Por que o café foi o motor do país

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Prática Pedagógica
Por que o café foi o motor
do país
Mais do que citar o produto como o principal fator do nosso
crescimento econômico, é preciso explicar de que forma ele
se tornou tão importante
Mariana Queen
Elisa Meirelles
NOVA ESCOLA
Os alunos se deram conta de que o ramo
de café colocado na bandeira simboliza a
força ecomômica e política que o produto
tinha no Império
Apesar de ser um clássico nas aulas de História, o
comumente chamado Ciclo do Café muitas vezes
é abordado de uma maneira superficial em
classe. Os estudantes sabem que o produto foi - e
ainda é - importante para o país, mas não têm
claros os porquês disso. Mais do que descrever os
acontecimentos do período, é preciso levar a
turma a compreender quais estratégias
comerciais da Coroa portuguesa, somadas a
condições nacionais e internacionais,
possibilitaram o bom andamento da produção
por aqui.
Para dar início a uma explicação contextualizada,
vale recorrer a uma pequena cronologia. Relembre a força da canade- açúcar, de
1580 a 1610, e a época do ouro, entre 1690 e 1760, para então falar sobre a
ascensão do café a partir de 1780.
Foi o que fez Túlio Lopes, professor do 8º ano da EM Francisco Sales, em
Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. Antes de introduzir a
moçada no contexto da Primeira República, marcada pela força do produto, ele
optou por falar sobre as modificações do país ainda durante o Império. "Mostrei
como o Brasil foi se desenvolvendo economicamente desse período em diante,
com uma produção diversificada, em que o café ganhou importância", explica.
Para que a classe conseguisse visualizar as estruturas sociais e comerciais da
época, o professor apresentou a bandeira do Brasil Imperial e propôs a análise
da presença do ramo de café na imagem. "Por meio da atividade, a turma
começou a se dar conta da dimensão e da força que o produto tinha", explica
ele.
Em seguida, Lopes pediu que os alunos observassem a bandeira atual do país e
traçassem um paralelo entre ela e a vista anteriormente. "Por meio da atividade,
os estudantes notaram as mudanças na base de produção e citaram as grandes
evoluções técnicas que ocorreram nesse processo", avalia. Tendo em mente
essas observações, ele aprofundou o estudo do tema.
Os erros mais comuns
Dar a entender que Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais só produziam
café. Mesmo em baixa, a mineração continuou em Minas Gerais e o cultivo de canade-açúcar, no Rio de Janeiro. Havia também produção de alimentos nos três
estados.
Dizer que existiu um Ciclo do Café, com começo e fim.A produção do grão
continua em curso no Brasil até hoje, mantendo o país entre os líderes em
exportação.
Um conjunto de fatores internos e externos interligados
Uma conjuntura favorável ao café brasileiro
- Concorrência A queda na produção do grão no Caribe ajudou o Brasil a se firmar.
- Opção nacional O declínio do ouro e do açúcar abriu espaço para a coroa investir em café.
- Consumo O terceiro turno de trabalho fez com que o consumo de café aumentasse.
- Transporte O investimento em ferrovias facilitou o escoamento da produção brasileira.
Para compreender a ascensão do café, há quatro fatores - dois nacionais e dois
internacionais - que é preciso relacionar (confira no mapa acima). O primeiro diz
respeito aos aspectos que fizeram o produto ganhar espaço em território
nacional. Mais do que mero acaso, o investimento no grão foi uma decisão da
Coroa portuguesa, tomada frente ao declínio do ouro e da cana-de-açúcar.
Como o café apresentava grandes vantagens comerciais - o pé durava entre 30 e
40 anos, enquanto o de cana apenas três -, foi fácil cativar os produtores.
Com a expansão do café, veio também o investimento em logística. O grão
trouxe uma alta margem de lucro para os produtores logo de início, e
praticamente todo o dinheiro foi aplicado em ferrovias. Isso permitiu um
escoamento mais eficiente e contribuiu para a inserção do país no mercado
externo. "Os alunos devem estabelecer essa relação porque muitas vezes eles
acham que as ferrovias nacionais foram criadas para o transporte de pessoas",
explica Lopes.
Apenas mudanças internas, no entanto, não seriam suficientes para o sucesso
da produção. É essencial que a moçada estude quem eram os consumidores e
concorrentes internacionais. Com a Segunda Revolução Industrial (1850-1870) e
a vinda do terceiro turno de trabalho à noite, era preciso ficar acordado e o
consumo de café aumentou. "O hábito das cafeterias se consolidou mundo
afora, sobretudo quando a vida conheceu um novo ritmo, ditado pela produção
das fábricas", diz Ana Luiza Martins no livro História do Café (320 págs., Ed.
Contexto, tel. 11/3832-5838, 49,90 reais).
Ao mesmo tempo, a diminuição da produção cafeeira nas ilhas de São Domingos
e Cuba fez com que o Brasil ocupasse o posto de maior produtor
latinoamericano, quase sem concorrentes.
Entendida a relação entre esses fatores, a turma pode observar que, em muitos
momentos da história, o mercado e a economia interferiam na política. E no
período da cafeicultura não foi diferente. O excelente desempenho do grão
permitiu aos produtores grande influência no círculo de poder do Segundo
Reinado e das primeiras décadas da República. Mesmo após a estagnação da
cafeicultura, o seus barões se mantiveram - e continuam até os dias atuais como atores políticos bastante importantes no país.
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https://novaescola.org.br/conteudo/2096/por-que-o-cafe-foi-o-motor-do-pais
Publicado em NOVA ESCOLA Edição 254, 01 de Agosto de 2012
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