A Eficiência Energética na Iluminação dos Edifícios Históricos através do uso do LED Carolina Machado Beltrame (1) Minéia Johann Scherer (2) (1) Acadêmica do curso de Arquitetura e Urbanismo – Centro Universitário Franciscano, Santa Maria, RS – Brasil. E-mail: [email protected] (2) Professora Drª. do Curso de Arquitetura e Urbanismo – Centro Universitário Franciscano, Santa Maria, RS – Brasil. E-mail: [email protected] Resumo: A iluminação desempenha um importante papel na arquitetura. É através dela que as formas arquitetônicas e os espaços se revelam, manifestando os significados e intenções do projetista. A iluminação artificial é necessária para o desenvolvimento de tarefas noturnas, mas também muitas vezes é parte indissociável da composição formal de uma obra, valorizando aspectos estéticos e sua identidade. Por este motivo, é de grande relevância que um projeto luminotécnico seja concebido considerando o impacto no consumo de energia e priorizando sistemas de iluminação mais eficientes energeticamente. Assim, o principal objetivo deste artigo é discorrer sobre a valorização dos edifícios históricos através da iluminação, exemplificando algumas decisões relevantes em relação a escolha de métodos, sistemas e equipamentos com melhor eficiência energética. A metodologia baseou-se em pesquisas bibliográficas e análise do projeto luminotécnico de algumas edificações, concluindo sobre sua repercussão na valorização do edifício. Desta forma, o trabalho aponta algumas estratégias de iluminação e opções de equipamentos, apresentando justificativas para substituir as tradicionais lâmpadas incandescentes, halógenas e de descarga, pelos diodos emissores de luz – LEDs, um dispositivo eficiente energeticamente, que concilia a valorização da história, a estética e a sustentabilidade. Palavras-chave: Iluminação; Edifícios históricos; Eficiência energética; LED. Abstract: Lighting design has a major importance on architecture. It is through lighting that shapes and designs are revealed, showing the meanings and intentions of its designer. The artificial light is required for the development of night activities, but sometimes it is also inseparable from the architectural composition of a building, enriching its identity. Considering that, it’s important for a lighting project to be planned considering the energy impact and prioritizing energy efficient lighting systems. Therefore, the main purpose of this article is to discourse about the appreciation of historic buildings through lighting, exemplifying some relevant decisions related to method choices, and also systems and equipment with the best energy efficiency. The methodology was based on bibliographic research and analysis of lighting projects of some buildings, concluding on its positive impact on them. Accordingly, the whole research points a few strategies of lighting and equipment options, presenting reasons to replace the traditional incandescent, halogenated or discharge lamps for lightemitting diode – LED, a device energy efficient that harmonize historic, aesthetic and sustainable appreciation. Keywords: Lighting; Historic Buildings; Energy Efficiency; LED. 1. INTRODUÇÃO O patrimônio histórico é um elemento de fundamental importância na dinâmica das cidades e da sociedade, possuindo forte carga emocional que conecta os cidadãos à sua história e à sua identidade como comunidade. Além disso, possui significativo apelo turístico, valorizando a cidade como entidade política e cultural ao destacar elementos de edificações de relevância histórica e sociocultural, proporcionando, inclusive, valor econômico à região ao estimular as visitações. De acordo com Millet (1996), “luz é somente um dos vários aspectos da arquitetura. Mas a luz revela a edificação, suas intenções, seus espaços, suas formas e seus significados. Luz revela a arquitetura e, no melhor dos casos, arquitetura revela a luz”. Desta forma, uma das principais estratégias de valorização de fachadas de edificações existentes é a iluminação, pois através dela atinge-se esse objetivo com o mínimo de intervenções físicas possível na mesma, focando nos pontos estratégicos com efeitos de luz e sombra para que a fachada adquira dinâmica e personalidade condizentes com a importância da edificação. A luz passa a ser um instrumento para o arquiteto a fim de definir espaços, enfatizar volumes, criar atmosferas e transmitir mensagens. Iluminar não é seguir regras pré-determinadas, mas sim unir a técnica e a criatividade (LIMA, 2010). Quando se trata de iluminar monumentos históricos, prédios tombados pelo Patrimônio Histórico Nacional, a iluminação torna-se definitivamente arte pura, pois além de lidar com a luz devemos entender o valor artístico de cada prédio e de cada monumento (SILVA, 2009, p. 140). Sendo assim, Barreto (2004) explica que existem considerações fundamentais a serem seguidas, como as características construtivas da edificação, evidenciando seu estilo, o destaque em relação ao entorno não deve prejudicar o contexto urbanístico em que se insere a edificação, ter cuidado com as cores e com o índice de reprodução de cor das fontes de luz, pois utilizadas inadequadamente podem descaracterizar a obra e, criar um projeto com possibilidade de manutenção dos equipamentos. Ainda, o uso da luz na arquitetura tem a dupla função de realçar aspectos estéticos e de significado, assim como permitir sua boa funcionalidade. Esta última, segundo Vianna e Gonçalves (2001), “tem se tornado importante com o crescimento das funções impostas pela sociedade moderna desde o século XX – edifícios complexos, de grandes dimensões e múltiplas funções”. Dentro deste contexto, a preocupação com a eficiência energética dos sistemas de iluminação em fachadas é de grande relevância, já que por vezes haverá amplas superfícies a iluminar e grandes distâncias a vencer, além do tempo de utilização durante todo o período noturno, o que pode contribuir para o demasiado consumo de energia elétrica. O projetista deve prever estratégias de iluminação e opções de equipamentos mais eficientes energeticamente, como é o caso dos LEDs, que possuem qualidade para substituir as tradicionais lâmpadas incandescentes, halógenas e de descarga, que são mais dispendiosas em termos de energia. Assim, o principal objetivo deste artigo é discorrer sobre a valorização dos edifícios históricos através da iluminação, exemplificando algumas decisões relevantes em relação a escolha de métodos, sistemas e equipamentos com melhor eficiência energética, com foco na utilização dos LEDs para esta finalidade. A metodologia baseou-se em pesquisas bibliográficas e análise do projeto luminotécnico de algumas edificações, concluindo sobre sua repercussão na valorização do edifício. 2. ESTRATÉGIAS DE ILUMINAÇÃO DO EDIFÍCIO HISTÓRICO A iluminação das fachadas revitaliza a edificação, gerando um impacto visual positivo. Somente iluminada com a iluminação pública geral, essas edificações tão relevantes historicamente acabam se mesclando com outras edificações mais comuns e não são devidamente notadas e valorizadas. O destaque e o efeito que as luzes e cores podem dar a estas obras fazem com que elas se tornem inconfundíveis e impactantes. Além disso, a iluminação aplicada de forma correta consegue atrair espectadores, tornando-se um atrativo cultural para a localidade. De acordo com Lima (2010), a iluminação nos dá a possibilidade de alterar a percepção que temos de um determinado objeto. Não só a luz, mas principalmente a sombra é que evidencia a volumetria dos diferentes elementos que compõem uma edificação. Entretanto, ao trabalhar com edificações históricas, deve-se ter cuidado para não descaracterizar os relevos e ornamentos existentes. Uma das técnicas mais usuais nesse tipo de edificação é a Lei da Proximidade e Semelhança (uma das Leis da Gestalt) aplicada à iluminação. Esta lei defende que, por Proximidade, o ser humano tende a integrar em um todos os elementos óticos próximos uns dos outros, sendo percebidos como um grupo. Já a Lei da Semelhança fundamenta-se em elementos que tenham a mesma característica visual, como tamanho, cor, formato, orientação ou textura, sendo percebidos como um grupo. A semelhança é um fator mais forte de organização do que a proximidade. A simples proximidade não basta para explicar o agrupamento de elementos, é necessário que estes tenham qualidades em comum (GOMES, 2000. p.24). A prefeitura da cidade de São Francisco, na Califórnia, Estados Unidos (San Francisco City Hall), pode exemplificar esses agrupamentos. Nota-se que a arquitetura da edificação se compõe de forma simétrica, com uma hierarquia de forma e escala na parte central e, menos notadamente, nas duas laterais externas da fachada principal. Além disso, a cúpula com tambor multifacetado também se encontra na parte central, dispondo de uma ponta com quatro faces em sua extremidade superior. Desta maneira, a iluminação uplight do segundo pavimento destaca os retângulos formados pelas colunas, em suas laterais, e pelo entablamento e base, em suas partes superior e inferior respectivamente, que passam a ser os elementos de repetição. As paredes da cúpula também recebem iluminação projetada em cada face, assim como a ponta que sustenta (Figuras 1 e 2). Figura 1 - San Francisco City Hall Fonte: Wikimedia Commons, 2015. Adaptado pelas autoras. Figura 2 – San Francisco City Hall Iluminada. Fonte: Página official City & County of San Francisco, 2015. Outro exemplo é o prédio do Supremo Tribunal Federal. A iluminação em uplight destaca o ritmo criado pela repetição dos pilares desenhados por Niemeyer (Figuras 3 e 4). Para obtermos esses efeitos, Guerrini (2008) explica que um dos equipamentos que podem iluminar edifícios, monumentos e obras de arte de forma adequada é o projetor. Este aparelho gera um feixe de luz em uma direção determinada, podendo ser o conjunto lâmpada-projetor ou somente a lâmpada projetora, que dispensa qualquer outro dispositivo óptico complementar. Porém, segundo Silva (2009), em muitos casos os cabos de energia elétrica ou a própria luminária ou lâmpada podem ser empecilhos, pois as paredes não podem ser danificadas e tampouco os equipamentos podem ficar à mostra. Para esses casos, o autor sugere utilizar refletores de alta concentração, à distância. Figura 3 – Supremo Tribunal Federal Fonte: Cidade Brasília, 2015. Adaptado pelas autoras. Figura 4 – Supremo Tribunal Federal iluminado. Fonte: Página oficial STF, 2015. 3. A EFICIÊNCIA ENERGÉTICA ATRELADA À ILUMINAÇÃO: O USO DE LED LEDs são componentes eletrônicos de estado sólido, robustos, resistentes ao choque e à vibração, sem filamentos, sem partes móveis e sem componentes de vidro, compostos de materiais semicondutores, que convertem energia elétrica diretamente em radiação luminosa. Ou seja, os LEDs diferem das lâmpadas de luz convencionais por não necessitarem de filamentos, eletrodos ou tubos de descarga (PIMENTA, 2006). Pimenta (2006) explica que o LED é uma fonte de luz promissora dotada de eficiência, flexibilidade e versatilidade, como uma forma alternativa ao uso de lâmpadas incandescentes, halógenas, fluorescentes e de descarga em alta intensidade. A sustentabilidade dos LEDs vai desde o seu processo de fabricação, passando pelo uso, até o seu descarte, o que leva esse dispositivo a ser uma das melhores opções para iluminar as fachadas de grandes construções. Sendo o LED um diodo semicondutor que, energizado, emite luz visível, sua produção não prejudica o meio ambiente. Para a etapa de produção são utilizados dois tipos de materiais semicondutores, um carregado positivamente, e outro negativamente. Quando um elétron de carga negativa atinge um hiato de carga positiva, ele decai para um nível mais baixo de energia, liberando um fóton de luz. A etapa do uso é a que mais apresenta pontos positivos, dentre eles a não emissão de raios ultravioleta e infravermelho (protegendo as características do elemento, como cor e textura, por exemplo); a significativa redução no consumo de energia; a longa vida útil; a excelente estabilidade térmica; a alta resistência a impactos e vibrações; a possibilidade de dimerização; um bom Índice de Reprodução de Cor (IRC); as reduzidas dimensões; entre outros. Por fim, o descarte desse dispositivo não necessita de tratamentos especiais, sendo considerado lixo seco comum (ERICSON, 2008). Essas novas tecnologias de iluminação permitem a criação de efeitos dinâmicos nas fachadas, com mudança de cores e movimento, como o próprio edifício da prefeitura de São Francisco, Califórnia, mencionado anteriormente (figura 5), ou a interativa fachada do hotel WZ Jardins, São Paulo, SP (figura 6). Neste último exemplo a iluminação trabalha em conjunto com sensores que analisam a qualidade de ar e ruídos, mudando de cor e intensidade conforme os níveis de poluição sonora e atmosférica. Esse sistema mostra à população que ali circula, de uma maneira lúdica, o meio em que está inserida, auxiliando na conscientização quanto à mobilidade urbana e a qualidade de vida que possui. Figura 5 – Prefeitura de São Francisco, Califórnia, com iluminação colorida. Fonte: Arch Daily, 2015. Figura 6 – Fachada interativa do hotel WZ Jardins, São Paulo. Fonte: Arch Daily, 2015. Silva (2012) também propõe a utilização do LED (Diodo Emissor de Luz), em função de possuir diferentes técnicas de fixação e um tamanho consideravelmente menor do que as demais fontes de luz, não agredindo a arquitetura da edificação, e não expondo a luminária, mas sim o seu efeito. Além disso, em se tratado de iluminação de efeito ou decorativa, é imprescindível que as lâmpadas usadas tenham bom índice de reprodução de cor, destacando as superfícies, cores e texturas com a máxima fidelidade possível. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este artigo discorreu sobre a importância que a iluminação desempenha na arquitetura, não só pela função de permitir o desenvolvimento de atividades noturnas, mas principalmente por sua capacidade de valorizar formas e revelar significados. No caso das edificações históricas, foco deste trabalho, a iluminação das fachadas pode ainda representar um atrativo turístico e econômico para as cidades, reforçando a identidade de uma região ou comunidade. Por conseguinte, é possível observar que elaborar um projeto luminotécnico que valorize o patrimônio histórico através da iluminação de sua fachada, requer estudos prévios acerca da edificação e também dos equipamentos e acessórios a serem utilizados, para evitar a degradação ou poluição visual do edifício em questão, bem como realizar esta proposta de iluminação com o máximo de eficiência energética. Desta forma, o trabalho apontou algumas estratégias de iluminação e opções de equipamentos, apresentando justificativas relevantes para a substituição das tradicionais lâmpadas incandescentes, halógenas e de descarga, pelos diodos emissores de luz – LEDs, que são dispositivos mais eficientes energeticamente, e que conciliam a valorização da história, a estética e a sustentabilidade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARCH DAILY. #LoveWins: Edifícios iluminados em homenagem ao orgulho LGBT. 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