VIH/SIDA “Em demasiados países, a conspiração oficial de silêncio em volta da SIDA impediu que numerosas pessoas obtivessem informação que teria podido salvar a sua vida. É preciso ajudar os jovens a protegerem-se, informando-os e criando as condições sociais favoráveis para que tenham menos possibilidades de ser contagiados.” Kofi Annan, Relatório do Milénio Estatísticas fundamentais Em Junho de 2000, 34,3 milhões de pessoas, em todo o mundo, viviam com o VIH – o vírus causador da SIDA. Em todo o mundo, 18,8 milhões de pessoas já morreram com SIDA, sendo 38 milhões crianças. Embora África tenha 10% da população mundial, residem nela 70% de todas as pessoas que vivem com o VIH. Em 16 países da região africana, mais de 10% dos habitantes entre os 15 e os 49 anos estão infectados pelo VIH. Desde o início da epidemia, 13,2 milhões de crianças com menos de 15 anos ficaram órfãs em virtude da SIDA. As estimativas mais recentes do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o VIH/SIDA (ONUSIDA) e da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que, só em 1999, 5,4 milhões de pessoas foram infectadas pelo VIH. Oiçamos as vozes dos jovens “A juventude da Letónia não dispõe de informação completa e correcta sobre a saúde sexual e reprodutiva. Muitos de nós não sabem nada sobre as relações sexuais seguras e a contracepção. Por isso, muitos são vítimas das doenças transmitidas sexualmente e da SIDA. Estes problemas afectam o futuro dos jovens na Letónia.” (Toms, 18 anos, Letónia) “Os pais africanos não podem falar sobre isto e deveriam pesar bem a situação e decidir o que é mais constrangedor, se falar de sexo ou verem os seus filhos morrer de SIDA.” (Uma adolescente queniana) “Cinquenta por cento das novas infecções (VIH/SIDA) que ocorrem hoje em dia situamse na faixa etária entre os 15 e os 25 anos. Isto é, se somos o futuro e estamos a morrer, não há futuro”. (Mary Phiri, Chefe de Redacção de Trendsetters, um boletim informativo sobre o VIH/SIDA produzido mensalmente por activistas adolescentes na Zâmbia) “Fico furioso quando as pessoas não me levam a sério. Lá porque sou jovem isso não significa que não tenha algo importante a dizer. Deveria não só ter liberdade de expressão, como deveria ter também o direito de ser ouvido.” (Juan, 17 anos, Peru) “Quando os funcionários do governo vêm ouvir-nos, falam durante a maior parte do tempo e não nos deixam falar o suficiente. Deviam ouvir mais e deixar-nos fazer perguntas difíceis. Por que razão os adultos não prestam mais atenção ao que nos preocupa?” (Jovem etíope) Definindo a questão O facto de os jovens estarem zangados e a falar na SIDA não é uma coincidência, dado que são um dos grupos mais vulneráveis à infecção com VIH/SIDA. Todos os dias, 8500 crianças e jovens de todo o mundo são infectados pelo VIH/SIDA. O VIH/SIDA é disseminado através de comportamentos que ocorrem, frequentemente, em privado, tais como as relações sexuais não protegidas (relações sexuais sem preservativo) e a injecção de drogas com agulhas partilhadas. Pode ser transmitido também por uma mãe que é portadora do vírus VIH ao filho, durante a gravidez, o parto ou a amamentação. Quando uma pessoa é infectada pelo VIH, podem passar até dez anos até se manifestarem sinais da doença. Esses sinais surgem quando o sistema imunológico da pessoa falha e pode ser atacado facilmente por doenças comuns na comunidade. Dado que os sintomas, tais como as infecções respiratórias ou de pele, podem ser confundidos com os de outras doenças ou aparecem muito depois da exposição ao vírus, o VIH é invisível. A invisibilidade do VIH permite que algumas pessoas questionem a sua existência. Mas o VIH é real, e é importante protegermo-nos, dado que todos estamos em risco. Para além dos comportamentos que colocam as pessoas em risco de infecção pelo VIH, existem também factores sociais e económicos que colocam alguns grupos sociais, tais como os jovens, os consumidores de drogas injectáveis, os homossexuais, e os refugiados, num risco ainda maior. Entre esses factores e situações, contam-se a falta de educação, a falta de oportunidades de gerar rendimentos, normas e práticas culturais que limitam as possibilidades de beneficiar do desenvolvimento económico e social. É importante que vejamos a epidemia da SIDA de duas perspectivas – os riscos comportamentais e o ambiente económico e social – se pretendermos criar uma resposta mais ampla. Mais destrutiva do que a guerra Segundo afirmou o Secretário-Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, o “impacte da SIDA não é menos destrutivo do que a própria guerra e, segundo alguns parâmetros, é muito pior”. A área mais gravemente afectada pela epidemia é a África sub-sariana, onde a maior parte das transmissões ocorre através de relações sexuais não protegidas entre homens e mulheres. O impacte da SIDA nas sociedades africanas atingiu proporções de tal modo dramáticas que, pela primeira vez na sua história, o Conselho de Segurança das Nações Unidas, discutiu, em Janeiro de 2000, uma questão de desenvolvimento – a SIDA. A SIDA está a devastar o continente: a esperança de vida média em alguns países africanos baixou em 15 anos; um grande número de trabalhadores é incapaz de trabalhar, reduzindo assim a produtividade de muitas empresas; e gerações de órfãos estão a criar-se a si próprias, muitas vezes sem educação. Em alguns países africanos, o VIH infectou mais de um quarto da população adulta. O VIH matou mais pessoas do que a guerra na região: em 1998, 200 000 africanos morreram na guerra, mas mais de dois milhões morreram de SIDA. Na Ásia, as taxas de infecção não são tão elevadas como em África, mas também são alarmantes. A região alberga três dos países mais populosos do mundo – a China, a Índia, a Indonésia – e mesmo taxas de prevalência baixas significam que um número elevadíssimo de pessoas vive com o vírus. Na Índia, Camboja e Myanmar, a epidemia está concentrada a níveis críticos em determinados grupos, tais como os consumidores de drogas injectáveis e as prostitutas. É enganador centrarmo-nos apenas na população em geral porque pode ser apenas uma questão de tempo até as infecções passarem a espalhar-se mais amplamente. Na América Latina e Caraíbas, a epidemia da SIDA é altamente diversificada. Em alguns países como as Honduras, Guatemala e Belize, países das Caraíbas e Brasil, a maior parte da transmissão é entre homens e mulheres. No entanto, na Costa Rica e México, a maior parte da transmissão é através de consumidores de drogas e através de homens que têm relações sexuais com outros homens. No entanto, existem algumas mudanças que fazem ter alguma esperança nesta região: os jovens brasileiros entre os 16 e os 25 anos afirmam que usam preservativo em 87% das vezes em que têm relações sexuais com parceiros esporádicos. A Argentina, o Brasil e o México estão a tentar fornecer terapia anti-retrovírica (medicamentos que reduzem a quantidade de vírus no sangue) a todos os habitantes dos seus países infectados pelo VIH. Na Europa Oriental e Ásia Central, a epidemia acelerou com o aumento do consumo de drogas injectáveis. Nos países da antiga União Soviética, as taxas mais elevadas de casos de VIH concentram-se fortemente nos consumidores de drogas injectáveis. Em qualquer país com práticas não seguras de injecção de drogas pode ocorrer um surto de VIH. Na Europa e América do Norte, as novas infecções por VIH estão concentradas sobretudo entre os consumidores de drogas injectadas e os homossexuais do sexo masculino. Embora os programas de troca de agulhas se tenham revelado altamente eficazes na redução da transmissão entre toxicodependentes, países como os Estados Unidos recusaram-se a pô-los em acção em virtude da oposição política. Enfrentando um desafio Os países que mostraram empenhamento para enfrentar a SIDA conseguiram reduzir significativamente o seu fardo. Em 1993, os peritos previram que a Tailândia teria entre dois e quatro milhões de casos de VIH, no ano 2000. Graças a medidas de prevenção de alta escala, a Tailândia tinha menos de um milhão de casos no ano 2000. O Uganda, com um apoio político e comunitário de base ampla, conseguiu estabilizar a sua epidemia em 8% em vez de se juntar aos seus vizinhos num valor acima dos 20%. Existe esperança, quando os Governos transformam o VIH numa questão pública através do patrocínio de anúncios na televisão, rádio e imprensa, e quando os grupos comunitários, incluindo as pessoas que vivem com o VIH, são apoiados nos seus esforços. Na 13ª Conferência da SIDA, em Durban, África do Sul, em Junho de 2000, os líderes africanos reconheceram o seu problema com a SIDA e uniram esforços com os activistas para intensificar as medidas contra esta doença silenciosa. À medida que os Governos passaram a reconhecer a SIDA como uma questão de desenvolvimento, começaram a reagir numa fase mais precoce e a iniciar mais cedo programas amplos e multissectoriais. Enquanto, inicialmente, a epidemia era vista estritamente como uma questão de saúde, hoje em dia, cada vez mais países compreendem as suas relações socioculturais, económicas e políticas. Assim, em muitos países, toda a gama dos sectores do desenvolvimento, tais como a educação, a mão-de-obra, a agricultura, o poder local está a ser mobilizada para incluir, nos seus programas, medidas relacionadas com a SIDA. Ademais, o papel da sociedade civil, nomeadamente das organizações não governamentais, foi um elemento importante da resposta alargada, em virtude da sua capacidade de envolverem as comunidades na criação de actividades relevantes a nível local. As empresas também estão a aumentar a sua resposta. Muitas compreenderam que estão a perder os seus melhores trabalhadores para a doença, afectando seriamente os seus negócios. Hoje em dia, muitas empresas têm programas de SIDA que incluem serviços médicos para o pessoal que vive com o VIH, distribuição de preservativos, prestação de educação sobre a SIDA, e actividades de sensibilização da comunidade. Uma outra área que foi uma fonte de esperança relaciona-se com os bebés filhos de mães com VIH. Tratamentos com um remédio chamado AZT dado à mãe pouco antes do nascimento do filho permitem que o risco de transmissão da mãe para o filho seja reduzido em 50%. Isto significa que precisam de ser feitas análises às mulheres para descobrir se são seropositivas, de modo a proteger os seus filhos. Embora, em alguns países, essas análises possam aumentar a sua probabilidade de receberem cuidados e apoio, noutros isso pode significar a rejeição por parte das suas famílias e comunidades. O envolvimento de pessoas seropositivas em programas de prevenção e cuidados do VIH/SIDA tornou-se mais visível nos últimos anos. O princípio do maior envolvimento das pessoas que vivem com o VIH/SIDA ou GIPA foi sendo reconhecido cada vez mais como essencial na luta contra a epidemia e deve ser reforçado continuamente. As suas experiências ao enfrentarem os desafios em termos de prevenção e cuidados/apoio inspiraram medidas que beneficiaram aqueles que vivem com a epidemia ou estão afectados por ela, como sejam um maior acesso a terapia anti-retrovírica e a defesa da não discriminação das pessoas seropositivas. Os jovens estão na vanguarda Em todo o mundo, os jovens são responsáveis por 50% de todas as novas infecções por VIH/SIDA, todos os anos. São também eles que falam mais abertamente sobre o sexo e sobre tomar medidas concretas para prevenir o VIH, educando outros jovens como eles. Receberam informação e formação relacionadas com o VIH/SIDA e transmitiram os seus conhecimentos aos seus colegas, nas escolas, reuniões sociais, clubes desportivos, etc. Também desempenharam funções de repórteres de jornais locais, formadores nas comunidades, e fizeram a ligação entre médicos e jovens pacientes em serviços de saúde, como, por exemplo, em clínicas para doenças transmitidas sexualmente. Uma abordagem eficaz em relação aos jovens foi através dos seus modelos, tais como figuras importantes do desporto. As equipas de futebol exercem pressão sobre os seus companheiros de equipa para que se mantenham fortes, e celebridades mundiais do futebol, como o jogador Ronaldo, vieram dizer aos jogadores “Joguem pelo Seguro!” Todas estas acções estão a ter os resultados desejados, com os jovens a esperarem mais tempo antes de terem relações sexuais e praticarem o sexo seguro quando chega a altura. Em Lusaca, na Zâmbia, cada vez menos raparigas têm relações sexuais antes do casamento: 35%, em 1996, em relação a 52%, em 1990. Entre os jovens do sexo masculino da faixa etária dos 16 aos 25 anos, 87% afirmaram que usavam regularmente preservativos com os seus parceiros sexuais esporádicos – um número impressionantemente elevado que está em conformidade com o grande aumento da venda de preservativos. Zâmbia: Esperança no Epicentro da SIDA “Salve a Sua Vida – Aprenda Sobre a SIDA”, diz um slogan nos painéis do camião branco que vai bamboleando pelas ruas sujas do bairro degradado de Chibolya, em Lusaca, a capital zambiana. Os altifalantes instalados no camião gritam em todas as direcções. “Venham ouvir o Clube Anti-SIDA de Chibolya – o espectáculo é dentro de cinco minutos. Aprendam sobre a SIDA – protejam-se!” O veículo, coberto com uma espessa camada de poeira cinzenta, detém-se numa zona aberta onde cinco rapazes e uma mulher, envergando todos calças de tecido de xadrez verde e T-shirts, o aguardam. Uma multidão, de cerca de 350 pessoas e que conta com muitas crianças de tenra idade, reúne-se num grande círculo em redor dos actores e começa a cantar. O estado de espírito é festivo, embora a mensagem seja claramente séria. Três tocadores de tambor assinalam o início dos espectáculos. “Hoje viemos ensinar-vos coisas sobre o VIH/SIDA. Woza! [Venham!]”, cantam. Um rapaz e uma rapariga adolescentes saltam e dançam no meio do círculo cada vez maior de jovens espectadores. O auditório, extasiado, ri a bom rir quando os bailarinos dão lugar a um jovem vestido com uns grandes sapatos vermelhos, uma bata e um chapéu ridículo, que desempenha o papel de um pai que está a ralhar com a sua filha adolescente, “Não deves sair com tantos homens!” Depois do espectáculo, os membros do público apinham-se junto ao camião pedindo informações sobre a SIDA e preservativos. “Estamos a marcar a diferença”, assevera Levy Kafuti, o coordenador da companhia, de 23 anos. “Cada vez é maior o número de pessoas que vêm aos nossos espectáculos. Quando estas crianças atingirem a puberdade, saberão exactamente como se proteger. Isso dá-nos muita esperança”. O Clube Anti-SIDA de Chibolya, constituído em 1995, é um dos 1760 clubes desse tipo existentes na Zâmbia que difundem mensagens de prevenção da SIDA através de diversas actividades. A equipa de futebol masculino e de voleibol feminino do Clube Chibolya, por exemplo, difundem mensagens de sensibilização para a SIDA nos seus jogos. As representações da companhia de teatro, composta por 10 membros, são realizadas em conjunto com as visitas do “AIDSmobile” do Family Health Trust, que distribui, gratuitamente, preservativos, conselhos e literatura. (Adaptado do State of the World’s Children 2000, UNICEF) Exemplos de medidas positivas Em todo o mundo, há exemplos de coragem e força na luta contra a epidemia da SIDA. Apresentamos de seguida alguns deles. Um exemplo notável é o programa de educação por outros jovens da Associação de Desporto Juvenil de Mathare, no Quénia, uma organização dirigida por jovens e para os jovens. A maior parte do seu quadro de várias centenas de voluntários tem menos de 16 anos. Estes voluntários formados realizam trabalho de campo de prevenção da SIDA no seio da comunidade, por meio de pequenas discussões em grupo e seminários durante actividades desportivas, nos fins de semana. Todos os anos, são formados 50 novos educadores que levam este programa a cerca de 8500 adolescentes, entre os 12 e os 20 anos, que participam nas suas actividades semanais de futebol e de outros desportos. Desde 1987, este programa já atingiu mais de 30 000 jovens. A UWESO (Uganda Women’s Effort to Save Orphans) foi concebida originalmente para ajudar crianças que haviam ficado órfãs devido à guerra e alterou o seu objectivo em resposta à crise da SIDA. A UWESO financia a educação e formação dos órfãos da SIDA e consegue pequenos subsídios para ajudar as pessoas que deles cuidam a fundarem empresas e iniciarem actividades de comércio. A World Association for Girl Guides and Girl Scouts fez corresponder um programa de educação realizado pelos jovens com o sistema normal de distintivos da Associação. Os seus distintivos têm uma fita vermelha que pode ser ganha pelos seus membros depois de demonstrarem e difundirem mensagens de prevenção entre os seus pares ou de terem participado em actividades de cuidados e de apoio aos seus membros que vivem com o VIH. O Serviço de Linha de Ajuda e Aconselhamento da SIDA, no Egipto, é um serviço de aconselhamento telefónico que dá a oportunidade às pessoas de falarem sobre sexo e sexualidade numa sociedade em que fazê-lo constitui um tabu cultural. O anonimato encoraja as pessoas a ligarem, e a Linha de Ajuda recebe mais de 1000 telefonemas por mês, muito mais do que se esperava originalmente. Na Zâmbia, um grupo de ONG colaborou com o Ministério da Saúde, a assembleia distrital e os próprios jovens para tornar os seus serviços de saúde mais favoráveis aos jovens. Deram formação a 52 jovens, durante um período de duas semanas, para estes darem conselhos sobre gravidez, infecções transmitidas sexualmente, uso indevido de substâncias, preocupações financeiras e comunicação com os parceiros sexuais. Trabalhando lado a lado com o pessoal médico, nas clínicas de cuidados de saúde primários, estes conselheiros funcionam como um elo de ligação entre os seus pares e o pessoal médico, satisfazendo as suas necessidades pessoais e ajudando-os a lidar com as complicações do sistema público de saúde. Os resultados foram um aumento notável da comparência dos jovens nesses serviços e relações intergeracionais mais fortes no seio da comunidade. O Projecto Maiti, no Nepal, salva crianças e mulheres jovens, dos traficantes. Em vez de serem vendidas para a prostituição, as raparigas recebem formação profissional, apoio e aconselhamento. Em consequência do trabalho do Maiti, foram presos 150 traficantes de crianças. A National Union of Eritrea Youth and Students criou também centros de saúde e recreio favoráveis aos jovens, onde jovens voluntários ministram ensino aos seus companheiros e desenvolvem campanhas de sensibilização que incluem saúde reprodutiva, prevenção de DTS (doenças transmitidas sexualmente)/SIDA, e aconselhamento a jovens que não frequentam a escola. Uma batalha que está longe de ter terminado Embora existam histórias de sucesso, a vitória na luta contra o VIH ainda está distante. Ainda existem diversas áreas onde têm de ser tomadas medidas mais intensas. Órfãos: A SIDA deixou atrás de si 13,2 milhões de órfãos – crianças que, antes dos 15 anos, perderam as mães ou ambos os pais em virtude da SIDA. Essas crianças enfrentam a subnutrição, abandonam a escola para ganhar a vida ou cuidar de irmãos mais novos, enfrentam a doença, a violência e a exploração sexual porque já não são protegidas pelos seus pais. As famílias que recolhem órfãos não dispõem, muitas vezes, de recursos suficientes para alimentar as crianças e pagar a sua educação. Os órfãos precisam de ser ajudados a sustentar-se a si e aos seus irmãos sem terem de ir para as ruas ou para os orfanatos que reduzem as suas hipóteses em termos de saúde e segurança. Raparigas: As taxas de infecção são mais de cinco vezes superiores nas adolescentes do que nos adolescentes, na África sub-sariana. Estes números mostram o convívio sexual entre gerações: nas zonas rurais da República Unida da Tanzânia, cerca de 17% das adolescentes casadas contaram que haviam tido relações sexuais com homens pelo menos 10 anos mais velhos do que elas. É necessário intervir-se para ajudar as raparigas a evitarem as relações sexuais com homens mais velhos, para as ajudar a pagar as escolas de modo a não precisarem de que os homens mais velhos o façam por elas, e condenar homens que escolhem parceiras sexuais jovens. Consumidores de drogas: Pensar que o VIH pode ser contido no seio das populações de utilizadores de drogas foi algo que se revelou errado porque estes têm relações sexuais com pessoas que não consomem drogas e transmitem o VIH à população em geral. É habitual os consumidores de drogas injectadas dedicarem-se ao comércio do sexo para pagar as drogas e, assim, é altamente provável que ocorra a transmissão sexual. Os programas globais de prevenção do VIH que incluem educação sobre a SIDA, promoção dos preservativos, troca de seringas e tratamento medicamentoso mostraram ser capazes de ajudar a reduzir o risco elevado de novas infecções, tanto nos países desenvolvidos, como os Estados Unidos, como nas novas economias de mercado, como a Belarus. Educação: Nos países mais atingidos de África, um grande número de escolas fechou porque demasiados professores morreram com SIDA. Além disso, muitos alunos abandonaram as escolas devido à falta de recursos para pagarem as despesas de educação e à necessidade de cuidarem de membros doentes das suas famílias. O sector da educação, com que a sociedade conta para ajudar a criar os jovens e permitir-lhes que tenham empregos no futuro, está posto em perigo. Além disso, perde-se o papel potencialmente poderoso das escolas, como canal de ensino das realidades da vida que são necessárias para a prevenção e tratamento da SIDA. Educação e serviços de saúde sexual e reprodutiva: A educação e a informação são direitos humanos fundamentais. Quando as pessoas, especialmente as crianças e os adolescentes, vêem ser-lhes negadas as informações, educação e conhecimentos básicos necessários para enfrentarem o VIH – quer por causa de valores religiosos, quer por preferências socioculturais – são menos capazes de reduzir o seu próprio risco de infecção. São privadas também do conhecimento dos serviços de saúde onde podem obter informação e ajuda para problemas de saúde, tanto para os problemas que os jovens enfrentam geralmente, tais como a gravidez indesejada e o consumo de drogas, como para a prevenção do VIH e das infecções transmitidas sexualmente. Acesso a medicamentos: Noventa por cento das pessoas que vivem com o VIH não têm acesso a medicamentos que as ajudem a combater o vírus ou as doenças que lhe estão associadas. Reduzir o preço dos medicamentos mediante negociações com as empresas farmacêuticas detentoras das patentes ou produzir formas genéricas de medicamentos fará que se tornem acessíveis, em termos de custos, às pessoas que vivem no mundo em desenvolvimento. O sector da saúde tem de ser reforçado. As clínicas e hospitais têm de estar bem equipados, em termos de médicos e de medicamentos, de modo a poderem tratar as doenças comuns entre as pessoas com VIH e a tuberculose. Impacte económico: A SIDA não é apenas uma questão médica. O impacte económico da doença é evidente nas comunidades altamente infectadas, onde a mão-de-obra é reduzida e a estrutura familiar destruída. Conceder empréstimos ou subsídios a famílias que cuidam de pessoas que vivem com o VIH e a órfãos da SIDA pode ajudar essas famílias a saírem da extrema pobreza, que aumentou a vulnerabilidade à infecção pelo VIH. Redução do estigma e da discriminação: Em 1998, no Dia Mundial da SIDA, uma jovem mulher sul-africana contou à sua comunidade que estava infectada pelo VIH. Alguns dias mais tarde, foi apedrejada até à morte. A sua história não é um incidente isolado dado que é habitual as pessoas com VIH serem mandadas embora pelos profissionais de cuidados de saúde, verem ser-lhes negados empregos e habitações, não serem aceites como candidatas a seguros e verem ser-lhes recusada a entrada em países estrangeiros, serem postas fora de casa pelos cônjuges ou familiares, e até assassinadas. É necessário proteger os direitos das pessoas que vivem com a SIDA para que se sintam seguras, quer estejam a trabalhar para evitar a doença ou a lutar para viver com ela. Estabelecendo metas: tomando medidas O Secretário-Geral Kofi Annan, no seu Relatório do Milénio apresentado à consideração da Cimeira do Milénio, das Nações Unidas, propôs diversas medidas que os Governos deveriam tomar para conter e reduzir a disseminação do VIH/SIDA até 2015, nomeadamente: Adoptar como objectivo explícito a redução em 25% das taxas de infecção por VIH entre as pessoas com 15 a 24 anos de idade, nos países mais afectados, até ao ano 2005, e em 25%, a nível mundial, até 2010. Definir metas de prevenção explícitas: em 2005, pelo menos 90% dos jovens tenham acesso à informação, à educação e aos serviços de que necessitam para se proteger do VIH e que, em 2010, essa percentagem suba para 95%. Que em todos os países mais seriamente afectados exista um plano de acção nacional, no prazo de um ano após a realização da Cimeira (Setembro de 2000). Os próximos passos Há muitos modos de reforçar a batalha contra a SIDA. Entre eles, contam-se os seguintes: 1. Aumentar as políticas nacionais para proteger os direitos das crianças e dos jovens e para reduzir a sua vulnerabilidade ao VIH/SIDA. 2. Permitir a participação das crianças e dos jovens na tomada de decisões e no apoio e educação dos seus pares. 3. Combater as normas sociais que aumentam os riscos das crianças e dos jovens relativamente à infecção pelo VIH. 4. Ajudar os adultos, jovens e crianças a melhorarem a sua comunicação no que se refere a questões sensíveis, tais como a sexualidade e a saúde sexual. 5. Aumentar as oportunidades económicas e a formação profissional dos jovens, de modo a que sejam menos vulneráveis à infecção pelo VIH. 6. Defender o ensino de capacidades necessárias à vida, saúde sexual e educação sobre o VIH/SIDA, dentro e fora das escolas. 7. Criar serviços de saúde agradáveis para as crianças e para os jovens. 8. Ajudar as comunidades a criarem programas para o apoio e a prestação de cuidados a crianças e jovens que vivem com o VIH/SIDA ou que se encontram infectados por ele. 9. Reduzir o estigma e a discriminação que rodeiam o VIH/SIDA. Sugestões de actividades para alunos Existem também formas simples e práticas de os jovens se envolverem. Alguns jovens como vocês podem descobrir formas positivas, como as seguintes: 1. Visite alguém que viva com o VIH. 2. Coloque uma caixa de perguntas na sua sala de aula para que os alunos possam fazer, anonimamente, perguntas a que os professores responderão em ocasiões determinadas. 3. Peça para que a sua escola crie uma zona específica onde os alunos possam obter, com confidencialidade, preservativos e informações sobre as doenças transmitidas sexualmente e o VIH. 4. Escreva e interprete uma canção que mostre solidariedade para com os afectados pela epidemia. 5. Crie um intercâmbio de correspondência com crianças e jovens infectados e afectados pelo VIH/SIDA em diferentes cidades e países. 6. Organize palestras, na sua escola, com pessoas que vivem com o VIH. 7. Eduque outros jovens no domínio das aptidões de vida, saúde sexual e SIDA. 8. Torne-se conselheiro de outros jovens para servir de ligação entre os profissionais de cuidados de saúde e jovens clientes, em clínicas locais. 9. Incentive o seu centro local de cuidados de saúde a reservar horários específicos para ministrar serviços de saúde a crianças e jovens. 10. Publicite a existência de serviços de saúde agradáveis para as crianças e os jovens, se existirem na sua comunidade. 11. Incentive celebridades a falarem aos seus ouvintes na necessidade de apoiar as pessoas que vivem com o VIH. 12. Crie prémios anuais de jornalismo como incentivo para os jornalistas escreverem artigos de fundo sobre a SIDA. 13. Trabalhe com escritores de programas de rádio e novelas de televisão no sentido de integrarem mensagens sobre o VIH/SIDA nos diálogos das suas histórias. 14. Crie um cartão de formato de bolso intitulado “Conhece os Teus Direitos” e distribua-os às crianças de todas as escolas públicas. 15. Exorte a que mensagens sobre o VIH sejam integradas nos discursos dos políticos e dirigentes. 16. Incentive os grupos de jovens a realizarem seminários com funcionários do governo sobre a utilidade e eficácia da participação da juventude na prevenção do VIH. Alguns recursos Na World Wide Web www.unaids.org – Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o VIH/SIDA. O ONUSIDA tem estatísticas do VIH/SIDA para cada país, bem como uma extensa secção de ligações a outros websites sobre a SIDA. www.unicef.org – Fundo das Nações Unidas para a Infância. Centra-se nos direitos da criança. www.undp.org – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. www.unfpa.org – Fundo das Nações Unidas para a População. www.undcp.org – Programa das Nações Unidas para Controlo das Drogas. www.unesco.org – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. www.who.org – Organização Mundial de Saúde www.worldbank.org – Banco Mundial. www.aegis.com – O maior site mundial sobre o VIH/SIDA, actualizado de hora a hora. www.afxb.org – Acção para os órfãos da SIDA. www.thebody.com – Informação as Conferências Internacionais sobre a SIDA, informações sobre o que é o VIH e o que faz, e sobre como tomar conta de si se for seropositivo. www.stratshope.org – Strategies for Hope é uma colecção de livros e vídeos que trata principalmente da África sub-sariana. Publicações Report on the global HIV/AIDS epidemic, ONUSIDA, Genebra, 2000. The State of the World’s Children 2000, UNICEF, Nova Iorque, 2000 HIV/AIDS: A threat to decent work, productivity and development, OIT, Genebra, 2000