Brasil novamente colônia

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Jornal A Tarde, sexta-feira, 05/02/1993
Assunto: POLÍTICA
BRASIL, NOVAMENTE COLÔNIA
Pelo voto, felizmente insuficiente, daqueles 54 deputados federais, já estaríamos trabalhando
para restaurar a escravatura e para voltar a ser colônia de Portugal. O projeto fantasma não
passou de uma pilhéria da Folha de S. Paulo, para verificar como tomam posição nossos
representantes. Ficou um flagrante da leviandade de procedimento daqueles que sustentamos
no Parlamento com elevadíssimos subsídios e supondo estarem ali a serviço do País. Valeria a
pena divulgar os nomes desses “patriotas”, para que o eleitorado os conhecesse... Escapamos
desse ridículo projeto assinado sem ler. Inacreditável e vergonhoso. Nem por isso estamos
livres de nos oferecer para colonos doutras potências. E já não são apenas meia-dúzia de
insensatos deputados, porém muitos mais brasileiros. Como é que nos oferecemos para
súditos de outras metrópoles? Nada menos do que renunciando ao belo e expressivo idioma
que falamos desde 1500. Por todo o Brasil verifica-se um doentio desprezo pelo português
substituído pelo inglês. Um australiano ou irlandês que chegue ao Brasil pensará que chegou a
outro país do império britânico, tantos nomes de prédios, de casas comerciais, de quanta coisa
mais é agora center, flat, service, trade, show, tower e quanto tem o plural imitando os genitivos
britânicos com uma apóstrofe seguida do s. Muito ypsilon. A ordem inversa, alheia a nossa
linguagem, também se repete levianamente. Vamos já esquecendo denominações tradicionais,
mal trocando-as por vocábulos ânglicos na economia, no vocabulário dos bancos, de toda
tecnologia, como se o português não fosse capaz de exprimir o que é moderno, técnico,
avançado, tudo favorecido pela ignorância do vernáculo, da gramática, dos dicionários, da
leitura. Criam-se, além disso, dificuldades de leitura e de pronúncia para nossa população tão
pouco e mal escolarizada. A língua é o instrumento essencial da cultura e da comunicação que
caracteriza cada povo. Se, ao mesmo tempo, pagamos e recebemos de preferência em
dólares, pouco nos resta para perdermos a nacionalidade. Pior é que isso não nos acontece
em conseqüência da ocupação do País pelos marines, mas porque desprezamos o que é
nosso em favor de algo estranho... e nos fazemos culpados de nosso próprio entreguismo. Não
precisamos recusar a boa amizade dos yankees ou dos britânicos, ao contrário: lucraríamos
em absorver muito do que eles têm de valioso, mas ciosos de ser integralmente brasileiros,
independentes, soberanos, não mais colonos, seja de quem quer que seja.
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