Hemangioma do osso nasal: relato de caso

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A aponeurose
RELATO DE CASO
Tdoettempo
al. nasal
epicraniana
Hemangioma
no Franco
segundo
osso
da reconstrução de orelha
Hemangioma do osso nasal: relato de caso
Haemangioma of the nasal bone: case report
BRUNO BARRETO CINTRA1,
REGINA MAURA DO
NASCIMENTO DE CASTRO
SANTOS1, GILSON LUÍS DUZ2,
ROGÉRIO BENATTI
FERRAMOLA3,
MAYLIN AURAS4
RESUMO
Hemangiomas nasais são afecções muito raras. Hemangiomas ósseos, da mesma forma, se
localizam preferencialmente na coluna vertebral e no crânio. Os hemangiomas em ossos do
nariz, por sua vez, são afecções ainda mais raras. Na literatura pesquisada, são descritos
32 casos. Todos estes, com comprometimento ósseo apenas, e de etiologia ainda obscura.
Os autores descrevem o caso, em paciente de 49 anos, com história de tumoração nasal há
10 anos, cujo tratamento realizado foi ressecção cirúrgica.
Descritores: Hemangioma. Osso nasal. Ossos faciais. Neoplasias. Neoplasias nasais/
cirurgia.
Trabalho realizado no
Hospital Municipal
“Dr. Mário Gatti”, Campinas,
SP. Trabalho apresentado,
em forma de painel, no
Congresso Brasileiro de
Cirurgia Plástica, novembro
de 2006, Recife-PE.
Artigo recebido: 01/12/2007
Artigo aceito: 11/08/2008
SUMMARY
Haemangioma of the nasal bone are very rare pathology, as the bone haemangioma. They are
locate, in the most of cases, on the vertebral spine and skull. The nasal bone haemangioma
are pathology more rare. On the literature reviewed, there were related 32 cases, all of them
with just bone involved, and obscure origin.
Descriptors: Hemangioma. Nasal bone. Facial bones. Neoplasms. Nose neoplasms/surgery.
INTRODUÇÃO
Hemangiomas de ossos nasais são afecções extremamente raras, cuja etiologia permanece obscura. O intuito deste
trabalho é descrever o caso vivenciado em nosso serviço e
discutir, mediante revisão bibliográfica, a etiologia, o
diagnóstico e o tratamento adequado à mesma.
Hemangiomas ósseos são tumores raros, representando,
aproximadamente, 0,7% de todos os tumores ósseos. Estes,
por sua vez, são mais comuns em vértebras e crânio. Os
hemangiomas de ossos nasais são tumores ainda mais raros.
Em revisão bibliográfica, com literatura de 55 anos, foram
relatados 32 casos.
O primeiro caso descrito na literatura foi em 1954, cujo
tratamento foi ressecção e reconstrução com enxerto ósseo.
Sua etiologia se mantém obscura ainda nos dias de hoje.
Clinicamente, manifesta-se como uma massa de crescimento lento (aproximadamente 3 a 4 anos), unilateral na
maioria dos casos, com prevalência de 2 mulheres para cada
homem. Desconforto local moderado está presente. Na maioria
dos casos, mesmo quando há projeção para cavidade nasal
(sem acometimento de mucosa), não há queixas respiratórias.
Radiografia e tomografia computadorizada são os exames
complementares mais indicados para avaliar o grau de comprometimento dos ossos nasais. Esta última pode mostrar,
inclusive, o plano de clivagem entre osso normal e massa
tumoral.
Os diagnósticos diferenciais mais importantes são
metástases ósseas, osteossarcoma e displasia fibrosa.
Seu tratamento é cirúrgico, seja por via de acesso nasal,
com ressecção conservadora, ou por acesso coronal, com
enxerto ósseo nos casos de maior gravidade.
1. Residente de Cirurgia Plástica do Hospital Municipal “Dr. Mário Gatti”.
2. Cirurgião Plástico e Médico Assistente do Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Municipal de Campinas “Dr. Mário Gatti” e Pontifícia
Universidade Católica de Campinas. Membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
3. Cirurgião de Cabeça e Pescoço. Mestre em cirurgia de Cabeça e Pescoço pelo Hospital Heliópolis – SP. Médico Assistente do Serviço de
Cabeça e Pescoço do Hospital Municipal “Dr. Mário Gatti”.
4. Cirurgiã e Traumatologista Buco-Maxilo-Facial do Hospital Municipal “Dr. Mário Gatti”.
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Franco
Cintra BB
T et
et al.
al.
RELATO DO CASO
Paciente do sexo masculino, 49 anos, procurou o Serviço
de Cirurgia Plástica do Hospital Municipal “Dr. Mário Gatti”
com queixa de crescimento de tumoração nasal à direita há
mais ou menos 10 anos, sem queixas respiratórias, atuais ou
prévias, e sem qualquer história de trauma local. Relata
incômodo ao usar óculos, sendo esta sua queixa principal.
Dois anos antes, a massa apresentou crescimento acelerado, com muita dor local.
Tabagista (10 cigarros/dia) há 25 anos, sem doenças de
base. Submetido a nefrectomia radical à esquerda há três anos
em decorrência de carcinoma renal. Na ocasião do atendimento,
o paciente se mantinha em acompanhamento, assintomático.
Ao exame físico, observou-se lesão de 3 cm de diâmetro,
dolorosa à palpação, aderida a planos profundos, sem
A
acometimento cutâneo, de consistência endurecida, levantando a hipótese de tumoração óssea (Figura 1).
Solicitadas radiografia (ossos próprios do nariz e
Water’s) e tomografia computadorizada de face, que demonstrava lesão expansiva em ossos próprios do nariz, à
direita (Figura 2).
Diante da história clínica, acreditava-se tratar de afecção
de caráter benigno, displasia óssea, por exemplo. Contudo,
a velocidade de crescimento mais acelerada e a dor local
intensa, associadas aos achados radiológicos, sugeriram a
hipótese de doença maligna, como osteossarcoma ou
metástases ósseas. Característica essa, que discorda dos
casos revisados.
Optou-se pela realização de biópsia incisional da lesão,
para melhor elucidação diagnóstica e melhor planejamento
terapêutico, tendo em vista a suspeita de malignidade.
B
Figura 1 – A: Lesão nasal endurecida, visão frontal. B: Visão lateral.
A
B
Figura 2 – A: Walters. B: Perfil.
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al. nasal
A aponeurose epicraniana
Hemangioma
no Franco
segundo
osso
da reconstrução de orelha
Realizada biópsia da lesão nasal, sob anestesia geral, cujo
resultado de exame anatomopatológico revelou hemangioma
cavernoso/ ausência de malignidade.
Optou-se por ressecção da massa, com acesso longitudinal
em dorso nasal sobre área tumoral. À visão direta: lesão circunscrita de 3 cm de diâmetro. Realizado descolamento (a lesão já
invadia septo ósseo) e ressecção da tumoração (Figuras 3 a 5).
Após exaustiva hemostasia, realizada reconstrução do
arcabouço ósseo à direita, com cartilagem conchal (Figuras 6 a 8).
O laudo anatomopatológico descrevia fragmento de tecido de
coloração pardo-acastanhada, consistência óssea, medindo 3,5
cm. Hemangioma cavernoso infiltrando tecido ósseo trabecular.
Margens cirúrgicas não avaliáveis pelo prévio seccionamento.
Atualmente, o paciente encontra-se em seguimento pósoperatório de 14 meses, sem queixas dolorosas ou sinas de
recidiva, e com bom aspecto estético (Figura 9).
Kargi et al.1 descreveram que os hemangiomas compreendem 0,7% de todos os tumores ósseos. Estes mesmos autores
concordaram com Kanter et al.2 que este tipo de tumor atinge
em sua maioria as vértebras e o crânio.
Karacaoglan et al.3 afirmaram que a provável causa dos
hemangiomas de ossos nasais seja traumas locais e acreditam
que fatores hormonais também estejam envolvidos, enquanto
que Kanter et al.2 defenderam a hipótese de que hemartomas
congênitos manifestam-se como hemangioma. Entretanto,
ambos autores não definiram com clareza a etiologia desta
lesão, sendo ainda considerada obscura.
A literatura revisada descreve como queixa principal dos
doentes o crescimento de uma massa indolor em região nasal,
sem qualquer outro sintoma associado. Em alguns casos, leve
Figura 3 – Visão direta da lesão.
Figura 4 – Peça anatômica após ressecção.
Figura 5 – Defeito gerado após ressecção da lesão.
Figura 6 – Retirada da cartilagem conchal.
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DISCUSSÃO
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Figura 7 – Cartilagem conchal preparada.
A
Figura 8 – Pós-operatório imediato.
B
Figura 9 – A: Pós-operatório de 14 meses, visão frontal. B: Visão lateral.
desconforto está presente. Sintomas como epistaxe e obstrução nasal são exceções (2 casos).
Radiograficamente, segundo Zizmor et al.4, este tumor
assemelha-se em alguns casos com aspecto de “colméia”, o que
é discutível, pois no trabalho de Kanter et al.2 não foi encontrado nenhum tipo de característica específica. Os autores
citados concordam que a cortical marginal sempre está intacta
e há como distinguir o trabeculado patológico do normal.
Todos os autores estudados neste levantamento bibliográfico
concordam com a forma de tratamento, sendo preconizado, o
cirúrgico. Na maioria dos casos, a excisão do tumor costuma ser
conservadora, para que o procedimento cirúrgico não resulte em
deformidade estética. A reconstrução pós-exérese tumoral pode
ser realizada com enxerto cartilaginoso, seja ele septal ou auricular
ou com enxerto ósseo5. Para pequenas lesões, Kanter et al.2 relatam
que enxertos de qualquer natureza não são necessários.
Correspondência para:
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REFERÊNCIAS
1 . Kargi E, Babuccu O, Hosnuter M, Babuccu B. Hemangioma
of the nasal bone: a case report. Kulak Burun Bogaz Ihtis
Derg. 2005;14(1-2):32-4.
2 . Kanter WR, Brown WC, Noe JM. Nasal bone
hemangiomas: a review of clinical, radiologic, and
operative experience. Plast Reconstr Surg. 1985;76(5):
774-6.
3 . Karacaoglan N, Akbas H, Eroglu L, Turan N, Demir A,
Yavuz I. Hemangioma of the nasal bones. Ann Plast Surg.
1997;39(2):218-9.
4 . Zizmor J, Robbett WF, Spiro RH, Ganz A, Tawfik B.
Hemangioma
of
the
nasal
bones:
radiographic
appearance. Ann Otol Rhinol Laryngol. 1978;87(3 Pt
1);360-3.
5 . Layoun W, Testelin S, Devauchelle B. Cavernous
hemangioma of the nasal bones. Rev Stomatol Chir
Maxillofac.
2003;104(4):235-8.
Bruno Barreto Cintra
Av. Francisco de Angelis, 89 - Jardim das Oliveiras – Campinas – SP - CEP 13043-030.
Tel: (19) 9613-0939/ 3579-0939
E-mail: [email protected]
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