33º Encontro Anual da ANPOCS

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33º Encontro Anual da ANPOCS
GT 34: Religião e Sociedade
Título do trabalho: Ummah e identidade no Islã
Autor: Delano de Jesus Silva Santos
Introdução
De acordo com Talal Asad,1 o conceito de Islã como objeto de estudo
antropológico não é uma questão simples, ele diz ainda, “Qualquer um que trabalhe com
uma antropologia do Islã será consciente de que há considerável diversidade nas crenças
e práticas dos muçulmanos”.2 Assim, não é possível fazer estudos sobre o Islã
considerando essa religião como se fosse uma unidade totalizante que organiza vários
aspectos da vida social3. Pace afirma que “Os diversos tipos de Islã estão espalhados pelo
mundo.”4
Mesmo diante de tal diversidade, o Islã se constitui em uma fonte de significado e
identidade que oferece aos seus adeptos apoio coletivo e justificativa moral de práticas
sociais.5 Existe nessa religião o conceito de um Islã ideal, normativo e universal que pode
ser mais bem expresso por ummah. De acordo com pensadores muçulmanos modernos
tais como Al-Afghani e Al-Maududi, ummah é a sociedade islâmica ideal6. Esse conceito
já teve vários significados na história islâmica tais como:7
a pequena comunidade de muçulmanos na época do início do Islã.
no período colonial, esse vocábulo veio a significar grupo étnico.
depois da independência, o significado do termo veio a ser o de pertença a
movimentos islâmicos.
sentido geográfico de nação-estado.
comunidade islâmica universal.
A ummah8, como comunidade de crentes fiéis a Deus ligados não pelo sangue,
mas sim pela fé, se consolidou nos primórdios do Islã. Mohammad começou sua
pregação em Meca e percebeu que os fracos não eram tratados com dignidade. Ele tomou
para si os grandes problemas tanto de ordem religiosa quanto moral que o povo de Meca
1
ASAD, Talal. The Idea of an Anthropology of Islam. Occasional Papes Series. Washington D.C.:
Georgetown Univ. Center for Contemporary Arab Studies, 1986, p. 1.
2
Ibid., p. 5.
3
Ibid., p. 1.
4
PACE, Enzo. Sociologia do Islã. Petrópolis: Vozes, 2005, p. 281.
5
PINTO, Paulo G.H.R. “Embodied Morality and Social Practice in Syria.” Popular Piety, ISIM Review 17,
Spring 2006, p. 14.
6
WAHID, Abduraham. “Islam, Nonviolence and National Transformation.” In: PAIGE, Glenn D.;
SATHA-ANAD, Chaiwat; GILLIATT, Sarah. Islam and Nonviolence. Honolulu: Center for Global
Nonviolence, 2001, p.53.
7
Ibid., 53, 54.
8
PACE, Enzo, op. cit., p. 62. Esta palavra, de acordo com Pace, significa “[...] tanto a idéia da unidade
espiritual como a da diversidade social, ambas possíveis na comunidade dos crentes [muçulmanos].”
atravessava. Algumas pessoas ao ouvir sua mensagem se converteram e entre elas estava
sua esposa Khadija e um escravo chamado Bilal que depois se tornaria o primeiro
muezim, aquele que chama os fiéis para a oração. Mohammad não foi aceito em Meca
como o profeta enviado por Deus. Ele encontrou nessa cidade “[...] primeiro
desconfiança; mais tarde franca hostilidade”.9
Os convertidos, ou revertidos10, ao novo movimento tinham Mohammad como
profeta e este pediu para que seus seguidores tivessem um novo tipo de relacionamento,
não mais por meio de vínculos tribais, mas sim pela submissão a Deus. Ele rompeu com
a idéia tradicional de pertença e identidade e estabeleceu que todos os que se submetiam
a Deus deveriam formar um povo unido pela mesma fé em um único Deus. Perseguido
em Meca, Mohammad sentiu a necessidade de uma estratégica mudança geográfica
porque sua permanência na cidade se tornou insustentável.
No ano 620 uma delegação da cidade de Yathrib, que mais tarde seria
denominada Medina, chegou a Meca e se converteu ao Islã. Em 622, Mohammad e umas
70 famílias de muçulmanos deixaram Meca e foram para Medina. Essa é a hégira
(hijrah), ou migração, que indica o começo da era islâmica.
A ummah em Medina foi fortalecida. Uma nova forma de convivência social foi
formada a partir da visão de unidade de Mohammad. Este conceito de ummah “É a idéia
de uma ética universal, portanto, que rompe com o princípio de identificação étnica que
valia na sociedade tradicional”.11 As lutas não teriam mais caráter tribal porque as tribos
em Medina não podiam mais ser rivais. Elas agora estavam unidas por outra ordem, a
divina. As tribos lutavam pela causa de Deus, não por seus interesses próprios. “A
ummah, portanto, como diversas vezes foi ressaltado pelos especialistas do Islã, é um
modelo ideal de sociedade política e religiosa que as concretas formações históricosociais devem ter sempre diante dos olhos [...]”12. A ummah em Medina se tornou o
padrão para todas as sociedades, uma comunidade perfeita. A primeira mesquita foi
construída em Medina e era nela que as questões sociais e políticas da cidade eram
resolvidas. A vida da ummah em Medina era unificada de acordo com a crença islâmica
sobre o início do Islã.
9
PACE, Enzo, 2005, p. 36.
Na concepção Islâmica todas as pessoas nascem muçulmanas, mas muitos se desviam por fatores
culturais, geográficos e religiosos, mas quando se convertem ao Islã voltam para sua verdadeira origem.
11
PACE, Enzo, op. cit., 54.
12
Ibid., p. 63.
10
Quando Mohammad chegou a Medina a quibla, direção da salat (oração) era
voltada para Jerusalém, mas como a maior parte dos judeus não aceitou a liderança de
seu novo líder, ele mudou a quibla para Meca que se constituiu num desligamento do
judaísmo e do cristianismo voltando-se para a origem do próprio monoteísmo
representado pela figura de Abraão que, segundo a tradição islâmica, foi o primeiro
adorador do Deus único na Caaba em Meca.
Em 630, Mohammad com 10.000 homens, marcha para Meca e os coraíxitas
admitem a derrota, mas nenhuma gota de sangue foi derramada. A Caaba foi consagrada
somente a Deus, assim, todos os deuses daquele lugar de adoração foram destruídos. A
Morte de Mohammad ocorreu em 632.
Esses momentos iniciais do Islã são simbolicamente paradigmáticos. Foi o
período da austeridade até a formação de um grupo coeso e forte tendo como principal
fator de integração a religião. Atacar uma tribo de muçulmanos significava atacar
muçulmanos de outras tribos. A ummah revela uma doutrina vital para se compreender o
Islã: a da concepção da unidade do gênero humano. Essa doutrina é uma conseqüência
direta do princípio da unidade de Deus13. O Alcorão enfatiza essa unidade e afirma que a
ummah é uma só: “A vossa comunidade é uma só e eu sou o vosso Mestre [...]”14
Em seu discurso, Mohammad profere as seguintes palavras sobre a irmandade dos
muçulmanos: “Sabei que todo muçulmano é irmão do outro, e que os muçulmanos são
irmãos”.15 Além dessa consciência de uma irmandade, os principais ritos também dão aos
muçulmanos o sentimento de unidade e pertença a uma comunidade global. Não são ritos
realizados por alguns crentes, mas por todos os fiéis muçulmanos espalhados pelo mundo
estabelecendo desse modo, o princípio de unidade da ummah que compartilha os mesmos
símbolos religiosos.
Nessa concepção não existe nem pobre nem rico, escravo ou livre ou diferença de
raças. Esse conceito de uma comunidade formada por pessoas de várias tribos, línguas e
nações é aplicado principalmente nas orações onde há o que Ali16 chama de
“nivelamento” porque ali todos são iguais não havendo diferença de classes.
13
ALI, Mohammed. Maomé – Biblioteca do Pensamento Vivo vol. 16. São Paulo: Livraria Martins Editora,
1955, p. 15.
14
Suras 23.52-54; 21.92-93.
15
HOURANI, Albert. Uma História dos Povos Árabes. São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p. 39.
16
ALI, Mohammed, op. cit., p. 95.
No Alcorão o termo ummah refere-se à comunidade no sentido religioso; um
grupo de pessoas sujeitas ao plano divino17, nesse sentido, um profeta foi enviado para
cada ummah (Sura 16:36). De acordo com o professor de Estudos Islâmicos da Colorado
University, Frederick Denny, o último período em Meca e os momentos iniciais em
Medina marcam a época em que Mohammad alcançou um conceito mais maduro de
ummah como sendo o de uma comunidade muçulmana genuína.18
Este vocábulo aparece relacionado a alguns temas no Alcorão tais como:
Unidade: Sura 43:33. Aqui está implícito o conceito de unidade da humanidade e em
23:52-54 significa a comunidade religiosa, unida pelas crenças, que Deus pretendia
formar, mas que se dividiu em Cristãos e Judeus.19
Mensageiros: são os agentes de Deus que foram enviados para cada ummah (Suras
2:134; 2:141).20 Na Sura 2:143 aparece o termo ummah wasat que diz respeito a uma
comunidade exemplar, uma testemunha para a humanidade.
A ummah wasat é um conceito de Medina formulado pelo Alcorão
quando o conceito de ummah como comunidade religiosa alcança seu
mais elevado estágio, [...] o conceito de ummah no período de Medina
parece ter se tornado o termo que mais exclusivamente se aplica aos
muçulmanos como ummah por excelência. [...] A ummah wasat é
testemunha para o resto da humanidade, e Mohammad é a testemunha
para os muçulmanos da vontade de Deus: de Deus para Mohammad, para
a ummah, para o resto da humanidade.21 (tradução minha)
Muçulmanos: Somente no período de Medina o conceito de ummah é aplicado
exclusivamente aos muçulmanos. Suras 2:127-129 descrevem a ummah como
comunidade submissa a Deus. Uma comunidade moral, obediente e ideal. “A melhor
nação (ummah)” (Sura 3:110) já criada que segue o modelo de submissão de Abraão.22
A ummah formada no início do Islã é um arquétipo da comunidade dos
muçulmanos e a ela eles sempre irão, de uma forma ou de outra, fazer referência. Para o
muçulmano, a ummah proporciona um sentimento de pertença a uma comunidade que é
aberta a todos os que crêem em Deus e no seu enviado, Mohammad. O conceito de
ummah se desenvolveu a ponto de representar tanto um Islã universal, independente dos
17
DENNY, Frederick Mathewson. “The Meaning of Ummah in the Qur‟an.” History of Religions, Vol. 15,
nº 1, 1975, p. 34.
18
Ibid., p. 45.
19
Ibid., p. 48, 49.
20
Ibid., p. 52, 53.
21
Ibid., p. 55.
22
Ibid., p. 69, 70.
governos muçulmanos transitórios23, como também de se constituir em uma identidade
coletiva.
A ummah, segundo o pensamento islâmico, existe nos dias atuais marcados pela
globalização da sociedade. O processo de globalização intensifica as relações sociais 24 o
que facilita a transformação local. De acordo com Riaz Hassan25, o mundo global revela
que o Islã é formado de diferentes culturas e interpretações do Alcorão. Desse modo,
pode-se perceber que a ummah islâmica é plural e híbrida e isso, conseqüentemente,
causa o conflito de conceitos entre hibridade e autenticidade proporcionando espaço para
o encontro com o Outro e isso faz com que fronteiras religiosas, raciais e étnicas sejam
definidas ou redefinidas.
[...] a mundialização coloca em questão, pelo acesso maciço aos
transportes e às comunicações, as fronteiras territoriais locais e a relação
entre lugares e identidades. Por outro, a circulação rápida das
informações, das ideologias e das imagens acarreta dissociação entre
lugares e culturas. Nesse quadro, os sentimentos de perda de identidade
são compensados pela procura ou criação de novos contextos
identitários.26
Os grupos religiosos, dentro desse contexto, vão à procura de refúgio em
universos simbólicos para que possam continuar imaginando uma realidade social unida
e coerente que cada vez mais se torna diferenciada e fragmentada. 27 A busca pela
autenticidade ou uma identidade muçulmana „pura‟ é a resposta para que haja o
restabelecimento da ordem social. Alguns movimentos entendem que a identidade
islâmica está em risco pela hibridade religiosa e tentam recuperar as práticas e crenças
islâmicas do passado 28.
1. Ummah e identidade
O conceito de ummah, ou seja, a comunidade imaginada que mantêm a unidade
religiosa dos muçulmanos, busca englobar e integrar as diferenças étnicas e culturais dos
23
HASSAN, Riaz. „Globalisation‟s Challenge to the Islamic Ummah‟, In: Asian Journal of Social Science,
vol. 30 , Nº 2, 2006, p. 312, 315
24
GIDDENS, Anthony. As conseqüências da modernidade. São Paulo: Editora UNESP, 1991, p. 69.
25
HASSAN, Riaz, op. cit., p. 319.
26
AGIER, Michel. „Distúrbios Identitários em Tempos de Globalização.‟ MANA 7(2): 2001, p. 7.
27
PACE, Enzo. „Religião e Globalização. In: Ari Pedro Oro e Carlos Alberto Steil (Orgs) Religião e
Globalização. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 31, 32.
28
HASSAN, Riaz, op. cit., p. 319.
fiéis oferecendo um forte sentimento de unidade. A concepção de ummah pode ser
abordada
sociologicamente como
comunidade e identidade
coletiva.29
Como
comunidade, os muçulmanos procuram manter certa homogeneidade e como identidade
coletiva, eles se identificam com valores e propósitos comuns30.
[...] O Islã dava aos homens uma identidade pela qual definir-se em
relação aos outros. [...] sabiam que pertenciam a uma coisa mais ampla: a
comunidade de fiéis (a ummah). Os atos rituais que realizavam em
comum, aceitação de uma visão partilhada do destino humano neste
mundo e no próximo, ligavam-nos uns aos outros e sepavaram-nos dos
de outras fés. 31
Sobre a questão da construção da identidade, é necessário procurar conhecer
como a comunidade sunita do Rio de Janeiro, constrói uma identidade muçulmana
baseada nesse conceito de ummah na atualidade dado o fato de que a sociedade moderna
está passando por processos de descontinuidade e deslocamento32 não existindo,
portanto, identidades estáveis e inflexíveis.
“[...] a identidade é realmente algo formado, ao longo do tempo, através
de processos inconscientes, e não algo, inato, existente na consciência no
momento do nascimento. Existe sempre algo „imaginário‟ sobre sua
unidade. Ela permanece sempre incompleta, está sempre „em processo‟,
sempre sendo formada”.33
O senso de pertença e identidade é formado quando a tradição é inventada, a qual
é reforçada por ritos que inculcam valores e normas de comportamento bem como um
mito fundacional, que localiza a origem de um povo34. Dessa maneira, o rico legado de
memórias, o desejo de viver em conjunto e a vontade de perpetuar a herança recebida,
constituem em princípios básicos para que haja a unidade imaginada de um povo.35
Quando a história de um povo é sentida e imaginada por um grupo tem-se a impressão de
que a identidade é algo fixo, já estabelecido. Esse tipo de abordagem trata a identidade
como algo imutável, que já está pré-determinado na raça, parentesco ou pertença a
grupos religiosos. Na modernidade, onde existem descontinuidades, um processo sem
fim de rupturas, fragmentações e deslocamentos, ou seja, não existe mais um centro
29
HASSAN, Riaz, 2006p. 314.
Ibid., p. 314.
31
HOURANI, Albert, op. cit., p. 89, 90
32
HALL, Stuart. A identidade Cultural na Pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2005,
33
Ibid., p. 38.
34
Ibid., p. 54.
35
Ibid., p.58.
30
p. 16.
regulador, mas múltiplos centros,36 as identidades que parecem ser fixas e substanciais
estão se desintegrando dando lugar a novas identidades híbridas daí a necessidade de uma
abordagem não-essencialista da identidade no mundo atual, pois, as identidades são
negociadas e culturalmente representadas e construídas. Na atualidade está havendo um
distanciamento da idéia sociológica de sociedade como um sistema bem delimitado que,
com a chegada da globalização, segundo Hall,37 abala essa unidade imaginada.
A diferença também é outra característica da identidade que é relacional, ou seja,
depende de outras identidades para existir “[...] a identidade é assim marcada pela
diferença”. Juntas, identidade e diferença são cristalizadas e tomadas como fatos da vida
social.38 A diferença é aquilo que o outro é; já a identidade é aquilo que eu sou.
Identidade e diferença estão em estreita dependência, mas pensamos que a identidade é a
norma e “[...] consideramos a diferença como derivado da identidade”.39 Na perspectiva
dos estudos sociais, ambas, identidade e diferença tem que ser produzidas ou fabricadas,
“A identidade e a diferença são criações sociais e culturais”.40 As trocas mantidas pela
pessoa vai edificar a sua identidade, assim, as identidades são representadas e marcadas
pelo confronto com o outro.41 O contato entre diferentes grupos étnicos produz a
necessidade nesses grupos de se definirem a si mesmos e aos outros aprendendo “[...] a
se pensar como diferentes”.42 Assim, a construção de uma identidade implica na
demarcação de territórios simbólicos para que fique estabelecido quem pertence ou não a
determinado grupo marcando, desse modo, os limites entre “nós” e “os outros”.
No mundo atual de diásporas, as identidades passam pelo processo de hibridismo
perdendo, assim, aquela pureza pensada de uma raça, etnia ou religião. A hibridização
ocorre onde há relações assimétricas de poder.
O hibridismo está ligado aos movimentos demográficos que permitem o
contato entre diferentes identidades: as diásporas, os deslocamentos
nômades, as viagens, os cruzamentos de fronteiras.43
36
HALL, Stuart, 2005, p. 16.
Ibid., p. 67.
38
DA SILVA, Tomaz Tadeu. “A produção social da identidade e da diferença”. In:_______. (org.)
Identidade e Diferença. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007, p. 73.
39
Ibid., p. 75.
40
Ibid., p. 76.
41
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Identidade e Etnia. São Paulo: Editora Brasiliense, 1986, p. 42.
42
Ibid., p. 121.
43
DA SILVA, Tomaz Tadeu, op. cit., p. 87.
37
Algumas culturas, de acordo com Ulf Hannerz, não podem ser vistas como
“puras” ou “atemporais”, mas, pode-se dizer que a vitalidade dessas culturas está
justamente na mistura.44 Isso pode ser exemplificado na situação atual do campo
religioso brasileiro que é marcado por “fronteiras borradas” e sincretismo.
Diante do exposto acima, principalmente em relação à situação religiosa do
Brasil, não se pode conceber a identidade como essência, como algo já dado, ela não é
fixa ou unificada nem ainda homogênea ou definitiva. Pode-se dizer que a identidade é
um processo; e sendo um processo é instável e por vezes contraditória e fragmentada,
ligada a estruturas de discurso e representatividade45 sendo uma tarefa não realizada e
incompleta, um esforço que precisa ser construído e, por isso, eternamente inconcluso.46
2. O Árabe, a salat e o khutbah na construção identitária da ummah
A comunidade muçulmana sunita do Rio de Janeiro, ou Sociedade Beneficente
Muçulmana do Rio de Jasneiro – SBMRJ, se reúne na mesquita ainda em construção na
Rua Gonzaga Bastos no bairro da Tijuca na cidade do Rio de Janeiro. Grande parte dos
membros da SBMRJ se reúne para ouvir o sermão (khutbah) do iman às sextas-feiras,
período que antecede a oração. Além das orações e sermões, a SBMRJ organiza, tanto
para os muçulmanos como ao público em geral, cursos sobre o Islã e língua Árabe.
Mesmo morando em Juiz de Fora é possível fazer visitas regulares a SBMRJ nas sextasfeiras. Os sermões do iman são pronunciados em Português, mas a língua Árabe é usada
nas recitações do Alcorão (seguidas de tradução para o Português), nas orações e, quando
o nome de Mohammad é pronunciado, a frase “que a paz esteja com ele” é dita em Árabe
também. O Árabe é usado especificamente para uso religioso, contudo, esse idioma é
“[...] valorizado como parte da identidade muçulmana [...]”.47
A SBMRJ promove concursos de memorização do Alcorão e cursos de Árabe;
também é exigido que os líderes religiosos conheçam profundamente esse idioma. Essas
considerações são importantes para identificar que a linguagem religiosa da ummah
44
HANNERZ, Hulf. “Fluxos, Fonteiras, Híbridos: palavras-chave da antropologia transnacional.” Mana
3(1): 1997, p. 28.
45
DA SILVA, Tomaz Tadeu, 2007, p. 96, 97.
46
BAUMAN, Zygmunt. Identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005, p. 22, 26.
47
CHAGAS, Gisele Fonseca. Conhecimento, Identidade e Poder na Comunidade Muçulmana Sunita do
Rio de Janeiro. Dissertação de Mestrado. Niterói: UFF/PPGA, 2006, p. 58.
islâmica é o Árabe. Essa língua marca, religiosamente, fronteiras identitárias por ser
largamente utilizada nas atividades religiosas dos muçulmanos.
É interessante notar que muitas pessoas na SBMRJ são árabes. Sobre a presença
árabe, Vera Marques, destaca como os árabes da comunidade muçulmana de São
Bernardo do Campo (onde convertidos sem ascendência árabe é a minoria), impõem sua
cultura, podendo até mesmo confundir a própria religião com seus traços culturais,
proporcionando certa resistência nos convertidos brasileiros em relação aos muçulmanos
de ascendência árabe, “É possível perceber um certo desconforto dos convertidos com o
que chamam de „arabização‟, processo de difícil solução, uma vez que a religião, tendo
sido fundada no mundo árabe e trazida por imigrantes árabes, tende a carregar consigo
muitos traços culturais”.48 No entanto, um estudo realizado por Sílvia Montenegro indica
o oposto na comunidade muçulmana sunita do Rio de Janeiro, ou seja, o que está se
buscando é uma tentativa de não identificar o Islã com a cultura árabe nessa comunidade,
“A Sociedade Muçulmana do Rio de Janeiro não se identifica com uma „identidade
árabe‟. Ao contrário, adere a um tipo de islamismo que se opõe a que essa tradição
religiosa possa se associar com uma identidade étnica”.49 Para esta mesma autora o
movimento anti-arabismo é uma conseqüência direta da noção de ummah que ocorre na
SBMRJ.50 Ainda assim, é possível observar que fronteiras identitárias são estabelecidas
quando árabes e seus descendentes começam a conversar em Árabe na comunidade, pois,
desse modo demarcam fronteiras simbólicas excluindo das conversas aqueles que não
falam o idioma. Um dos membros da SBMRJ me disse “para conhecer mesmo o Alcorão
tem que saber Árabe e para conversar com os árabes daqui [da SBMRJ] também porque
senão você fica perdido quando conversamos”.
Com relação aos rituais, eles são de grande imnportância nessa pesquisa para se
compreender os caminhos em que uma identidade muçulmana é construída na SBMJR. A
oração, salat, e o sermão, khutbah são duas práticas que influenciam nessa construção
identitária da ummah islâmica e foram observadas para melhor entender a relação entre
ummah e identidade n Islã.
48
MARQUES, Vera Lúcia Maia. Conversão ao Islam: olhar brasileiro, a construção de novas identidades
e o retorno à tradição. Dissertação de Mestrado de Pós-Graduação em Antropologia Social da PUC/SP,
2000, p. 70.
49
MONTENEGRO, Silvia Maria, „Identidades Muçulmanas no Brasil: entre o arabismo e a islamização.‟
Lusotopie, 2002/2, p. 66.
50
Ibid., p. 71, 72.
Tanto a salat quanto o khutbah da sexta-feira são realizados para uma audiência.
Ambos exigem preparação prévia para serem performatizados. Os gestos são simbólicos
e as palavras são carregadas de significados, dessa maneira, a performance estabelece
uma estrutura interpretativa dentro da qual as mensagens comunicadas são para serem
entendidas ao lado de outra estrutura que é a literal.51
Um homem chamado Kalil me disse (na ocasião da minha primeira visita à SBMRJ)
“Aqui todos chegam e sentam-se em qualquer lugar para orar, não existe lugar especial para
ninguém, pois, todos os muçulmanos são iguais.” As orações coletivas dão sentimento de
pertença à comunidade global dos muçulmanos, a ummah. A não diferenciação de cor, raça e
nacionalidade no Islã, mais especificamente durante as orações, remonta aos tempos do profeta
Mohammad, segundo a história islâmica.
[...] a tarefa imediata que se impunha ao profeta era eliminar todos os
preconceitos de raça, cor ou idioma, na mentalidade árabe [...]. Os
muçulmanos se reuniam cinco vezes ao dia para a oração e foi na
mesquita que o nivelamento da religião islâmica produziu seus
primeiros efeitos. Entre os que primeiro se converteram, encontravamse membros das mais nobres famílias Koraischitas, bem como elevado
número de escravos negros; ora, num local de oração e na companhia
do profeta não podia existir diferença de classe entre esses e aqueles.
Habituados a ficarem lado a lado durante a oração foi-lhes fácil
transpor a etapa seguinte e em pouco tempo amalgamaram-se a mais
completa igualdade. Foi assim que a oração contribuiu para a
confraternização do gênero humano.52
Os corpos indicam uma entrega, submissão a Deus. “Prostrar-se somente a Deus”
como diz Munzer, o iman da SBMRJ; a mesquita como espaço simbólico sagrado é um
lugar onde coletivamente os muçulmanos se prostram, nesse aspecto a mesquita não é
mais um prédio, mas um local de prostração. A palavra para mesquita no árabe é
transliterada como masjid que significa lugar de prostração, segundo Denny53, é um lugar
ritualmente dedicado a esse propósito, além de ser também o espaço usado para ensino.
Terrin54 diz que o espaço ritual é cenário de experiências, esfera da atividade e de
relações com o ambiente que nos circunda. Esse espaço sagrado ordena a experiência
religiosa do muçulmano.
51
BAUMAN, Richard. Verbal Art as Performance. Ilions, (EUA) Waveland Press, Inc., 1984, p. 9.
ALI, Mohammed, 1955, p. 95
53
DENNY, Frederick M., Islam and the Muslim Community. Ilions: Waveland Press, 1987, p. 49.
54
TERRIN, Aldo Natale, O Rito: antropologia e fenomenologia da ritualidade. São Paulo: Paulus, 2004,
p. 199.
52
Na entrada para o interior da mesquita os sapatos devem ser tirados, esse ato
acontece na soleira, no limite onde há uma pausa da vida cotidiana e entra-se no universo
ritual e simbólico, a sujeira da rua nos sapatos contém impurezas que não podem ser
levadas para o espaço do rito, por isso, os sapatos devem ser retirados naquele limite de
entrada num novo mundo.55
Existe um horário específico para cada oração, mas a que observo é a oração da
sexta-feira ao meio dia, ou Zhur que inicia entre 11:50 e 12:10. A direção também deve
estar correta; o muçulmano tem que se voltar para Meca. Os muçulmanos do mundo
inteiro têm que orar nessa direção. Isso permite ao crente muçulmano crer num
sentimento de unidade com outros muçulmanos de qualquer parte do mundo.
A salat é altamente formalizada e minuciosamente regulamentada nos
ciclos precisamente observados de fórmulas faladas e posturas corporais.
Prescrita no Alcorão e desenvolvida por Mohammad para os primeiros
muçulmanos, a salat tem unido a Ummah através das eras e fronteiras
geográficas do Islã em um nível uniforme de performance mais do que
práticas de qualquer outra religião mundial.56 (tradução minha)
A salat é um dos pilares do Islã e é parte central da adoração a Deus. Há
prescrições minuciosas de como o muçulmano deve fazer as orações e essas diretrizes
devem ser seguidas por todos os fiéis. Há muitos visitantes de outros países que vão à
SBMRJ, quando estão no Rio de Janeiro por motivo de trabalho ou férias. Já encontrei ali
pessoas da África do Sul, Egito, Marrocos, Índia e Arábia Saudita em trânsito no Brasil e
observei que eles oram da mesma maneira, ou seja, fazem as orações iniciais e coletivas
do mesmo modo que os brasileiros.
Estes símbolos, gestos e palavras compartilhados coletivamente trazem uma
identificação, marcam fronteiras identitárias e oferecem um sentido de unidade entre os
muçulmanos ao redor do globo. Sobre a direção a direção da oração, todos devem orar
para um único ponto no planeta: a Caaba57 que, literalmente, significa cubo em Árabe.
Sendo um centro comum de adoração para os muçulmanos do mundo e também o lugar
do Hajj ou a peregrinação (que é realizado por todo muçulmano que tem condições para
fazê-lo), esse lugar consolida ainda mais a idéia de um Islã universal que transcende os
55
VAN GENNEP, Arnold.Ritos de Passagem.Petrópolis: Vozes, 1978, p. 36.
DENNY, , Frederick M.,1987, 48
57
GLASSÉ, Cyril, The New Encyclopedia of Islam. Walnut Creek, Lanham, New York: Altamira Press,
2nd Edition, 1991, p. 245. Citando Glassé: “o cubo é uma estrutura de pedra coberta com um tecido preto.
Ela fica no centro da Grande Mesquita de Meca, cidade sagrada dos muçulmanos. Esse lugar representa um
santuário consagrado para adoração a Deus desde os tempos imemoriais. É um centro espiritual. Um apoio
para a concentração de consciência sobre a presença divina”.
56
territórios nacionais. O iman Munzer, ao se referir a esse ponto comum de direção para
oração, disse em um de seus sermões:
O muçulmano quando ora se posiciona em direção à Caaba, não é
adoração ao lugar, mas essa casa foi a primeira construída para adorar
a Deus e quando todos os muçulmanos de todas as partes do mundo se
posicionam em direção a ela isso cria um sentimento de unidade, de
irmandade porque você tem consciência de que todos os muçulmanos de
todos os cantos do planeta estão se direcionando para aquele mesmo
ponto. Todo mundo junto, isso dá um sentimento mais forte de união e
quando Deus ordena que você direcione o seu corpo para um único
ponto ele quer trazer ao seu coração um único foco que é Deus, o
altíssimo. Isso indica que você está em contato com o criador.
A oração é tão fundamental na adoração islâmica que surgem questionamentos
como: se quem não ora é de fato um muçulmano ou não. 58 É necessário que o
muçulmano tenha a intenção correta para orar, condições físicas de pureza, fazer a
seqüência correta dos gestos e estar vestido corretamente; mas, na prática, nem sempre
isso acontece, pois, algumas pessoas que freqüentam a mesquita relataram que não fazem
as cinco orações diárias e como foi observado nem todos fazem a ablução do modo
prescrito, pois, alguns entram direto para a oração sem fazer a ablução outros fazem
apenas gestos na entrada para a mesquita de que estão se purificando com água.
Com relação ao sermão da sexta-feira, ele serve para veicular o sentido de
comunidade e identidade dos muçulmanos da SBMRJ e transmitir a idéia de que todos
devem seguir o Islã, por isso sempre o iman cita a seguinte frase:“O Islã é para todos os
homens, para a humanidade, não importa quem seja”. E como é para todos, há uma
ênfase na igualdade de direitos e deveres e os que pregam os sermões, em seus discursos,
deixam claro que a justiça deve prevalecer, pois declaram que no Islã ninguém é melhor
do que o outro e a lei islâmica deve apoiar essa proposição.
Em um de seus discursos, o iman citou um dito do profeta sobre essa igualdade
que diz: “Se minha filha roubar alguma coisa, eu mesmo cortaria sua mão, não existe
privilegiados”, e acrescentou que o islã prega a “igualdade dos homens”, por isso “não há
diferença entre muçulmanos.” Tais frases são constantemente citadas nos sermões, que
tratam da igualdade da raça humana. O iman, em um de seus sermões, fez uma reflexão
sobre a diversidade humana e salientou que as diferenças devem servir para unir e não
separar os indivíduos, pois diante de Deus todos são iguais:
58
MAHMOOD, Saba. “Rehearsed spontaneity and the conventionality of ritual: disciplines of salat.”
American Ethnologist, vol. 28, nº 4, nov. 2001, p 830.
Deus relembra o fato de que ele é o criador. Como criador ele é que tem
o direito de legislar sobre a criatura. Ele tem o direito de ditar o rumo
que essa criatura deve seguir. Nós vos criamos macho e fêmea, ou seja, a
origem de vocês é uma só. Mesmo pai e mesma mãe Adão e Eva, e vos
dividimos em povos e tribos dessa mesma origem começou a surgir as
diferenças. Diferenças de crenças, de língua, na cultura e a partir daí
começou a surgir a diversidade. Essa diversidade não pode servir para
que haja diferença, brigas – deve ser motivo de união, cooperação, de
trabalho. Trabalhar juntos para o bem comum. Essa diversidade tem
criado divisões, “minha raça é melhor que a sua, meu povo é melhor que
o seu, eu sou melhor que você porque eu sou homem e você é mulher, eu
sou branco e você é negro, eu sou rico e você é pobre. Tudo acaba sendo
motivo para divergência, ao invés de motivo para união e cooperação.
Hoje em dia as pessoas estão muito preocupadas consigo mesmas
enquanto indivíduos ou enquanto nações. Só se preocupam com eles
mesmos, isso fere princípios básicos do Islã.
Em outro sermão, Munzer novamente enfatizou que não existe diferença entre as
pessoas, e que a igualdade é um dos preceitos do Islã, um princípio central que deve ser
respeitado e praticado por todos.
Não existe diferença de branco, preto, rico, pobre, árabe e não-árabe,
homem e mulher, velhos e jovens. Todos são iguais, governantes e
governados, não existe essa diferença, a igualdade e a unidade na fé é
que vale, esse é o princípio. E hoje o que a gente vê. As pessoas
divididas: eu sou carioca, você é paulista, eu sou flamenguista, você é
vascaíno, eu sou árabe você não é. Tudo é motivo para se criar divisão
em vez de agregar. Diante desse quadro nós somos estranhos uma vez
que nós carregamos a mensagem da união.
Este princípio é, constantemente, reafirmado pelos membros da SBMRJ em suas
conversas. Eles reconhecem que doutrinariamente ou teologicamente o princípio da
igualdade dos homens e da unidade do Islã é estabelecido na comunidade como uma
regra que deve nortear as ações da mesma.
Desse modo, o sermão da sexta-feira é um meio discursivo de assegurar aos
muçulmanos a união entre eles o que contribui para a construção de uma identidade
islâmica baseada no conceito de ummah.
Essa concepção de igualdade e unidade é afirmada através de ação de ajuda mútua
e a mesquita funciona como um lugar que proporciona tal atitude, como acontece com
um brasileiro revertido ao Islã, que recebe ajuda de alguns muçulmanos. Ele está
desempregado e, por essa razão, recebe ofertas.
Nessa visão de igualdade e de fazer o bem, em certa ocasião, o iman pediu aos
muçulmanos que ajudassem financeiramente uma muçulmana, pois, ela estava passando
dificuldades financeiras e em outra, um árabe da comunidade perguntou se alguém da
comunidade estaria disposto a doar um rim para ele, pois precisava de um transplante e já
estava na fila de espera há muito tempo. Além disso, a SBMRJ faz distribuição de cestas
básicas de alimentos em bairros carentes do Rio de Janeiro.
Essa apresentação de um Islã unido em pensamento e práticas não é algo
naturalmente constituído na SBMRJ, mas pode-se dizer que é um processo construído.
Há opiniões diferentes no que diz respeito ao comer carne, por exemplo, Yusef, um
jovem marroquino fez a seguinte crítica durante uma conversa:
Comer carne no Brasil é um problema, não é a carne, mas é como o
animal é morto, aqui eles não fazem do jeito islâmico. Encontrei
muçulmanos que me disseram que comem carne aqui e só fazem uma
oração antes de comer e pronto, para mim isso não funciona.
O iman Munzer profere o khutbah toda sexta-feira, exceto quando não pode ou
quando há visita de sheikhs59. A característica mais importante daquele que faz os
sermões é o conhecimento. Na primeira visita à mesquita, um muçulmano árabe chamado
Ahmed se referiu ao iman Munzer como alguém que tem muito conhecimento e disse:
“chegou o iman, você agora vai ver que ele tem muito conhecimento.”
Munzer não veste qualquer aparato que o identifique como um líder religioso.
Usa, geralmente, camisa pólo manga curta e calça jeans, ao contrário dos sheikhs que
visitaram a mesquita. Estes vestiam-se como autoridades religiosas, o que fazia uma clara
distinção simbólica, através da vestimenta, entre eles e os outros muçulmanos da
comunidade, pois, os sheikhs vestem uma túnica azul escura com bordas douradas e o
taqiyah, que é um chapéu pequeno usado durante as orações.
Os sermões pregados pelos sheikhs são feitos totalmente de memória; enquanto o
iman Munzer, às vezes, usa uma folha com algumas anotações para seguir alguns
tópicos, mas ele pouco se atém a ela durante o sermão. Quem pronuncia o sermão faz
uma performance, pois, antes de transmiti-lo, teve que recebê-lo, ser treinado para tal
tarefa, pois como diz Ferreira “[...] antes de ser o transmissor, ele também foi o
59
A diferença essencial entre um iman e um sheikh é que o primeiro pode ser escolhido pela comunidade
para dirigir as orações e pronunciar o sermão sendo também considerado líder espiritual da comunidade e
não precisa ter treinamento formal nas escolas islâmicas. Já um sheikh além das funções acima prescritas
para o iman, ele tem mais autoridade em assuntos religiosos e precisa ser formado em uma universidade
islâmica. O preparo de um sheikh pode chegar a 11 anos de estudos cf. FERREIRA, Francirosy Campos
Barbosa. Entre Arabescos Luas e Tâmaras: Performances Islâmicas em São Paulo. Tese de doutorado,
PPGA/USP, 2007, p. 171.
„receptáculo‟ da palavra religiosa.”60 Nos sermões, os ditos do profeta Mohammad que
estão nos hadiths61 são mencionados e comentados. A parte disciplinar tem como ênfase
o dia do juízo. Há nos sermões um constante diálogo com a mídia e uma reprovação
daquilo que, para o Islã, é considerado ilícito. Nessas preleções há motivações para que o
muçulmano pratique o dawah que significa trazer novas pessoas para o Islã. Há ainda
muitas narrativas e exortações nos sermões que falam sobre a unidade e igualdade entre
os muçulmanos duas características principais do conceito de ummah.
Apesar de tanta reverência durante o rito, pôde-se observar que alguns
muçulmanos dormem durante o sermão, mas a maioria das pessoas permanece atenta ao
que está sendo dito e ainda há aqueles que chegam depois do sermão talvez por motivo
de trabalho e não fazem a ablução. É interessante também notar que alguns idosos
mesmo não tendo condições físicas participam das orações.
Em um de seus sermões o iman falou sobre o sufismo.62 Ele iniciou o sermão
elogiando líderes (entre eles Junayd) do movimento sufi no seu início, e disse que só
depois houve desvios doutrinários com o advento de Halaj e Ibn Arabi. Ele disse ainda
que um dos erros doutrinários mais sérios do sufismo é o falso conceito de unidade, pois,
para os sufis, o fiel está unido a Deus não se fazendo distinção entre criador e criatura.
Outro erro mencionado pelo iman foi a total submissão que deve ser prestada aos
líderes religiosos desse movimento e foi afirmado, durante o sermão, que eles não têm
relação com o Islã marcando uma linha divisória entre o „verdadeiro‟ e o „falso‟ Islã.
Dessa maneira, a SBMRJ como expressão do Islã suni, procura ser a representatividade
do „verdadeiro‟ Islã na cidade do Rio de Janeiro.63 Mas conversando com alguns
membros da comunidade percebi que alguns deles vêem o sufismo como parte do Islã.
Em outra ocasião o sermão foi sobre os princípios do Islã sendo que um desses princípios
é que o Islã é para todos os homens não importa quem seja demonstrando, dessa maneira,
a universalidade dessa religião.
É importante salientar que Suras do Alcorão, ditos de Mohammad e histórias
sobre ele e seus companheiros também são recitadas pelo iman durante o khutbah, assim,
pode-se dizer que o Islã é uma religião que dá muita ênfase à oralidade.
60
FERREIRA, Francirosy Campos Barbosa, 2007, p. 169.
Coleção de ditos e ações de Mohammad.
62
A dimensão mística do Islã.
63
PINTO, Paulo H. G. Ritual, “Etnicidade e identidade religiosa nas comunidades muçulmanas do Brasil.”
São Paulo: Revista USP, 2005, p. 233.
61
Performance oral por meio da recitação do Alcorão está no centro da
piedade islâmica coletiva e individual. O Alcorão é recitado durante os
cultos da salat diariamente; durante as noites no mês de jejum do
Ramadã; em reuniões especiais de recitação nas mesquitas, escolas, e
outros lugares, em ocasiões especiais, como na abertura de comércio,
escolas, sessões legislativas, casamentos, circuncisões, funerais, e outros.
Muçulmanos individualmente também recitam o Alcorão para mérito
religioso, reflexão do seu significado, e para refrigério espiritual.64
(tradução minha)
De acordo com Hourani65a recitação corânica acontece desde os tempos de
Mohammad, quando, segundo a tradição islâmica, na Noite do Poder66, um anjo visto por
ele pediu-lhe para recitá-lo e, então, a sura 96.1-5 lhe foi revelada: “Lê em nome de teu
Senhor, que criou, que criou o ser humano de uma aderência, lê, e teu Senhor é O mais
Generoso, que ensinou a escrever com cálamo, ensinou ao ser humano o que ele não
sabia”.67
Esses foram os primeiros versos a serem revelados a Mohammad que, segundo a
crença islâmica, não sabia ler nem escrever. Assim, as revelações foram memorizadas e
recitadas por ele.
Performance oral por meio da recitação do Alcorão está no centro da
piedade islâmica coletiva e individual. O Alcorão é recitado durante os
cultos da salat diariamente; durante as noites no mês de jejum do
Ramadã; em reuniões especiais de recitação nas mesquitas, escolas, e
outros lugares, em ocasiões especiais, como na abertura de comércio,
escolas, sessões legislativas, casamentos, circuncisões, funerais, e outros.
Muçulmanos individualmente também recitam o Alcorão para mérito
religioso, reflexão do seu significado, e para refrigério espiritual.68
A atividade de memorização do Alcorão é tão importante no Islã, que em outubro
de 2007, a SBMRJ organizou um concurso de recitação do Alcorão dividido em níveis de
dificuldade para que todos pudessem participar e os melhores recitadores receberiam uma
premiação em dinheiro.
O iman Munzer em seus sermões recita várias suras do Alcorão e a maioria delas
de memória tanto em árabe como em Português bem como faz referência a diversas
narrativas sobre Mohammad que também são recitadas. Os sheikhs que visitam a
64
DENNY, Frederick M. “Qur‟an Recitation: A tradition of Oral Performance and Transmission.” Oral
Tradition, 4/1-2 ,1989, p. 5.
65
HOURANI, Albert, 2006, p. 35.
66
GLASSÉ, Cyril, 1991, p. 276, a Noite do Poder da seguinte maneira: “A noite no ano 610 AD na qual o
Alcorão desceu, na sua inteireza, na alma do Profeta. [...] Naquela noite o anjo Gabriel falou pela primeira
vez ao profeta, o Alocrão foi revelado e a missão divina começou.”(tradução minha)
67
Tradução do Sentido do Nobre Alcorão realizada por Helmi Nasr.
68
DENNY, Frederick M., op. cit., p. 5
mesquita também têm esse costume de recitar suras do Alcorão, assim “a oralidade
muçulmana é também uma disciplina da memória [...] um processo de conservar e
transmitir”.69
Dentro dessa perspectiva, Richard Bauman70 diz que o performer tem grande
responsabilidade diante da audiência, pois é nesse momento que ele demonstra sua
competência baseada no conhecimento e habilidade de comunicar verbalmente em
modos socialmente apropriados. Esse tipo de performance une “[...] texto e ação,
constituindo e ordenando a experiência tanto quanto servindo para a reflexão e
comunicação da mesma”.71
É interessante notar que a comunidade, sempre, avalia o sermão. Isto pôde ser
observado em uma ocasião, quando Munzer terminou de proferir seu sermão, um
muçulmano brasileiro me perguntou o seguinte: - “foi muito bom, você gostou?”. Eu
concordei e disse: -“gostei, foi mesmo um bom sermão”. Tais comentários, muitas vezes,
se resumem em frases curtas como: “foi muito bom”, mas traduzem a aceitação daquilo
que ouviram e aprovaram a forma como foi dito.
Além dos versos do Alcorão, as narrativas sobre Mohammad e seus ditos que
estão nos hadiths72 são também constantemente citadas nos khutbahs. Dentro da tradição
islâmica, desde a época de Mohammad, existe uma ligação muito grande entre narrativas
sobre sua vida e exposição de cunho teológico.
Na Arábia pré-islâmica, a transmissão de informações era realizada oralmente e
no período inicial do Islã esse foi o principal meio de transmissão das histórias sobre a
vida de Mohammad e sua mensagem que serviram como fontes para a propagação da fé
dessa religião73. As narrativas sobre a vida de Mohammad geralmente são curtas, mas
transmitem a importância do conteúdo pregado nos sermões, como se pode observar
neste breve diálogo entre Mohammad e um de seus seguidores:
69
DENNY, Frederick M., 1989, p. 13.
BAUMAN, R. 1984, p. 11.
71
HARTMANN, Luciana. “Performance e experiência nas narrativas orais da fronteira entre Argentina,
Brasil e Uruguai”. In: Lucas, Maria Elizabeth (org.) – Horizontes Antropológicos. Porto Alegre: UFRGSIFCH. Programa de Pós-Graduação em Antropoologia Social, 2005, p. 128
72
Coleção de ditos e ações de Mohammad e seus companheiros.
73
RIDDELL, Peter G.; STREET, Tony. Islam: Essays on Scripture, Thought and Society. A Festschrift in
Honour of Anthony H. Johns. Leiden: Brill, 1997, p. 59.
70
Um seguidor disse ao profeta: eu te amo mais do que tudo, só não mais
do que a mim mesmo. Mohammad disse: então você não é um verdadeiro
muçulmano. Pois, o verdadeiro muçulmano tem que me amar mais do
que a si mesmo. O homem respondeu: profeta eu te amo mais do que a
mim mesmo respondeu o homem. Então agora você é um verdadeiro
muçulmano, disse o profeta.
A pequena história acima foi pronunciada pelo iman no mês do nascimento de
Mohammad74 para exortar os presentes na reunião a amar o profeta e ele fez uma
pergunta: “como amar o profeta?” e respondeu dizendo: “Seguindo seu exemplo de amor
e justiça.” A figura de Mohammad é central em praticamente todas as estórias narradas
por aqueles que pregam o sermão. O profeta do Islã é considerado como o homem
perfeito que serve de modelo para todos os muçulmanos, assim, seu modo de fazer as
orações, tratar as pessoas, seus ditos devem ser seguidos e imitados pelos muçulmanos.
Daí a importância dessas narrativas sobre a vida do profeta para estabelecer um modelo
ideal de vida para os muçulmanos.
As relações internacionais que a SBMRJ mantêm com o Islã global também são
uma forma em que a noção de ummah é articulada. Um exemplo disso é a visita de
Sheikhs à SBMRJ para palestras e conferências.75 Dentro dessa perspectiva internacional,
a SBMRJ enviou dois jovens, Nader e Victor, para estudar o Islã na Universidade
Internacional da África no Sudão. Eles receberam a incumbência de manter a SBMRJ
informada sobre acontecimentos importantes relacionados ao Islã:
Eles também nos enviarão algumas matérias publicadas nos jornais
sudaneses, sempre que os assuntos abordados tiverem relevância para o
Islam, de modo que passaremos a abrir ainda mais nossos horizontes
sobre o que acontece no mundo islâmico. Afinal, como disse o profeta
Mohammad (SAAW): “Não é crente aquele que não se importa com os
assuntos dos muçulmanos.76
Considerações finais
Os dados foram coletados através de observações e conversas informais com
alguns seguidores e, através deles, percebeu-se que há uma idéia de identidade e unidade
na SBMRJ, mas que em alguns casos, as concepções ali formuladas não são tão sólidas e
74
Em nosso calendário foi o mês de março nesse ano, mas em Árabe o mês do nascimento de Mohammad
é transliterado como Rabi Al-Awwal que significa primeiro mês da primavera.
75
A SBMRJ recebeu a visita do Sheikh Sami Bilal do Kuwait nos dias 29, 30, 31 de julho de 2008.
76
Trecho de uma entrevista citado na revista Nurul Islam, dezembro, 2007, nº 1, p. 5.
nem facilmente aceitas dentro da comunidade como são apresentadas nos sermões do
iman. Exemplo disso pode ser observado no que diz respeito ao sentimento de unidade,
que faz parte da ideologia do Islã, como acontece quando líderes mulçumanos convocam
seus seguidores a se unirem contra aqueles que são considerados seus inimigos.
No mural da mesquita, por exemplo, existe um artigo, escrito pelo sheikh Yusuf
Qaradawy do Egito, com o seguinte título: “Boicote aos Produtos Americanos e
Israelenses” e começa com uma convocação a todos os muçulmanos de todo o mundo a
praticar o jihad contra os EUA e Israel, considerados inimigos do Islã. Os apelos são
feitos com base na crença islâmica de que os muçulmanos formam uma grande
irmandade segundo o Alcorão.
“Jihad é a primeira de todas as obrigações e o primeiro dever da
ummah. [...] A vasta ummah de 1,3 bilhões de pessoas pode ferir os
EUA e suas empresas através do boicote[...]O boicote também é uma
demonstração da fraternidade muçulmana e da unidade da ummah. [...]
A ummah muçulmana em todo o mundo está sendo chamada a
demonstrar sua existência e se empenhar em proteger o que é
sacrossanto.” 77
Tais frases sugerem a consciência de uma identidade religiosa coletiva unida pela
fé, não por laços de parentesco, nacionalidade ou raça que acomoda a diversidade
cultural dos crentes muçulmanos o que leva esta “comunidade universal imaginada”, a
um forte sentimento de unidade. Observa-se que neste artigo o chamado ou a convocação
é para os muçulmanos de todos os lugares, por isso usa-se o termo ummah para indicar
que se refere a toda a comunidade de crentes muçulmanos. Essa consciência de uma
irmandade ou família faz parte do pensamento islâmico na SBMRJ e o iman, com relação
a esse conceito islâmico de nação ou comunidade, disse em um email enviado a mim
respondendo a uma pergunta minha sobre o conceito de ummah:
Ummah ou nação é a representação da grande família que é o Islam, ela
ultrapassa todos os limites e fronteiras, abarcando em si as pessoas de
diferentes raças, classes sociais, idiomas, é um único corpo cujos
indivíduos são as suas células formadoras, é um todo que encara a
diversidade não como um motivo de separação, mas sim de união e
cooperação, e ela se mantém baseada no amor que decorre da crença
em Deus e submissão a Sua vontade
77
Disponível no site: http://www.geocities.com/mohamadbr/fatwa19.htm, acesso em 15/07/2009.
A convocação para o boicote também foi feita num dos sermões do Munzer,
porém, ao conversar sobre o artigo com um dos membros, ele disse: “Isso não é bem
assim, alguns muçulmanos não compram mesmo, outros compram, nós não estamos
vivendo em um país muçulmano.” Mas Ibrahim, ao se referir ao boicote, diz: “se nós
comprarmos produtos das empresas americanas que financiam a guerra, nós estamos
comprando balas para matar nossos irmãos” e Sami, o líder do departamento
educacional, comentou: “ferir um muçulmano é ferir todos os muçulmanos, a dor de um
muçulmano é a dor de todos”. A preservação dessa concepção de unidade entre os
muçulmanos não é algo dado ou atribuído, mas precisa ser constantemente reforçado por
discursos, pois, a modernidade trouxe consigo a morte do sujeito entendido como tendo
uma essência. Apesar dessa busca pela unidade, percebeu-se que existem diferentes
discursos sobre um mesmo assunto na SBMRJ e, nesse sentido, não se pode afirmar que
a ummah é uma comunidade com um só pensamento, mas que existem vozes de
autoridade que cruzam países e articulam os seguidores do Islã em determinado
propósito. Assim, muitos seguem fielmente as determinações dessas autoridades, mas
outros, não.
Foi interessante observar que algumas decisões que as autoridades religiosas
tomam não são impostas de modo arbitrário e existe espaço para negociações, desde que
não fira os principais preceitos da religião podendo haver diferenças de opiniões entre
líder e comunidade em alguns assuntos como no caso do sufismo, mas nota-se que a
palavra de um líder religioso tem muita autoridade, pois, afinal ele é o detentor do saber.
Os momentos rituais do Islã na SBMRJ demonstram que o Islã é uma religião,
cuja prática é universal e faz com que muçulmanos de diferentes lugares do mundo se
sintam unidos em torno delas. São performances rituais que exigem público e possuem
elementos que podem ser comparados com o teatro. A oração evidencia a expressão de
uma identidade religiosa e o sermão, com todas as suas características parenéticas,
servem para reafirmar a unidade dos muçulmanos como uma só nação. Contudo, segundo
Zygmunt Bauman78, essa comunidade imaginada precisa, nos dias atuais, viver em
trincheira, ou seja, proteger suas fronteiras identitárias, através desses discursos, para
garantir a coesão do pensamento de uma comunidade unida pela mesma fé.
78
BAUMAN, Z. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual. Rio de Janeiro:Jorge Zahar Editor,
2003, p.19.
Em um país não-muçulmano como o Brasil, a prática do Islã exige um trabalho
árduo para manter essa identidade (principalmente por parte dos brasileiros revertidos ao
Islã), que precisa ser, constantemente, enfatizada através dos rituais e dos sermões, dois
instrumentos, que buscam garantir esse propósito.
Através da performance ritual, os muçulmanos mantêm vivo um mesmo
sentimento de unidade que é manifesto, por exemplo, na salat que une muçulmanos de
diferentes partes do mundo em torno de um mesmo ritual coletivo que os identifica como
muçulmanos, mas isso também não é uma norma seguida estritamente da mesma
maneira, ou da forma prescrita. A ummah como comunidade imaginada, para manter os
princípios, os valores e o entendimento comum, precisará sempre de reforço discursivo e
isso é feito com os khutbahs do iman e dos sheikhs que visitam a SBMRJ.
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