o germinal

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O GERMINAL
O GERMINAL. PLANETA TERRA. ANO 02. Nº 33. 16 DE AGOSTO DE 2009 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA – NENHUM DIREITO RESERVADO: APENAS CITE A FONTE
“Se, muitas vezes, o ‘outro’ é quase uma coisa, um incômodo que evito a todo custo, que será ele quando puder me
contaminar? Um demônio?”
Editorial
“Gripe suína: últimas informações sobre o recente surto.” “Gripe A: entenda como a epidemia começou.” “Brasil compra 18
milhões de doses da vacina contra a nova gripe.” “A pandemia de gripe suína revela que ainda não existe uma coordenação
internacional para lidar com problemas globais de saúde.” “Saiba mais sobre o vírus A (H1N1).” “A ironia no seu melhor estilo.”
Essas são apenas algumas dentre as muitas notícias correntes sobre a doença mais “pop” da atualidade. Acerca disso
podemos refletir como um fato grave, como a gripe suína, afeta a vida das pessoas no sentido da sociabilidade. Ao longo dos
últimos dias, recebemos uma série de e-mails relacionados à gripe. Alguns de caráter conspiratório, outros assombrados em
pânico e outros, ainda, desdenhando o vírus. Mais do que isso, no próprio convívio nós temos percebido como as pessoas
estão tomando cuidados - aulas em academias de ginástica, conservatórios e clubes de dança, por exemplo, já sofreram um
esvaziamento importante. A questão-chave é: o que um problema como esse nos diz a respeito de nós mesmos, de nossa
fragilidade, fortaleza e da nossa condição humana? Em pleno século XXI, de civilização à moda de Elias, o que resta diante de
uma ameaça de cunho quase mágico (o vírus, afinal, é como uma “mão invisível”)? Diante das indagações que emergem, o
que não pode ser desconsiderado é que todos vivem em constante risco.
RISCOS: NÃO HÁ COMO VIVER SEM ELES
Segundo Ulrich Beck, sociólogo
alemão e autor, entre outras obras, da
teoria da Sociedade de Risco, a idéia
do risco sempre esteve envolvida com a
modernidade, mas, hoje, o risco
assume uma importância nova e
peculiar. Suponhamos que ele seja uma
maneira de regular o futuro, de
normatizá-lo e de submetê-lo à nossa
vontade. As coisas não param, porém,
por aí. Nossas tentativas de controlar o
futuro tendem a ricochetear, a “cair
sobre nossas cabeças”, forçando-nos a
procurar modos diferentes de relação
com a incerteza – como deixar de
utilizar o transporte público, diminuindo
assim a possibilidade de contato com o
vírus da nova gripe, se não posso faltar
ao emprego ou à universidade? Como
já dizia o orador romano Sêneca: viver
é correr riscos.
Do ponto de vista de Beck, uma
forma de explicar o que está
acontecendo é fazer uma distinção
entre dois tipos de risco: o externo,
experimentado como vindo de fora,
decorrente da infalibilidade da tradição
ou da natureza (para este último caso, o
Direito até forjou uma expressão: o
chamado “caso fortuito”), e o risco
fabricado, criado pelo impacto de nosso
conhecimento do mundo, dizendo
respeito a situações para as quais
temos pouca experiência histórica. Vale
destacar que eles são diretamente
influenciados
pela
globalização.
Ressaltamos, também, que as pessoas
que vivem nas áreas ricas e pobres –
estas, aparentemente, mais do que
aquelas – estão sujeitas a inquietações;
grande parte do que costumava ser
natural, porém, não o é mais por
completo,
embora
nem
sempre
possamos saber ao certo onde termina
a natureza e tem início o poder da
vontade.
O autor também nos diz que o
risco fabricado não se liga apenas à
natureza – ou ao que, antes, era
natureza. Ele penetra em outros nichos
da vida. Tomemos, por exemplo, o
casamento e a família, que vêm
sofrendo mudanças profundas em todo
o mundo. À medida que o risco
fabricado se expande, passa a haver,
nele, algo de mais arriscado. Cada vez
que alguém entra num carro, é possível
calcular as chances que essa pessoa
tem de se envolver em um acidente.
Isso é previsão atuarial – envolve uma
longa série temporal. As situações de
risco fabricado não são assim.
Simplesmente não sabemos qual é o
nível do risco e, em muitos casos, não
saberemos ao certo antes que o mundo
caia sobre nossas cabeças. Afinal, em
qual ambiente estaremos com menos
possibilidades de ser contagiados pelo
vírus? Pelo amor de Deus, cadê a bola
de cristal!
A propósito desta questão, se
alguém – funcionário do governo ou
autoridade científica – leva determinado
risco a sério, tem o dever de anunciá-lo,
sob pena de omissão criminosa. O risco
deve ser amplamente divulgado porque
é preciso convencer as pessoas de que
ele é real – é preciso
fazer estardalhaço,
gritar como fazem os
animais
gregários,
para que todos se
escondam antes do
bote do predador. Contudo, quando se
faz estardalhaço e o risco acaba se
revelando mínimo, os envolvidos são
acusados de alarmistas – e, como na
história popular do garoto que
anunciava acidentes falsos a torto e a
direito, perdem a credibilidade.
Paradoxalmente, o alarmismo
Nota-se, enfim, que não somos da percepção do risco, do risco
pode ser necessário para reduzir os diferentes de formigas que a qualquer biológico - no caso da gripe -, se
riscos que enfrentamos – contudo, momento podem ter suas vidas colocar diante do outro? Muitas vezes,
quando ele surte efeito, a impressão destruídas: por algum desatento que acabamos nos dividindo entre o amor (e
que se tem é de que houve exatamente pisa em sua casa; por aquele maldoso a sociabilidade, a fraternidade) e o
isso: mero alarmismo. A situação que as pisoteiam sem motivo; ou ainda medo pânico, puro e simples, de ser
relativa ao vírus A (H1N1) é um por aqueles que a envenenam. Somos, contaminado e morrer por conta disso.
exemplo. Os governos e outras sim, criaturas frágeis, por mais que o A questão é, sem dúvida, das mais
instituições
estão
empreendendo discurso não seja esse. A bem da complicadas, e traz à mente imagens
grandes campanhas de prevenção e, verdade, não temos, ou temos muito extremas como a dos padioleiros
em muitos lugares, a velocidade de pouco, controle sobre nossas vidas correndo no fogo cruzado das batalhas
disseminação do vírus é pequena; além (basta olhar ao redor e percebe-se ou dos bravos que, em meio às piores
disso, enquanto a cura não chega, uma indivíduos, mesmos os mais em epidemias, faziam o trabalho de
boa dose de cautela não faz mal há equilíbrio
psicossocial
e
os consolar os moribundos e enterrar os
ninguém. Aliás, por conta ainda das economicamente estáveis, com medo mortos. A Influenza A está longe,
mortes não terem números chamativos, do que pode vir acometê-los). Então, porém, de ser a Peste Negra, e não
muita gente reage dizendo coisas como qual a alternativa possível? Quem não estamos pedindo para que as pessoas
“Eu não disse? Não era para tanto!” e, é arrisca, não petisca! Porém, vá com assumam uma postura de quaseclaro, deixa de tomar os cuidados calma, pois uma das possibilidades
martírio. Pedimos,
necessários. Apesar de, em termos de para se viver com menos riscos é saber
apenas, que se
agressividade, a gripe suína “andar usar o passado, o que já foi
observem,
que
mais para um 'trupicão' que machuca o experimentado, no sentido de, no
verifiquem se o
dedo do que para a AIDS” (ao contrário mínino, visualizar algumas tendências.
próprio medo é
- até então - do que as previsões dizem: Isso pode colaborar, e muito, com a sua maior
do
que
a
compaixão
que o número de mortes será muito vida e com as de que estão ao seu experimentada pelo outro e que reflitam
maior), o risco de contaminação é redor.
- na sua condição cristã, budista,
iminente e é muito sério. A doença, vale
Resta, porém, uma questão que muçulmana, religiosa e/ou ética - a
lembrar, pode ser letal.
nos parece fundamental: como, diante respeito
da
própria
civilização.
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PARA DESCONTRAIR...
(Disponível em: <www.cronicasurbanas.wordpress.com> Acesso em 13 de agosto de 2009)
• Se há algum problema social que sensibiliza você, entre em contato com “O Germinal” que abordaremos o assunto •
**DIRETOR: C. G. LEME – JORNALISTA: R. W. APOLLONI - WWW.OGERMINAL.BLIG.IG.COM.BR – [email protected] – CIRCULAÇÃO: PELO MUNDO**
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