
realizadas aulas de campo à referida bacia a fim de verificar os aspectos observados
em sala. Nas aulas de campo, os alunos puderam utilizar recursos tecnológicos
como GPS para localização geográfica das áreas, bem como, celulares e câmeras
fotográficas para registro de imagens.
Figura 1 - Localização do município de Aquidauana e da bacia do córrego Guanandy. Organizado:
CUNHA, E. R. da. (2014).
Na disciplina Práticas Interdisciplinares de Pesquisa, a atividade realizada foi
a partir da discussão da temática o Centenário da Estrada de Ferro, uma vez que
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em 1914 os trilhos da Estrada de Ferro Itapura- Corumbá, parte integrante da
Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (BOB) chegavam até Campo Grande
significando progresso. Além disso, a instalação da Estrada de Ferro Noroeste do
Brasil gerou impactos positivos desde o traçado das ruas ao aspecto estratégicopolítico-militar, com a transferência do Comando da Circunscrição Militar de
Corumbá para Campo Grande, integrando o percurso a cidade de Aquidauana/MS.
A chegada da estrada de Ferro Noroeste do Brasil ao sul de Mato Grosso, em
pleno início do século XX, além de marcar a ocupação definitiva do oeste brasileiro,
tem sua relevância para a segurança nacional, a integração intercontinental gerando
ainda a abertura de novas perspectivas econômicas na região. Considerando a
temática, foi realizada a aula de campo com alunos do sétimo ano da mesma escola.
Ao final das atividades, os alunos realizaram a produção de trabalhos escritos
sobre as temáticas discutidas, bem como a montagem de um mural com exposição
fotográfica sobre as áreas em estudo que foram disponibilizadas à comunidade
escolar e externa.
3 – Resultados e Discussão
Neste trabalho, serão apresentados relatos de experiências envolvendo o
ensino de geografia, a escola e a formação de professores a partir do
desenvolvimento de atividades práticas nas disciplinas de prática de ensino em
geografia e práticas interdisciplinares de pesquisa, usando como alternativas
pedagógicas o estudo do meio e aula de campo, em escolas estaduais de
Aquidauana/MS.
Na escola Estadual Dóris Mendes Trindade – Aquidauana/MS, em 2014, uma
das atividades foi desenvolvida com alunos do 6o ano e referiu-se ao estudo de
bacia hidrográfica com a utilização da metodologia estudo do meio, sob a supervisão
de acadêmicos de Geografia matriculados na disciplina prática de ensino em
Geografia. A prática do estudo do meio foi realizada na bacia hidrográfica do córrego
Guanandy, localizado próximo à escola que está posicionada na margem direita do
córrego, trabalho este que está tendo continuidade no ano de 2015 com a
contextualização dos aspectos relacionados à ocupação na bacia e consequente
processo de expansão urbana.
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Para tanto, realizou-se as seguintes etapas: aulas teóricas da disciplina
prática de ensino com as referências de textos sobre o estudo do meio no ensino de
geografia, todas as etapas e potencialidades deste tipo de atividade; apresentação
da temática bacia hidrográfica e planejamento para os acadêmicos; delimitação da
área da bacia no laboratório de geotecnologias; elaboração da aula (parte teórica) a
ser trabalhada na escola, sendo que antes de apresentar na escola, foi feita uma
apresentação na universidade para análise do conteúdo e materiais utilizados;
confecção do caderno de campo, uma ferramenta necessária para fixação do
conteúdo e organização do conhecimento; aula ministrada pelos acadêmicos aos
alunos acerca das temáticas relacionadas à bacia hidrográfica; aula de campo com
os alunos da escola, percorrendo a bacia do córrego, da nascente a foz; fechamento
da atividade na escola e confecção do mural, com as produções dos alunos e os
registros fotográficos feitos durante toda a atividade e; finalização da disciplina com
portfólio feito pelos acadêmicos acerca das atividades executadas, com resultados
da práxis de toda a disciplina, a parte teórica que foi trabalhada a princípio e a
execução da metodologia do Estudo do Meio. Na figura 02, observam-se aspectos
de algumas etapas da atividade realizada.
Figura 02 – Aspectos do estudo do meio e produção do mural na escola
Após o desenvolvimento das atividades observou-se maior interesse por parte
dos acadêmicos e alunos da escola, bem como a motivação do professor supervisor
em propiciar a aproximação entre a teoria e a prática no ensino de geografia. Assim
como afirma Pontuschka:
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Os trabalhos realizados fora da sala de aula por tais escolas tinham como
objetivo que os alunos, observando, descrevendo o meio dito natural e o
social do qual eram parte, pudesse refletir sobre desigualdades, injustiças e
promover mudanças na sociedade no sentido de saná-las (PONTUSCHKA,
2004, p.251-252).
Além disso, a percepção da geografia no seu espaço e cotidiano, também é
discutida por outros autores ressaltando a importância da aproximação do mundo
vivido com a disciplina geografia:
[...] em tornar o ensino de Geografia algo que estimule a reflexão sobre o
mundo vivido extraescolar, aproximando a matéria escolar Geografia, das
experiências do cotidiano ligadas à espacialidade. Ou seja, a prioridade é o
entendimento da(s) sociedade(s) que, no cotidiano da sua existência,
moldam o espaço conforme seus interesses, numa interação constante com
a natureza. Callai (2005, p. 228) propõe “Ler a paisagem, ler o mundo da
vida, ler o espaço construído. (...) é isto que se espera da Geografia no
mundo atual [...]” (KAERCHER, 2014, p.30).
No que se refere à outra atividade desenvolvida, a mesma foi realizada
considerando a temática sobre o Centenário da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil,
uma vez que as ferrovias fazem parte dos conteúdos de geografia do espaço
brasileiro (70 ano). Desta forma, foram organizadas a discussão e apresentação do
assunto em sala de aula, bem como a preparação e realização uma aula de campo
com os estudantes da educação básica ao pátio e adjacências da antiga estação
ferroviária de Aquidauana/MS, bem como a visitação aos vagões do então
denominado “Trem do Pantanal” que se encontrava estacionado na Estação
Ferroviária de Aquidauana.
Neste contexto, realizaram-se as seguintes etapas: divisão dos grupos de
acadêmicos, preparação e apresentação do material sobre cada temática
relacionada ao Centenário da estrada de ferro em MS; preparação do caderno de
campo por parte dos acadêmicos, com pontos importantes a serem observados
pelos estudantes; aula de campo nas adjacências da Estação ferroviária e ao vagão
do Trem do Pantanal sob o acompanhamento dos acadêmicos e professora da
disciplina com os alunos e professora da Escola; discussão, apresentação dos
resultados e avaliação final do trabalho de campo e da disciplina pelos grupos;
finalização da atividade na escola com a preparação do painel e entrega dos
portfólios pelos grupos de acadêmicos. Tal sequencia é corroborada por Tomita
(1999, p.15) quando afirma “[...] que o trabalho de campo é uma prática
indispensável para o ensino de Geografia, mas não suficiente. Não se deve encarar
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essa atividade como um fim, mas como um meio que tenha o seu prosseguimento
ao retomar a sala de aula”. Na figura 03, observam-se aspectos de algumas etapas
da atividade realizada.
Figura 03 – Aspectos da aula de campo e finalização da atividade
Rodrigues; Otaviano (2001, p.35-36) ressaltam que para melhor compreensão
de certos conteúdos, há a necessidade de se prolongar a aula para além do espaço
da sala de aula, como por exemplo, [...] o estudo das paisagens, dos lugares, dos
espaços urbanos, da degradação ambiental, tão falado e que normalmente chegam
ao aluno através de uma imagem, uma gravura no livro didático [...]. Afirmam, ainda
que:
É neste momento que a introdução da prática do trabalho de campo
auxiliaria como um recurso complementar do processo de construção
desses conhecimentos. Portanto, o trabalho de campo como recurso
didático é de primordial importância, porque oferece potencialidades
formativas que devem ser levadas em conta no processo ensinoaprendizagem como uma das técnicas pedagógicas mais acessíveis e
eficazes ao professor (RODRIGUES; OTAVIANO, 2001, P. 35-36).
Nesta perspectiva, Tomita (1999) corrobora quando menciona que o trabalho
de campo é uma atividade que pode contribuir para estreitamento da relação entre
os alunos e entre aluno e professores, além de assimilar e compreender melhor os
conteúdos específicos, podendo influir na modificação de atitude e formação da
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personalidade que mais tarde poderá servir para a vida pessoal e profissional. É
considerado um bom instrumento para despertar a atenção dos alunos, alcançando
assim, bons resultados.
Em relação a integração da teoria e prática, no ensino de geografia, Castelar
(2010) discorre:
Na aquisição do conhecimento, devem-se evidenciar as capacidades de
raciocínio por meio da interligação entre os conceitos, possibilitando a
organização de uma rede de conceitos que estruturam o conceito-chave
que está sendo o principal. Em função disso, há necessidade de aprofundar
questões acerca das teorias da aprendizagem para se ter clareza dos
caminhos que nortearão o processo de ensino e aprendizagem, ou seja, a
didática que irá estruturar o passo-a-passo da relação entre teoria e prática
de sala de aula (CASTELLAR 2010, p.99).
Com isso, ao final da atividade foi possível despertar e estimular os alunos da
escola, bem como vivenciar com os mesmos a aproximação da teoria com a prática, a partir
de uma aula de campo. Para os acadêmicos foi significativo observar o entusiasmo e a
empolgação dos alunos do 7º ano , bem como o interesse nas atividades realizadas,
demonstrando o quanto é motivador o desenvolvimento de atividades diferentes e com
significado aos escolares.
4 – Conclusões
Na visão dos acadêmicos, o processo percorrido durante as disciplinas de
prática de ensino em geografia e práticas interdisciplinares de pesquisa foi muito
enriquecedor para a vida profissional. Perceberam que é possível derrubar as
barreiras encontradas no dia a dia dentro da escola, com planejamento, dedicação e
usando a criatividade para explorar ambientes próximos à sala de aula, ou até
mesmo dentro dela para diminuir a monotonia, acreditando e confiando no potencial
dos alunos.
Já no que se refere à formação inicial dos docentes de geografia, percebeuse a dedicação dos mesmos na preparação de atividades diferenciadas e práticas,
que apesar de demandar uma carga maior de trabalho, é fato que o nível de
apreensão é maior, tanto por parte dos alunos da educação básica, como do próprio
professor. Com isso, propicia repensar as práticas e o ato de repensar uma prática,
consiste já numa prática do professor pesquisador, e a identidade profissional
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começa a ser construída neste contexto da formação profissional. Assim, as
experiências vivenciadas nas disciplinas prática de ensino em geografia e práticas
interdisciplinares de pesquisa, foram ricas no que se refere ao aproveitamento.
As atividades realizadas durante as disciplinas mostraram-se muito valiosas a
reflexão da prática docente. É patente a necessidade da realização de aulas de
campo, pois traz uma possibilidade única do aluno reconhecer-se como integrante
do espaço geográfico, como fator de transformação da sociedade, no caso da
Ferrovia Noroeste do Brasil, como agente de preservação de patrimônio histórico e
cultural de valor inquestionável para a cidade e região.
Assim, as atividades práticas contribuíram para que os alunos das escolas
adquirissem noções básicas sobre os conteúdos ministrados, visto que os mesmos
puderam participar de uma atividade fora da sala de aula, promovendo assim a
interação dos mesmos, facilitando a compreensão e fixação do conteúdo. Além
disso, propiciaram a aproximação entre a teoria e a prática no ensino de geografia,
sendo que a partir das reflexões teóricas e a realização de atividades práticas e de
campo, espera-se contribuir para melhorar a formação do professor, bem como a
qualidade de ensino de geografia.
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