Inflação e Crescimento Econômico

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Inflação e Crescimento Econômico Tharcisio Bierrenbach de Souza Santos1 A semana que passou foi palco de duas notícias contraditórias, ambas divulgadas pelo IBGE. A primeira dava conta do bom desempenho da economia brasileira, com um crescimento registrado de 5,8% do PIB no primeiro trimestre do corrente ano, menor que os cerca de 6% exibidos no último trimestre de 2007, enquanto a segunda alertava para o crescimento da inflação entre nós, e o que é mais grave, não apenas restrita a poucos setores da economia, mas com um índice de dispersão bastante acentuado. Aliás, a divulgação da ata do COPOM na última quinta‐feira demonstra de maneira bastante clara essa tendência. Para o analista de cenário econômico, trata‐se de uma sinalização inequívoca: o crescimento econômico registrado no Brasil está sofrendo uma desaceleração gradual ao mesmo tempo em que, como nos demais países, é registrada uma elevação no ritmo de crescimento dos preços. A queda continuada do valor do dólar vis‐a‐vis as demais moedas, sinalizadora de problemas na economia norte‐americana, abalada pelos impactos da crise hipotecária e suas conseqüências, desencadeou uma forte elevação no preço de comoditties, com ênfase no petróleo. Por sua vez, esse incremento substancial no petróleo vem sendo responsável pela desestabilização nos preços de vários outros produtos, notadamente os alimentos. Tudo isso tem contribuído para a aceleração na inflação em diversos países, inclusive o Brasil. O relatório Focus do Banco Central, nesta semana, dá conta de uma aceleração da expectativa de inflação no país, que deve atingir 5,8% em 2008 e 4,63% em 2009. Ao mesmo tempo, as expectativas para o comportamento do PIB sinalizam para um crescimento de 4,8% em 2008 e de 4% no ano subseqüente. Num cenário como este, e considerando o funcionamento do Sistema de Metas de Inflação, é lícito esperar uma continuação da elevação da taxa SELIC nas próximas reuniões do COPOM, até atingir um nível ao redor dos 14% no final deste ano. Em conseqüência, teríamos ao final deste exercício uma taxa real de juros da ordem de 7,8%, contra taxas próximas de zero no mundo desenvolvido. O resultado desta complexa formulação é que continuaremos a exibir uma das mais elevadas taxas de juros reais do mundo e isso deverá reforçar a tendência de arbitragem que as tesourarias das instituições financeiras já estão praticando, trocando dólares por reais e contribuindo para apreciar a moeda nacional. Para evitar um agravamento da perda de competitividade das exportações brasileiras, existe apenas uma solução: a melhoria das contas públicas, com a redução da relação entre a dívida interna e o PIB. Na medida em que toda a sinalização está no sentido de expansão da produção nacional, estimulada pelo crescimento do consumo interno, parece claro que 1
Economista, Doutor em História Econômica. Vice‐Diretor da Faculdade de Administração da Fundação Armando Álvares Penteado e Diretor do FAAP‐MBA. E‐mail: [email protected] estamos diante de uma rara oportunidade de aproveitar os excessos de arrecadação tributária que vem sendo verificados, para esterilizar um substantivo montante da dívida pública interna, procedendo ao pagamento dessa dívida e alterando o panorama das contas públicas do país. Esta seria uma forma de combater a inflação, reduzindo o consumo do governo que, de acordo com as informações do IBGE, vem crescendo de maneira acelerada neste ano e evitando que o Banco Central tenha de elevar de forma continuada a SELIC que, além de contribuir para uma elevação nos custos de captação de recursos pelas empresas, pode trazer problemas adicionais para a competitividade externa através da apreciação cambial. Esta questão é de importância crucial para o futuro, na medida em que as contas‐correntes do balanço de pagamentos começam a exibir déficits ainda não relevantes diante da facilidade de suporte proporcionado por divisas acumuladas da ordem de US$ 200 bilhões e de um afluxo muito importante de capital estrangeiro, acentuado pela obtenção do grau de investimento. No entanto, a médio prazo esse problema poderá se avolumar e ganhar dimensão, de modo a se constituir, uma vez mais, em constrangimento para o crescimento econômico do país. Portanto, uma mudança na política fiscal do governo se torna, cada vez mais, um elemento essencial para consolidar o crescimento sustentado, que se constitui na meta de todos quantos esperam dias melhores. 
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