Baseada no Halliday - Vol. 3 – Cap. 34 – 4ª. Edição O MAGNETISMO E A MATÉRIA Física II – Curso Licenciatura em Química Selma Rozane 2015.2 O MAGNETISMO E A MATÉRIA O magnetismo é um dos campos de estudo mais antigos da ciência. A primeira aplicação tecnológica dos materiais magnéticos foi a bússola, inventada pelos chineses em torno de 2000 a.C.. A bússola tornou-se um instrumento de grande utilidade para os povos, da Ásia e da Europa, em seus deslocamentos, e também serviu para aguçar a curiosidade dos cientistas. Os primeiros relatos sobre as propriedades "maravilhosas" de certo minério de ferro foram feitos pelos gregos e datam de 800 a.C.. O minério, depois reconhecido como sendo Fe3O4, foi chamado de magnetita, pois era encontrado uma região denominada Magnésia, localizada da Ásia Menor. Durante séculos ele intrigou cientistas e filósofos com suas propriedades de atrair e repelir minérios de ferro e de se orientar na Terra. Tais minérios foram mais tarde chamados de ímãs e o seu estudo foi chamado magnetismo [REZENDE S. M, "Magnetismo na Terra Brasilis”. Revista Brasileira de Ensino de Física, vol. 22, no. 3, Setembro, 2000]. Materiais Magnéticos* Materiais magnéticos estão presentes em inúmeras áreas da vida moderna, dos motores elétricos aos discos de computador, passando por carros, televisores e cartões de crédito. Sua importância e complexidade fazem com que as pesquisas sobre magnetismo sejam intensas, com grandes avanços nas últimas décadas. Forças magnéticas fazem funcionar motores e altofalantes usados para converter energia elétrica em movimento e som. São ainda responsáveis pelas imagens que aparecem nas telas da televisão ou do computador. O magnetismo permite também visualizar o interior do corpo – através das imagens por ressonância magnética –, faz levitar trens de alta velocidade, permite captar sinais eletromagnéticos codificando sons e imagens para o rádio ou a TV, possibilita a gravação e a leitura de informações em fitas de áudio e vídeo, discos de computador, cartões de banco e cartões de crédito. Atuam também em geradores e transformadores para fornecer eletricidade para casas e indústrias. Um exemplo concreto do enorme progresso da tecnologia de materiais magnéticos foi a recente descoberta, em 1983, de novos ímãs – chamados magnetos ‘duros’ ou ‘permanentes’ – de neodímio-ferro-boro, cem vezes mais potentes que os ímãs de aço-carbono até então usados. Com isso, centenas de aplicações tecnológicas – em especial motores e altofalantes – tiveram drástica redução de peso e tamanho e grande aumento na eficiência. Por outro lado, melhorias em materiais magnéticos ‘doces’ ou ‘moles’ – de fácil magnetização e desmagnetização –, muito usados em transformadores, permitem economizar bilhões de dólares todos os anos ao diminuir perdas energéticas na distribuição de eletricidade. *Texto: Física para o futuro – SBF. Ímãs / magnetos Um ímã é definido com um objeto capaz de provocar um campo magnético à sua volta e pode ser natural ou artificial. Um ímã natural é feito de minerais com substâncias magnéticas, como por exemplo, a magnetita, e um ímã artificial é feito de um material sem propriedades magnéticas, mas que pode adquirir permanente ou instantaneamente características de um ímã natural. Figura 1 Figura 2 Figura 1 – Uma barra imantada é um dipolo magnético. A limalha de ferro sugere as linhas de campo magnético. Figura 2 – Quebrando-se um ímã, cada fragmento se torna um novo ímã cada um com seu respectivo pólo norte e sul. A estrutura magnética mais simples que existe na natureza é o dipolo magnético. Não existe monopólos magnéticos, isto é, não existe estruturas magnéticas análogas a cargas elétricas. Cargas elétricas podem estar isoladas. O Magnetismo e o Elétron Os elétrons podem produzir magnetismo de três modos, a saber: i) O magnetismo de cargas em movimento. Elétrons, assim como outras partículas carregadas, se movendo no vácuo ou no interior de um fio condutor criam um campo magnético externo. Estudamos na aula sobre campo magnético. ii) O magnetismo e o spin. Um elétron isolado pode ser considerado classicamente como uma minúscula carga negativa girando, com um momento angular intrínseco ou spin, S. Associado ao momento angular intrínseco existe o momento magnético do spin s. O módulo do momento angular (teoria quântica), é dado por: 𝑆= ℎ 4 = 5,272910−35J, sendo h á constante de Planck. A unidade chamada magnéton de Bohr (B), definida em termos de três constantes fundamentais é mais utilizada para medirmos o momento magnético de átomos e elétrons. 1𝜇𝐵 = 𝑒ℎ = 9,27 × 10−24 J/T 4𝜋𝑚 O magnéton de Bohr (a) (b) Figura 3 – As linhas (a) campo elétrico e (b) campo magnético para um elétron isolado. Tabela 1: Algumas propriedades do Elétron livre Propriedade Símbolo Valor Massa m 9,1094 × 10−31 kg Carga −𝑒 −1,6022 × 10−31 C S 5,2729 × 10−35 J.s 𝜇𝑠 9,2848 × 10−24 J/T Momento angular do spin Momento magnético do spin iii) O magnetismo do Movimento Orbital. Os elétrons ligados aos átomos existem em estados que possuem um momento angular orbital intrínseco Lorb, correspondente classicamente ao movimento do elétron numa órbita em torno do núcleo do átomo. Estes elétrons numa órbita são equivalentes a minúsculas espiras de correntes e possuem um momento magnético orbital orb associado a eles. Assim como todas as outras propriedades físicas em nível atômico, o momento angular orbital do elétron é quantizado, sendo restrito a múltiplos inteiros do magnéton de Bohr. Perguntas: a) Todo sólido contém elétrons; por que todas as coisas não são magnéticas? b) Por que apenas o ferro e outras poucas substâncias magnetizadas podem atrais pregos? Possíveis Respostas: • Na maioria dos casos, os momentos magnéticos dos elétrons num sólido se combina de tal modo que se cancelam (sem efeito externo). Efeitos Magnéticos Externos: (i) Elétrons não emparelhados. (ii) Circunstâncias especiais que permitam o alinhamento em grande escala dos momentos de dipolo magnéticos. • Em certo sentido, todo material é magnético. Quando falamos popularmente do magnetismo, quase sempre estamos nos referindo ao ferromagnetismo (a forma mais forte de magnetismo). O Momento Angular Orbital e o Magnetismo A figura 4 mostra um elétron se movendo numa órbita circular de raio r com velocidade escalar v . O elétron circulante é equivalente a uma espira de corrente. O momento de dipolo magnético de uma espira de corrente é definido por: 𝜇 = 𝑁𝑖𝐴. Logo, 𝜇𝑜𝑟𝑏 = 𝑖𝐴 , onde i quantidade de carga que passa por qualquer ponto da órbita por unidade de tempo. Como a carga é igual a e, o tempo é o período 𝑇 = 𝜇𝑜𝑟𝑏 = 2𝜋𝑟 𝑣 e área 𝐴 = 𝜋𝑟 2 , temos que 𝑒 2𝜋𝑟/𝑣 𝜋𝑟 2 → 𝜇𝑜𝑟𝑏 = 1 𝑒𝑣𝑟 2 Figura 4 (*) Lembrando que momento angular é dado por: 𝐿 = 𝑟 × 𝑝 𝐿 = 𝑚𝑣𝑟 para 𝑟 𝑣 Escrevemos o momento angular do elétron como: 𝐿𝑜𝑟𝑏 = 𝑚𝑣𝑟 (**). Combinando (*) e (**), encontramos 𝜇𝑜𝑟𝑏 = − 𝑒 𝐿 (momento orbital). 2𝑚 𝑜𝑟𝑏 A física quântica nos diz que o momento angular orbital de um elétron é quantizado, sendo o seu menos valor h/2 e seus outros valores possíveis , múltiplos inteiros dele. 𝜇𝑜𝑟𝑏 = 𝑒 ℎ 𝑒ℎ = 2𝑚 2𝜋 4𝜋𝑚 Um magnéton de Bohr (B) é igual ao momento magnético orbital de um elétron que circula numa órbita como o menor valor permitido (não-nulo) do momento angular orbital. A Lei de Gauss do Magnetismo A Lei de Gauss do magnetismo, que é uma das equações básicas do eletromagnetismo. Esta lei estabelece que o fluxo magnético através de qualquer superfície fechada deve ser zero. 𝐵 = 𝐵 ∙ 𝑑𝐴 = 0 (Lei de Guass do Magnetismo) A Lei de Gauss do magnetismo é uma afirmação formal da observação de que NÃO existem monopólos magnéticos. Figura 5 – As linhas de campo magnético para (a) um solenóide curto e (b) uma barra imantada. Em cada um destes casos a extremidade superior é o pólo norte magnético. (c) As linha de campo elétrico para dois discos carregados. Para distâncias grandes, todos os três campos são semelhantes ao campo de um dipolo. As curvas destacadas por I e II representam superfícies gaussianas fechadas. O Magnetismo da Terra O campo magnético da Terra é aproximadamente igual ao de um dipolo, com momento de dipolo de ≅ 𝟖, 𝟎 × 𝟏𝟎𝟐𝟐 J/T, próximo ao centro da Terra. O momento de dipolo faz um ângulo de 11,5o com o eixo de rotação da Terra, as linhas de campo magnético emergindo do seu hemisfério sul. Acreditamos que este campo seja produzido por espiras de correntes induzidas na camada líquida da região mais externa do núcleo da Terra. A direção do campo magnético local em qualquer ponto sobre a Terra é dada pela ângulo de declinação do campo (em um plano horizontal) a partir do norte verdadeiro e pelo ângulo de inclinação (em um plano vertical) a partir da horizontal. (a) Em (a) - Sir Willian Gilbert mostrando à rainha Elizabeth I um ímã esférico cujo campo magnético representa o da Terra. Naqueles dias de grandes explorações marítimas e de navegações precárias, a descoberta de que a Terra era um ímã gigantesco foi de grande importância prática. (b) Em (b) - O campo magnético da Terra representado como um dipolo elétrico. Seu eixo de dipolo MM faz um ângulo de 11,5o com o eixo de rotação da Terra RR. O polo norte geográfico PG e o polo norte magnético PM. (c) Em (c) – Um perfil magnético do fundo do oceano em cada um dos lados do sulco do Meio do Atlântico. O fundo do oceano, formado com material expelido através do sulco e que se espalhou lateralmente, juntamente com a migração dos continentes, é um registro da história magnética do núcleo da Terra. O Magnetismo da Terra - continuação Imagem gerada de slide do Prof. Cristóvão R.M Rincoski O Magnetismo da Terra - continuação Imagem gerada de slide do Prof. Cristóvão R.M Rincoski Paramagnetismo, Diamagnetismo e Ferromagnetismo Em termos da resposta à ação de um campo magnético externo, os materiais podem ser classificados como paramagnéticos, diamagnéticos, ferromagnéticos, dentre outros. Paramagnetismo Os materiais paramagnéticos que são fracamente atraídos por um pólo magnético têm momentos de dipolo intrínsecos que tendem a se alinhar a um campo magnético externo, assim intensificando o campo. Esta tendência é prejudicada pela agitação térmica. A magnetização M de uma amostra, que é seu momento magnético por unidade de volume, é dada aproximadamente pela Lei de Curie, 𝑀=𝐶 𝐵 𝑇 (Lei de Curie) Na expressão acima C é a constante de Curie (específica de cada material), B o campo magnético , medido em tesla , e T a temperatura , medida em kelvin. A lei de Curie é incompleta, pois não prediz a saturação que ocorre quando a maioria dos dipolos magnéticos estão alinhados, pois a magnetização será a máxima possível (𝑀𝑚á𝑥 = 𝜇𝑁 , com momento de dipolo magnético, N 𝑉 número de átomos na amostra e V da amostra), e não crescerá mais, independentemente de aumentar o campo magnético ou diminuir-se a temperatura. Figura 6 – A razão M/Mmáx para o sulfato de cromo-potássio, um sal paramagnético , medida em função do campo magnético para diversas temperaturas baixas. (W.E. Henry) Diamagnetismo Os materiais diamagnéticos são fracamente repelidos pelo pólo de um ímã forte. Os átomos desses materiais não têm momentos de dipolo magnético intrínseco. Entretanto, um momento de dipolo pode ser induzido por um campo magnético externo, seu sentido sendo oposto ao do campo. O diamagnetismo existe em todos os materiais, mas é tão fraco que normalmente não pode ser observado quando o material possui uma das outras duas propriedades: ferromagnetismo ou paramagnetismo. Levitação Magnética É possível um ser vivo levitar? Ao cidadão comum, a resposta a essa pergunta está apenas nos livros de ficção científica. No entanto, a ciência e a tecnologia têm encontrado formas de fazer seres vivos levitarem. Continue lendo - Física na Escola, v. 1, n. 1, 2000. Figura 7 - Uma levitação diamagnética Figura 8 Ferromagnetismo Nos materiais ferromagnéticos, como o ferro ( outros: aço macio, níquel, cobalto), ocorre uma interação quântica entre os átomos vizinhos que bloqueia os dipolos atômicos num rígido paralelismo, apesar da tendência a uma orientação caótica em virtude da agiatção térmica. Esta interação desaparece bruscamente numa temperatura bem definida, denominada temperatura de Curie, acima da qual o material se torna simplimente paramagnético. Para o ferro TC = 1043 K (=770oC). Para estudarmeos a magnetização de um material ferromagentico como o ferro, é conveniente dar-lhe a forma de um toróide fino, como na figura 9. Figura 9 - Uma amostra de ferro, cujas propriedades ferromagnéticas estão sendo estudadas, tem a forma de um anel de Rowland (Físico americano - H. A. Rowland). A bobina primária P é usada para magnetizar o anel. A bobina secundária S é usada para medir o campo magnético total B no interior da amostra. Figura 10 - Uma curva de magnetização para o material do núcleo do anel de Rowland. No eixo vertical, o ponto 1,0 corresponde ao alinhamento completo dos dipolos atômicos no interior da amostra. (Lembrando 𝐵0 = 𝜇0 𝑛𝑖𝑃 ). Histerese As curvas de magnetização para os materiais ferromagnéticos não se superpõem quando aumentamos e, depois diminuímos o campo magnético externo B0. A figura 11 mostra o gráfico de BM versus B0 durante as seguintes operações com o anel de Rowland: (1) começando com o ferro desmagnetizado (ponto a), aumenta-se a corrente no toróide até que 𝐵0 (= 𝜇0 𝑛𝑖) atinja o valor correspondente ao ponto b; (2) diminui-se a corrente no toróide até torna-se nula (ponto c); (3) inverte-se o sentido da corrente no toróide até e aumenta-se sua intensidade até que o ponto d seja atingido; (4) reduz-se novamente a corrente a zero (ponto e); (5) torna-se a inverter o sentido da corrente até que o ponto b seja atingido outra vez. A falta de superposição mostrada na figura 11 é chamada de histerese e a curva bcdeb é chamada ciclo de histerese. Observamos que nos pontos c e e, o núcleo de ferro está magnetizado, embora não haja corrente no enrolamento toroidal; trata-se do fenômeno familiar do magnetismo permanente. Figura 11 - Uma curva de magnetização (ab) para uma amostra ferromagnética e um ciclo de histerese associado (bcdeb). Classificação Magnética dos Materiais Slide da Profa. T.C.L . Paiva - Instituto de Física - UFRJ Magnetismo sob o ponto de vista químico O fenômeno do magnetismo pode ser explicado através das forças dipolo. Por exemplo, os materiais possuem dois diferentes polos, quando entram em contato com outros materiais os polos iguais se repelem e os polos opostos se atraem. Este fenômeno recebe a denominação de “dipolo magnético” e pode ser considerado uma grandeza. A força do imã é determinada por essa grandeza. Os próprios átomos são considerados imãs, por exemplo, com polos norte e sul. As bússolas magnéticas trabalham com base no magnetismo, veja o processo de funcionamento: - Um imã pequeno e leve se encontra no ponteiro das bússolas, este imã estabelece ao seu redor um campo magnético e está equilibrado sobre um ponto que funciona como pivô: sem atrito e de fácil movimento; - quando o imã é situado em um campo de outro imã, esse tende a se alinhar ao campo de referência; - a Terra possui um campo magnético que funciona como referencial para o funcionamento da bússola. A bússola é um dispositivo extremamente simples, como a Terra é um imã e a bússola também, surge uma atração magnética. E não importa onde você esteja, ao segurar uma bússola ela vai apontar sempre para o Polo Norte, isto porque o campo magnético da Terra faz com que o ponteiro aponte nesta direção. Por Líria Alves Graduada em Química http://www.brasilescola.com/quimica/magnetismo.htm - acesso em 23/10/2015