A Luta Pela Alma – Elder Melvin J. Ballard.

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A LUTA PELA ALMA
Elder Melvin J. Ballard
Proferido no Tarbernáculo da Cidade do Lago Salgado, em 5
de Maio de 1928.
Três semanas antes desta tarde, durante a sessão geral da
conferência, tive o privilégio de chamar a atenção para alguns
pontos de interesse dos santos dos últimos dias e do mundo,
baseado no inspirado profeta da América, Néfi, que seiscentos
anos antes do nascimento de Cristo deixou uma mensagem para
esta geração. Desejo continuar, com a vossa permissão, no espírito
dessas instruções e para tanto lerei alguns parágrafos de 2 Néfi 28:
“E muitos dirão: Comei, bebei e diverti-vos, porque amanhã
morreremos; e tudo nos irá bem”.
“E muitos também dirão: Comei, bebei e diverti-vos; não
obstante, temei a Deus - ele justificará a prática de pequenos
pecados; sim, menti um pouco, aproveitai-vos das palavras de
alguns, abri uma cova ao vosso vizinho; não haverá mal nisso.
Fazei todas estas coisas porque amanhã morreremos; e, se
acontecer estarmos culpados, Deus nos castigará com uns poucos
açoites e, ao fim, seremos salvos no reino de Deus”. (2 Néfi 28:78).
Leio começando no versículo 19: “Porque o reino do diabo
deve ser sacudido, e os que a ele pertencem devem ser
aconselhados a se arrependerem, ou ele os agarrará com suas
eternas correntes, e serão movidos à cólera e perecerão”.
“Pois que, nesse dia, ele assolará os corações dos filhos
dos homens e os excitará a se encolerizarem contra o que é bom”.
“E a outros pacificará, e os adormecerá em segurança
carnal, de modo que dirão: Tudo vai bem em Sião: sim, Sião
prospera, tudo vai bem. Assim o diabo engana suas almas e os
conduz cuidadosamente ao inferno”.
“E a outros ele lisonjeia, dizendo que não há inferno; e dizlhes: Eu não sou o diabo; ele não existe; e isso ele lhes sussurra
aos ouvidos, até os agarrar com suas terríveis correntes, das quais
não há libertação”.(2 Néfi 28:19-22).
Há dois anos, eu estava trabalhando com os élderes Wells
e Pratt na América do Sul, abrindo uma missão para a Igreja.
Durante esse período tive oportunidade de refletir e estudar. Diz-se
que “a distância traz encantamento à vista”e, acredito, que às
vezes também um entendimento mais claro. Eu me encontrava a
dezoito mil quilômetros dos escritórios centrais da Igreja, dist6ancia
suficientes para ver as coisas como elas realmente são. Havia-me
afastado do mundo que conhecia e entrado num mundo novo e
diferente. A língua era diferente; os costumes do povo, os céus, a
terra – tudo parecia estranho e diferente – de forma que eu era
como alguém que deixou a terra e tinha muitos dos pensamentos e
reflexões que com certeza terei quando esse momento realmente
chegar para mim. Tive oportunidade de ler muito, não apenas
estudando o idioma espanhol, mas também li tudo que pude obter
em minha própria língua, inclusive a Bíblia, o Livro de Mórmon,
Doutrina e Convênios e os seis volumes da história da nossa Igreja.
Enquanto meditava a respeito do progresso da Igreja, da sua
posição atual e do futuro que a espera, vieram-me distintamente
algumas impressões a respeito de um período cheio de perigos
para muitos e, sentindo um forte desejo pelo bem-estar dos
membros da Igreja e também por todos os meus semelhantes,
prometi ao Senhor que, se me desse sabedoria e força, eu
levantaria a voz de advertência aos filhos dos homens com relação
ao perigo que os ameaçava.
Vejo as evidências de que esse período de perigo se
aproxima. Deveria vir num tempo de paz e prosperidade – a
propósito, o mais perigoso período que qualquer povo pode
atravessar. Muitos homens permanecem firmes e fiéis a seus
princípios nos momentos de dificuldade, mas quando chega sua
hora de independência, quando vem à prosperidade, como é fácil
esquecer os padrões elevados e sentir o poder que a prosperidade
e o sucesso trazem, atender aos nossos desejos e apetites. Assim
acontece com as nações. Tenho sentido profundamente que o
mundo todo se está aproximando de um período de autoindulgência, em que surgirá uma nova ordem das coisas, e vir
muito claramente que a própria Igreja seria afetada por esse novo
período pelo qual deveríamos passar. Posso, no entanto ver
claramente que não é, de maneira alguma, com as forças dos
homens que devemos contar, mas que há poderes influenciando os
corações humanos, levando-os à solução desses problemas que
surgem diante de nós.
Quando os primeiros filhos fiéis do Pai estavam prestes a
vir para a vida terrena, sem dúvida foram advertidos e
admoestados, pois estávamos para ter duas novas experiências.
Primeiro, entrar na posse de um corpo mortal. Sem nunca ter tido
um corpo mortal, era totalmente estranho. Fomos exortados a que
deveríamos tomar posse desse corpo mortal e torná-lo nosso
servo, e que deveríamos dominá-lo, honrá-lo, mas ainda assim
controlá-lo.
(Segundo), estaríamos em presença do inimigo, que agora
teria maioria. Se nossos olhos fossem abertos apenas para ver os
poderes que estão a nossa volta, procurando influenciar-nos, não
teríamos a coragem de caminhar sozinhos e sem ajuda. Esses
poderes estão a nossa volta, usando sua influência para a
realização de certos fins bem definidos, para conquistar o
ambicioso lugar para seu chefe, o filho decaído de Deus. Quando
ele caiu, os céus choraram por ele, e ele tornou-se Lúcifer, o
demônio.
Seu propósito transparece claramente em seus próprios
atos Tomemos, por exemplo, a tentação do Mestre. Embora
ninguém mais soubesse para onde ele havia ido, após o batismo,
esse irmão invejoso e cobiçoso sabia e o encontrou no momento
de sua fraqueza física, e o tentou. A grande questão, no entanto
envolvida nessa tentação, não era tanto tornar as pedras em pães,
nem jogar-se do pináculo do templo – isso era apenas um prelúdio
para a grande questão em jogo. Lá passaram pela mente de Jesus
Cristo, como num panorama, os reinos do mundo, e o tentador lhos
ofereceu. Ele sabia que era em parte para ganhar o direito de
governá-los que Jesus Cristo viera ao mundo, e que ele havia
proposto morrer, dar a vida para obter o direito de ser o Rei dos
reis e o Senhor dos senhores.
Mas o tentador ofereceu a Jesus todas essas honras e
privilégios de maneira fácil, apenas prostrar-se e adorar o maligno.
E, disse-lhe: “Tudo isto te darei. Não há necessidade de morrer no
Calvário; apenas adora-me. Eles são meus e depois serão teus “.
Se houve alguma vez um momento em meio à tentação em que
Jesus não sabia que lhe estava preparando armadilhas, agora
todas as dúvidas se dissiparam, pois ele disse: ”Vai-te, Satanás,
porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele
servirás”.(Mateus 4:10) E Satanás o deixou.
É verdade que aquele que ofereceu os reinos deste mundo
os estava governando, pelo menos temporariamente, mas seu
título não era válido. Tivesse Jesus Cristo aceitado esse título, teria
sido enganado e por fim descobriria que o título de nada valia.
Assim, para ganhar o legítimo direito e título para governar os
reinos deste mundo, o Mestre deu a vida. Mas a questão não
estava encerrada, porque ainda é propósito daquele que foi
rejeitado e que dói derrotado no início e cujos planos foram
malogrados pelo Senhor Jesus Cristo enquanto estava em seu
ministério, obter o direito de governar os reinos deste mundo, e isso
é o que ele quer fazer aqui.
Assim, na primavera de 1820, havendo chegado a hora,
conhecida pelos antigos profetas, em que o anjo viria voando pelo
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meio do céu, trazendo o evangelho eterno para proclamar aos que
habitam na terra, quando se aproximava o momento em que Elias
deveria voltar a terra antes do grande e terrível dia do Senhor,
quando a mensagem profética contida no sonho de
Nabucodonosor, interpretado por Daniel, seria gloriosamente
consumada com o estabelecimento do reino que nunca mais seria
destruído, nem entregue a outro povo – quando o momento
chegou, ele não era conhecido só por Deus nos céus, mas também
pelos poderes que governam a terra. Assim, antes de o Senhor
manifestar-se, o demônio estava presente e apoderou-se do jovem
que deveria ser o instrumento para o cumprimento daquelas
promessas, e procurou destruí-lo.
Não era uma destruição imaginária que parecia estar
preste a acontecer, mas um poder real tangível, que se apoderou
dele; pois Satanás esperava restringir a obra de Deus, adiar o dia
que seria sua ruína, através da morte do mensageiro que Deus
enviara ao mundo e que estava preste a ser visitado em conexão
com o início de uma dispensação do evangelho, exatamente a
última – uma obra que rolaria avante até encher toda terra. Era o
começo do fim. Não é de admirar que os poderes do mal
procurassem impedir o seu progresso, seu crescimento e
desenvolvimento.
Deus, porém, também sabia que era chagada a hora. Ele e
seu filho, Jesus Cristo visitaram esse rapaz e iniciaram esta grande
dispensação do evangelho que tem por suprema finalidade a
conquista do mundo para Cristo e seu estabelecimento como
governador da terra, como Rei dos re8is e Senhor dos senhores.
Assim, o processo de conflito sempre existiu na Igreja,
desde o dia das primeiras lutas do Profeta. Lutamos para
prosseguir em nosso caminho sob toda espécie de circunstâncias
adversas. Percebendo que não lhe foi possível destruir tudo com os
meios que empregou para impedir a obra – pela violência da plebe,
assassinatos, perseguições, imposições e prisões, tirando os
direitos dos cidadãos, com muitas desgraças e problemas –
Satanás está querendo empregar novos métodos. Esse é o ponto
que desejo ressaltar, porque vi muito claramente que o inimigo não
está satisfeito, nem abandonou o campo de batalha, mas, com
métodos novos, procura destruir esta obra. Pois quero dizer-vos
que ele é suficientemente vaidoso para pensar, e acreditar
sinceramente que no final será vitorioso e o rei deste mundo.
Os profetas antigos previram o tempo em que essa
questão seria decidida. Alguns deles chamaram o conflito de
Armagedon. Seja qual for o nome, está chagando o tempo em que
a questão referente a quem tem o direito de governar e reinar será
decidida. Todo homem justo, vivo ou morto, terá interesse e
participação nesse conflito, assim como também todo homem
iníquo, vivo ou morto.
Qual será o fim da questão? Quão logo será eu não sei,
mas de uma coisa eu sei: As evidências do futuro conflito estão-se
acelerando e ele virá; e os dias estão sendo empregados na
preparação para ele com tal empenho de ambos os lados que
ficaríamos surpresos se soubéssemos que seremos o centro de
grande interesse no universo, porque nos estamos aproximando de
dias grandes, importantes e críticos na história do mundo.
Forças poderosas estão sendo organizadas de um lado e
do outro para esse conflito que se avizinha e que resolverá a
questão de quem reinará e governará. Nesse meio-tempo – e falo
do demônio como uma personalidade, uma realidade – ainda
existem os que negam sua existência, exatamente como Néfi disse
que o demônio inspiraria as pessoas a dizerem: “Não existe
nenhum demônio”; e lê lhes sussurraria: “Eu não sou o diabo”. No
que se refere aos santos dos últimos dias, nunca achamos que o
diabo fosse uma monstruosidade, que tivesse chifres e rabo e
cascos fendidos. Não senhor, ele tem aparência de um cavalheiro e
se o vísseis, voltar-vos-íeis para olhá-lo. Ele é uma realidade. Estou
tão certo de que tem uma personalidade, estou tão certo de que
vive, como estou certo de que deus vive. Embora procure enganar
os homens e persuadi-los a crer que não existe, de fato ele existe,
e nunca esteve tão ativo como hoje. Enquanto isso, qual é o seu
trabalho hoje? Declaro-vos que ele tem seus postos de
recrutamento em todas as partes do mundo e que eles estão
armados. Ele tem soldados, e são muitos. Ele anda aliciando
homens e mulheres em suas fileiras, preparando-se para o grande
conflito na vã esperança de que quando a luta ocorrer, ele terá a
maioria e por isso vencerá.
Não estou preparado para dizer quem estará do lado dele
nem quantos serão, mas tenho tanta certeza como tenho de estar
vivo, por inspiração do Todo-Poderoso, que o fim do conflito é tão
certo como o resultado no início. Que ele caiu no início e foi banido
dos céus é um fato; e também é verdade que, não importa quantos
tomem seu partido, nem quão cruel seja o conflito, ele será
derrotado e banido da terra e expulso de seu próprio domínio.
Cristo virá reclamar o que é seu para governar e reinar.
Até lá, contudo, não é o resultado do conflito que me
preocupa, mas antes se estarei do lado dele ou do Senhor. Sem
dúvida é bom momento para todo homem e mulher examinar-se a
si mesmo e descobrir se está do lado do Senhor ou não. Gostaria
de dizer-vos, irmãos e irmãs, que todas as tentativas do inimigo de
nossas almas para nos capturar serão feitas através da carne,
porque ela é feita com os elementos da terra em seu estado
perfeito, e ele tem poder sobre os elementos da terra. Suas
investidas serão através da luxúria, dos apetites, das ambições da
carne. Toda a ajuda do Senhor em nosso socorro nessa luta virá
através do espírito que habita nosso corpo mortal. Assim, essas
duas forças poderosas operam em nós através desses dois canais.
Como a batalha se desenrola em vós? Como se está
desenrolando nos homens e mulheres do mundo? Esta é uma
pergunta importante. O maior conflito que qualquer homem ou
mulher terá de enfrentar (não importa quão numerosos sejam seus
inimigos), será a batalha que trava com o próprio eu.
Gostaria de falar do espírito e corpo como “eu” e “ele”. “Eu”
é o indivíduo que habita nesse corpo, que vivia antes de eu ter este
corpo, e que viverá quando eu o deixar. “Ele” é a casa em que
moro, o tabernáculo de carne; e o grande conflito é entre “eu” e
“ele”.
Eu costumava dizer aos missionários, com quem convivi
por muitos anos, que é uma coisa excelente nos isolarmos uma vez
por semana para nos examinarmos, descobrirmos como está indo
a batalha, quem está ganhando – “eu” ou “ele”, fazermos um
julgamento de nós mesmos, corrigirmos nossos erros e fraquezas,
pormos em ordem nossa própria casa. Vós não tendes que
estabelecer um dia para isso. O Senhor o fez, para todos os
membros da Igreja. Esse dia é o dia do Senhor. É na reunião
sacramental, quando vedes os emblemas do corpo ferido e do
sangue derramado sendo preparados – esse é o momento para
todos os homens e mulheres fazerem uma conferência secreta
dentro de si mesmos e descobrir se caíram em pecado e
transgressão ou não, se cederam ao tentador se há coisas das
quais precisam arrepender-se para purificarem sua alma, e fazerem
as pazes com os irmãos e irmãs e com o Senhor para que não
estendamos a mão e comamos e bebamos indignamente desses
emblemas sagrados.
Um outro período que o Senhor designou para os membros
desta Igreja verificarem quem está vencendo a luta, “eu” ou “ele”, é
o primeiro domingo, quando devemos abster-nos de comer e beber
por duas refeições. Quando esse período se aproxima, “ele”, a
casa em que vivo, queixa-se de que não será possível abster-se de
alimento: “Minha cabeça doerá; meus joelhos tremerão; sentirei
vertigens; não posso jejuar por tanto tempo; preciso comer um
pouco”.Estais cedendo a esses sentimentos? Se estiverdes, posso
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dizer-vos quem está ganhando a batalha. É uma coisa esplêndida
que ““eu”e “ele” realmente se enfrentem, pelo menos uma vez por
mês, e que “eu”, o corpo em que vivo, meu servo: “Você pode
passar sem essas duas refeições; não vai prejudica-lo. Na
realidade, vai beneficia-lo. E embora minha cabeça possa doer e
meu corpo sentir vertigens, não vou morrer. Sou mais forte que
você, e uma vez por mês vou mostrar-lhe que eu sou seu Senhor.
“Que força isto vos dará para resistir no dia de amanhã, quando
surgir algum outro desejo! Talvez seja o desejo de bebida alcoólica
de tabaco ou qualquer outro apetite da carne – e eu encontrarei
forças para dizer ao corpo em que vivo: “Você não pode profanar
este tabernáculo: eu o quero limpo não deixarei que este corpo seja
profanado; ele é meu servo e tem que ser mantido puro”.”“.
Vós, porém, nunca podeis dizer como anda a batalha se
não estiverdes cuidando muito bem do espírito. Sabemos que se
não nos alimentamos e exercitamos devidamente, fisicamente
falando, não haverá crescimento. Se desejas ter um espírito forte
capaz de dominar o corpo deveis cuidar que vosso espírito receba
alimento espiritual e faça exercícios espirituais.
Onde obtemos o alimento espiritual? Acabei de mencionar
que uma vez por semana os membros da Igreja são convidados a
participar da mesa do sacramento, onde comem e bebem os
emblemas do corpo ferido e do sangue derramado pelo Senhor
Jesus Cristo, abençoado para o espírito deles – não para seu corpo
físico, pois aquele que come e bebe dignamente, come e bebe vida
espiritual. Também devemos buscar o Senhor diariamente em
oração, oração secreta e oração familiar.O que acontece então?
Fechamos os olhos e excluímos o mundo físico, abrimos as janelas
de nossa alma invocando sobre nós bênçãos espirituais, poderes
espirituais. E essa força flui para nossa vida espiritual. Dessa
forma, essas e outras oportunidades de alimento espiritual são nos
oferecidas e o exercício espiritual vem através do serviço em favor
de nossos semelhantes.
O homem ou mulher que não está recebendo alimento
espiritual nem fazendo exercícios espirituais em pouco tempo
tornar-se-á espiritualmente fraco e a carne será o senhor. Por isso,
todo aquele que se utiliza tanto de alimento como de exercícios
espirituais, terá domínio sobre seu corpo e mantê-lo-á sujeito à
vontade de Deus.
Eu disse que o ataque do maligno para nos capturar se
dará através do corpo. Essa é a linha de contato. Há um provérbio
que diz que nenhuma corrente é mais forte que seu elo mais fraco.
Ela se partirá no ponto fraco. Em geral, nosso elo mais fraco está
na carne. O diabo conhece o elo fraco, e quando ele se propõe a
capturar uma alma, acata-a no seu ponto fraco. Pode haver força
em algum outro lugar, mas ele nunca ataca onde somos fortes. Ele
ataca onde somos fracos.
Certa ocasião, percorrendo a grande floresta do Oregon, vi
uma árvore gigantesca caída sem razão aparente, enquanto todas
as suas companheiras continuavam de pé. Observando mais de
perto, percebi que o problema se vinha desenvolvendo
imperceptível debaixo da casca. Um inseto fizera um furo não
maior que um alfinete, mas que seccionara o tronco inteiro do
gigante, criando um ponto fraco. E bastou uma pequena pressão
para o gigante cair expondo sua fraqueza. Fui inspirado a dizer
quanto isto se assemelha à vida humana. Há muitos homens e
mulheres que parecem absolutamente honestos, que exteriormente
parecem fortes, mas que estão tolerando ser a ruína, deixando uma
porta aberta para o ataque do inimigo.Quando Goethe escreveu
Fausto,creio que foi inspirado a dizer algumas verdades a respeito
do método de ataque do inimigo de nossas almas. Lembrai-vos de
que o homem Fausto, já com bastante idade, desejava avidamente
recuperar a juventude, e orou pedindo essa transformação. Mas o
que ele pedia era ilícito e o Senhor não lhe deu qualquer resposta.
Mas ele persistiu em suas orações, e quando persistimos, sem o
desejo de dizer: “Não seja como eu quero, mas como tu queres,” é
possível que o demônio nos responda, como fez com Fausto. E
então o diabo disse: ‘Farei isto por você. Fá-lo-ei jovem, e quando
você voltar a ser jovem, vai querer uma moça’. E a visão da bela
Margarida foi-lhe mostrada. ‘Mas se eu assim fizer isso por você,
quero que assine um contrato estabelecendo que, quando acabar
com esse corpo, seu espírito me pertencerá’.
Não são corpos, mas espíritos imortais que o demônio
quer. E ele deseja capturá-los através do corpo, pois o corpo pode
escravizar o espírito, mas o espírito pode fazer o corpo seu servo e
ser seu mestre.
E assim o contrato foi feito. Então, transformado em jovem,
Fausto se lembra da promessa da virgem, e ambos vão procurá-la.
Encontram-na entrando na igreja. Fausto corre para tomá-la, mas o
demônio o detêm e diz: ‘Não tão depressa, não dessa forma’. Eis
uma verdade. O demônio não consegue capturar nenhum homem
ou mulher dessa forma. Ele não pode arrebatá-lo e fazê-lo seu
escravo contra sua vontade. A todo homem e mulher que vive é
dado o poder de dizer como Cristo disse: “Vai-te satanás”, e ele
afastar-se-á de vós tão rapidamente quanto se afastou do Mestre.
Ele não pode capturar uma única alma sem que ela esteja disposta
a ceder. Ele é limitado. Tem que cativar homens e mulheres.
Assim foi com Margarida. Ele precisa cativá-la. Eles a
estudam e descobrem sua fraqueza. Ela é uma jovem casta,
virtuosa, maravilhosa, e no entanto tem uma fraqueza. É a vaidade.
Assim, eles aproveitam esse ponto fraco. Jóias são colocadas no
jardim, e com elas o espelho. Ela descobre essas coisas. A vaidade
a incita a colocar as jóias e sugere que se olhe no espelho para ver
como é bonita. No momento psicológico, o tentador aparece e
oferece as jóias como um presente de seu futuro amado. Ela é
levada a aceitá-las.
Os amantes passam a tarde juntos, e ouve-se a voz da
mãe chamando margarida para que deixe o jardim e entre, mas ela
não quer deixar o amante que acabara de encontrar. Novamente
no momento psicológico adequado, aparece o tentador, o demônio,
colocando uma pílula nas mãos de Fausto garantindo que, se for
colocada no que a mãe beber à noite, ela logo adormecerá e os
amantes não serão perturbados. Ouvindo os tristes casos de mais
de uma garota que escapou da influência da mãe e só colheu
tristeza e dor, pergunto-me por que a advert6encia não é suficiente
para dar a cada garota a certeza de que o lugar mais seguro no
momento para ela é junto de sua mãe.
A mãe toma a porção e vai dormir. Os amantes passam a
noite juntos. A manhã traz à cena o irmão Valentino, que encontra
a mãe morta – pois aquele era o sono da morte – e um estranho na
casa com sua irmã Margarida. Segue-se discussão, trava-se um
duelo no qual Valentino, o irmão, é morto. Agora Margarida se dá
conta de sua situação e as conseqüências de seus atos. Ela matou
a mãe, provocou a morte do irmão, e – pior que a própria morte –
perdeu a virtude. Ela é vista em seguida chorando e arrancando os
cabelos, e o demônio entra em cena rindo. Capturou outra alma.
Tão forte como era, tinha uma fraqueza, e através desta o inimigo a
venceu.
É esse processo pelo qual as secretas fraquezas e vícios
deixam uma porta aberta para que o inimigo de vossa alma entre; e
ele pode entrar e tomar posse de vós, e sereis seus escravos.
Depois que tiver entrado, ele embala suas vítimas num
senso de segurança, sussurrando-lhes que podem mentir um
pouco, roubar um pouco, cometer algum pecadinho e que serão
castigados com uns poucos açoites e depois tudo irá bem.
É um dos métodos do demônio manter a porta aberta para
que possa entrar. Declaro-vos que esse é o processo pelo qual ele
está procurando capturar almas hoje. Embora não haja nenhum
inimigo mortal ou movimento organizado contra esta Igreja, o
inimigo de nossas almas está alerta e atento. Ele tenta corromper
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homens e mulheres com novos métodos. Não há um só homem ou
mulher vivente que não será posto à prova, cuja posição não será
atacada, e se Satanás puder encontrar uma entrada, tentará
capturar aquela alma.
É o tempo das provações individuais que vejo aproximarse, e por esse motivo é bom conhecer as forças e os poderes que
se organizam contra nós, para que possamos cerrar fileiras e nos
fortificar. Estando avisados, acautelemo-nos e armemo-nos e
declaro-vos que todos os princípios do evangelho que a Igreja
recebeu se destinam especificamente a nos fortalecer e armar
contra os assaltos de inimigos de nossa alma. O homem ou a
mulher que consegue guardar a Palavra de Sabedoria, por
exemplo, também terá forças para manter-se limpo, incólume aos
pecados desta geração.
O método preferido do inimigo de nossas almas, usado em
tempos passados e que será usado hoje é capturar almas,
conduzindo-as gentilmente, passo a passo, em direção ao maior e
mais destrutivo pecado contra a vida espiritual – a imoralidade, o
supremo fim da auto-indulgência. Nenhuma nação sobreviveu nem
sobreviverá à era da imoralidade. O tentador está hoje induzindo os
homens a serem cegos ao pecado, e até mesmo ocupantes de
altos postos são levados a rejeitar a força e o poder e o vigor dos
dez Mandamentos, e a encarar a associação ilícita e imprópria dos
sexos como algo não pecaminoso. Declaro-vos que é um pecado
mortal contra a espiritualidade, e é um pecado mortal contra a vida
dos homens e nações. Alguém poderá dizer: “Bem, posso ter meus
pecados e fraquezas, mas dentro em pouco vou superá-los,
quando tiver uma certa idade”. Comerei e beberei hoje e adiarei até
amanhã, mas sempre posso arrepender-me antes de morrer.
Gostaria de dizer-vos que não há outra época, e jamais
haverá, em que homens e mulheres possam conquistar, dominar e
vencer a carne e o diabo, como agora na mortalidade.Dir-vos-ei
também que a melhor época é na juventude. Falamos do poder e
influência dos hábitos, e freqüentemente perdoamos os pecadores
por serem vítimas dos maus hábitos.
Gostaria de dizer-vos que os bons hábitos são tão eficazes
quanto os maus para controlar as ações de homens e mulheres.
Ah, se os homens e mulheres pudessem aprender na
juventude a servir ao Senhor e a estabelecer bons hábitos,
pensamentos virtuosos, ações justas, honestidade e integridade!
Se o fizessem, quando atingissem o ápice de sua força e poder, em
lugar de usar a maior parte de força e poder para corrigir os erros
da juventude, em lugar de lutar para vencer aquilo que nunca
deveria ter entrado em sua vida, usariam essa força para ir em
frente e “construir mansões mais majestosas, ó minha alma”! Os
homens e mulheres não cometem grandes erros num único
instante. Isso acontece gradualmente, passo a passo. É uma
bênção que não seja com rapidez que os homens conseguem
afastar-se da trilha da virtude para se tornarem imorais.
(Nascido em Logan, Utah, em 1873, o Élder Ballard foi ordenado
apóstolo a 7 de janeiro de 1919. Faleceu em 1939).
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