Não podem continuar a existir cursos sem alunos

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ID: 50114749
07-10-2013 | Emprego & Universidades
Tiragem: 16630
Pág: 2
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Semanal
Área: 28,21 x 36,29 cm²
Âmbito: Economia, Negócios e.
Corte: 1 de 5
António Rendas, presidente do CRUP,
gostava de ver mais empresários e
banqueiros a falar sobre Ensino Superior.
REDE DE ENSINO SUPERIOR
“Não podem
continuar a existir
cursos sem alunos”
As instituições deverão apresentar propostas de fusão de cursos até ao final deste mês.
António Rendas diz que públicas e privadas estão a preparar a reorganização da rede.
“É
inacreditável que as universidades não se preocupem
com a empregabilidade”.
António Rendas, presidente
do Conselho de Reitores,
apela às instituições de Ensino Superior e à direcção-geral de Ensino Superior
que passem a ter atenção ao percurso dos diplomados na sua inserção no mercado de emprego. Um mecanismo que a Universidade
Nova de Lisboa já tem no terreno. Quando ainda falta a terceira fase do concurso de acesso
ao Ensino Superior, ficaram nove mil vagas
por preencher e cursos com uma baixa ocupação que dificilmente poderão sobreviver. Entre as razões desta quebra de candidatos, o reitor da Universidade Nova de Lisboa aponta a
elevada taxa de reprovação no ensino secundário. “O número dos estudantes do ensino secundário que chega ao ensino superior continua a ser reduzidíssimo”, afirma.
Como é possível sobreviver com 66% das
vagas preenchidas como aconteceu na
Universidade do Algarve?
Mas é a única. Esses são os resultados da 2ª
fase do concurso nacional de acesso ao ensino
superior. Há ainda uma terceira fase de candidaturas. Em média, o sistema universitário
preencheu 94% das vagas. No caso do universitário não é uma situação difícil.
Quais são as razões deste baixo preenchimento de vagas?
É evidente que há menos alunos, em resultado
da evolução demográfica. Alguns argumentam
que outra das razões poderá ser o facto das provas de acesso serem mais difíceis. Mas tem que
se olhar para o ensino secundário com muito
cuidado, porque a taxa de reprovação é muito
grande. Sem introduzir o facilistimo, tem que
se olhar para o tempo médio que um estudante
está no secundário e os alunos deveriam ser
acompanhados. No ensino superior um estudante deve estar no máximo mais dois anos
para além da duração ‘standard’ da formação.
Criamos um grupo de trabalho para acompanhar o insucesso. Preocupa-me a evolução demográfica, mas a percentagem de estudantes
do secundário que chegam ao ensino superior é
reduzidíssima. Terá que haver um esforço do
ensino secundário, mas também do Ensino Superior, para adequar as ofertas curriculares ao
mercado de trabalho. Há uns anos falar de emprego nas instituições era considerado um anátema. É inacreditável que as universidades não
se preocupem com a empregabilidade e o per-
PERFIL
O médico reitor
Bem humorado, o sportinguista
que gosta de ir ao estádio ver
os jogos, ri-se ao dizer que, até há
pouco tempo, era o
único alfacinha de gema
a dirigir uma universidade de Lisboa. Reeleito para um novo mandato como presidente do Conselho de Reitores, este médico de
profissão que liderou a Faculdade
de Ciências Médicas fala da experiência que teve no estrangeiro
para defender que é muito positivo que alunos, docentes e investigadores tenham experiências internacionais. Licenciado em Medicina pela Faculdade de Medicina
de Lisboa doutorou-se em no Cardiothoracic Institute da Universidade de Londres na área de Patologia Experimental. De 1977 a 1978
foi investigador em Patologia, no
Departamento de Patologia, no
Centro Médico do Hospital de
Crianças, da Escola Médica de Harvard, nos Estados Unidos. Desde
1982 é professor Catedrático da
Faculdade de Ciências Médicas da
Universidade Nova de Lisboa. Em
Janeiro de 2007 tomou posse
como Reitor da instituição em que
tinha sido director do Instituto de
Higiene e Medicina Tropical e da
Faculdade de Ciências Médicas.
curso depois da graduação dos seus diplomados.
Isso não se passa em nenhuma parte do mundo.
Existe esse autismo nalgumas instituições
em relação ao mercado de emprego?
É muito fácil a pessoa só estar focada apenas
naquilo que é o seu domínio de saber. Em países como Portugal, de escassos recursos, é
muito confortável a pessoa estar no seu canto,
o que actualmente é impensável. Na Universidade Nova, por exemplo, qualquer docente ou
investigador tem que assumir que faz parte da
organização, tendo que contribuir para o desenvolvimento global da universidade, o que
passa por ver o que acontece aos diplomados.
Fazemos o acompanhamento da inserção profissional dos diplomados, através de um estudo com inquérito aos graduados. Estamos
muito preocupados. Mas há instituições que
não se preocupam. O próprio Governo, através
da Direcção-geral do Ensino Superior, podia
acompanhar estes dados de uma forma mais
contínua para permitir que houvesse essa resposta em ligação com os ministérios da Economia e do Trabalho. Faz-me sempre confusão
que quando se fala de financiamento fale-se
apenas das verbas provenientes do Ministério
da Educação, mas podem vir dos ministérios
da Economia e do Trabalho, como acontece
em muitos outros países
É preocupante que no politécnico haja escolas que só preencheram 30% das vagas?
Já me pronuncie internamente sobre esse fenómeno. O CRUP já fez sentir a sua preocupação e estamos disponíveis para falar com os
politécnicos. Foi criado um grupo de trabalho, coordenado por Júlio Pedrosa, com representantes do Conselho Coordenador
Leia
na dos Institutos Politécnicos (CCISP) e
ta
is
v
e
entr
da Associação Portuguesa do Ensino
em
íntegra .pt Privado (APESP) que tem, até ao final
do ano para propor ao Governo medidas
ico
econom
de reorganização – que passam por dar
uma maior ênfase a soluções regionais que
terão que ser acordadas com as comissões
regionais. Mas ninguém pode ignorar que em
algumas cidades os politécnicos têm um papel
económico muito grande.
Estão no horizonte fusões e encerramentos de cursos e instituições...
Vamos ver. Mas para haver fusões terá que
existir um parecer da Agência de Avaliação e
Acreditação. Conseguimos adiar até 31 de Outubro o prazo para que as instituições possam
propor fusões. E vai haver mudanças concerteza porque não podem continuar a existir
cursos sem alunos. ■ Madalena Queirós
“Está nas mãos
O presidente do CRUP apela ao Governo
que negoceie com a UE fundos para a
Ciência e o Ensino Superior. “Esta é a última
oportunidade”, alerta António Rendas
O
actual modelo de financiamento
“está totalmente distorcido”. A tutela
devia começar já a renegociar a fórmula para que possa ser utilizada na
elaboração do Orçamento do Estado de 2015.
As universidades portuguesas vão
conseguir captar parte dos 70 mil milhões
de fundos da UE para a Ciência até 2020?
Está totalmente nas mãos do Governo. Portugal vai assinar, em breve, um acordo de parceria
com a UE em que são definidas as prioridades
dos fundos europeus para os próximos sete
anos. As universidades já disseram as áreas que
queriam: biotecnologia, transferência de conhecimento, gestão regional. Mas se as prioridades portuguesas continuarem a ser a cons-
ID: 50114749
07-10-2013 | Emprego & Universidades
Tiragem: 16630
Pág: 3
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Semanal
Área: 27,50 x 35,90 cm²
Âmbito: Economia, Negócios e.
Corte: 2 de 5
Fotos: Paula Nunes
“Percebo que
o ministro esteja
espartilhado
pelas Finanças”
O Governo está mais dialogante
com o Ensino Superior, mas as imposições
do Ministério das Finanças continuam a
dificultar a vida às instituições.
O
ministro da Educação e Ciência está
sensível às questões que levantamos,
mas percebo que esteja muito espartilhado pelo ministério das Finanças
e pela Direcção Geral do Orçamento”. António
Rendas reconhece que Nuno Crato, no último
ano, “ tem estado mais presente do que anteriormente, nas questões essenciais”, nomeadamente na preparação do Orçamento de Estado para
2014 .O presidente do CRUP está “muito preocupado” com a cativação de 2,5% do orçamento
de 2013 feita pelas Finanças , mas espera que a
descativação desta verba ocorra até ao final do
ano. Os reitores fizeram chegar uma carta, em
que explicavam o problema ao primeiro-ministro que respondeu ter tomado conhecimento do
assunto. Quanto às relações com o actual secretário de Estado do Ensino Superior, o reitor da
Universidade Nova de Lisboa diz ter “uma enorme facilidade de lhe falar regularmente o que é
positivo”. “Acho que há um canal de comunicação que se abriu, que já existia mas muito menos
frequentemente”, sublinha.
Para além da relação com a tutela há ainda
um longo caminho a percorrer para aprofundar
a proximidade das universidades e o mundo dos
negócios. “As empresas têm a ideia que vão buscar o Ronaldo às instituições, quando podiam ir
buscar a equipa toda do Real Madrid”. Uma imagem utilizada por António Rendas para dizer
que os empresários “pescam à linha” nas instituições quando deveriam utilizar “uma rede”.
Uma abordagem que depois se reflecte no reduzido contributo financeiro das empresas às universidades. “Quando é que as universidades portuguesas vão conseguir captar verbas como
Oxford que recentemente conseguiu 1,5 mil milhões de libras de doações de organizações privadas? O presidente do CRUP responde que as sociedades anglo-saxónicas sempre tiveram uma
tradição de filantropia que não existe nas sociedades latinas. “Temos que continuar a ajudar as
pessoas carenciadas, mas devemos compreender que há que investir nos melhores, porque
esse valor daqui a dez anos decuplica”, sublinha.
Elogiando o banqueiro Emílio Botin, presidente do banco Santander, por ter criado a
rede Universia e ter eleito o Ensino Superior
como a principal área de responsabilidade social do banco, o reitor da Universidade Nova de
Lisboa diz que gostava de ter mais banqueiros,
empresários portugueses a falar do Ensino Superior. “As vezes tenho a sensação que as universidades são mal amadas” pela sociedade
portuguesa, remata. ■ M.Q.
“
do Governo conseguir fundos da UE”
trução de pavilhões polidesportivos, rotundas
e ginásios continuaremos a ser um país de turistas à beira mar plantado. Mas esse é um país
em que não são precisas universidades. Esta é a
nossa única oportunidade, porque o investimento no Ensino Superior e Ciência tem um
efeito económico multiplicador.
Como é possível em seis anos as universidades terem perdido de 170 milhões de euros e
terem diplomado mais dez mil pessoas?
Vamos aguentando até ao limite. Se o OE 2014 for
como o que foi apresentado, vamos conseguir
manter-nos. Mas só obtivermos as receitas próprias previstas e nos garantirem uma verdadeira
autonomia, que não a autonomia reforçada – porque esse é um conceito utilizado pela tutela, que
ainda ninguém conseguiu explicar. A Universidade Nova, por exemplo, quer ser fundação, o que
lhe permitirá ter mais autonomia. Porque as universidades do Porto, Minho e ISCTE que têm esse
estatuto têm regras de contratação diferentes e
não foram afectados pela cativação dos 2,5%. Es-
Essa é a
nossa única
oportunidade
porque o
investimento no
ensino superior
e ciência tem
um efeito
multiplicador.
sessãoaspectosfavoráveis.
A questão da imposição das Finanças de um
limite às receitas próprias ficou resolvida?
O argumento que nos foi apresentado é que existiriam autarquias que recorriam a esse mecanismo - elaborar um orçamento superavitário, calculando uma receita superior, para depois se
não o atingissem recorrerem à banca. O que nos
foi dito é que haveria o receio que as universidades pudessem fazer o mesmo. Mas as universidades não podem fazer empréstimos.
Continuamos com orçamento históricos
sem aplicação de formula. O modelo actual é
injusto?
O modelo actual está totalmente distorcido. A
fórmula de financiamento deve alterar-se a partir de agora para ter efeitos em 2015. Espero que
haja critérios que permitam que o financiamento do Ensino Superior seja baseado em ‘outputs’.
Mas o modelo não pode ser alterado em cima da
hora, tem que ser preparado. ■ M.Q.
“As empresas têm a ideia
que vão buscar o Ronaldo
às instituições, quando
podiam ir buscar a equipa
toda do Real Madrid”.
ID: 50114749
07-10-2013 | Emprego & Universidades
Tiragem: 16630
Pág: 4
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Semanal
Área: 18,18 x 34,32 cm²
Âmbito: Economia, Negócios e.
Corte: 3 de 5
INTERNACIONALIZAÇÃO
António Rendas defende propinas
mais elevadas para os estudantes
internacionais fora da Europa.
“Temos de atrair mais alunos
internacionais para o 1º ciclo”
A publicação do estatuto do estudante internacional é essencial para que o Ensino
Superior em Portugal se transforme numa “indústria exportadora”.
C
riar mais cursos de licenciatura em inglês é
uma das formas de
atrair mais alunos internacionais para as
instituições de Ensino
Superior portuguesas. António Rendas defende que estes alunos possam
ser escolhidos de forma diferente e
que paguem propinas mais elevadas.
O que é que falta para que o Ensino
Superior português se transforme
numa “indústria exportadora”?
Seria uma mudança muito positiva
para Portugal se, em paralelo com a
língua portuguesa, houvesse uma
oferta para os cursos de o primeiro ciclo em inglês, nas áreas que forem
competitivas. Isso permitiria atrair
mais estudantes internacionais o que
criaria uma cultura mais internacional nas instituições. O nosso objectivo
é que os estudantes, logo a partir do
primeiro ano, tenham experiências internacionais, com estudantes de outros países. Neste momento já temos
muitos alunos no programa Erasmus.
Teremos agora que pensar atrair mais
estudantes internacionais para o primeiro ciclo.
O que é que falta fazer para concretizar esse objectivo?
O que falta é que o Governo publique a
legislação do aluno internacional, que
“É importante
clarificar que nenhum
estudante português
que se queira
candidatar fique
de fora por causa
dos estudantes
internacionais”.
propusemos em Agosto do ano passado. Mas é importante clarificar que
nenhum estudante português, que se
queira candidatar ao Ensino Superior,
deverá ficar de fora, por causo destes
estudantes internacionais. São dois
campeonatos diferentes. O que vai
permitir é que cada instituições possa
definir regras diferentes de acesso
para os estudantes internacionais.
E as propinas serão mais elevadas?
Claro! Cada instituição terá liberdade
de definir uma propina para os estudantes internacional que poderá ser
muito heterogénea como acontece
com os programas de segundo ciclo e
doutoramentos. ■
ACORDO COM OS EMIRADOS ÀRABES UNIDOS
Uma nova aposta geográfica
Intercâmbio de alunos e de professores.
Este será o principal objectivo do acordo feito entre as universidades portuguesas e o Scheikh dos Emirados Árabes Unidos que visitou a semana passada diversas universidades portuguesas.
Um acordo que dará ao Ensino Superior
português “uma outra área de internacionalização”, sublinha António Rendas.
A região “tem imensa capacidade financeira para poder atrair pessoas, mas
sente que se não estiver no espaço global terá menos impacto”, sublinha António Rendas. Este país já tem imensas ligações com os EUA e Inglaterra. “O fac-
to de escolherem Portugal prestigia-nos”, acrescenta. “As negociações correram muito bem”, sublinha. Até porque
“as universidades do país são muito
modernas, com um modelo de gestão
anglo-saxónico”. Actualmente “existe
uma ofensiva económica muito forte
para os Emirados, mas isso não tem
sido acompanhado pela Ciência e Ensino Superior”. O objectivo das autoridades é, “em paralelo com as relações económicas, haver uma maior colaboração
em termos universitários”, acrescenta.
Um reconhecimento que “temos áreas
em que somos muitos bons”. M.Q.
ID: 50114749
07-10-2013 | Emprego & Universidades
Tiragem: 16630
Pág: 1
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Semanal
Área: 27,52 x 33,62 cm²
Âmbito: Economia, Negócios e.
Corte: 4 de 5
“É inacreditável que as
instituições não se preocupem
com a empregabilidade”
Paula Nunes
Instituições e Governo devem preocupar-se com a
inserção dos diplomados no mercado de trabalho defende
António Rendas, presidente do Conselho de Reitores. P.2 a 4
António Rendas anuncia
que instituições públicas e
privadas estão a preparar uma
proposta de reorganização da
rede do ensino superior.
ID: 50114749
07-10-2013 | Emprego & Universidades
“É inacreditável que
as Universidades não
se preocupem com
a empregabilidade”
diz, em entrevista,
António Rendas,
presidente
do Conselho
de Reitores.
➥ SUPLEMENTO
Tiragem: 16630
Pág: 1(Principal)
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Semanal
Área: 7,36 x 4,93 cm²
Âmbito: Economia, Negócios e.
Corte: 5 de 5
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