OTIMIZAÇÃO DO TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DE PACIENTES HIV-SOROPOSITIVOS Leno Silva Rocha Instituto Tecnológico de Aeronáutica – Praça Marechal Eduardo Gomes, 50, Vila das Acácias, CEP 12228-900. São José dos Campos - SP – Brasil. Bolsista PIBIC-CNPq [email protected] Cairo Lúcio Nascimento Júnior Instituto Tecnológico de Aeronáutica – Praça Marechal Eduardo Gomes, 50, Vila das Acácias, CEP 12228-900. São José dos Campos - SP – Brasil. [email protected] Diferentes esquemas de tratamento de pacientes HIV+ são adotados ao redor do mundo. Busca-se, neste trabalho, aperfeiçoar protocolos de tratamento, respeitando-se restrições biofísicas e seguindo critérios do consenso brasileiro e da OMS relativos à administração de drogas anti-virais. Aplica-se técnicas de otimização a um modelo matemático da dinâmica do vírus HIV, de modo que se encontram esquemas ótimos de tratamento farmacológico. Os resultados são comparados sob uma óptica primordialmente teórica, que mais objetiva discutir vantagens e possíveis pontos de melhoramento em terapia anti-retroviral. A viabilidade de um projeto de aparelhagem para controle contínuo é analisada, tendo em vista a questão da aderência ao tratamento. Conclui-se que os benefícios conquistados com o controle mais assíduo da dosagem são relativamente pequenos. Além disso, é inviável o projeto de aparelhagem médica de controle contínuo. A freqüência de controle do protocolo mais vantajoso, encontrado teoricamente, coincidiu com o padrão utilizado na Brasil. Palavras chave: Controle ótimo, tratamento, HIV, métodos numéricos, otimização. 1. Introdução Desde a descoberta da Aids e do vírus HIV (sigla inglesa de Vírus da Imunodeficiência Humana) na década de 1980, diversos desafios científicos, sociais e políticos têm suscitado. Segundo dados da ONU (Organização das Nações Unidas), no ano de 2006 existiam 39.5 milhões de casos registrados de portadores do vírus HIV no mundo e taxa crescente de novos casos. O Boletim Epidemiológico Brasileiro registra 433.067 casos de Aids no território nacional no ano de 2005 com tendência à estabilização desse número, graças ao avançado Programa Nacional de DST/Aids (DST - Doenças Sexualmente Transmissíveis). Este cenário, agravado pelo caráter crônico da patologia, ratifica a imprescindibilidade não apenas de buscar métodos de cura da doença, mas também de persistir nas linhas de controle da propagação do vírus e do aperfeiçoamento nos tratamentos de pacientes soropositivos e doentes. O presente trabalho segue esta última vertente, utilizando um modelo matemático básico de dinâmica viral, simulação computacional e algoritmos de otimização. Essa metodologia permite encontrar dosagens que aperfeiçoam tratamentos levando-se em conta índices de desempenho definidos a priori. Tais índices, ou funções custo, representam o compromisso entre maximização de resultados terapêuticos e minimização de efeitos colaterais, respeitando-se um conjunto de restrições biofísicas do organismo submetido à intervenção. Assim, foram obtidos esquemas de administração de droga com suas respectivas dosagens ótimas e valores de índice de desempenho no horizonte de tempo de um ano. Em seguida, refinou-se a partição temporal sucessivamente até chegar à posologia mensal, passando por outras quatro estratégias de tratamento menos refinadas incluindo a semi-realística com dosagens constantes fixadas a cada dois meses. Observou-se que o refinamento temporal traz melhorias percentuais baixas nos índices de desempenho. Entretanto, comprova-se que esse diminuto percentual é típico dessa abordagem na classe de problemas de otimização. Para os pacientes com estado pré-tratamento não agravado, isto é, com concentração sanguínea de CD4 ≥ 350 células/mm3, não se esperam melhorias significativas com esquemas de tratamento mais minuciosos de controle. Porém, para indivíduos com CD4 abaixo dessa concentração, protocolos aperfeiçoados podem diminuir a gravidade do quadro, e representar menor bombardeamento fármaco. 1 2. Matemática da Dinâmica Viral O modelo matemático adotado foi proposto por Nowak et al.(1996), para descrever a dinâmica do vírus HIV em organismos humanos. As hipóteses assumidas nessa modelagem podem ser consultadas no artigo “Population Dynamics of Immune Responses to Persistent Viruses”. O modelo consiste em um sistema de quatro equações diferenciais ordinárias não-lineares, que descreve especificamente a variação das grandezas: x - quantidade de células CD4 saudáveis; y - número de células CD4 infectadas; v – quantidade de vírus livre; e z – número de linfócitos T citotóxicos específicos ao antígeno HIV, designados CTL (Cytotoxic T Lymphocytes); em função do tempo t ∈ R+: dx ( t ) = λ − Dx ( t ) − β ( t ) x ( t ) v (t ) dt dv ( t ) = k (t ) y (t ) − u (t ) v ( t ) v& = dt d y (t ) y& = = β (t ) x (t )v (t ) − a y (t ) − p y (t ) z (t ) dt d z (t ) = c y (t ) z (t ) − b z (t ) z& = dt x& = (1) As condições iniciais, bem como os parâmetros intervenientes, obedecem ao conjunto de restrições biofísicas e foram adotados conforme tabela apresentada por Yoneyama et al. (1999). Tabela 1. Valores dos parâmetros do modelo usados na simulação computacional. Parâmetros Valores Parâmetros Valores λ 1.0 b 0.01 D 1.0 c 0.1 a 0.8 u 0.01107 p 0.05 k 1.0 • • • • • • • • • O parâmetro λ corresponde à constante de produção de células não infectadas; D é a taxa de mortalidade das células não infectadas; a é a taxa natural de morte de células infectadas; β (t) é a taxa de infecção de células CD4 saudáveis pelo vírus HIV; p representa a taxa de declínio das células infectadas devido ao contato com vírus; b é a taxa de decadência de CTLs; c é o índice de produção de CTLs; u (t) corresponde à mortalidade viral; k (t) quantifica a produção de vírus livre. Figura 1. Aspectos quantitativo-esquemáticos da replicação do vírus HIV. A amenização dos efeitos patológicos ligados ao HIV é alcançada por meio de diversas drogas, dentre elas as anti-retrovirais. O Ministério da Saúde (2007) brasileiro disponibiliza 17 medicamentos antiHIV, que combinados geram vários esquemas de tratamento. Neste trabalho, todavia, a única droga adjuvante é o zidovudine (AZT), primeiro fármaco eficaz contra a progressão da imunodeficiência, em uso desde o fim da década de 80. Para cada posologia adotada, os resultados finais do tratamento são avaliados conforme funções custo definidas previamente. Desta forma, tem-se um problema de controle ótimo, conforme caracterização de Kirk (1970), com formulação matemática consistente, restrições físicas pertinentes e índice de desempenho a ser minimizado. 2 3. Atividades Realizadas A atuação de uma massa de droga num instante de tempo t, designada por m(t), no sistema biológico, é bem expressa pela relação exponencial com o parâmetro beta, conforme Yoneyama et al. (1999): β(t) = exp ( -m(t) ) (2) A variável m(t) é uma função m: [0,12] → R representada discretamente por meio de vetor que apresenta a dosagem progressivamente no tempo da direta para a esquerda, aproximando instantes temporais por intervalos nos quais as dosagens se mantêm constantes. Inicialmente utilizou-se dosagem constante ao longo de todo o ano, para obter o protocolo anual, empregando-se busca unidimensional através do método de Dichotomous, cuja descrição pode ser consultada no livro de Wismer (1979), “Introduction to Nonlinear Optimization”. Além desse protocolo, outros cinco modos de particionamento temporal foram adotados: semestral em dois semestres; quadrimestral com três quadrimestres; trimestral com quatro trimestres; bimestral com seis bimestres; e mensal com doze meses. Nos esquemas bimestral, quadrimestral e trimestral, utilizou-se busca multidimensional pelo método dos Poliedros Flexíveis. Essa técnica encontra-se no livro de Press et al. (1992) “Numerical Recipies In C”. Todos os processos citados até aqui são de ordem zero, isto é, não envolvem derivadas na busca pelos extremos. O esquema bimestral é uma estratégia semi-realística de tratamento, pois corresponde à aproximação teórica do procedimento padrão do sistema público de saúde nacional: o paciente em tratamento é avaliado clinicamente a cada dois meses e se submete a exames laboratoriais a cada três meses. Cumpre ressaltar que na prática os esquemas de tratamento são personalizados e seguem o consenso do Ministério da Saúde. Nos modos bimestral e mensal de administração farmacológica o algoritmo de otimização empregado foi o Steepest Descent, que é descrito por Kirk (1970), em “Optimal Control Theory”. Ao contrário das rotinas usadas até o nível trimestral, esse algoritmo embasado no Cálculo Variacional é mais complexo e envolve o uso de derivadas. Por isso, serão descritos detalhes do trabalho desenvolvido com essa teoria. Dois índices de desempenho foram escolhidos seguindo a literatura especializada, com o intuito de manter um padrão que permita comparações com outros trabalhos científicos já realizados, sem, contudo desviar do objetivo de aperfeiçoamento dos esquemas de intervenção farmacológica. As funções custo são: J (F ) = F. v 2 (t f ) 2 J (G, H ) = G. tf +∫ t0 y 2 (t f ) 2 m2 ( t ) 2 + H. dt (3) v 2 (t f ) 2 tf + ∫ m 2 (t )dt (4) t0 Em J(F), leva-se em conta a redução da carga viral v(t) no instante final do tratamento e a redução de efeitos colaterais, vinculados à integral do quadrado da variável de controle m(t) em relação ao tempo. Já no custo J(G,H) considera-se também a diminuição da carga final de células CD4 infectadas. Os fatores F, G e H são pesos ponderados que dependem de avaliação subjetiva da relativa importância dos efeitos adversos, da redução da carga viral e da quantidade final de células infectadas. A avaliação deve ser feita com o apoio de especialistas para obtenção de análises precisas de modo a aproximar os resultados teóricos dos casos reais de maneira confiável. Variados pesos foram utilizados e os resultados vinculados a cada valor de ponderação foram tabelados. Os índices de desempenho não têm significado físico e são adimensionais, conforme Kirk (1970), pois contam com combinações de diferentes grandezas físicas. Visando à simplicidade, também se considera que os pesos de ponderação são desprovidos de unidades. Reescrevendo as Eqs. (1) na forma matricial, obtém-se o Hamiltoniano para os casos relativos, respectivamente, às funções de custo J(F) e J(G,H): Η1 = m 2 (t ) + [ g1 ( t ) 2 g 2 (t ) g 3 (t ) g 4 (t ) ] . [ x v 3 y T z] (5) Η 2 = m 2 (t ) + [ w1 (t ) w2 (t ) w3 (t ) w4 (t )] .[ x v y T z] (6) Os vetores de coestado g(t) e w(t) contêm os multiplicadores de Lagrange para cada situação e fornecem equações de coestado, por meio da diferenciação dos Hamiltonianos em relação ao vetor de estado, invertendo-se o sinal das expressões obtidas. O sistema de equações de coestado abaixo é referente ao custo J(F). O argumento de tempo dos multiplicadores foi omitido para não sobrecarregar a notação: g& 1 g& 2 g& 3 g& 4 = g 1 ( D + β ( t ) v ( t )) − g 3 β ( t ) v ( t ) = g 1 β (t ) x (t ) + g 2 u (t ) − g 3 β (t ) v (t ) = − g 2 k ( t ) + g 3 ( a + p z ( t )) − g 4 c z ( t ) = g 3 p y ( t ) + g 4 ( − cy ( t ) + b ) (7) Os índices de desempenho escolhidos são distintos, porém a lei de coestado é a mesma para os dois problemas. Desta forma, basta reescrever o sistema de Eqs. (7) substituindo as letras “g” por “w” e ter-se-á o sistema de coestados relativo ao segundo custo proposto. O valor ótimo da variável de controle a cada instante é encontrado empregando-se o princípio do mínimo de Pontriagin. Este princípio relaciona-se à minimização do Hamiltoniano, como explica Kirk (1970). A aplicação dessa metodologia envolve complicações na solução geral do problema não-linear, por isso se torna necessário lançar mão de métodos numéricos. A propagação das equações diferenciais foi realizada com o integrador Runge-Kutta de quarta ordem, através da função ode45 do software MATLAB. Com a técnica do steepest descent, avalia-se o resíduo de ∂Η / ∂m, compelindo a variável de controle a se aproximar sucessivamente da condição necessária de optimalidade: ∂Η =0 ∂m (8) A integração das equações de coestado é reversa no tempo, isto é, ocorre a partir do instante final (t=12) até o instante inicial (t=0). Portanto, as condições iniciais nessa situação são na verdade condições terminais de coestado dadas pela diferenciação dos custos em relação ao vetor de estado: g ( t f ) = 0 w ( t f ) = 0 F .v ( t f ) H .v ( t f ) 0 0 G . y (t f ) T (9) 0 T (10) O a rotina implementada converge rapidamente nos estágios iniciais, contudo à medida que é diminuído o Hamiltoniano, a velocidade de convergência se reduz drasticamente. Além disso, a boa calibração dos parâmetros, como critérios de parada e tolerâncias, é crucial, pois caso contrário, oscilações severas podem ocorrer, fazendo com que o método sequer convirja. A escolha inicial do vetor de controle não tem importância tão significativa na convergência do método, todavia os índices de desempenho ótimos têm valores muito próximos e a questão da inicialização acaba desempenhando papel importante na melhoria percentual dos tratamentos. Por isso, sugere-se investigações futuras sobre essa questão, aplicando-se métodos que transpassam dificuldades relativas à existência de vários extremos locais. Além disso, a vetorização da variável m(t) inviabiliza a escolha do melhor vetor inicial por tentativa, pois o número de combinações de dosagens competitivamente candidatas no espaço multidimensional é infinito no conjunto de valores aceitáveis como dosagem. A técnica “simulated annealing” descrita no livro “Numerical Recipes in C” é uma opção conveniente para realização dessa tarefa. 4. Resultados Obtidos Admitiu-se que: a aderência à terapia é total; a absorção é alta; o organismo é virgem de tratamento e assim não há tolerância, nem falha virológica; não há uso concomitante de outras drogas. Estas hipóteses garantem uma farmacocinética favorável à simulação e elimina complicações na abordagem teórica. 4 4.1 – Valores dos custos e comparação dos mesmos Os valores ótimos encontrados para as massas de fármaco a serem administradas foram truncados, e substituídos pelos múltiplos de 10 mais próximos. Isto torna os tratamentos ótimos teóricos obtidos mais factíveis, considerando-se que a maioria dos tratamentos é desenvolvida com comprimidos e cápsulas. Desta forma, o preparo de massa por fracionamento de comprimido fica plausível. Esse procedimento numérico nos valores de massa justifica também a omissão das incertezas relativas às dosagens. A grandeza custo, com seu(s) respectivo(s) peso(s) de ponderação e dosagens ótimas, obtida nos tratamentos bimestral e mensal é apresentada a seguir: Tabela 2. Resultados: tratamento bimestral e índice J(K). K J(K) Dosagem ótima (mg) 1 10 50 100 300 500 26.44 62.52 116.78 160.38 290.63 400.52 180 270 340 380 450 480 170 270 340 380 450 480 170 270 350 380 450 480 160 270 340 380 450 480 160 260 340 380 450 480 140 250 320 360 430 460 Tabela 3. Resultados: tratamento mensal e índice J(K). K J(K) Dosagem ótima (mg) 1 10 50 100 300 500 26.72 62.49 116.63 160.06 289.91 400.10 180 180 180 170 170 170 170 160 160 150 130 90 260 260 270 270 270 260 260 260 260 260 250 230 340 340 340 340 340 340 340 340 340 340 330 290 370 380 380 380 360 380 380 380 380 370 360 320 440 450 450 460 450 450 450 450 450 450 430 400 480 480 480 490 490 490 490 480 480 480 470 440 As taxas de variação percentual entre esquemas de tratamento sucessivamente refinados no tempo, bem como as características dos protocolos, foram tabeladas e curvas de comparação foram traçadas. Tabela 4. Comparação dos índices ótimos J(1) obtidos em diferentes partições de tempo. Divisão do horizonte Nomenclatura Custo J(1) Variação relativa ao índice Principal técnica de do tratamento precedente minimização empregada 1 2 3 4 6 12 Anual Semestral Quadrimestral Trimestral Bimestral Mensal 27.2 27.0 26.9 26.8 26.4 26.7 0.74% 0.37% 0.37% 1.52% -1.12% 5 Busca de Dichotomus Poliedros Flexíveis Poliedros Flexíveis Poliedros Flexíveis Steepest Descent Steepest Descent Figura 2. Curvas de variação percentual de custos sucessivos para diferentes ponderações. A tabela do segundo tipo de custo revela taxas da ordem de décimos de percentual, semelhantemente. Tabela 5. Comparação dos índices ótimos J(30,100) obtidos em diferentes segmentações temporais. Divisões de tempo Custo J(30,100) Variação percentual relativa Principal técnica de ao índice precedente otimização empregada 1 2 3 4 6 12 235.1250 234.7488 234.3824 234.0937 234.0686 233.5725 0.16% 0.16% 0.12% 0.01% 0.21% Busca de Dichotomus Poliedros Flexíveis Poliedros Flexíveis Poliedros Flexíveis Steepest Descent Steepest Descent Analisando-se os esquemas de tratamento correspondentes, nota-se que a diminuição relativa dos índices de desempenho é muito pequena. Entretanto, essa é uma característica comum na classe de problemas de otimização, como se constata na seção 4.5. 4.2 – Discussão sobre o índice J(1) A curva do índice de desempenho com peso de ponderação unitário tem um comportamento diferente em relação às demais. Sua topologia conta com o trunfo de um máximo global. Por outro lado, um mínimo global com valor negativo também aparece, fato imprevisto na teoria, mas que pode ser explicado conforme os próximos parágrafos. A explicação, entretanto, não afasta a conveniência de se pesquisar novos meios de reduzir esse custo, nem elimina a necessidade de maiores investigações sobre o fato. O gráfico seguinte mostra as curvas do quadrado da carga viral no tempo. Essa grandeza é referente à primeira parcela do índice J(1). 6 Figura 3. Evolução do quadrado da concentração de vírus livre. A trajetória do tratamento mensal revela que a concentração de viral é, no instante final, maior que nos esquemas menos refinados. Por isso, a redução dos efeitos colaterais no índice J(1) mensal, mostrada na Fig. 3, não compensa o nível de vírus livre ao final do tratamento. Assim, o controle mês a mês proporciona um custo maior em relação ao bimestral, resultando na taxa de variação de -1.12% apresentada na Tab. 4. Figura 4. Representação da acumulação de efeitos colaterais ao longo do tempo. 4.3 – Análise da variação dos índices A maior taxa de variação do tratamento anual para o mensal, foi 1.87% com J(1). Em seguida vem o valor de 0.96%, alcançado com o índice J(10). Esses números trazem a indagação: que benefícios os pacientes podem ganhar com variações tão baixas? Os benefícios dependem do estado indivíduo portador do vírus antes do início da terapia. 7 O consenso nacional do ano de 2006 recomenda o início do tratamento anti-retroviral em duas situações. A primeira delas é o quadro com manifestações clínicas associadas ao HIV. A outra é referente à contagem de CD4 pré-tratamento abaixo de 350 células/mm3. Suponha que um paciente tenha 100 CD4/mm3. Com essa concentração, ele provavelmente terá infecções oportunistas e deverá tomar mais remédios além do anti-retroviral. Nesse sentido, a otimização não propicia apenas a vantagem de redução menor que 2% no consumo de AZT, mas envolve uma alta probabilidade de diminuição de efeitos adversos relativos às outras medicações, eventualmente necessárias. 4.4 – Viabilidade de aparelhagem para tratamento de pacientes HIV – soropositivos Vários produtos de engenharia biomédica são comercializados em pequena escala para uso particular. Nesse mercado individualizado pode-se encontrar desde termômetros digitais, até relógios frequencímetros de ritmo cardíaco, e instrumentação portátil para medidas de glicemia e infusão de insulina. Estes aparelhos portáteis têm em comum a característica de permitir o monitoramento ou o controle de processos biológicos que podem, em curto prazo, acarretar diversos danos à saúde. Tais prejuízos podem ser menos significativos, como indisposição e fadiga; podem ser problemas mais sérios, como desmaios; e podem até ser danos irreversíveis, como desnaturação protéica. A aparelhagem anti-HIV, que propiciaria o tipo de tratamento proposto nesse trabalho deve ser como as “bombas de infusão de insulina”, usadas por diabéticos no Brasil desde 1998. Esses aparelhos injetam continuamente doses de insulina no paciente, ficando conectados ao corpo do usuário 24 horas por dia, pois o diabetes é uma doença crônica, assim como Aids/HIV. Os equipamentos de insulina têm dimensões próximas a de um cartão de crédito, exceto os cerca de 3 centímetros de espessura. O peso não passa de um newton e ligam-se ao corpo por cateter com agulha flexível na extremidade. Diferentemente das situações, para as quais há equipamentos individuais de engenharia biomédica, os problemas clínicos no caso de infecção pelo HIV, não ocorrem em curto prazo. Desta forma, nem o monitoramento nem o controle imediato de processos biológicos são essenciais para a preservação da estabilidade, ou mesmo reversão do quadro de um paciente. As principais características iniciais da idealizada “bomba anti-HIV” foram estimadas para que se pudesse confrontá-las com as peculiaridades das bombas de infusão de insulina. Assim, a comparação entre os fatos do produto existente e as previsões do futuro produto permitem avaliar se os critérios iniciais de viabilidade do projeto são satisfeitos. Caso esses critérios fossem aprovados, avançar-se-ia para uma etapa com a análise mais detalha de parâmetros de engenharia e preços de um protótipo. Tabela 6. Avaliação de vantagens e desvantagens da Bomba de Insulina e da Bomba anti-HIV. Aparelho Bomba de insulina Bomba anti-HIV Evento (fatos) (previsões) Aumenta a eficácia do tratamento Sim Sim Facilita muito a administração de substâncias do Sim Não tratamento -Evita o uso constante de seringa-Fármacos não injetáveisEvita pioras repentinas (em questão de horas) no Sim Não quadro do paciente -Característica do diabetes-Dinâmica viral não imediataLoop fechado Não Dificilmente Preço baixo (menos que mil reais) Não Dificilmente Evita problemas futuros de: -Absorção de insulina-Resistência ao fármacoSim Sim Alta probabilidade de aumentar a aderência à terapia Sim Sim A conjuntura mostrada no quadro aliada aos resultados de redução dos índices de desempenho, nas diferentes posologias, não traz motivação para o desenvolvimento de um projeto de aparelhagem médica visando ao controle farmacológico contínuo no tempo para tratamento de pacientes portadores do vírus HIV. 4.5 – Analogia entre situações O refinamento de partições objetivando melhorias na abordagem numérica de problemas envolvendo otimização e a dicotomia entre o contínuo e o discreto geralmente não conduz a elevadas taxas de mudança percentual em suas grandezas características, considerando-se intervalos de variação relativamente 8 pequenos. O exemplo apresentado a seguir corrobora com essa idéia e mostra como a administração ótima de fármacos no tratamento de pacientes HIV+ leva, em geral, a níveis de melhoria percentuais maiores que os normalmente obtidos nessa classe de problema. 4.5.1 – Otimização do lucro em juros compostos Suponha que uma soma de dinheiro seja depositada em uma entidade que paga juros à taxa anual r. O valor do investimento S(t), em qualquer instante t>0, depende da freqüência na qual o juro é capitalizado e também da taxa de juros. Admitindo-se essa capitalização como contínua, o problema de valor inicial que descreve o crescimento do investimento feito é dado pelas equações: dS = rS dt S (0) = S 0 (11) (12) Cuja solução é a fórmula exponencial dada por: S ( t ) = S 0 e r .t (13) A situação na qual a capitalização ocorre em intervalos finitos de tempo suscita por meio do raciocínio subjacente. Se o juro for capitalizado uma vez por ano, então depois de t anos: S (t ) = S0 (1 + r )t (14) Se o juro for capitalizado duas vezes por ano, então depois de seis meses o deposito inicial fica multiplicado pelo fator [ 1 + (r/2) ] e no final do ano o montante passa a ser o valor inicial vezes o fator [ 1 + (r/2) ]2. Portanto, r S (t ) = S 0 1 + 2 2.t (15) Em geral, se os juros forem capitalizados m vezes durante o ano, então: r S (t ) = S 0 1 + m m .t (16) Os resultados dos casos discretos são dados na Tab.6, para uma taxa de juros r = 8 % a.a. Tabela 7. Crescimento do investimento à taxa de juros r = 8% ao ano, com vários modos de capitalização. m Índice S(1)/S(0) Eq.(6) Variação percentual em (adimensional) (adimensional) relação ao índice precedente 1 1.0800 2 1.0816 0.15 % 3 1.0822 0.06% 4 1.0824 0.02% 6 1.0827 0.02% 12 1.0830 0.03% O índice S(1)/S(0) no caso contínuo vale 1.0833 e implica em uma variação percentual de 0.03% em relação à partição do ano em doze intervalos iguais. 9 Figura 5. Curvas de melhoras percentuais nos processos de cobrança de juros e no tratamento de pacientes HIV - soropositivos. 5. Conclusões A avaliação dos índices nos diversos protocolos de tratamento permite concluir que tanto para os custos J(F), como para os J(G,H), os protocolos mais refinados no tempo implicam em melhores resultados numéricos finais, apesar da diferença não ser expressiva e com exceção do tratamento J(1) mensal. As dosagens nos diferentes esquemas de tratamento ficaram condizentes e nota-se que é vantajoso administrar maior massa de drogas inicialmente e em seguida reduzir a dosagem, resultado coerente com o artigo de Yoneyama et al., 1999. Em todas as posologias mais refinadas que a anual, o primeiro valor a ser administrado é maior que o último. O fato de o controle imediato de processos biológicos, na fase sintomática em questão neste trabalho, ser desnecessária aliado à baixa redução nos índices de desempenho se contrapõem à viabilidade de um projeto de aparelhagem médica visando ao controle farmacológico contínuo no tempo para tratamento de pacientes soropositivos. 6. Agradecimentos Ao CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico pelo apoio financeiro; aos professores Cairo e Takashi do ITA; à psicóloga Edilamar do COAS (Centro de Orientação e Apoio Sorológico) de São José dos Campos; e à infectologista Eni coordenadora do Programa de Aids/DST de São José dos Campos. 7. Referências Caetano, M.A.L; Souza, J.A.M.F. & Yoneyama, T., 2003, “A model based analysis of AIDS treatment”, Proceedings of The Western Multiconference on Health Sciences Simulation, Orlando, USA, pp 6570. Caetano, M.A.L. & Yoneyama, T., 1999, “Comparative Evaluation of Open Loop and Closed Loop Drug Administration Strategies in the Treatment of AIDS”, Anais da Academia Brasileira de Ciências,Vol. 71, No. 4-I. 589-597. Caetano, M.A.L. & Yoneyama, T., 1999, “Optimal Control Theory Applied to the Anti-Viral Treatment of AIDS”, Theory and Mathematics in Biology and Medicine Conference, Amsterdam, Netherlands. Camargo, K., 2005, “AIDS Vinte Anos- Esboço histórico para entender o Programa Brasileiro” adaptado por Pedro Chequer, ex-diretor do Programa Nacional de DST/Aids. ONU, 2006.“Global Summary of the AIDS Epidemic”, Relatório do Programa das Nações Unidas para AIDS, Dec. 2006. 10 Kirk, D.E., 1970. “Optimal Control Theory”, An introduction. Prentice-Hall New York. Ministério da Saúde, ano III, Dezembro de 2006, “Boletim Epidemiológico- Aids e DST”. Nowak, M.A. & Bangham, R.M., 1996, “Population Dynamics of Immune Responses to Persistent Viruses”, Science, Vol. 272, Apr.5, pp 74-79. Press, W.H.; Teukolsky, S.A.; Vetterling, W.T. & Flannery B.P., 1992. “Numerical Recipes in C”, The Art of Scientific Computing, 2nd Edition. Cambridge University Press. SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes), 2006, “Desvendando a bomba de insulina”, Revista Mais Saúde, Edição no 23. Wismer, D. & Chattergy, 1979. “Introduction to Nonlinear Optimization”, A problem solving approach. Elsevier North Holland, Inc. WHO (World Health Organization), 2006, “Antiretroviral therapy for HIV infection in adults and adolescents: recommendations for a public health approach”. 11