ÉTICA, MORAL E ENGENHARIA Ética como Distinta de Moral

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ÉTICA, MORAL E ENGENHARIA
Ética como Distinta de Moral.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA
Disciplina de Tópicos Especiais em Engenharia Química II
ÉTICA, MORAL E ENGENHARIA
(Redigido em abril de 2.013.)
Ética como Distinta de Moral.
Existem inumeráveis definições para a Ética, das mais restritivas e ortodoxas até aquelas de maior abrangência de conteúdo.
Tendo em vista os propósitos que pretendemos alcançar, podemos propor:
Ética pode ser conceituada como o estudo do comportamento humano no passado, no presente e numa perspectiva de futuro,
bem como suas causas. A proposta racional de diretrizes para indicar os comportamentos mais adequados, o estudo de tais
propostas e a análise das aplicações também racionais das mesmas à vida cotidiana. Por fim ainda a análise dos valores que
servem como seus princípios fundamentais.
Por meio de tal definição, introduzimos neste campo de estudo, o conhecimento do ser humano em si, bem como a chamada
Metaética, isto é, o estudo dos conceitos que fundamentam a Ética propriamente dita. Englobamos também a Ética Conceitual,
que pretende definir os princípios gerais que norteiam a opção por comportamentos humanos adequados, bem como a Ética
Aplicada, que pode ser entendida como a aplicação dos princípios gerais a dilemas comportamentais cotidianos.
Podemos destacar dois objetivos gerais a se visar com tal estudo, quais sejam, facilitar um aperfeiçoamento do comportamento
de cada indivíduo e libertá-lo essencialmente da ignorância, através do conhecimento, do esclarecimento, do entendimento.
Entretanto cabe aqui destacar que o estudo da Ética pode ser empregado também para escravizar consciências a ideias
supostamente 'corretas', mas não racionais. Para que o leitor se precavenha de tal risco, mesmo lembrando que este
absolutamente não é meu objetivo, cabe a recomendação milenar: conheça todas as opiniões, porém sempre decida com sua
própria consciência.
É razoável supor que o leitor tenha a intenção de ser ético, ou o que é mais provável, que já se suponha ético. No entanto, para
se alcançar um aperfeiçoamento de conduta, a informação qualificada dos melhores rumos será sempre conveniente. Por outro
lado, em matéria comportamental, o mundo oferece infinitas orientações, frequentemente discordantes entre si. Desta forma se
mostra altamente oportuno classificar-se tais orientações em dois grandes grupos: o que é Moral e o que é Ética propriamente
dita. Como já visto, Moral é uma palavra plural de origem latina e Ética uma singular de origem grega. Aproveitando tal
distinção em termos de número, podemos conceituar:
A Moral trata de comportamentos defendidos por argumentos não racionais, cujas orientações tendem a variar fortemente com
a coletividade considerada e o período histórico analisado. As aplicações cotidianas seguem princípios não racionais ou não
seguem nenhum princípio. As orientações são seguidas pelo indivíduo de modo não racional.
A Moral trata de costumes ou regras de comportamento particulares e específicos, seguidas por um povo, num determinado
período histórico. Uma abordagem moral impõe regras que são altamente variáveis ao longo da história, do espaço geográfico
e da cultura de uma determinada coletividade.
A Ética trata de comportamentos defendidos por argumentos racionais, onde os princípios norteadores das condutas específicas
se mostram fortemente perenes ao longo do tempo e para qualquer coletividade humana. As aplicações cotidianas seguem
princípios racionais. As orientações são seguidas pelo indivíduo racionalmente. É assim característico do campo da Ética o
emprego da razão, como também o é partir-se de conceitos e princípios gerais logicamente válidos na tomada de decisão
quanto a um comportamento específico do dia a dia. E por serem tais conceitos testados pela lógica, passam a ser conceitos
perenes e universais.
A Ética busca empregar os princípios fundamentais por trás dos comportamentos benéficos e tem um enfoque racional. Almeja
compreender a conduta humana e estabelecer qual seria o melhor comportamento frente a vida e a uma dada situação.
Assim, a título de exemplo, impor um dado comportamento sem grandes explicações racionais, às vezes defendidos com
grandes ameaças de dor e ou grandes promessas de alegrias, está no campo da moralidade. Por outro lado, um determinado
comportamento ou orientação moral, pode ingressar no campo da Ética, desde que defensável do ponto de vista racional.
Em outros textos observamos que a razão tem seus limites. Desta forma, algo considerado como moral, pode ser uma conduta
baseada em superstições sem fundamento, ou instintiva ou ainda de fundo emocional. Ou ao contrário, pode ter sua origem em
capacidades humanas que excedem a nossa capacidade intelectual normal ou que tenham natureza espiritual. Neste último
caso, tal orientação se confirma pela lógica, enquanto que aquelas meramente supersticiosas são refutadas por esta.
I
ÉTICA, MORAL E ENGENHARIA
Ética como Distinta de Moral.
A principal abordagem da Ética é a chamada abordagem teleológica. Esta considera que o essencial e fundamental do
comportamento ético, isto é, da conduta adequada ao ser humano, é 'fazer o bem'. Fui pela primeira vez apresentado a este
conceito, que tem a propriedade de esclarecer a enorme confusão que o nosso povo tem a respeito deste tema, pelo eminente
Prof. Rosala Garzuze. Médico que ministrou Ética e várias outras disciplinas na Universidade Federal do Paraná, além de
outros estabelecimentos de ensino do Estado.
Conhecido o fundamental da Ética, podemos considerar que os pensadores da área se dedicam a melhor esclarecer tal
orientação geral. O melhor esclarecimento de tal fundamento, no meu entendimento, advém da moral judaico-cristã, que
recomenda fazermos ao outro o que gostaríamos que fosse feito a nós mesmos, caso nos encontrássemos em situação parecida.
Apesar de sua origem religiosa, em outro texto tomamos o cuidado de demonstrá-lo rigorosamente por meio da lógica. Desta
forma tal orientação apresentada inicialmente como uma orientação moral se constitui também numa orientação Ética, visto ser
plenamente defensável pela razão.
Neste ponto já temos assim um critério para avaliar se um dado comportamento é Ético ou não. Já os comportamentos morais,
são aqueles comumente seguidos por uma coletividade, num determinado período histórico. Com tais ferramentas podemos
realizar algumas análises específicas, a título de ilustração:
Como uma análise ética tem sempre um caráter subjetivo, vejamos alguns exemplos de comportamentos provavelmente tanto
éticos quanto morais:
* Zelar pela prole. Todos os povos e também a maioria dos animais apresenta tal conduta. Faz, portanto, parte de nossa moral.
Por outro lado, quando estávamos indefesos na situação de filhos, gostávamos e necessitávamos dos cuidados de nossos pais.
Assim é uma conduta igualmente ética.
* Liberdade de expressão da opinião; de convicção religiosa. Algumas das nações modernas dão tal liberdade aos seus
cidadãos. É, portanto, uma conduta que faz parte da moral de tais povos. Por outro lado, eu e você desejamos poder manifestar
sem coações as nossas opiniões, como também desejamos praticar qualquer religião de nosso agrado. Desta forma é também
um comportamento ético.
* Tolerância; cordialidade. Vários povos apresentam condutas que contemplam estas características. É, portanto, moral para
eles. Por outro lado, eu e você desejamos receber a tolerância pelas nossas diferenças ou imperfeições ou particularidades.
Desejamos também sermos tratados com cordialidade. Desta forma são também comportamentos éticos.
Ainda lembrando a subjetividade inerente às avaliações éticas, vejamos alguns exemplos de comportamentos morais, mas pelo
menos provavelmente antiéticos:
* No passado remoto, a escravização dos prisioneiros de guerra. Apesar de ser um comportamento padrão para a época, tanto
no contexto do passado, quanto no presente, nem eu nem você gostaríamos de prestar serviços contra a vontade ou como
máquinas. Desta forma, apesar de moral, pode ser considerado antiético em qualquer época.
* No passado recente, a escravização dos prisioneiros de guerra e a escravidão negra. A escravidão era moral, legal e defendida
por lideranças religiosas. Promover a libertação de escravos era considerado imoral e ilegal. No entanto nem eu nem você
gostaríamos de sermos feitos escravos. Portanto em qualquer época a escravidão é antiética.
* No passado recente, algumas tribos aborígenes abandonavam seus idosos para a morte.
* No passado remoto os gregos espartanos matavam seus recém-nascidos com deformidades.
* No passado recente promoveu-se o extermínio de povos e grupos 'inferiores'. A ciência da época inclusive dava apoio a tal
medida, através das ideias de eugenia. A maioria dos habitantes de certos países, considerava 'certa' e apropriada tal medida, a
qual era também legal. Por outro lado, mesmo que você fosse 'inferior', você não gostaria de ser exterminado, não é?
Encerraremos este capítulo adiantando um pouco do conceito socrático fundamental: O motivo básico dos enganos do homem
é a sua ignorância, o que inclui avaliar mal as consequências de suas atitudes. O entendimento dos motivos que levam a um
dado comportamento; a remoção da ignorância, leva a uma alternativa melhor de conduta e gradualmente a melhor conduta
possível. O estudo da Ética nos incentiva a procurarmos compreender-nos racionalmente, bem como as nossas inter-relações.
Como consequência diminuir-se-ia a ignorância, fazendo com que cada indivíduo, a seu tempo e frente às suas limitações,
supere-se a si mesmo e adote naturalmente uma forma de viver melhor. Na ética se estuda racionalmente o homem, esperandose que tal compreensão redunde numa melhor conduta.
Friedrich Nietzshe na obra 'Assim falou Zaratrusta' fez a seguinte citação: “O homem é uma corda esticada entre o animal e o
super-homem ; uma corda sobre um abismo.”
E é verdade. O evolucionismo nos mostra nossas origens em animais mais primitivos e nossos olhos nos permitem perceber
como próximo um horizonte no qual viveremos mais e seremos mais saudáveis e inteligentes. No entanto estamos como que
num corredor longo, a maioria de nós quase que completamente às escuras. Não enxergamos as paredes nem o piso. Nem o
que está adiante nem o que está atrás de nós. Tal situação pode levar tanto à angústia quanto à alienação. A Ética pode ser
encarada como um estudo que fornece pelo menos uma pequena vela acesa ao viajor.
Paul Fernand Milcent
Um seu amigo
II
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