Questões sobre o pagamento _ANA E CARLA

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Questões Sobre o Pagamento
Segundo a psicanálise o pagamento é um dos atributos
necessários que a modalidade clínica apresenta. Portanto, na relação
transferencial, entre terapeuta e paciente, o valor que é pago diz de um
posicionamento do paciente frente ao seu tratamento.
A partir do que se encontra no histórico da Clínica de
Psicologia da Unijuí, pode se perceber que o intuito da sua formação,
enquanto espaço para atendimentos públicos, foi no sentido de proporcionar à
comunidade uma prestação de serviços psicológicos institucionalizado.
Dentro do referencial teórico oferecido pelo curso de
graduação de Psicologia da universidade, o qual é baseado na psicanálise
atribui-se então, ao pagamento, um ato de simbolização da subjetividade do
sujeito, ou seja, o pagamento é o que é representado pelo “Real” ( no sentido
moeda corrente), sendo esta a forma de simbolizá-lo.
Nos utilizamos das palavras da autora Cristina Herrera,
tomando como referência as obras de Freud a mesma situa “.. o pagamento
como um ato que, enquanto articulador do laço social tem um valor de
responder, de maneira singular por algumas trocas que estabelecem e
constituem o espaço de uma análise”. (Correio da APPOA, Junho de 2000,
p.65)
O valor pode ser pensado como um significante que organiza e
é organizado pelas relações sociais. Este significante pertencente a cadeia
simbólica, que tem o seu registro no inconsciente, vai dizer dos investimentos
que são atribuídos no ato da formação de compromisso.
Segundo, a autora acima citada, “Colocar um valor prévio,
padronizado, a ser pago por todos os pacientes, remete a pergunta, o que
estaria sendo pago? O analista enquanto objeto pareceria nesta caso Ter um
valor, valor estipulado pelo mercado, em cuja conta o que conta tem haver
com sua formação, prestígio, necessidade, etc... (...) Mas o que é pago em uma
análise? A possibilidade de escuta de uma demando do paciente, que coloca
em questão seu sofrimento, sua angústia, supondo saber do analista. A
possibilidade de estar sendo escutado exatamente no lugar onde se constitui e
se maneja a transferência”. ( ibid p.67,68)
O estágio clínico, de certa forma antecipa-nos uma posição
profissional, ou seja, é necessário uma escuta dentro da ética profissional. É a
partir desta posição que nos perguntamos aonde está colocado o lugar do
estagiário e que valor tem esta escuta psicológica? Foi pensando nestas
questões que se resolveu registrar, para pensar que o estagiário faz uma escuta
dentro da ética profissional, então este estágio antecipa-nos frente a posição
profissional. Desta forma, por que não poder se reconhecer pelo valor
monetário, já que é este o significante que simboliza e faz a diferença do valor
na relação transferencial, para que não haja o engano de se fixar o estagiário
na posição de objeto.
A conceitualização da questão do objeto, segundo Freud na
teoria psicanalítica, mostra-se como um objeto perdido no jogo da repetição.
Lacan acrescentou a isto acerca do traço que inscreve a repetição. Contudo
pode se observar que o objeto perdido na repetição se relaciona com a questão
do ato em que ele pode estar em jogo.
Para a psicanálise o objeto é visto a partir de duas questões,
uma a partir da questão do pulsional e outra a partir da questão dos
fundamentos teóricos acerca da questão do objeto. Então, observando a
problemática do objeto em Psicanálise em relação ao objeto “a”, pode-se
perceber que este torna-se ativo e o sujeito efeito. Isto nos diz da importância
do objeto “a”. Conforme a citação:
“Somos portanto
levados a retomar a problemática do
objeto ( em seu aparente desdobramento) a partir das seguintes questões: que
implicação tem a questão do objeto em psicanálise a introdução do objeto “a”?
De que maneira o objeto a pode ser considerado como objeto? (Kaufmann,
1996,p.377)
A partir das questões de âmbito da pulsão ( pulsional ) pode-se
notar o que pulsional percorre as pulsões parciais, ou seja, aquilo que é
específico das zonas corporais que são os quatro objetos ( excreção, olhar,
voz, sucção). Estes objetos são considerados como estilhaços do objeto a. Para
enunciá-lo como um objeto a mais. O aspecto que o constitui portanto, são
estes estilhaços do objeto a na diversidade das pulsões parciais. Mas, segundo
Lacan ele constitui um segundo aspecto. Ele é objeto primeiro que Lacan
definiu como “objeto de que não se tem idéia”. A hipótese da elaboração do
objeto como vazio remete em primeiro lugar aos processos de esvaziamento
do gozo, que se pode situar no mesmo princípio do processo analítico.
O que nos faz rever a posição que o estagiário de clínica ocupa
enquanto objeto é a partir de um aspecto que se acrescenta à complexidade do
objeto “a”, o aspecto de resto. Este aspecto poderia se desprender do jogo dos
estilhaços pulsionais, no entanto, perceber como ele se dinamiza reativando a
questão do resto dos gozos inicialmente perdido. Aqui que se pode perceber a
questão do perdido que está em jogo na repetição. O que diz desta repetição
mostra a questão do pagamento como um sintoma existente na clínica.
Neste contexto, parece-nos que é este o lugar que está sendo
colocado o estagiário de psicologia da Unijuí, pois a cada pagamento que é
feito do paciente para o estagiário, se repassa este valor que é o valor que
paciente atribui pelo seu tratamento na sua relação transferencial com este
estagiário. Portanto, o que se perde ao repassarmos este valor à instituição?
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