Osso sesamóide ulnar: é possível haver agenesia?

Propaganda
ARTIGO
Osso sesamóide ulnar: é possível haver agenesia?
DE PESQUISA
Osso sesamóide ulnar: é possível haver agenesia?
Is there agenesis of the ulnar sesamoid bone?
Renata Pilli JÓIAS*
Danilo Furquim SIQUEIRA**
Eduardo Kazuo SANNOMIYA***
Marco Antonio SCANAVINI****
RESUMO
Identificar o surto de crescimento da adolescência, momento em que ocorrem alterações faciais de suma importância à
intervenção ortodôntica/ortopédica, possibilita reduzir o tempo de tratamento ativo bem como obter respostas mais favoráveis.
Apesar de os eventos físicos desse estirão ocorrerem de maneira constante, variam de indivíduo para indivíduo, portanto, não
devem ser vinculados à idade cronológica, mas sim, a indicadores biológicos de maturação, como a maturação esquelética. Há
anos a radiografia carpal é empregada para esse fim com sucesso, porém, um método mais simplificado e rápido, mais acessível
ao clínico e ao paciente, que libera menos radiação, vem sendo empregado como método alternativo de predição de
crescimento: a radiografia periapical do polegar (PP), na qual são observados os estágios epifisários da falange proximal do
primeiro dedo e a ossificação do osso sesamóide ulnar ou adutor da articulação metacarpo-falangeana do polegar. Baseada nessa
premissa foi avaliada a possível agenesia do sesamóide ulnar. A amostra continha 100 PP de voluntários com idade superior
a vinte anos, obtidas por um mesmo operador, em aparelho radiográfico calibrado a 70Kvp e 10mA, e tempo de exposição
de 0,9seg. Para as radiografias nas quais se suspeitou da ausência do referido osso, foram realizadas novas radiografias. Em todas
as radiografias observou-se o sesamóide ulnar, portanto, foi descartada a hipótese de agenesia.
Palavras-chave: Osso Sesamóide Ulnar; Idade Óssea; Crescimento.
ABSTRACT
Identification of the pubertal growth spurt allows a reduction in the period of active orthodontic treatment, as well as
achievement of more favorable orthopedic responses. The physical events of this spurt are regular; however, the variation
among individuals does not allow their correlation with chronological age, but rather to biological indicators such as skeletal
maturation. The carpal radiograph has been successfully performed for this purpose for years, since it is base don analysis
of 30 ossification centers in a same region, in a reproducible manner and with proper patient protection against radiation.
Thumb radiograph on the periapical film (TR) is a simpler and faster method with less radiation and is available to the
clinician as an option for growth prediction, since it allows observation of the epiphyseal stages of the proximal phalanx
of the first finger and ossification of the ulnar sesamoid bone. Based on this assumption, the present study evaluated the
possibility of agenesis of the ulnar sesamoid bone, which might change the concept of utilization of the TR as a method
for growth prediction. A sample of 100 TR was achieved from 100 volunteers aged more than 20 years, by a single operator
in a calibrated X-ray machine at 70Kvp and 10mA and exposure time of 0.9seg. A new radiograph was obtained if the
radiograph revealed suspect of absence of this bone, to confirm the agenesis or indicate the method error. The results
revealed presence of the ulnar sesamoid bone in all TR analyzed. There was no agenesis of the ulnar sesamoid bone,
considering its presence in 100% of the radiographs analyzed.
Key words: Ulnar Sesamoid Bone; skeletal maturation; growth.
*
Aluna do 3o ano da Graduação em Odontologia da Faculdade de Odontologia da Universidade Metodista de São Paulo – UMESP.
** Professor do Programa de pós-graduação em Odontologia, área de concentração em Ortodontia da Universidade Metodista de São Paulo.
*** Professor do Programa de pós-graduação em Odontologia, área de concentração em Ortodontia da Universidade Metodista de São
Paulo. Professor Titular da Disciplina de Imogenologia Bucomaxilofacial da Faculdade de Odontologia da Universidade Metodista
de São Paulo.
**** Professor e Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Odontologia, área de concentração em Ortodontia e diretor da
Faculdade de Odontologia da Universidade Metodista de São Paulo.
48 • Revista Odonto • Ano 14, n. 27/28, jan. dez. 2006,
São Bernardo do Campo, SP, Metodista
JÓIAS, R. P.; SIQUEIRA, D. F.; SANNOMIYA, E. K.; SCANAVINI, M. A.
INTRODUÇÃO
O crescimento ósseo deve ser avaliado para
que um tratamento ortodôntico/ortopédico possa
ser planejado e indicado adequadamente. No surto
de crescimento da adolescência, que se estende por
aproximadamente 24 meses e que pode ser aproveitado para reduzir o tempo de tratamento ativo,
bem como para obter respostas mais favoráveis
aos recursos ortopédicos aplicados, ocorrem mudanças das dimensões faciais relevantes para o
ortodontista7. Dentre as maneiras de determinação
deste crescimento há a idade cronológica, cuja
confiabilidade não é parâmetro em sua totalidade,
pois, embora os eventos físicos de crescimento
ocorram em uma seqüência razoavelmente constante, a idade em que eles se manifestam varia
consideravelmente de criança para criança; e a idade biológica, mais precisa, quando se utiliza a idade
óssea, um meio idôneo de descrever os estágios de
maturação de uma pessoa, pois otimiza as variações individuais ao longo do tempo e a duração e
velocidade do crescimento11 .
Dentre os métodos radiográficos preconizados para a verificação da idade óssea de um indivíduo e que observam o osso sesamóide, há as
radiografias carpal e periapical do polegar.
Essas radiografias oferecem ao ortodontista
alguns dados, que quando bem interpretados,
podem fornecer a idade óssea do paciente, traduzindo seu estágio de desenvolvimento.
Há vasta literatura descrevendo a radiografia
carpal, entretanto, o acesso à obtenção da idade
esquelética por meios mais simplificados também
tem sido difundido.
A radiografia periapical do polegar foi descrita como um método confiável e mais simples
do que o anterior, pois nela são analisados apenas
dois centros de ossificação: a fusão da epífise e
diáfise da falange proximal do primeiro dedo e o
aparecimento e calcificação do osso sesamóide
ulnar3, 7, 11, 12. Outra vantagem importante desta
técnica é a facilidade, pois pode ser operada pelo
ortodontista em seu próprio consultório. Dada a
devida importância desse osso para determinação
da idade óssea na indicação de tratamentos ortopédicos, é importante saber se há possibilidade de
sua agenesia, hipótese que, caso validada, incorreria em reconsiderações a respeito da maneira
de utilização desses métodos de predição de crescimento.
REVISÃO DE LITERATURA
BOWDEN 2 (1971) avaliou o aparecimento
do osso sesamóide, como indicador da puberdade,
em 112 indivíduos australianos. Constatou que o
surgimento do osso estava relacionado com o
surto de crescimento puberal em ambos os sexos,
sendo que no feminino, também havia relação
com o aparecimento do osso pisiforme, o pico de
velocidade de crescimento puberal e a menarca.
CHAPMAN3, em 1972, desenvolveu o primeiro estudo descrevendo o uso da radiografia
periapical do polegar. Afirmava que o osso sesamóide surgia ao longo do desenvolvimento da
articulação metacarpofalangeana do primeiro dedo
e, que a ossificação do adutor iniciava concomitantemente ao surto de crescimento da adolescência e era concluída ao o fim dele.
MARTINS e SAKIMA8 (1977) analisaram os
centros de ossificação identificados na radiografia
de mão e punho para determinar o momento do
surto de crescimento puberal (SCP) em que o
indivíduo se encontrava. A análise baseou-se na
quantidade de calcificação da cartilagem de crescimento localizada entre a epífise e a diáfise dos
ossos longos, até que ocorresse a união da epífise
à diáfise. Os autores chamaram esse grau de
ossificação da cartilagem de crescimento de estágio epifisário e verificaram seu acontecimento,
primeiramente, nas falanges distais, depois nas
proximais e, por último, nas médias.
DEMIRJIEN et al.5 (1985) avaliaram a interrelação entre diferentes indicadores de crescimento: somáticos, esqueléticos, dentais e sexu-
Revista Odonto • Ano 14, n. 27/28, jan. dez. 2006, São Bernardo do Campo, SP, Metodista •
49
Osso sesamóide ulnar: é possível haver agenesia?
ais. Os autores constataram que 75% da
maturação esquelética verificada por meio da
menarca, da velocidade do pico de crescimento,
da maturidade esquelética e do desenvolvimento
dentário estavam relacionadas ao surgimento e
calcificação do osso sesamóide.
A análise dos centros de ossificação do primeiro, segundo e terceiro dedos é tão eficiente
quanto à dos trinta centros de ossificação da mão
(radiografia carpal). Nesse estudo, LEITE;
O’REILLY; CLOSE7 (1987) observaram dois importantes marcadores do crescimento ósseo visíveis
nesse método: o osso sesamóide e a epífise e a
diáfise da falange proximal do primeiro dedo.
Estudando a determinação da idade óssea e o
potencial de crescimento remanescente de um
paciente com Classe II esquelética, SILVA FILHO; VALLADARES NETO; FREITAS11 (1989)
propuseram um método alternativo, prático e simplificado de avaliação da idade óssea, por meio de
uma radiografia periapical da região
metacarpofalangeana do primeiro dedo (radiografia periapical do polegar). Nesse método de
avaliação da idade óssea, desenvolveram uma
metodologia que preconizava, para uma tomada
radiográfica de ótima qualidade do primeiro dedo,
o uso de um anteparo de madeira, filme de tamanho nº 2, cone longo, tempo de exposição de 0,9s
e aparelho de raios-x calibrado a 50Kvp e 10mA.
Ao estudar a maturação esquelética de crianças brasileiras, leucoder mas, de 8 a 15 anos,
TIBÉRIO; VIGORITO15 (1989) propuseram uma
relação do início do surto e do pico de crescimento puberal com os estágios de desenvolvimento dos ossos pisifor me, ganchoso e
falanges média e proximal dos dedos 2 e 3. Os
resultados obtidos apontaram que o início do
surto de crescimento da adolescência teve início,
em ambos os sexos, com a equivalência das
falanges média e proximal dos dedos 2 e 3; e que
o pico de crescimento iniciava com o aparecimento do osso pisiforme.
50 • Revista Odonto • Ano 14, n. 27/28, jan. dez. 2006,
Para avaliar a eficiência do método de predição de crescimento por eles mesmos preconizado em 1989, SILVA FILHO; SAMPAIO;
FREITAS 12 em 1992, utilizaram o Atlas de
Greulich & Pyle como referência para 4 examinadores determinarem a idade óssea de 100 pacientes, comparando a radiografia carpal e a periapical
do polegar. Os resultados das análises estatísticas
apontaram a confiabilidade e possibilidade de
utilização da periapical do polegar como meio
auxiliar para o diagnóstico ortodôntico, em alternativa à radiografia carpal, na determinação do
estágio maturacional do paciente que seria submetido a tratamento ortodôntico.
FRANCO et al. 6 (1996) propuseram-se a
determinar a época da maturação esquelética por
meio de radiografias carpais. Devido à preocupação do ortodontista atual em estabelecer
paralelos entre a idade cronológica e a biológica,
os autores, através de uma revista da literatura,
sugeriram as radiografias como meio de análise,
pois essas revelam a condição dos ossos, dos
quais depende o crescimento físico. As ra diografias da mão são uma possibilidade viável,
pois não oferecem desconforto ou risco ao paciente, são simples e a zona é de fácil acesso. Os
autores destacaram a importância da análise dos
centros de ossificação ou fases de desenvolvimento epifisário em determinados ossos
da mão, ao invés da utilização de Atlas, pois assim, o ortodontista poderia identificar o nível de
maturação esquelética do seu paciente de forma
direta, em relação ao início, ao pico ou ao término do surto de crescimento puberal. Observaram
que a ossificação do sesamóide ulnar e as alterações epifisárias ocorridas nas falanges digitais,
representam um importante indicador da
maturação esquelética e permitem um planejamento de tratamento preciso pelo ortodontista.
Sugeriram a radiografia periapical do polegar
como meio de observação dessas entidades ósseas. Os autores concluíram que: 1) a maturação
São Bernardo do Campo, SP, Metodista
JÓIAS, R. P.; SIQUEIRA, D. F.; SANNOMIYA, E. K.; SCANAVINI, M. A.
óssea é um dado radiográfico útil, prático, viável
e de grande aplicação clínica em Ortodontia para
a determinação do estágio de desenvolvimento do
indivíduo; 2) que o surto de crescimento puberal
varia muito de indivíduo para indivíduo, tanto em
termos de idade cronológica e ocorrência, como
em magnitude e duração; 3- que a ossificação do
sesamóide
ulnar
da
articulação
metacarpofalangeana do dedo polegar é um guia
de maturação física que pode ser utilizado como
indicador do início do surto de crescimento
puberal, que ocorre na faixa etária entre 11 e 12
anos no sexo masculino e 10 e 11 no feminino; 4que, de um modo geral, a igualdade de largura
entre epífises e diáfises das falanges indica o início
do surto de crescimento puberal, que o capeamento epifisário nestes ossos indica o momento do
pico de velocidade de crescimento e que a união
epifisária indica o final do surto.
Na análise da radiografia carpal, o surgimento do osso sesamóide ulnar indica fenômenos
importantes.9 Sua ossificação inicia-se em forma
de amêndoa, entre a distal do metacarpo 1 e a
epífise da falange proximal do polegar (articulação
metacarpofalangeana do polegar). Sua calcificação
começa 6 meses após o início do surto de crescimento puberal (SCP) e termina com o início da
união epífise-diáfise da falange proximal do polegar. Os primeiros sinais de ossificação aparecem
nas diferentes raças, em média, entre 10 e 12 anos
nos indivíduos do sexo feminino e entre 12 e 15
anos nos do sexo masculino. O sesamóide ulnar
nunca surge após o pico de velocidade de crescimento puberal (PVCP) e sua imagem radiográfica
com contornos nítidos indica que o PVCP já
ocorreu e, portanto o crescimento futuro será
progressivamente menor em velocidade.
ABDEL-KADER 1 (1999) avaliou a confiabilidade e a qualidade das radiografias digitais
quando utilizadas para analisar o crescimento
esquelético por meio da visualização do osso
sesamóide ulnar (periapical do polegar) e dos estágios da falange média do terceiro dedo. Seus
resultados indicaram imagens sem distorções e
com bom contraste. Entre as vantagens desse
método, destacou a possibilidade de fazer mensurações nas imagens, visualizá-las em diversos
tamanhos (zoom) e compará-las com outras imagens do mesmo ou de outros pacientes.
SANTOS; ALMEIDA10, em 1999, analisaram
a confiabilidade da utilização de métodos de determinação da idade esquelética por meio das alterações morfológicas das vértebras cer vicais
quando comparados aos eventos de ossificação
que ocorrem na região de mão e punho. A amostra foi composta por 77 telerradiografias em norma lateral e 77 carpais de pacientes de ambos os
sexos, com faixa etária variando dos 8 anos e 5
meses aos 16 anos e 5 meses, todas avaliadas por
6 examinadores. Os autores verificaram e relataram que ambos os métodos de predição de crescimento são confiáveis quando utilizados separadamente e que a correlação entre as técnicas é
positiva.
Considerando a importância do crescimento
craniofacial e sua inter-relação com os estágios de
maturação esquelética e visando o diagnóstico
ortodôntico SIQUEIRA et al. 13 (1999) descre veram dois métodos de avaliação da maturidade
esquelética do paciente (radiografia carpal e
periapical do polegar). Os autores detalharam os
métodos de utilização da radiografia carpal descritos por diversos autores, e destacaram que na
impossibilidade de se obter uma radiografia
carpal, que analisa 30 centros de ossificação, a
radiografia periapical do polegar, que analisa apenas dois, poderia ser um recurso confiável. Independentemente do meio utilizado, os autores destacaram a relevância de conhecer-se o estágio de
maturação óssea apresentada pelo paciente no
momento do tratamento ortopédico-funcional dos
maxilares que visa intervir nas más oclusões caracterizadas por discrepâncias esqueléticas.
SOUZA14 em 2001, por meio de revisão de
literatura, em estudo que correlacionou os estágios de mineralização dentária e o crescimento
Revista Odonto • Ano 14, n. 27/28, jan. dez. 2006, São Bernardo do Campo, SP, Metodista •
51
Osso sesamóide ulnar: é possível haver agenesia?
esqueletal, através da curva de crescimento observada a partir de radiografias de mão e punho,
indicou o sesamóide ulnar da articulação metacarpofalangeana do polegar como o único centro de
ossificação consistente na mão que aparece próximo à puberdade. O início da ossificação do
sesamóide coincide com o início do surto de crescimento puberal em altura e cresce ao longo da
curva ascendente de crescimento anunciando também a proximidade da aceleração máxima de crescimento puberal. O aparecimento do sesamóide
ulnar do polegar coincide com o pico de velocidade de crescimento, sendo que o osso nunca surge
após o pico. Sua imagem radiográfica com contornos nítidos indica que o pico de velocidade de
crescimento puberal já ocorreu e que o crescimento futuro será progressivamente menor.
CARINHENA (2006)4 comparou métodos de
predição de crescimento baseados em radiografias
carpais e telerradiografias em norma lateral, utilizando uma amostra de 36 radiografias de cada
tipo de 72 indivíduos portadores de Síndrome de
Down. Concluiu que há concordância entre os
métodos avaliados e que são confiáveis para aplicação clínica.
PROPOSIÇÃO
Avaliar a possível agenesia do sesamóide ulnar,
que caso confirmada, incorreria em reconsiderações na utilização da radiografia periapical do
polegar como método de predição de crescimento.
MATERIAIS E MÉTODO
1 – Amostra
A amostra utilizada para a presente pesquisa
foi composta por 100 radiografias periapicais do
polegar (PP). Inicialmente, foi feita uma radiografia
de cada paciente e, nos casos de dúvida durante a
análise ou suspeita de erro de técnica, foram realizadas novas radiografias. Os indivíduos da amostra,
selecionados dentre os alunos, professores e funci-
52 • Revista Odonto • Ano 14, n. 27/28, jan. dez. 2006,
onários do curso de graduação em Odontologia e
Pós-graduação em Ortodontia da Universidade
Metodista de São Paulo, campus Rudge Ramos,
apresentavam o crescimento ósseo completo e estavam dispostos a colaborar com a pesquisa.
2 – Obtenção das radiografias
Foi realizada uma radiografia do tipo periapical do polegar de cada paciente da amostra,
totalizando 100 radiografias (Figura 1). Um único
operador do centro de Radiologia da Faculdade
anteriormente citada, devidamente calibrado, realizou as radiografias, sendo supervisionado por
um dos autores desta pesquisa.
2.1 – Radiografia periapical do polegar
Para a obtenção das PP, a metodologia descrita por SILVA FILHO; VALLADARES NETO;
FREITAS11 (1989) foi adotada, com uma única
variação no Kvp: munido de proteção com avental plumbífero, o paciente foi posicionado com a
mão esquerda espalmada aberta e com os dedos
separados, apoiados em um anteparo de madeira
posicionado em direção horizontal; o filme foi
colocado entre a mão e o anteparo, centralizado
na altura da articulação metacarpofalangeana do
primeiro dedo, com o longo eixo paralelo ao longo eixo do dedo e com o picote voltado para a
distal e para o lado do dedo; a distância foco-filme foi praticamente inexistente; a incidência dos
feixes de raios-x, perpendicular ao plano do filme
e direcionada para o centro; foi utilizado o cone
longo (40cm), 10mA, 70Kvp e tempo de exposição de 0,9 seg.; e as películas radiográficas foram
processadas de forma automática.
3 – Análise radiográfica
As radiografias periapicais do polegar foram
analisadas sobre um negatoscópio, em sala
escurecida, para a verificação da presença ou ausência do osso sesamóide ulnar. As radiografias
nas quais se suspeitou da ausência do referido
osso, foram repetidas, para que confirmassem a
São Bernardo do Campo, SP, Metodista
JÓIAS, R. P.; SIQUEIRA, D. F.; SANNOMIYA, E. K.; SCANAVINI, M. A.
agenesia ou indicassem o erro de técnica nas radiografias anteriores (Figura 2 – A e B).
FIGURA 1 – Radiografia periapical do polegar
RESULTADOS E DISCUSSÃO
FIGURA 2 – radiografias periapicais do polegar; em A não
se observou o osso e, em B, confirmou-se sua presença.
Para o diagnóstico ortodôntico existem inúmeros métodos de predição de crescimento baseados na verificação da idade esquelética dos
pacientes que serão submetidos a tratamentos. A
radiografia carpal consiste em um método largamente utilizado, pois é rica em centros de análise óssea (30 centros) e já vem sendo difundida
há anos. A análise por meio das vértebras
cervicais, utilizando a telerradiografia em norma
lateral, também indica um meio de predição de
crescimento válido; essa radiografia já consta na
documentação ortodôntica e não implica em mais
radiação e transtornos ao paciente, no que tange
ao seu deslocamento até o instituto de radiologia
para sua realização.
Diversos autores contribuíram para a literatura apresentando e estudando indicadores de
maturação óssea que podem auxiliar o diagnóstico
e os procedimentos ortodônticos. Os métodos de
predição de crescimento baseados na análise de
um considerável número de estruturas ósseas, a
exemplo da radiografia carpal, utilizada nas pesquisas de CARINHENA4, LEITE; O’REILLY;
CLOSE 7, MARTINS e SAKIMA 8, SANTOS e
ALMEIDA10 , SIQUEIRA et al. 13 , TIBÉRIO e
VIGORITO15 mostraram-se eficazes.
CARINHENA4 e SANTOS e ALMEIDA10
compararam os eventos de maturação esquelética
obser vados na radiografia carpal e na telerradiografia em norma lateral. CARINHENA4
verificou a confiabilidade dos métodos e, como
importante indicador no SCP, apontou o osso
sesamóide ulnar. SANTOS e ALMEIDA10 observaram que as técnicas são confiáveis quando utilizadas isoladamente e que a associação entre
ambas é positiva.
LEITE; O’REILLY; CLOSE7 e TIBÉRIO e
VIGORITO15 estudaram marcadores de crescimento utilizando a radiografia carpal, porém considerando apenas os centros de ossificação de
alguns dedos; desta maneira, LEITE; O’REILLY;
CLOSE 7 puderam validar a utilização do osso
sesamóide ulnar como um importante marcador
de crescimento.
MARTINS e SAKIMA8 avaliaram o momento do SCP por meio de radiografias carpais.
Entre os centros de ossificação observados, citaram a calcificação do osso sesamóide ulnar.
SIQUEIRA et al.13 indicaram o uso da radiografia carpal para o planejamento em Ortodontia e
Revista Odonto • Ano 14, n. 27/28, jan. dez. 2006, São Bernardo do Campo, SP, Metodista •
53
Osso sesamóide ulnar: é possível haver agenesia?
da periapical do polegar na impossibilidade de se
conseguir a primeira.
Dentre os autores anteriormente citados, podese observar uma concordância quanto à eleição do
osso sesamóide ulnar com importante indicador de
crescimento na puberdade. Esse osso da articulação metacarpofalangeana do polegar é o único
centro de ossificação consistente na mão que aparece próximo à puberdade. O início da ossificação
do sesamóide coincide com o início do surto de
crescimento puberal em altura, sendo que este
cresce ao longo da curva ascendente de crescimento, anunciando também a proximidade da aceleração máxima de crescimento puberal. Sua imagem
radiográfica com contornos nítidos indica que o
pico de velocidade de crescimento puberal já ocorreu e que o crescimento futuro será progressivamente menor. Baseados nessa premissa, autores
discorreram estudos a respeito desse osso14.
BOWDEN2 comprovou que o osso tem relação com o surto de crescimento puberal e
CHPMAN3, discorreu um primeiro estudo com
radiografias periapicais do polegar no qual indicou
a localização do sesamóide ulnar e a importância
da sua calcificação durante o SCP.
SILVA FILHO; VALLADARES NETO;
FREITAS11,12 propuseram uma metodologia para
a utilização da radiografia periapical do polegar
(método mais simplificado para obtenção da idade
esquelética, por meio da análise de apenas alguns
ossos da mão) e compararam esta com radiografias carpais e comprovaram, que embora mais
simplificada a periapical do polegar oferecia centros de ossificação com parâmetros igualmente
confiáveis aos da carpal. Desta maneira, a utilização da radiografia periapical do polegar tornouse uma alternativa viável.
54 • Revista Odonto • Ano 14, n. 27/28, jan. dez. 2006,
Na atual pesquisa, dentre as 100 radiografias
periapicais do polegar que compunham a amostra,
98 apresentaram o sesamóide ulnar; nas demais,
não foi possível a visualização. As radiografias que
permitiram dúvida na interpretação da análise,
quanto à agenesia ou ao erro de técnica, foram
repetidas nos 15 dias seguintes à obtenção da
primeira. Após a repetição dessas radiografias,
descartou-se a possibilidade de agenesia, e o erro
de técnica na primeira película foi confirmado
com a presença do referido osso na segunda parte
da amostra. Estes resultados corroboram os achados de FRANCO et al. 6, MERCADANTE 9 e
SOUZA 14, que concluíram que o osso sesamóide
ulnar é um excelente guia de maturação física e
pode indicar fenômenos importantes, como o
início do SCP.
Como descrito anteriormente, a metodologia
utilizada neste estudo foi descrita por SILVA
FILHO; VALLADARES NETO; FREITAS 11
(1989), porém ABDEL-KADER1 veio, por meio
de um estudo baseado em uma tecnologia atual
(imagem digital), enriquecer a literatura e perpetuar o uso das radiografias periapicais do polegar.
O autor propôs a radiografia periapical do polegar
digital, enumerando como vantagens dessa técnica
a possibilidade de trabalhar com zooms diversos e
comparar as imagens de um mesmo paciente ou
entre pacientes.
CONCLUSÃO
De acordo com a metodologia empregada e os
resultados obtidos (presença do osso em 100% da
amostra), julga-se lícito concluir que o osso
sesamóide ulnar é estável e não apresenta agenesia.
São Bernardo do Campo, SP, Metodista
JÓIAS, R. P.; SIQUEIRA, D. F.; SANNOMIYA, E. K.; SCANAVINI, M. A.
REFERÊNCIAS
1. ABDEL-KADER, H. M. The potential digital dental radiography in recording the adductor
sesamoide and the MP3 stages. British J Orthod, v. 26, p. 291-3, 1999.
2. BOWDEN, B. D. Sesamoid bones appearance as an indicator of adolescence. Austr Orthod J, v.
2, p. 242-8, 1971.
3. CHAPMAN, S. M. Ossification of the adductor sesamoid and the adolescent growth spurt. Angle
Orthod, v. 42, n. 3, p. 236-44, 1972.
4. CARINHENA, G.F. Análise de concordância entre os métodos de avaliação da maturação
óssea em vértebras cervicais e mão e punho em indivíduos com síndrome de Down. Dissertação
(Mestrado). 106p. Universidade Metodista de São Paulo, 2006.
5. DEMIRJIEN, A.; et al. Interrelationships among measures of somatic, skeletal, dental and sexual
maturity. Am J Orthod, v. 88, n. 5, p. 433-8, 1985.
6. FRANCO, A. A. et al. Determinação radiográfica da maturidade esquelética e sua importância no
diagnóstico e tratamento ortodôntico. Ortodontia, v. 29, n. 1, p.53-64, 1996.
7. LEITE, H. R.; O’REILLY, M. T.; CLOSE, J. M. Skeletal age assessment using de first, second and
third fingers of the hand. Am J Orthod Dentofac Orthop, v. 92, n. 6, p. 492-8, 1987.
8. MARTINS, J. C. R.; SAKIMA, T. Considerações sobre a previsão do surto de crescimento puberal.
Ortodontia, v.10, n. 3, p. 163-70, 1977.
9. MERCADANTE, M. M. N. Radiografia de mão e punho. In: FERREIRA, F. V. Diagnóstico bucal.
1. ed. São Paulo: Artes Médicas, 1996. p. 187-216.
10. SANTOS, S. C. B. N.; ALMEIDA, R. R. Estudo comparativo de dois métodos de avaliação da
idade esquelética utilizando telerradiografias em norma lateral e radiografias carpais. Ortodontia, v.
32, n. 2, p. 33-45, 1999.
11. SILVA FILHO, O. G.; VALLADARES NETO, J.; FREITAS, J. A. S. Proposta de um método simplificado para avaliação da maturação esquelética. Ortodontia, v. 22, n. 3, p. 33-42, 1989.
12. SILVA FILHO, O. G.; VALLADARES NETO, J.; FREITAS, J. A. S. Avaliação de um método
simplificado para estimar a maturação esquelética. Ortodontia, v. 25, n. 1, p. 21-36, 1992.
13. SIQUEIRA, V. C. V et al. O emprego das radiografias da mão e do punho do diagnóstico
ortodôntico. Rev Dental Press Ortod Ortop Facial, v. 4, n. 3, p. 20-9, 1999.
14. SOUZA, C. M. S. Inter-relação entre os estágios de mineralização dentária e o crescimento
esqueletal, através da curva de crescimento observada a partir de radiografias de mão e punho. Dissertação monográfica (especialização). 91p. Associação Paulista dos Cirurgiões Dentistas de
São Vicente, 2001.
15. TIBÉRIO, S.; VIGORITO, J. W. O estudo da maturação esquelética de crianças brasileiras
leucodermas, de 8 a 15 anos, em referência à ossificação dos ossos pisiforme, ganchoso, falanges média
e proximal dos dedos 2 e 3. Ortodontia, v. 22, n. 2, p. 4-19, 1989.
Recebimento: 2/2/06
Aceito: 5/6/06
Endereço para correspondência:
Rua do Sacramento, 230, Ed. Lambda
Rudge Ramos – São Bernardo do Campo, SP
Tel.: (11) 4366-5562
[email protected]
Revista Odonto • Ano 14, n. 27/28, jan. dez. 2006, São Bernardo do Campo, SP, Metodista •
55
Download