OFICINA DA PESQUISA DISCIPLINA: COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL Prof. Ms. Carlos José Giudice dos Santos [email protected] www.oficinadapesquisa.com.br Objetivos desta unidade: Ao final desta unidade, o aluno deverá ser capaz de: 1. Saber quais são os componentes da atitude; 2. Entender a relação entre atitude e comportamento; 3. Definir satisfação no trabalho; 4. Identificar as principais causas de satisfação e insatisfação no trabalho; 5. Estimar o impacto das comportamento (individual organizações. atitudes, e em emoções e grupo) nas Conceito de Atitude Robbins, Judge e Sobral (2010, p. 66) definem as atitudes como “afirmações avaliatórias ou julgamentos com relação a objetos, pessoas ou eventos”. Esta definição para atitude não é nova – conforme observa Vendramini e Brito (2001, p.60) em seu texto, diferentes autores, tais como Stagner (1937), Guilford, (1954), Shrigley, Koballa e Simpson (1988) e Brito (1996), já utilizaram esta definição, reconhecendo ainda que as atitudes variam de direção e intensidade de acordo com as experiências do individuo, e que apresenta componentes do domínio afetivo, cognitivo e motor (ou comportamental). Assim, toda atitude possui três componentes: o componente cognitivo (que avalia o objeto, pessoa ou situação), o componente afetivo (que expressa um sentimento em relação à avaliação) e o componente comportamental (que exterioriza este sentimento como uma ação). Atitudes Vamos ver um exemplo que ilustra os componentes de uma atitude: Figura 1: Componentes de uma atitude - Modificado de Robbins, Judge e Sobral (2010, p. 67). Componente cognitivo das atitudes Robbins, Judge e Sobral (2010, p. 67) afirmam que saber encarar as atitudes como compostas de três componentes – cognição, afeto e comportamento – é muito útil para compreender a complexidade e as relações potenciais entre atitude e comportamento. A Figura 1 (exemplo anterior) ilustra muito bem isto – um funcionário não conseguiu uma promoção que julgava merecer, e um colega foi promovido no lugar dele. O aspecto cognitivo da atitude, ou seja, a avaliação da situação é importante. Neste caso, temos duas possibilidades: a) o funcionário realmente merecia a promoção e foi preterido em sua pretensão; b) o funcionário cometeu um erro de julgamento e realmente não merecia a promoção, embora estivesse plenamente convencido de que era merecedor. A partir do primeiro componente (cognitivo), chegamos ao segundo componente (afetivo), que está intimamente relacionado. Componente afetivo das atitudes O componente afetivo de uma atitude é o sentimento. É importante notar que, embora a cognição e o afeto estejam intimamente relacionados, nem sempre pode-se dizer que a cognição (avaliação) leva ao afeto (sentimento). O contrário também é possível. No caso do exemplo anterior, há pelo menos duas possibilidades: a) O sentimento (eu não gosto do meu chefe) surgiu como uma consequência de uma injustiça cometida (em tese) contra o funcionário; b) O sentimento (eu não gosto de meu chefe) era pré-existente, ou seja, o funcionário não gostava do seu supervisor antes da situação de promoção, e o fato de não ter sido promovido o levou a um erro de julgamento na avaliação da situação (por exemplo, ele não deveria ter sido promovido, mas o seu histórico negativo em relação ao supervisor o leva a pensar que devia, e assim, ele se sente injustiçado). Como podemos ver até aqui, analisar uma atitude não é simples. Componente afetivo das atitudes Existe um erro muito comum de algumas pessoas em considerar que sentimentos podem ser bons ou ruins. Tive um professor que dizia que “assim como os anjos não tem sexo masculino ou feminino, os sentimentos também não tem lado bom ou lado ruim”. São apenas sentimentos. Aquilo que as pessoas consideram como sentimento bom ou ruim é a possível consequência do sentimento, ou seja, o comportamento que surge após o sentimento. Por exemplo, a agressividade é um sentimento, mas não é bom e nem ruim. Isto depende do que será feito em relação a este sentimento. Um assassino com uma faca na mão pode usar a sua agressividade para cometer crimes. Um médico com um bisturi na mão pode usar a sua agressividade para abrir a traqueia de uma pessoa em uma emergência para permitir que ela possa respirar, salvando a sua vida. Então, não é o sentimento que é negativo ou positivo, mas sim a atitude. Um outro exemplo de agressividade com consequência positiva é a competitividade em esportes. Componente comportamental das atitudes Assim, chegamos ao terceiro componente de uma atitude, que é a parte visível porque pode levar a uma ação (ou à falta dela). No exemplo da Figura 1, a ação do funcionário é procurar outro trabalho (ou setor) e falar mal de seu supervisor. Vamos analisar este comportamento. Partindo do pressuposto de que não houve erro de julgamento do funcionário, e que ele realmente deveria ter sido promovido (e não o seu colega), o fato de procurar outro trabalho ou outro setor é uma atitude aceitável? Seria esta a única solução? A partir do momento que o funcionário toma esta atitude, quais são as consequências deste ato? Falar mal do supervisor para quem quiser ouvir é algo aceitável? O que o funcionário pode ganhar com isso? A análise do último componente de uma atitude (o comportamento) nos mostra que não existem respostas definitivas. Tudo irá depender do contexto. Dissonância cognitiva Outro erro comum é considerar que o comportamento é sempre uma consequência do sentimento. Como veremos a seguir, nem sempre isto é verdade. Isto equivaleria dizer que o comportamento é sempre determinado pela atitudes. Para desafiar este conceito, o pesquisador Leon Festinger fez uma pesquisa no final da década de 60, demonstrando que o comportamento nem sempre segue uma atitude; a atitude pode seguir um comportamento. Isto equivale dizer que a ação (componente comportamental) nem sempre é uma consequência de uma avaliação (componente cognitivo) ou de um sentimento (componente afetivo). Em outras palavras, uma ação pode ser a causa de uma avaliação (ou reavaliação) ou de um sentimento. Festinger chamou estes efeitos de dissonância cognitiva. Em outras palavras, quando uma pessoa percebe uma incompatibilidade entre duas ou mais atitudes, ela tende a escolher a atitude que seja menos desconfortável. Dissonância cognitiva Vou dar dois exemplos que ilustram a dissonância cognitiva, ou seja, quando a atitude segue o comportamento. Muitas pessoas desconfiam da qualidade e robustez dos carros chineses. Algumas até dizem que jamais comprariam um, e se ganhassem, venderiam para poder comprar outro. Um belo dia, uma pessoa com estas convicções ganha um carro chinês em uma promoção. Diante da dificuldade em vender, começa a usar e é flagrada por alguém, que lhe pergunta: “Não foi você que falou que jamais teria um carro chinês, e se ganhasse um, que venderia e compraria outro?”. E a pessoa responde: “Quer saber de uma coisa? Até que o carrinho é bom!”. O outro exemplo vem de um ex-funcionário meu, que era ambientalista fanático. Pregava aos quatro ventos o absurdo que era os seres humanos usarem fraldas descartáveis em bebês, uma vez que elas causavam graves danos ao meio ambiente. Dissonância cognitiva Eu argumentei que ele era concordasse com ele que as prejudiciais ao meio ambiente, seja, enquanto não houvesse continuariam a usa-las. muito jovem, e que embora eu fraldas descartáveis eram muito havia a questão da necessidade, ou uma solução melhor, as pessoas Ele ficou impassível e garantiu que jamais deixaria usar – que se usasse as fraldas de pano. Os anos se passaram e eu encontrei mais tarde com ele, casado, com a esposa e dois filhos – gêmeos. Então eu perguntei: “E aí. Fraldas descartáveis, nem pensar, não é mesmo?”. Ele deu o sorriso mais amarelo do mundo, e quem acabou respondendo foi a esposa: “Ele realmente chegou com esta ideia, mas eu resolvi rapidinho – eu disse que já que esta ideia era dele, ele iria limpar o bebê, lavar as fraldas e passá-las, bem passadinhas, com ferro bem quente, para matar todas as bactérias e evitar assaduras em nossos filhos. Incrível como alguém pode mudar de ideia tão rapidamente”. Variáveis moderadoras do comportamento Robbins, Judge e Sobral (2010, p. 68) afirmam que pesquisas mais recentes mostram que existem algumas variáveis moderadoras que confirmam uma relação clara entre atitude e comportamento. Em outras palavras, que certas atitudes podem facilitar a previsão de comportamentos futuros. Estas variáveis são: •Importância da atitude: Atitudes importantes são aquelas que refletem valores fundamentais, ou interesse da pessoa na situação ou identificação com pessoas ou grupos que valorizamos; • Correspondência da atitude com o comportamento: Existem atitudes específicas que permitem prever um comportamento específico; •Acessibilidade: Atitudes que são mais acessíveis (na memória) tendem a acontecer com maior frequência, e, portanto, tendem a moldar mais o nosso comportamento; Variáveis moderadoras do comportamento (... continuação das variáveis moderadoras) •Existência de pressões sociais: Em muitas situações, as pressões sociais para que determinado comportamento seja seguido acaba por moldar a atitude de uma pessoa; • Experiência direta: Quando estamos diante de uma situação pela qual nunca passamos antes, é muito difícil prever qual será nossa reação. Ao contrário, se passamos por uma situação semelhante a uma situação anterior vivida anteriormente, fica mais fácil prever qual será a nossa reação. Existem pesquisas que mostram o quanto é importante saber avaliar atitudes, geralmente expressas em uma linguagem não verbal. Neste sentido, a linguagem corporal no ambiente de trabalho nos fornece valiosas informações que podem ajudar os gestores a prever comportamentos individuais e de grupo. Atitudes esperadas no trabalho Existem milhares de atitudes diferentes, que variam de pessoa para pessoa e de situação para situação. Entretanto, para os propósitos de nosso estudo, é importante conhecer que atitudes são esperadas no trabalho, e qual o impacto destas atitudes nas organizações. Estas atitudes são: 1. Satisfação com o trabalho: de acordo com Robbins, Judge e Sobral (2010), quando as pessoas falam sobre atitudes de um funcionário, elas estão se referindo à satisfação com o trabalho. Assim, pessoas com alto nível de satisfação em relação ao trabalho são aquelas que apresentam sentimentos positivos em relação a ele. De forma análoga, pessoas com baixo nível de satisfação com o trabalho possuem um sentimento negativo em relação ao trabalho. 2. Envolvimento com o trabalho: mede o grau em que a pessoa se identifica psicologicamente com o seu trabalho, e se preocupa com o seu desempenho como forma de valorização profissional. Atitudes esperadas no trabalho 3. Empowerment psicológico: é uma variável relacionada tanto com a satisfação como com o envolvimento com o trabalho, e que representa a influência que o funcionário acredita ter sobre o seu ambiente de trabalho a partir de sua competência, da importância que ele atribui ao trabalho e à sua autonomia. Alguns estudos demonstram que altos níveis de envolvimento com o trabalho e de empowerment psicológico estão relacionados com altos níveis de desempenho profissional e com comportamentos de cidadania organizacional. Os estudos também mostram que altos níveis de envolvimento com o trabalho estão relacionados também com uma baixa taxa de demissões e baixo absenteísmo. Entretanto, uma pesquisa de 1998 mostrou que estas relações não se aplicam a profissionais de informática no Brasil, porque, apesar do fascínio que eles possuem pela sua profissão, quanto maior é a dedicação e melhor o seu desempenho, menor é a dedicação ao trabalho por causa do cansaço resultante das tarefas que eles realizam (UCHIDA, 1998). Atitudes esperadas no trabalho 4. Comprometimento organizacional: mede o grau de identificação do funcionário com a sua empresa e seus objetivos, e o desejo deste trabalhador em se manter como parte desta organização. Este comprometimento é constituído por três dimensões: 4.1. Comprometimento afetivo: representa uma ligação emocional com a empresa e seus valores. Ex Jogador de futebol que atua em uma equipe por ser torcedor assumido. 4.2. Comprometimento instrumental: representa a percepção da importância econômica que uma organização tem para o funcionário. Ex Um funcionário permanece em uma organização por receber um bom salário e não ter propostas mais atraentes. 4.3. Comprometimento normativo: representa a obrigação do funcionário em permanecer em uma organização por razões morais e/ou éticas. Ex Um funcionário permanece em uma empresa porque ela pagou cursos de capacitação para ele ou porque deu algum tipo de apoio quando ele ficou doente. Atitudes esperadas no trabalho 5. Percepção de suporte organizacional (PSO): Representa a percepção do funcionário em relação ao grau de valorização que a organização dá às suas contribuições. Em outras palavras, representa a crença do funcionário em relação ao valor que ele acredita ter para a organização, ou o quanto o funcionário acredita que a empresa se preocupa com o seu bem-estar. As pesquisas mostram que funcionários com forte nível de consciência de PSO atendem melhor os clientes, possuem maior pro-atividade e apresentam mais comportamentos de cidadania organizacional. 6. Engajamento do funcionário: mede envolvimento, satisfação e, principalmente, o entusiasmo com o trabalho que exerce. Em outras palavras, um funcionário com alto nível de engajamento é apaixonado pelo que faz e possui uma conexão profunda com a empresa. Para entender, funcionário com baixo nível de engajamento fazem o essencial – disponibilizam o seu tempo para a organização, mas não colocam a sua “energia”. A satisfação com o trabalho De todas as atitudes esperadas no trabalho, esta variável é a mais estudada e discutida. Existem questões relacionadas a este assunto que nunca esgotam a discussão, por exemplo: Como medir satisfação com o trabalho? Quais são as principais causas de um alto nível de satisfação no trabalho? Como funcionários satisfeitos e insatisfeitos afetam a organização? 1. Mensuração da satisfação: A maneira mais simples de se medir, mas com alto nível de subjetividade, é uma pergunta do tipo: “Qual é o seu grau de satisfação com o seu trabalho?”, com uma escala de 1 a 5 (ou de zero a dez). Outro método, bem mais sofisticado e trabalhoso, mensura diversas variáveis relacionadas com a satisfação no trabalho, por exemplo: natureza do trabalho, relacionamento com superiores, com colegas e com subordinados, remuneração atual, possibilidade de promoção, etc. estas variáveis são colocadas em uma escala padronizada e depois, o somatório ou a média dá uma medida do grau de satisfação em relação ao trabalho. A satisfação com o trabalho 2. Principais causas da satisfação no trabalho: As pesquisas mostram que a remuneração (altos salários) tem um peso significativo na satisfação, especialmente em países mais pobres, mas não são os únicos fatores. Os benefícios oferecidos pelas empresas são fortes motivadores, enquanto que algumas pesquisas demonstram que muitos funcionários estão satisfeitos porque as empresas valorizam o seu trabalho e reconhecem isso de alguma forma. Pesquisas recentes demonstraram que a satisfação no trabalho é uma das prováveis causas de um melhor desempenho, mas nem sempre o fato de um funcionário ter um bom desempenho significa que ele está satisfeito com o seu trabalho. 3. Impacto da presença funcionários satisfeitos e insatisfeitos em uma organização: os estudos mostram que existem quatro reações básicas que sugerem insatisfação no trabalho: saída – voz – negligência e lealdade. A satisfação com o trabalho Saída: resposta à insatisfação expressa pelo abandono da empresa (busca de novo emprego ou demissão). Voz: resposta à insatisfação expressa pela busca por melhores condições de trabalho a partir de sugestões de melhorias, discussão de problemas com os superiores ou atividades sindicais. Lealdade: resposta à insatisfação expressa pela espera passiva, de maneira otimista, de que as condições melhorem, o que inclui defesa da organização perante críticas externas. Negligência: resposta à insatisfação que consiste em permitir que as coisas piorem de maneira passiva, incluindo episódios frequentes de absenteísmo e atrasos, redução do empenho e aumento do índice de erros. Todas estas reações à insatisfação ao trabalho podem ser analisadas na figura a seguir: A satisfação com o trabalho Matriz de análise de reações à insatisfação no trabalho Fonte: Robbins, Judge e Sobral (2010, p. 78) A satisfação com o trabalho Pesquisas recentes mostraram os três aspectos que os funcionários consideram dar maior satisfação no trabalho, em ordem de importância (ROBBINS, JUDGE e SOBRAL, 2010): 1. Condições físicas do local de trabalho: características relacionadas com a localização (trabalhar próximo à residência, por exemplo), iluminação, ventilação, mobiliário, etc. 2. Ambiente de trabalho: características relacionadas com o relacionamento interpessoal com os colegas. 3. Flexibilidade de horário: o funcionário faz o seu horário. A insatisfação com o trabalho Pesquisas recentes mostraram os três aspectos que os funcionários consideram dar mais insatisfação no trabalho, em ordem de importância (ROBBINS, JUDGE e SOBRAL, 2010): 1. Plano de aposentadoria: aposentar significa perder grande parte do poder aquisitivo, e assim, muitos pedem aposentadoria mas continuam trabalhando, insatisfeitos. 2. Remuneração: este aspecto é um dos campeões de insatisfação, e, se pensarmos bem, veremos que o plano de aposentadoria reflete exatamente a insatisfação com uma baixa remuneração. 3. Estresse: eventos relacionados com cumprimento de prazos, relação desgastada com a chefia e/ou subordinados e, muitas vezes, a própria natureza do trabalho (por exemplo, call center) contribuem para aumentar o estresse no ambiente de trabalho. As emoções no trabalho Apesar das emoções exercerem um papel importante na vida de todos nós, elas nunca foram levadas a sério quando o assunto em questão é o trabalho. Os pesquisadores destacam dois pontos que explicam o porquê das emoções não serem foco de estudos envolvendo trabalho: 1. Mito da racionalidade: Robbins, Judge e Sobral (2010, p. 92) declaram que “até muito recentemente, a norma no mundo do trabalho era reprimir e abafar as emoções. Uma organização bem administrada que um empregado expressasse frustação, medo, raiva, amor, ódio, alegria, pesar ou sentimentos semelhantes, considerados a antítese da racionalidade”. A questão que se coloca aqui é “como criar uma organização isenta de emoção?”. 2. Emoções são fontes de perturbação: os administradores acreditam que as emoções são predominantemente degradantes do desempenho no trabalho. Emoções, afetos e sentimentos Vamos conceituar estes três termos básicos: 1. Afeto: É um termo genérico que abrange um grande número de sensações experimentadas pelas pessoas, o que engloba tanto emoções como sentimentos, ou seja, é tudo aquilo que nos afeta. Afetividade e afeição são consideradas manifestações positivas do afeto, enquanto que tristeza e insatisfação são consideradas como manifestações negativas. 2. Emoções: São expressões afetivas intensas dirigidas a alguém ou alguma coisa. Podem ser entendidas como uma ruptura súbita do equilíbrio afetivo de uma pessoa – pode levar a reações fisiológicas (taquicardia, suor frio, tremor nas pernas ou nas mãos, por exemplo). 3. Sentimentos: São estados afetivos (estados de ânimo ou humores) menos intensos e mais duráveis do que as emoções, e não requerem um estímulo contextual para se manifestarem. Características das Emoções • São causadas (sempre) por um evento específico, ou seja, são reações a estímulos externos (geralmente) ou internos (raramente). • Tem início e fim, aparecendo e desaparecendo com rapidez (duração breve - da ordem de segundos ou, no máximo, minutos). • Possuem várias naturezas, específicas, geralmente relacionadas com uma polaridade (por exemplo, alegria, tristeza, medo, coragem, aversão, afinidade) ou não (por exemplo, surpresa). • Produzem (frequentemente) alterações corporais (por exemplo, expressões faciais ou reações físicas). • Possuem diferentes níveis de intensidade (por exemplo, muito forte, forte, moderada, fraca, muito fraca). • São voltadas à ação. • Podem ser observadas facilmente por outras pessoas. Características dos Sentimentos • Geralmente não possuem uma causa específica relacionada com um evento ou objeto, mas podem ter uma emoção como base. • Possuem uma duração longa - da ordem de horas, dias ou até semanas. • Não são muito específicos, mas possuem polaridade relacionada a uma afetividade positiva ou negativa. • Geralmente não produzem expressões faciais ou reações físicas, ou seja, não são facilmente observáveis por outras pessoas. • Não são voltadas à ação, estando mais relacionados com aspectos de natureza cognitiva. Função das emoções Alguém já deve ter ouvido que, ao se tomar uma decisão, devese agir com a razão, e não com a emoção. Esta ideia sugere que razão e emoção não andam juntas, ou que são contraditórias. É fato que demonstrações públicas intensas de emoção, principalmente de raiva ou de tristeza, podem destruir uma carreira. Pensando nisso, muitas organizações oferecem programas de administração da raiva para ensinar trabalhadores e executivos a controlar ou até esconder seus sentimentos mais íntimos, que podem desencadear alguns tipos de emoção. Entretanto, não é certo pensar em razão e emoção como um cabo de guerra em que um tenta suplantar o outro. Pesquisas recentes demonstraram que as emoções são importantes para o desenvolvimento do pensamento crítico. Função das emoções Uma pesquisa brasileira com 80 equipes de trabalho concluiu que a cooperação nos grupos é tanto maior quanto maiores forem os níveis de competência emocional entre seus membros (CAVAZOTTE, HUMPHREY e SLEETH, 2004). Outro caso clássico é o exemplo de Phineas P. Gage, um funcionário ferroviário dos EUA que teve a cabeça perfurada desde a mandíbula até a parte superior do crânio por uma barra de ferro, em 1848, enquanto instalava uma carga explosiva. Apesar da gravidade do ferimento, e contrariando toda a literatura médica, ele sobreviveu, sem sequelas do ponto de vista cognitivo. Entretanto, ele perdeu a capacidade de sentir emoções. Era incapaz de ficar triste ou alegre nos mais diversos tipos de eventos capazes de produzir estas emoções. Isto acabou eliminando a sua capacidade de raciocinar e ele começou a fazer escolhas irracionais para a sua vida. Função das emoções O seu comportamento mudou depois do acidente, tornando-o uma pessoa grosseira, desprovida de sentimentos. Depois do acidente, andou de emprego em emprego até parar em um circo. Perdeu este último emprego e morreu pobre e epilético, treze anos após o acidente. O caso de Phineas e outros estudos sobre danos cerebrais levaram os neurocientistas a concluir que as emoções são importantes para o pensamento racional. Assim, uma decisão a ser tomada não deve ser feita só com a razão ou só com a emoção. O segredo para se tomar decisões acertadas é usar tanto a cognição e a razão quanto a emoção e o sentimento. Cada um deve descobrir qual é o ponto de equilíbrio que deve ser usado em cada decisão. Fonte das emoções Robbins, Judge e Sobral (2010) concordam que conhecer as emoções e seus desdobramentos é importante para as organizações, uma vez que elas podem afetar os estados de ânimo dos funcionários. Quem nunca ouviu a expressão “hoje eu acordei com o pé esquerdo”. Um funcionário que fala isto pode ser um risco para outras pessoas, dependendo da sua função dentro da empresa. Assim, vamos ver algumas influências das emoções e sentimentos nas organizações. Personalidade: Pessoas agem de maneira diferente em virtude da intensidade que demonstram em suas emoções. Isso varia de pessoa para pessoa. Compare a atitude de Bill Gates (ex-presidente da Microsot) com seus funcionários (frequentemente nervoso, ansioso e histérico) com a de Dunga (ex-técnico da seleção brasileira de futebol na copa de 2010), aparentemente impassível diante dos acontecimentos. Essa diferença de intensidade afetiva varia muito de pessoa para pessoa. Pessoas afetivamente intensas experimentam emoções positivas ou negativas com muita força, ou seja, ou ficam muito tristes, ou muito alegres. Fonte das emoções Dia da semana e hora do dia: Uma pesquisa mostrou que os sentimentos negativos são maiores aos domingos e segundas, caindo gradativamente até o nível mais baixo, no sábado. Em contrapartida, os sentimentos positivos são menores aos domingos e segundas, subindo gradativamente até o nível mais alto, no sábado. Em relação à hora do dia, independente do horário em que as pessoas vão dormir ou acordar, o pico de afetividade positiva é atingido no meio do período entre a hora que a pessoa acorda e a hora em que ela dorme. Em termos de comportamento organizacional, isto significa que as interações no ambiente de trabalho serão mais positivas a partir do meio da manhã (e antes do meio da tarde), e próximas ao fim de semana. Fonte das emoções Clima: Existe uma tendência, baseada em “achismo”, que o clima pode ter alguma influência sobre a afetividade. Assim, um clima ensolarado seria propício para afetividade positiva, enquanto que um clima pesado e chuvoso levaria as pessoas para uma afetividade negativa. Nada é mais falso. Nenhuma pesquisa realizada até hoje conseguiu relacionar afetividade com clima. Estresse: Um episódio de estresse, isolado, não é capaz de afetar negativamente por muito tempo um ambiente de trabalho. Entretanto, pesquisas neste sentido sinalizam que um ambiente em que há um nível de estresse constante, mesmo que em níveis moderados, pode levar a um aumento crescente do nível de tensão no trabalho. Isto pode levar a um desgaste nas relações interpessoais e pode influenciar negativamente os estados de ânimo das pessoas de uma organização. Fonte das emoções Atividades sociais: As pesquisas revelam que atividades sociais informais (caminhar com amigos, ir a uma festa ou almoçar com outras pessoas) tem influência positiva sobre a afetividade (e estados de ânimo). Atividades formais (por exemplo, participação em reuniões) e sedentárias (por exemplo, assistir TV) não possuem o mesmo nível de influência. Sono: Existem diversas pesquisas que comprovam que a falta de uma noite de sono com qualidade afeta negativamente o humor das pessoas. Uma vez que a percentagem de pessoas que dormem mal à noite é relativamente alta, dá para se ter uma ideia do estrago que noites mal dormidas podem fazer. Atividades físicas: Está comprovado que atividades físicas moderadas e regulares podem influenciar positivamente o humor e o estado de ânimo das pessoas. Isto não quer dizer que atletas profissionais, que fazem atividades físicas intensas e regulares, não possam ter episódios de alteração de humor de caráter depressivo. Fonte das emoções Idade: As pesquisas sugerem que a experiência emocional melhora com o aumento da idade. Em outras palavras, pessoas mais velhas tendem a ter maiores períodos de bom humor e poucos períodos de mau humor (que tendem a desaparecer mais rápido que em pessoas mais jovens). Gênero: Para aquelas pessoas que acreditam que as mulheres são mais emotivas que os homens, existe um pouco de verdade nesta afirmação. As mulheres, em geral, sentem as emoções em um nível maior de intensidade que os homens, com exceção da raiva. Entretanto, isto depende muito da maneira como os homens e mulheres foram socializados. Em geral, espera-se que as mulheres expressem mais emoções positivas no trabalho. Emoções demonstradas e emoções sentidas: Uma emoção demonstrada (nível superficial) é aquela que uma organização considera adequada para seus propósitos profissionais – o que exige supressão da emoção real (sentida, em nível profundo). Teoria dos eventos afetivos A teoria dos eventos afetivos demonstra que os trabalhadores reagem emocionalmente aos eventos que ocorrem no trabalho, e esta reação pode afetar o seu desempenho ou sua satisfação. Fonte: Ashkanasy e Daus (2002, p. 77 apud ROBBINS, JUDGE e SOBRAL, 2010, p. 104). REFERENCIAS BOWDITCH, James L.; BUONO, Anthony F. Elementos do comportamento organizacional. São Paulo: Cengage Learning, 2011. CAVAZOTTE, F.; HUMPHREY, R.; SLEETH, R. Competências e processos intra-grupais: o papel de habilidade para expressar emoções e da empatia para a cooperação em grupos de trabalho. In: ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓSGRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO – EnANPAD, 28., 2004, Curitiba (PR). Anais... Curitiba, 2004. GIVENS, David. A linguagem corporal no trabalho. Petrópolis: Vozes, 2011. Não é possív el exibir esta imagem no moment o. ROBBINS, Stephen P.; JUDGE, Timothy A.; SOBRAL, Filipe. Comportamento organizacional: teoria e prática no contexto brasileiro. 14. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. UCHIDA, Seiji. Trabalho informatizado e sofrimento psíquico. Psicologia USP, São Paulo, v. 9, n. 2, 1998 . Disponível em <http://www.scielo.br/ scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-65641998000200007&lng=pt &nrm =iso>. Acesso em: 01 abr. 2013. VENDRAMINI, Claudette Maria Medeiros; BRITO, Márcia Regina Ferreira. Relações entre atitude, conceito e utilidade da estatística. Psicologia Escolar e Educacional, V. 5, n. 1, p. 5973, 2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pee/ v5n1/v5n1a07.pdf>. Acesso em: 20 mar. 2013.