emCENAsom

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“emCENAsom”
Antônio Marcos Almeida; Eduardo Almeida; Irandi Fernando Daroz1; Amanda Marar;
Rosângela Corrêa Oliveira; Isabel Orefice2; Camila Pergentino; Letícia Ravanini; Lucas
Sacomã; Gislaine Santos; Tainara Hubach; Julio Zaicoski.
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Coordenador do Subprojeto) – USC / [email protected]
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Coordenadora da EE “Prof. José Viranda”
INTRODUÇÃO
“Todo conhecimento regido pela lógica do descobrimento é,
sobretudo e antes de tudo, uma deriva, uma viagem, um
deslocamento, um extravio...”
(LARROSA, 1998, p.57)
A Arte é fundamental para a constituição do sujeito crítico, autônomo e atuante na
sociedade. Especialmente em ambientes formais de ensino, caberia à esta área do
conhecimento a função de abrir possibilidades de lazer ativo, pelo exercício das
subjetividades expressas nas formas lúdicas e instintivas e nos potenciais de fruição.
Csikszentmihalyi (1998:29) comenta que o termo grego que designa o ócio deriva de
scholea, que constitui a raiz da palavra "escola", considerando que o estudo é a melhor forma
de utilização do tempo livre, no reconhecimento da importância das experiências subjetivas,
intuitivas e empíricas, das quais, na atualidade, a escola se destituiu, não fosse a disciplina de
Arte. Reportando-nos à realidade escolar, verificamos um período de crise, no entanto,
verificamos, também, vestígios de um tempo preocupado em recuperar aspectos de
humanidade. Há uma evidente reivindicação da juventude em prol de uma suposta autonomia,
que concerne, antes de tudo, a um novo estilo de lazer e suas implicações em todos os
domínios da vida social e pessoal, adequado aos processos de fruição, por um modo
característico de rearranjar o tempo e o espaço e para melhoria dos referenciais de qualidade
de vida. O pensamento deste autor é corroborado por Maffesoli (1998:196) em “Elogio da
razão sensível”: “Haveremos de encontrar a ‘fruição pensante’. Essa função cognitiva ligada
ao prazer estético é superior à abstração do saber conceitual, que é coisa recente, e cuja
modernidade constituiu o fundamento de todo o conhecimento”.
Em nosso entendimento, o reconhecimento da função da prática artística nas escolas,
como experiência sensível, pode elevar os níveis de participação, disciplina e aquisição de
conhecimento por meio do exercício da sensibilidade e aprofundamento das relações
humanas, firmando a importância da afetividade no processo de ensino-aprendizagem.
O teatro, como síntese das linguagens artísticas, contribui neste âmbito para o
desenvolvimento da expressão e da comunicação favorecendo a produção cultural. No espaço
escolar, o teatro desenvolve aspectos da cognição, motricidade e afetividade; ao mesmo
tempo promove interação com os diversos eixos do conhecimento de modo interdisciplinar.
Vale destacar ainda que a prática teatral em ambiente escolar tem seu potencial nos processos
de interação, tornando os alunos capazes de qualificar suas relações com o outro e com a
sociedade em que vivem.
Universidade do Sagrado Coração
Rua Irmã Arminda, 10-50, Jardim Brasil – CEP: 17011-060 – Bauru-SP – Telefone: +55(14) 2107-7000
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O Projeto “emCENAsom” partiu dessa consciência da importância da Arte para a
sociedade elegendo o teatro a linguagem potencial para o despertar artístico. Partimos da
averiguação dos conteúdos textuais contidos no repertório musical quotidiano dos jovens,
com vistas expandir essas referências primeiras na composição de exercícios e roteiros
cênicos. A peça “Mudanças no galinheiro mudam as coisas por inteiro” (2016) vem coroar
esse processo construtivo. As canções de Caetano Veloso serviram de base como proposta de
sonoplastia para o roteiro adaptado da obra de mesmo nome de Sylvia Orthof1. Os trabalhos
foram realizados na EE “Prof. José Viranda” (Bauru-SP) desde seu início, com participação
de 10 bolsistas atuantes e 30 alunos beneficiados. A amostragem deste trabalho deu-se
mediante apresentações públicas.
OBJETIVOS
a) Gerais:
! Refletir sobre a relação entre a teoria e prática na formação docente, viabilizando um
discurso contextualizado e eficaz entre a Universidade e a Escola.
! Discutir um modelo ensino público de qualidade onde a Arte e a Cultura sejam
consideradas áreas importantes do conhecimento;
b) Específicos:
! Programar ações didáticas que aliem conhecimento, auto-reflexão e prazer componentes fundamentais na construção do sujeito autônomo.
! Estimular a prática artística mediante a prática teatral na composição de exercícios
cênicos (jogos teatrais) e encenação de roteiros adaptados (criação coletiva)
viabilizando apresentações públicas dos resultados.
METODOLOGIA
O trabalho iniciou por uma bateria de exercícios corporais e jogos teatrais de modo a
trabalhar a expressão vocal e corporal dos participantes e a criação coletiva de cenas curtas
como introdução ao trabalho cênico.
A escolha do texto “Mudanças no galinheiro mudam as coisas por inteiro” de Sylvia
Orthof deu margem à participação dos bolsistas e dos alunos na criação de roteiro adaptado
para a encenação teatral que sofreu adaptações e ajustes no decorrer do processo. Uma
pequena sinopse pode ilustrar o texto de Orthof: “Um dia o Sol ficou doente e não pode sair
para trabalhar, então foi pedir ajuda à sua amiga Lua. Estava armada a confusão. Sem a
chegada do Sol, o dia estava escuro e o galo não cantou. A
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SYLVIA ORTHOF. Dramaturga, atriz, pesquisadora e escritora, nascida no Rio de Janeiro, em 1932. Estudou
teatro em Paris. De volta ao Brasil, atuou no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) e em peças para a televisão,
escreveu para teatro de bonecos, coordenou o Teatro do Sesi. Fundou a Casa de Ensaios Sylvia Orthof, em 1975,
que produzia apenas espetáculos infantis. Tem interesse especial pela literatura infantil. Em 1975, foi convidada
a escrever um conto para a revista Recreio — foi o primeiro passo para que a literatura infantil nacional ganhasse
uma de suas maiores autoras. Seu primeiro livro foi lançado em 1981: Mudanças no galinheiro mudam as coisas
por inteiro. É uma das principais autoras da consagrada coleção Lagarta Pintada, da editora Ática, da qual
fazem parte os premiados títulos A vaca mimosa e a mosca Zenilda (que recebeu o Prêmio Jabuti de Melhor
Produção Editorial), Maria vai com as outras e Fada Cisco Quase Nada. Sylvia foi dona de um texto ágil,
repleto de criatividade e de um riso contagiante. Faleceu em 1997, deixando mais de cem livros publicados aos
pequenos leitores. Disponível em: < http://culturaniteroi.com.br/blog/?id=1601> Universidade do Sagrado Coração
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partir daí as transformações eram inevitáveis, a exemplo da galinha que tomou fôlego e
coragem e se fez cantar de galo alterando a rotina do galinheiro”.
Para facilitar os trabalhos de concepção da obra, optamos em dividir os alunos
envolvidos em dois grupos: “Grupo Céu” e “Grupo Terra”, conforme descrição feita pela
autora. Os ensaios foram realizados, respectivamente, às terças e quintas-feiras, das 14 às 17h.
Foram realizados trabalhos complementares de voz cantada como preparo para a
finalização da peça com a música “Canto do povo de um lugar” (Caetano Veloso) e oficinas
de plástica e confecção dos figurinos utilizando em sua maioria materiais recicláveis: jornal,
papelão, garrafa pet. Os bolsistas e os alunos participantes de forma integrada responderam
pela confecção dos figurinos e adereços, sonoplastia, iluminação e direção teatral.
Foram realizadas três apresentações públicas como mostra dos trabalhos realizados, a
primeira foi realizada por ocasião do FETUSC (Festival Estudantil de Teatro da Universidade
do Sagrado Coração) – evento de referência para a cidade de Bauru e região, em que o grupo
recebeu elogios consideráveis da banca, a segunda foi realizada na EE “Prof José Viranda”
para a comunidade local e a terceira por ocasião do Seminário Institucional do PIBID
realizado na Universidade do Sagrado Coração.
Figura 1 - Apresentação pública da peça “Mudanças no galinheiro mudam as coisas por
inteiro” no FETUSC
Foto: IFD (2016).
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Figura 2 - Apresentação pública da peça “Mudanças no galinheiro mudam as coisas por
inteiro” no FETUSC
Foto: IFD (Out.2016)
RESULTADOS
Efetivamente, pelo disposto no início deste texto e conforme o descrito nos objetivos
do “emCENAsom”, acreditamos ter alcançado os resultados desejados. Curioso e
comprobatório foi o depoimento de Isabel Orefice. Diretora desta unidade escolar, ela afirma
que os docentes observaram mudanças significativas no comportamento dos alunos
participantes em relação à disciplina, maior rendimento escolar e despertar de lideranças
naturais. Esse testemunho vêm reforçar a importância da prática de atividades de natureza
artística, notadamente o teatro, para a formação da pessoa humana.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Arte é imprescindível ao Ser Humano e potencialmente capaz de contribuir com
algum tipo de “desnorte” que dinamiza as relações sociais indicando novas articulações do
pensamento. Neste sentido a Arte se aproxima da Ciência permitindo a manifestação de outras
dualidades: razão e emoção; sensível e inteligível; real e imaginário.
A prática teatral, por sua vez, se faz por processo artesanal de grande potencial criativo
que viabiliza a experiência estética ressaltando aspectos de diversidade, de coexistência e
alteridade.
Retomando o início deste texto, entendemos que nossa intervenção tenha gerado um
tipo de conhecimento pautado pelo descobrimento, pois a prática teatral trouxe o desvelar de
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um novo mundo, onde a imaginação e a criatividade foram preponderantes. Larrosa nos
coloca a aquisição do conhecimento como deriva, viagem, deslocamento e extravio, ou seja,
o autor enfatiza que o caminho de mão única para o conhecimento se dá pela experiência
sensível e pelos processos de fruição.
AGRADECIMENTO ESPECIAL
À CAPES por viabilizar e incentivar a iniciação à docência, como esperança de que
neste país muito se resume ao acesso à uma Educação de qualidade.
À Universidade do Sagrado Coração e à Coordenação Geral do PIBID, Profa. Dra.
Andréia Melanda Chirinéa.
À EE “Prof. José Viranda” e sua diretora Profa. Isabel Orefice pela disponibilidade e
incentivo ao Projeto “emCENAsom” executado pelos alunos-bolsistas do Curso de Artes
Cênicas USC. “Somos eternamente gratos, pois compartilhamos verdadeiramente a paixão de
SER PROFESSOR!”
REFERÊNCIAS
CSIKSZENTMIHALYI, Mihaly. Aprender a fluir. Tradução de Alfonso Colodrón.
Barcelona: Kairós, 1998.
DAROZ, Irandi Fernando. A prática coral juvenil transitando em ambientes formais e
não formais: perspectivas aplicadas à Educação Musical (Tese de Doutorado). São Paulo:
Instituto de Artes da UNESP, 2014.
LARROSA, Jorge; LARA, Nuria Pérez de (Org.). Imagens do outro. Trad. Celso Márcio
Teixeira. Petrópolis-RJ: Vozes, 1998.
MAFFESOLI, Michael. Elogio da Razão Sensível. Petrópolis (RJ): Vozes, 1998.
PIBID. Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência. Fundação Capes. Ministério
da Educação. Capes, c2014. Disponível em: <http://capes.gov.br/educacaobasica/capespibid/pibid>. Acesso em: 16 maio, 2016>
SANTOS, Alinne Neyane. O teatro e suas contribuições para educação infantil na escola
pública. Disponível em:
<http://www.infoteca.inf.br/endipe/smarty/templates/arquivos_template/upload_arquivos/acer
vo/docs/3252p.pdf>
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