Mais árvores, menos aquecimento global, certo? Não exatamente Uma simulação de 150 anos do desmatamento em todo o mundo descobre que as florestas tropicais são escoadouros de carbono e que as florestas boreais contribuem para o aquecimento por Nikhil Swaminathan Antes das lâmpadas fluorescentes e do etanol, a primeira opção contra o aquecimento global era plantar árvores. Afinal, as florestas refrescam a atmosfera absorvendo o dióxido de carbono do ar. No entanto, um novo estudo publicado pelos Proceedings of the National Academy of Sciences afirma que, em algumas partes do mundo, outros efeitos climáticos das florestas podem cancelar as vantagens decorrentes de sua capacidade de seqüestrar carbono. Utilizando um modelo climático tridimensional, a equipe de pesquisa simulou um desmatamento global completo e estudou os efeitos da devastação em regiões de latitudes diferentes, como as zonas tropicais e boreais. Aparentemente, esses escoadouros naturais de carbono cumprem efetivamente o que se espera apenas nas regiões tropicais; em outras áreas, eles não têm nenhum impacto ou chegam mesmo a contribuir para o aquecimento do planeta. Na verdade, de acordo com esse modelo, até o ano 2100, se todas as florestas fossem cortadas e deixadas para apodrecer, a temperatura global anual diminuiria em mais de 0,5 ºF. “Não tenho certeza se esse pequeno resfriamento é necessariamente significante, mas acabar com todas essas floretas produziu pouquíssimas mudanças na temperatura”, diz o co-autor da pesquisa Ken Caldeira, ecologista da Carnegie Institution do Departamento de Ecologia Global de Washington em Stanford, na Califórnia. “O interessante é que o resultado global é produto de reações muito diferentes em diferentes latitudes”. As árvores possuem três grandes funções no clima: elas absorvem o carbono que obtêm na atmosfera, causando resfriamento; suas folhas verdes escuras absorvem a luz do Sol, aquecendo a superfície da Terra; e elas absorvem a água do solo, que por sua vez evapora na atmosfera, criando nuvens baixas que refletem os raios quentes do Sol (um mecanismo conhecido como evapotranspiração, que também leva ao resfriamento). Esses três fatores – e o segundo vem sendo amplamente ignorado em modelos climáticos até agora, de acordo com Caldeira –, juntos produzem resultados muito diferentes nas principais latitudes estudadas: a zona equatorial tropical; as latitudes médias, que incluem a maior parte dos Estados Unidos; e as áreas boreais, que são subárticas e incluem uma boa porção do Canadá, Rússia e as extremidades mais ao norte dos Estados Unidos. Em todas as três regiões, as florestas cumprem sua tarefa de absorver o dióxido de carbono do ar, mas a absorção de luz e a evapotranspiração variam muito. Nas zonas tropicais, as florestas têm um efeito geral significativo na diminuição da temperatura. O solo é muito úmido e, assim, por meio da evapotranspiração, as árvores ficam cobertas por nuvens baixas que criam um pequeno albedo (intensidade de luz refletida por uma superfície). Em áreas não-tropicais, Caldeira explica, “o fator mais significativo é se há neve no solo durante o inverno”. Se uma floresta cobre uma extensão cheia de neve, exerce uma forte influência no aquecimento por causa da pouca cobertura de nuvens, resultante de uma eficiência menor na evaporação da água. A formação deficiente de nuvens, aliada à intensa absorção de luz pelas árvores “supera em muito efeito de resfriamento decorrente do armazenamento de carbono”, ele diz. “Em regiões de média altitude, obtivemos basicamente um equilíbrio – os efeitos sobre o dióxido de carbono foram equilibrados pelos efeitos físicos”, afirma Caldeira. Ele atribui esse efeito ao pequeno contraste entre a absorção de luz das árvores e da grama em pastagens, apesar de notar que como existem algumas áreas cobertas por neve, a perda da floresta provavelmente terá um efeito mínimo de diminuição na temperatura – se existir. Ele usa esse exemplo para apontar a influência relativa das diferentes funções da floresta. Enquanto os níveis de carbono podem afetar o aquecimento em escala global, os efeitos de albedos maiores e de uma evopotranspiração mais pobre poderiam atingir as temperaturas apenas em um nível regional. Ele diz que, por exemplo, “se você acabar com todas as florestas nos Estados Unidos, provavelmente o mundo ficaria mais quente, mas isso teria uma leve influência na diminuição da temperatura no próprio país”. Navin Ramankutty, professor assistente de geografia e ciências do sistema terrestre na McGill University, em Montreal, afirma que esse estudo primeiro estudo abrangente as conseqüências do desmatamento no mundo inteiro. “Não se pode simplesmente sair por aí reflorestando às cegas para tentar controlar as mudanças climáticas”, ele diz, ressaltando uma descoberta-chave do estudo. “Os grupos de conservação só falam sobre plantar mais árvores. Nós deveríamos protegê-las por outras razões”. Caldeira concorda, dizendo que proteger a floresta deveria fazer parte de um esforço para manter a biodiversidade do mundo. Ele afirma também que as descobertas não ampararam o desmatamento total e destruição de habitats de vida selvagem. “Acho que é importante ver a prevenção das mudanças climáticas mais como um caminho do que como um objetivo propriamente dito”, ele diz, “Restringir-se demais à questão do aquecimento global, em vez de focar mais amplamente a proteção da vida no planeta pode levar a resultados inconvenientes.” Mais do que ver as florestas e sua capacidade de capturar o dióxido de carbono como uma maneira de resolver a crise climática atual, ele sugere que nos concentremos em nosso “sistema de energia”, que continua emitindo esse poluente.